quem adivinhar a minha idade mental ganha uma mariola

Trabalhar é um porre, senão não se chamaria trabalho, e sim férias. Trabalhar é um porre até quando é legal.

Hoje estou traduzindo um negócio meio chatinho, um manual de montagem de tendas-hangar (…), que só não é pior porque tem várias fotos cheias de soldadinhos (don’t ask) e já estou sabendo tudo o que há pra saber sobre o assunto. Dêem-me uma tenda e uma empilhadeira e eu monto a bichinha toda. Mas mesmo não sendo um superporre, estou penando pra terminar. Vai dando aquela preguiça, sabe, uma baianice, uma lerdeza, ainda mais com o tempo feeeeio que tá lá fora… Pra tornar a coisa mais emocionante, então, eu desenvolvi uma técnica legal. Começo traduzindo pelo começo, normalmente, e quando encho o saco vou pulando páginas e traduzindo frases aleatórias no meio do texto lá pra frente. Depois vou fazer alguma tarefa doméstica, almoçar, malhar ou outra coisa, e quando recomeço a trabalhar acabo encontrando essas frases já traduzidas e fico toda feliz. Tipo êeeeeeee, essa não precisa traduzir, tá feita! Tipo, deixo surpresinhas pra mim mesma. Tipo, só funciona porque a minha memória é MUITO ruim, de modo que eu fico realmente feliz, como se alguém que não eu tivesse feito o trabalho por mim. Mas funciona, porque estou quase no final do documento, um dos dois que eu tenho que entregar na quarta. Bom, né :)

ainda retornando

Cada vez que deixo o Rio parece que a coisa fica mais difícil. A cada vez noto como estou sentindo mais falta da minha cidade (que é um desbunde), da minha mãe do meu irmão da minha avó, da minha velha casa, do milk-shake de Ovomaltine do Bob’s. Não acho que seja um lance de estar ficando velha; acho que essa falta de estímulos intelectuais aqui no interior do Malawi é que acaba intensificando a nostalgia generalizada. Sinto falta de conversas inteligentes, e acabo sentindo falta, por tabela, de todo o resto. Quando me peguei analisando a reforma ortográfica com minha mãe e meu irmão me dei conta de que não há NINGUÉM aqui com quem eu possa falar de coisas desse tipo. Ficar repetindo e rindo dos diálogos em inglês de House e Lost e comentando os figurinos de The Tudors, como fiquei com a Newlands, aqui é impossível. Ter alguém brilhante como o meu irmão me explicando como anda o governo Lula e essa confusão da Grampolândia é um privilégio que aqui eu não teria nem pagando. Pra não falar do quanto eu sinto falta de dividir a mesa com gente que não se debruça sobre o prato e não lambe a faca.

Vocês tão carecas de saber, e eu também, que eu não sou retardadinha e tenho mais cultura e céLebro do que 90% dos italianos, que são o povo mais chucro do planeta, e por isso me sinto muito sozinha aqui. Meus amigos são os amigos do Mirco, chucros e ignorantes, apesar de muito legais, e as conversas inevitavelmente giram ao redor de comida, carros, comida, roupas, comida, quem casou, comida, quem morreu, comida. Meus colegas de faculdade já são melhorezinhos, mas como todo adolescente é idiota por natureza e eles ainda estão saindo da adolescência, estão em fase de desidiotização, pra não falar do fato de que, sendo caipiras, têm muito pouca experiência. De tudo. Adoro-os todos e me divirto com eles, mas certos tipos de conversa e de reflexão requerem um mínimo de experiência e maturidade que eles não têm.

Veja bem, não estou reclamando-ando-ando e não me arrependo de coisa nenhuma; estou só constatando que toda escolha tem um revés. O revés da minha é esse: solidão intelectual. Além da falta do milk-shake de Ovomaltine do Bob’s, claro.

por que eu não pretendo mais voar com a TAM

Vou repetir: eles são inacreditavelmente simpáticos e amáveis e prestativos. Todos eles. E eu conheço gente que trabalha na empresa (um pessoalmente, outra não). Mas não dá.

Não estou nem falando da comida ruim, da lerdeza dos comissários de bordo, cujos carrinhos freqüentemente colidem no meio do corredor por ficarem num vai-e-vem eterno à procura de coisas que ficaram faltando, nem das pouquíssimas telas e do filme único, quase sempre uma merda, nem do uniforme mal acabado, tampouco dos nomes duplos hediondos de todos os funcionários (tipo Anderson Rodrigo, saca), muito menos do inglês pavoroso do presidente da companhia nos vídeos que mostram nos vôos Rio-SP, e nem da dicção imperdoável da maioria das comissárias de bordo (as que não falam cinqüeiiiinta falam feito favelada malandra), que aliás são feias de doer. O problema é a falta de profissionalismo.

Vocês viram o que aconteceu comigo na ida. No meu caso em particular não houve muito problema, pois eu estava indo pra casa da minha mãe, onde ainda tenho roupas, então nada do que eu estava levando nas malas era crucial pra minha sobrevivência. Mas e se fosse? E se eu tivesse perdido o vôo pra Milão e por isso perdido também o pro Brasil? Não bastando isso ter acontecido comigo, o Mirco, prevenido que é, suspeitou que a mesma coisa poderia acontecer com ele, já que o vôo era idêntico. Tentou ligar pra lá pra ver se dava pra resolver, e não conseguiu. Mandou fax pra agência através da qual compramos a passagem, pra ver se eles conseguiam entrar em contato com aTAM, sem resposta. Mandou carta registrada, que foi ignorada solenemente. E a coisa aconteceu com ele também. Por sorte ele já estava escaldado e chegou tão cedo no aeroporto que o problema foi resolvido antes do vôo encher, e ele embarcou com a bagagem e sem ter que sair correndo até o gate feito um desesperado. Agora adivinhem o que houve na volta? Exatamente a mesma coisa. Quando chegamos em Milão a menina no check-in também não nos encontrou na lista dos passageiros. E disse, como já tinha dito o Stefano no dia em que saí de Roma, que sempre acontece isso com a TAM: eles simplesmente esquecem de mandar a passagem pra companhia que faz a outra perna. Legal, né! O problema é recorrente, eles não resolvem, e fica por isso mesmo. Nenhum pedido de desculpa, nenhum upgrade como compensação, nenhum telefonema pra saber se foi tudo bem, bissolutamente nada.

Agradeço aos funcionários pela simpatia e pelos sorrisos, mas essa foi a primeira e última vez que voei com a TAM. Saudades da Varig.

o retorno

Bom.

A viagem foi ótima. Resolvi umas coisinhas burocráticas, me contive razoavelmente nas compras (mas o roupocídio na Sacada, que acontece todos os anos, rolou de novo), comi quase tudo o que eu queria comer. Mas além da minha epopéia, que descrevi no post abaixo, houve outra, que vou contar porque merece.

O Gianni e a Chiara deveriam ter saído daqui na terça passada e chegado na quarta. O Mirco sairia na quarta e chegava na quinta. Só que o Gianni e a Chiara ODEIAM voar. Normalmente é só um medinho, que passa tomando um calmantinho ou viajando com outras pessoas. Dessa vez a crise de pânico foi forte: palpitações, pernas tremendo, a menina achando que ia morrer, um horror. Fez o Gianni dar meia-volta; não chegaram nem ao anel rodoviário de Roma. Foram direto ao médico pegar um certificado pra conseguir o reembolso, e depois rumaram pra casa totalmente jururus. O Gianni me mandou um SMS super baixo-astral, porque eles tavam planejando ir ao Rio há séculos, e quando finalmente a coisa tava rolando, deu nisso, mas fobia não tratada não dá pra controlar e coisa e tal.

À noite, o Mirco, que sempre é adotado pelos nossos amigos quando eu não estou e dificilmente janta sozinho, foi comer na casa deles. Entramos no Skype pra conversar e pela cara deles dava pra ver a tristeza generalizada. O Mirco, sempre otimista, me confessou de soslaio que eles nem tinham desfeito as malas pois o Gianni não queria nem ver as ditas cujas, e disse que no dia seguinte iria botar uma certa pilha pra ver o que rolava.

No dia seguinte os meninos foram almoçar na casa da mãe do Gianni. Estavam a poucos metros de casa quando o Mirco liga no celular: estou saindo do trabalho, podem descer. Como assim, Bial, perguntaram. Ué, vamos comigo até o aeroporto, quem sabe vocês não se animam. Eles pensaram um pouquinho, voltaram pra casa, desceram com as malas e rumaram pra Roma. Vendo que a Chiara estava calma, começaram a considerar a hipótese maluca de comprar novas passagens e partirem. Já perto do aeroporto, a Chiara começou a ficar pilhada pra viajar, e o Gianni saiu ligando pras companhias aéreas pra ver se achava passagem. Achou com a Air France, mais cara do as de antes mas ainda viável. Reservou pelo telefone, entraram no aeroporto pra ver como a Chiara reagia, ela ainda calma e pilhada, compraram pelo telefone a dois metros do balcão (comprando diretamente no balcão era mais caro), pegaram as passagens e embarcaram. O Mirco tinha pego um certificado médico pro caso de ter que cancelar o vôo dele pra viajar com os meninos em caso de pânico, mas não foi preciso. Viajaram como dois anjinhos. Chegaram na quinta pela manhã, e o Mirco duas horas depois.

O Gianni e a Chiara são ótimos companheiros de viagem, e amigos que nós adoramos, mas quando ele cisma com alguma coisa, não tem santo que dê jeito. Pois desde que ele ouviu do Mirco a descrição do Frescão que ele cismou que queria pegar. Tinha dito inclusive que não precisava ir pegá-los no aeroporto, que eles iriam de Frescão até a Zona Sul. Ahã, falei, vou mesmo deixar dois gringos pegarem ônibus sozinhos no Rio, atravessando favelão… Espera sentado, disse, e fui lá buscá-los com meu pai. Só que não cabíamos nós todos e mais as malas, e acabei mandando os meninos de Frescão mesmo. Desceram na Vieira Souto com a Vinícius, tomaram água de coco na praia e foram pra casa da minha mãe a pé, achando tudo ótimo. Eu e Chiara ficamos tomando guaraná no sofá de casa, esperando os machos.

A outra cisma foi Paraty. Cara, quatro horas de viagem na ida, quatro na volta, mais o adorável percurso até a rodoviária, que normalmente é uma coisa bem traumatizante, tudo isso pra passar um dia (ou parte dele) num lugar. Eu pessoalmente não iria, mas quando o Gianni encafifa, não tem jeito. Então foram, e gostaram.

A terceira cisma foi Búzios. Tipo, você está planejando ir a uma cidade de praia cuja única atração é a praia. Chove e a previsão é de chuva até o fim da viagem. O que você faz? Não vai, né. Mas ele tinha enfiado na cabeça que queria ver Búzios, e acabou indo. Ainda não sabemos o que acharam porque eles não telefonaram depois da chegada em Roma, hoje na hora do almoço, mas pelo último SMS que mandaram de lá parece que não estavam arrependidos da viagem.

Acabou que eles adoraram a viagem, surpreendentemente. Fiquei surpresa porque o Rio não é pra amadores; o Mirco fica exausto com tanta gente, tanta bagunça, tanto trânsito, tanta atenção que a gente tem que prestar pra não ser assaltado, tanta falta de estrutura. E apesar do Gianni ser muito esperto, eles são todos caipirérrimos, e nesse caso a viagem tinha tudo pra não dar muito certo. Mas deu. Não só eles adoraram tudo, como pretendem voltar pra ver as coisas que não conseguiram ver. E coisa inédita: Gianni disse que nem sentiu falta da comida italiana, o que me fez cair o queixo, já que ele é chatíssimo pra comer. Ficaram enlouquecidos com as vitaminas de frutas, com o pão de queijo, com o arroz com feijão. Acharam tudo lindo e interessante, apesar deu ser uma péssima cicerone que se perde na própria cidade e não sabe nada de história (ele me mostrou no mapa a Praça 15 de Novembro e eu só fui entender que era a Praça XV quando chegamos lá. Anta…). Não vou dizer que fiquei orgulhosa, pois não sou de patriotismos e vocês sabem, mas é bom ver que a minha opinião sobre a minha cidade não é biased: o Rio é um desbunde mesmo, apesar.

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Como sempre, não consegui ver todo mundo. Ficaram faltando os colegas da faculdade, por motivos logísticos (leia-se criança pequena). Faltaram as meninas do colégio, pras quais não tive tempo de ligar. Ficou faltando o Duduzão, idem. Mas teve reunião de família com primos e tios que eu não via há muito tempo, com direito à feijoada FENOMENAL do meu tio Alfredo (que Gianni e Chiara adoraram, por sinal). Conheci a Lulu, filha do meu primo de terceiro grau, que eu ainda não conhecia e que é uma figurinha (nos seus tenros 9 meses ela já fica tão contente depois de comer que vira outra pessoa, toda pimpã, afetuosa e risonha. Tenho a impressão de que vamos nos dar muito bem). E de bônus ainda consegui encontrar o Hiro, que calhou de estar no Rio na mesma época e que foi almoçar no Porcão com a gente.

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Achei tudo caríssimo, como a Barbara. Os meninos também. Fora isso, a outra coisa que mais me impressionou (além da feiúra generalizada dos brasileiros, lógico) foi o número incrível de pessoas que trabalham nos lugares, coisa na qual o Hiro também reparou. Em qualquer loja de qualquer lugar tem sempre um monte de vendedores parados esperando chover cliente. No aeroporto há muito mais pessoas trabalhando do que seria realmente necessário. Na Itália a incompetência (porque italiano não sabe trabalhar) é compensada com horas de trabalho a mais. No Brasil, onde a mão-de-obra não custa nada, compensa-se empregando mais gente. Não só nenhuma das duas soluções é a ideal como acho bem difícil escolher qual é a pior, viu.

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Hunka chegou hoje. Yay!

ode ao rio

Sem internet por um certo período, graças à Net. Pânico. A lista de pessoas às quais preciso telefonar é infinita, mas quando chego em casa acabo caindo no sono e não ligo pra ninguém. Várias coisas burocráticas resolvidas, outras semi. Tudo bem. Basicamente venho batendo perna em Ipanema com a minha mãe. Boticário, Sacada (recomendo a loja do Centro, perto da Travessa do Ouvidor, e em particular a Luciene), padaria Eldorado, sapatos na Datelli, a Travessa, as galerias da Visconde de Pirajá, a feira na N. S. da Paz. Compramos umas uvas ótimas.

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Isso dito, vocês me desculpem, mas a minha cidade é absolutamente um desbunde.

Tipo:

desbunde
substantivo masculino
ato ou efeito de desbundar
1 ato ou efeito de ficar deslumbrado, extasiado com alguém ou algo
2 Derivação: por extensão de sentido.
pessoa ou coisa deslumbrante, que causa impacto
Ex.: o irmão dela é um d.
3 estado de quem fica desconcertado, estupefato com algo imprevisto, inesperado
4 o Rio de Janeiro

O Rio é um desbunde, apesar. Tudo no Rio é um desbunde. E não estou falando só da parte física, que por si só já é um desbunde, mas de todo o resto. Do ar, da atmosfera, das pessoas, dos cheiros, das idéias, da personalidade. De tudo.

Eu viajo mais do que a média mas muito menos do que gostaria, e, com a exceção talvez da Sérvia, sempre pra lugares civilizadinhos. Não existe outro lugar, de todos os que eu já visitei, que chegue aos pés do Rio. O Rio deixa o resto do mundo no chinelo. Não consigo imaginar uma cidade com tamanho potencial pro turismo, pra negócios, ou mais simplesmente pra felicidade. Istambul? Qual o quê. É irmã quase gêmea do Rio, se você descontar a quantidade de bigodes e mulheres de cabeça coberta e o aaaaaaaaaaaiaaaaaaaaaaaaiaaaaaaaaaaaaa das mesquitas chamando pra reza e a relação com o mar completamente diferente. Essa intimidade do Rio com o mar é uma coisa fascinante – e olha que eu ODEIO mar e não vou à praia há anos, e não sinto falta nenhuma. Não sinto falta da praia, mas sim de como as pessoas aqui se relacionam com ela. Acho bárbaro, um desbunde. Nápolis, que dizem ser a outra gêmea? É bonita mas não tão bonita quanto; também zoneada e cheia de mazelas, embora não tanto quanto; simpática e interessante, mas não tanto quanto. Paris é Paris, Roma é tudo na vida, mas têm um charme muito diferente. São cidades sensacionais, que eu amo de paixão e nas quais tenho a impressão de que adoraria viver, mas o conjunto da obra não é o Rio. Já visitei muitas cidades bonitas, mas nenhuma delas é um desbunde. Só o Rio.

O que vêm fazendo com a minha cidade é desumano.

Tipo:

desumano
adjetivo
1 falto de humanidade; bárbaro, cruel, desalmado
2 que demonstra desumanidade; anti-humano, atroz, duro
3 o que vêm fazendo com o Rio de Janeiro

A paranóia constante, a desconfiança; a maneira com que o medo molda nossas vidas, decide por nós, planeja por nós, nos impede de fazer coisas, muda nossos hábitos de maneira impensável, nos impede de viver comme il faut, são desumanas. E tudo isso fica tão enraizado que mesmo depois de todos esses anos morando no interior do Butão eu ainda mantenho todos os meus pavores. Voltando pra casa de táxi em Barcelona, depois de uma festa, no meio da madrugada, um motociclista pára ao lado do nosso táxi e se aproxima da janela. Pensei: “morremos”. O taxista abriu a janela na maior calma, o motociclista levantou o visor, sorriu e pediu uma informação. O taxista respondeu, o sinal abriu, fomo-nos todos. Mirco perguntou por que eu tinha ficado tão pálida de repente; respondi “porque sou carioca”.

Toda vez que viajo a alguma grande cidade fico imaginando o quão seria maior o desbunde do Rio se fosse possível sair de casa com todos os documentos originais e cartões de crédito na carteira; se fosse possível voltar pra casa a pé à noite de onde quer que seja; se fosse viável subir num ônibus qualquer a qualquer hora sem ficar olhando com cuidado pra todos que entram, pronto pra sair voando pela porta de trás em caso de passageiro suspeito; se fosse possível escolher o itinerário de acordo com a sua própria vontade e não pela probabilidade estatística de assalto; se o metrô não fosse a máfia que é e seguisse uma logística civilizada (sim, o metrô funciona, mas não tem sentido e é ridiculamente caro e anti-turista); se a bicicleta fosse um meio de transporte viável em termos de segurança e com isso aliviasse o trânsito; se tirar a máquina fotográfica da bolsa pra poder mandar aquele pôr-do-sol pro Flickr fosse seguro e possível. E pensando nisso tudo me dá vontade de chorar.

anencefalia

Li ha’ algumas semanas no Globo sobre a morte daquela coitada daquela bebezinha anencéfala que os cretinos dos pais e dos médicos deixaram nascer e sobreviver vegetalmente até um ano e oito meses. Nos comentarios da noticia outros cretinos varios afirmavam que isso era uma prova da grandiosidade de deus, que deus pode tudo e outras asneiras de dimensoes intergalacticas. Ai’ hoje abro o jornal de novo e voilà, outra noticia sobre o caso: a discussao de religiosos no STF pra decidir se fetos anencéfalos devem poder ser abortados ou nao.

O primeiro ponto da questao é muito logico: se o Brasil é um estado laico, POR QUE CARALHOS O STF ESTA’ OUVINDO RELIGIOSOS?

O segundo ponto me parece mais obvio ainda: se sem cérebro nao ha’ consciencia, nao ha’ praticamente nenhuma conexao com o meio externo, nao ha’ praticamente nenhuma expectativa de vida, nao ha’ nada, POR QUE E’ QUE AINDA NAO SE RESOLVEU ESSA MERDA DESSA HISTORIA? Nao esta’ na cara que a mulher TEM TEM TEM TEM ABSOLUTAMENTE TEM que ter o direito de abortar sem precisar entrar na Justiça? Porque aturar a chatura de uma gravidez ja’ sabendo que o feto nao vai durar nada, e mesmo que durar vai sobreviver a duras penas so’ com ajuda de aparelhos e nunca vai interagir com voce nem fazer todas aquelas coisas legais que todos os humanos fazem, é um calvario que ninguém merece. Quero ver como reagiria um desses idiotas que defendem a sacralidade da vida a qualquer custo se soubesse que a mulher esta’ gravida de um feto anencéfalo. Tenho certeza que acharia suuuuperlegal…

Ora, mas façam-me o favor, essa hipocrisia toda me cansa uma enormidade.

Junte-se a isso aquela noticia dos missionarios catolicos queimados vivos na India porque acusados da morte de uns hindus e o meu cérebro imediatamente liga o mantra: TODA RELIGIAO E’ UMA MERDA, TODA RELIGIAO E’ UMA MERDA, TODA RELIGIAO E’ UMA MERDA…

volei feminino

Nao prestei muita atençao ao jogo porque estava concentrada no trabalho, mas a comentarista rasgou uma sedona danada pra cima da seleçao brasileira, que detonou a italiana hoje de manha. Muito estranho, visto que os italianos sao péssimos perdedores e tendem a ser superparciais. Dessa vez choveram elogios pro time todo e pro técnico, mas em particular pra Fofao, que segundo a comentarista é uma daquelas jogadoras de cujo calibre “nasce uma em cada século, se muito”. Aparentemente a vitoria foi tao descaradamente merecida que agora no minitelejornal das olimpiadas o titulo da reportagem sobre a derrota foi “non fa male”, que traduzo como “nao doi”. Ao contrario, “fa male” a derrota das italianas contra as holandesas no waterpolo feminino, porque parece que as meninas jogaram bem e fizeram um esforço danado, e perderam nos penaltis.

Eu adoro quando a Italia perde. Juro.