domenica linguistica

A palavra em português que faz falta em outras línguas do dia é: CAPRICHAR

O false friend do dia é: DISPENSA (em italiano quer dizer “apostila”)

A palavra maravilhosamente útil em italiano dia dia é: SCOMBUSSOLARE (confundir as ideias, embananar)

tia

Em um dos raros intervalos entre uma aula de inglês e uma da faculdade, consegui a proeza de estudar por uma hora e meia seguida, na biblioteca da universidade. Coisa inédita na minha vida, porque eu não tenho o menor saco pra estudar. E ainda por cima era política econômica! Claro que não vai ser assim sempre, principalmente quando começarem os malditos gráficos e tabelas e contas malucas, mas já achei ótimo.

Claro também que já fui eleita a tia da turma. Todas as minhas colegas, felizmente nenhuma de Perugia, são novinhas e estressadíssimas com provas e afins. Eu, sendo velha, já formada e professora, virei a santa padroeira e hoje me vi com um monte de menininhas penduradas nos meus braços implorando pra ter aulas de economia comigo – mas se eu não sei nem contar direito, meus amores! Sou um asno matemático! Não adianta. A fé é daquelas coisas inexplicáveis, e já vi que vou ter que arrumar outra sarna ainda – conseguir tempo pra entender a matéria, e mais tempo pra tentar explicar tudo pra mulherada. No segundo semestre ainda fui escalada pra dar aulas de inglês pro povo, porque a professora é uma louca furiosa que reprova todo mundo, um bicho de sete cabeças que já anda dando dor de cabeça na galera.

Tô vendo que vai ser um final de ano MUITO complicado.

o assunto não vai esgotar tão cedo

Quinta é o dia mais light pra mim. Só tenho uma aula de português, no final do dia. Infelizmente na faculdade também só tem uma aula, Studi Culturali. A curiosidade em torno do que seria esse raio de matéria era grande.

Dei umas perambuladas de manhã cedo; consegui finalmente passar na minha médica, pegar minha receita do remédio pra enxaqueca e os pedidos dos exames; na farmácia mesmo marquei os exames (só ficou faltando a ressonância do cabeção), passei na Libreria Grande pra comprar o livro de Politica Economica, e fui pra faculdade.

Ultimamente ando com a mania de fazer percursos alternativos. Hoje, em vez de pegar aquele trânsito infernal da superstrada, peguei uma estradinha deliciosa, estilo Paineiras, que vai de Ponte San Giovanni a Ponte Valleceppi, mas se eu sair à esquerda em um certo ponto vou parar em Casaglia, uma espécie de periferia de Perugia, com casas lindas no meio do mato. Logo depois passo pela igrejona maneira perto do Policlinico, e dali pra faculdade é um pulo. No verão vai dar pra ir de lambreta numa boa. Lógico que achar vaga não é fácil, e perdi um tempo danado pra achar um lugar lá na casa do chapéu, mas pelo menos não paguei estacionamento e ainda dei uma boa caminhada. Ainda deu tempo de passar na agência das bolsas de estudos pra entregar o documento que faltava.

Quando cheguei na sala, as meninas que conheci ontem também estavam entrando. Sentamos nas mesmas carteiras de ontem, e fiquei sabendo os nomes das duas Oche Giulive e da Branquinha, que é de Terni. As Oche Giulive são do sul, uma da Basilicata e uma da Calábria, e já se conheciam antes. Tinha mais uma menina perto da Branquinha de Terni, mas não consegui ouvir de onde era. Pelo que pude notar, não tem quase ninguém de Perugia na sala. Melhor, porque os peruginos são uns pés no saco que vou te contar. Bati papo com uma menina do Molise, A Região Onde Nada Acontece Nunca, Mais Nunca Ainda do Que na Umbria. Vi que além da Mulatinha Pentelha há mais gente com cara de não-italiano.

É tão engraçado estar de volta aos bancos escolares! Quase tinha me esquecido de quanto é divertido esse primeiro momento, esse olhar pra cara das pessoas e imaginar que tipo de gente são, se estudam ou não querem nada com a dureza, se são tão burrinhas ou tão brilhantes como parecem, por que se vestem daquela maneira, meudeus, e coisa e tal. Imaginar que lá pro final do curso muito provavelmente vou estar batendo papo com outras pessoas, porque tenho pouca paciência com Oche Giulive. Ver o desespero dos estudantes imaturos perguntando, desde agora, o que vai cair na prova, quais capítulos têm que estudar, reclamando que é impossível fazer todas as matérias em um semestre, coisa de maluco, e coisa e tal. Eu já expliquei que no resto do planeta, pelo menos até onde eu sei, neguinho faz as matérias, as provas, passa de ano e cala a boca, não tem esse chora-chora que tem aqui, óooooooooo não consigo estudar tudo, óoooooooooo tem matéria demais, óooooooo é impossível e vou ser obrigada a levar 15 anos pra me formar, como todo mundo. Mesmo tendo direito a repetir as provas quantas vezes for necessário, até passar.

Falando em formatura: essa semana tem muita gente apresentando tese e finalmente se formando. Neguinho vai todo emperequitado pra faculdade, apresenta a tese de scarpin e meia fina, com a família e amigos assistindo e filmando, e no final ganha rosas e coroa de louros. Quem vê até pensa que estão se formando em, sei lá, Engenharia Nuclear… A Stranieri só tem curso mané, que nem o meu: Tecnica Publicitaria, Italiano per Stranieri, Diffusione della Cultura Italiana nel Mondo… E mesmo assim neguinho comemora como se fosse um Oscar. Acho hilário.

:))))

Estou quase me desarrependendo de não ter escolhido Lingue e Culture Straniere em vez de COMINT (o apelido de Comunicazione Internazionale).

Hoje assisti à segunda aula de Politica Economica – a primeira aula foi ontem e eu perdi. A professora é uma senhora distinta e enxuta (todas as italianas de um certo nível são senhoras distintas e enxutas; só as roceiras são gordas e cafonas), com um corte de cabelo moderno, mechas em dia, sapatos totalmente comfort, o bronzeado artificial que é a marca registrada dos italianos em geral, e uma voz firme explicando conceitos nada simples. Estranhamente consegui entender tudo (acho), mas ela me preocupou quando fui lá dizer que provavelmente não vou conseguir freqüentar as aulas e o que ela me recomenda pra não ficar boiando: alguém que te ensine a parte matemática, minha filha, porque é a única coisa difícil desse curso. Isso dito a alguém que não é capaz de fazer a mais simples regra de três de cabeça. Vai ter que rolar muita mamãe no Skype pra me explicar aqueles gráficos malditos de oferta e domanda.

Fiz discreta amizade com o grupinho que senta na frente. Nunca fui CDF, mas não consigo prestar atenção se ficar no meio dos farofeiros, e também prefiro olhar bem pra cara do professor e escutar direitinho o que ele diz, pra não perder nada. Então sentei na segunda fileira, do lado de uma menina branquiiiiiiiiiiiiiiinha, com uma cara de boazinha daquelas tão mas tão intensas que dá vontade da gente abraçar a criatura. Na primeira fila, duas “oche giulive”, songa-mongas com sombra rosa-paquita nas pálpebras, penteados arquitetônicos e letrinhas redondas. A Boazinha escreve de lápis em caderno pautado, êba, é normal!, enquanto que as songa-mongas têm aquelas letrinhas redondas e infantis que eu detesto, escrevem de caneta e usam caderno quadriculado, uma praga nacional que eu jamais vou conseguir entender. Le Oche Giulive (/leo’kedjiu’live/) são esquisitas mas pelo menos prestam atenção. Mas tem uma mulatinha com ares de rainha zulu que fala o tempo todo lá atrás, e quando levanta a mão é só pra dar palpite idiota. O resto da turma, quase tudo mulher, tende a ficar quieto e prestar atenção. A mulatinha vai acabar rodando, não tenho dúvidas. Professor nenhum do mundo atura aluno pentelho, idiota e pseudo-inteligente.

A segunda aula foi MUITO maneira. O professor é um toscano, jovem, bonitinho, com cara de esperto – me lembra um pouco aquela mala do walras, só que bonitinho, entende ;) Ensina Comunicazione Politica e gostei muito do programa do curso que ele delineou – delineou, porque o programa inteiro, o livro do estudante, o calendário de provas, nada disso ainda foi decidido, e portanto ainda não impresso. Universidade na Bota é assim. Demos muita risada e aprendemos muita coisa. Sexta-feira tem mais. Pena que muito provavelmente não vou conseguir assistir às aulas de quarta – hoje só rolou porque os meninos de Marsciano cancelaram. Ele já avisou que ou freqüenta direito ou fica em casa, mas eu sou mula e vou insistir e fingir que não é comigo. Só espero ter paciência e tempo pra estudar e não decepcionar o lindão.

Cheguei em casa com uma dor nas costas desgraçada. Tinha esquecido como são desconfortáveis as carteiras arqueológicas da Stranieri. Nossas aulas de hoje foram na mesma sala onde estudávamos Linguistica Italiana com aquele louco desvairado do Katerinov, no longínquo 2002…

niente scuola oggi

Hoje não pude assistir a nenhuma das duas aulas, Marketing, com aquele velho idiota, e Politica Economica. A partir de novembro também vou ter Linguistica Italiana às terças-feiras, que vai ser a única do dia que vou conseguir seguir – desnecessário dizer que é a única cujas aulas não vão fazer a menor falta e a que tem menos créditos.

Quando cheguei em casa tinha um e-mail da agência de bolsas de estudos me esperando, dizendo que faltava um documento. Não sei quando vou poder ir lá entregar, porque os horários deles são completamente impraticáveis.

Essa noite sonhei que tinha descoberto um lugar perfeito pra estacionar, perto da faculdade. Veja a que nível de desespero estacionômico eu cheguei.

primo giorno

Meu primeiro dia de aula foi 1) corrido e 2) decepcionante. Apesar de ter saído cedo de casa, peguei um trânsito dos infernos pra chegar em Perugia e ainda por cima levei mais um tempão pra achar lugar pra estacionar (cês sabem que eu sou desorientada e nunca consigo fazer o mesmo percurso duas vezes; o primeiro estacionamento que surgir na minha frente, é ele mesmo). Parei lá na casa do chapéu, no estacionamento da piazza Partigiani, e andei pra burro pra chegar à universidade. Cheguei atrasada, coisa que eu abomino e considero imperdoável.

A aula inaugural foi na Aula Magna (em italiano “aula” quer dizer “sala de aula”). Na verdade era uma pequena palestra chamada Marketing, Ciência Oculta?, ou algo igualmente ridículo. Foi assim que fiquei conhecendo meu professor de informática, levemente bicha mas muito simpático e usuário de Mac, Firefox, Thunderbird e Skype (a apresentação do curso foi em DataShow e revelou muitas coisas interessantes sobre os hábitos internéticos do prof), que eu só vou ver na hora da prova porque no dia da aula dele estou ensinando inglês em Marsciano. Mas a grande decepção do dia foi conhecer o professor de Marketing, um velho ridículo, ridículo, ridículo, daqueles que ainda fazem piada do tipo “todos nós sabemos que a mulher é inferior, ha ha, mas não vamos dizer a elas, né, ha ha”, e que ainda anunciou com toda a pompa que não entende nada de informática e internet. Alguém me diz como é possível um professor de Marketing não entender nada de informática ou internet, e achar isso a coisa mais natural do mundo? Mais uma coisa legal do curso: TODOS os quatro livros indicados são dele. Uma opinião diferente, assim só pra constar, não, né? Então tá.

Todo mundo entra e sai o tempo todo da sala. A aula terminou às 11, mas até as dez pras onze ainda tinha gente chegando. Não tenho toda essa cara-de-pau não. Até porque a imensa maioria dos estudantes mora em Perugia – se veio de fora, mora no centro, ou ali em torno à faculdade onde um quarto dividido com outro estudante custa em torno de 250 euros – e não tem desculpa pra chegar atrasado, como os poucos que vêm de carro (como eu) ou de trem (que sempre atrasa). Mas enfim.

Espero que o resto do corpo docente seja melhorzinho. E tenho que bater um papo com a Roberta pra ela me dar umas dicas sobre os professores idiotas, os fodões, os intratáveis, os panacas, etc.