niver

Quinta-feira é aniversário do Mirco. Ainda não decidimos se vamos sair pra jantar na quinta e dar um balacobaco aqui na sexta ou no sábado, ou se vamos espalhar o pessoal em dias separados, de acordo com o nossos diferentes minicírculos sociais. De qualquer maneira o menu já está decidido:

. pão de queijo (pouco porque só tenho dois pacotes)
. quibe de forno (porque detesto fritar coisas)
. trouxinhas de crepe com recheio de espinafre e ricota (porque comi ontem num restaurante e gostei da idéia)
. mini-quiche de couve-flor e de presunto e queijo (porque eu quero)

. profiteroles feitos em casa (porque o Mirco adora)
. um bolo bem bonito que eu felizmente não irei comer, porque só gosto de bolo branco, sem frescuras, e bolo de festa tem que ser, obrigatoriamente, cheio de nove-horas. Ainda não decidi a receita. Aceito sugestões, mas nada muito exótico, por favor. Cês sabem como é o pessoal aqui; basta ter um abacaxi pra eles acharem que é exótico, tropical, bizarro e, consequentemente, incomível.

la speranza è l’ultima a morire

Novamente tivemos gente pra jantar aqui em casa, ontem à noite. Não sei se deu pra perceber, mas estamos meio de saco cheio do nosso atual círculo de amizades, e estamos tentando partir pra outra, mudar de ares, expandir os horizontes. Eu já meio que perdi a esperança de encontrar vida inteligente aqui no interior da Papua Nova Guiné, mas fazer o quê, né, a gente vai tentando, pra ver que bicho que dá.

Bela surpresa, então: vieram Gianni, amigo de escola do Mirco, e a mulher, Chiara, filha do dono do maior concessionário aqui da zona. Os dois são altíssimos e bonitos, apesar dos hediondos dentes de fumante do Gianni. Chiara é loura, magra mas não excessivamente, sorriso belíssimo (coisa rara por aqui, quem mora fora sabe que brasileiro é que tem mania de cuidar dos dentes, o resto do planeta tá se lixando), chegou vestida de preto, com um foulard colorido no pescoço. Menina simples, engraçada, sem cerimônia, repetiu meu strogonoff com arroz branco e batatas coradas, deixou o vinho de lado, comeu os quadradinhos de laranja e pediu gelo pra botar no copinho de Bailey’s. Ofereceu-se pra secar a louça, trocamos receitas e histórias de viagem, e começamos a discutir a hipótese de irmos todos juntos à Austrália ano que vem. Sentados no sofá da sala, os pescoços esticados e os olhinhos forçando pra ler os nomes no mapa-mundi na parede, fomos traçando roteiros imaginários e contando histórias de viagens a outras paragens. A irmã dela está morando em Dublin (que aqui se diz Dublino) e ela gostou muito da cidade. A avó tem quase 90 anos e também adora viajar, imaginem que figura que deve ser. Gianni é mais bobinho, como todos os camponeses daqui, mas é muito educado e, apesar de não me conhecer, nem sequer pensou em pedir um cinzeiro: foi direto pra varanda fumar, fechando as portas atrás dele. Maravilha. Vimos as 5.975,43 fotos da Austrália que o Mirco tem espalhadas em vários álbuns, e no final das contas ficamos de nos encontrar outra vez, pra ir ao cinema, e pra jantar na casa deles e ver as fotos do casamento e da lua-de-mel. Será que finalmente vou conseguir ter uma amiguinha normal com quem conversar? Ou vou ter que ir periodicamente ao Brasil renovar meus neurônios com Huňka, Newlands, japa e Uni-Rio people, pra não correr o risco de emburrecer e virar camponesa também?

primo maggio

Primeiro de maio aqui é coisa séria. Todo mundo almoça fora, e quem tem uma empresa paga o almoço pros funcionários. No ano retrasado eu fui ao almoço da oficina, e esse ano foi num restaurante onde a gente já tinha comido uma vez, há muito tempo, e não era lá essas coisas. Mas como foi a mula do Ettore que escolheu sem consultar ninguém, não tivemos muita escolha.

Acabou que comemos mal (era peixe, mas tudo em pequenas quantidades e de pouca qualidade), mas demos muita risada. No nosso canto da mesa tinha o Yavo, da Costa do Marfim, um negão educadíssimo que apesar dos 4 anos de Itália fala super mal italiano mas é muito inteligente e divertido; Dejan, da Sérvia; Mustafa, vulgo Musty, marroquino, uma das pessoas mais feias que eu já vi na minha vida, e que, como todos os marroquinos aqui, bebe álcool e come porco quando não há outros marroquinos por perto; David, maconheiro siciliano (ou seja, é quase como se não fosse italiano) que sempre nos ajuda quando mudamos de computador e tem que instalar tudo de novo; Marco, um esquisitinho de Bastia mesmo; e Katerina, uma polaca da minha idade e com a malícia de uma uva sem caroço, que o Yavo conheceu na igreja mas ninguém sabe por que veio almoçar com a gente, já que ninguém mais a conhecia. Falou-se de tudo, das causas da guerra civil e da pobreza na Costa do Marfim até a relação dos poloneses com o papa. Ri muito mesmo, e ainda troquei várias idéias culinárias com o Yavo, que obviamente adora inhame, farinha de mandioca, manga e banana de verdade em vez dessas porcarias que tem aqui, e por aí vai. Eu adoro inhame e morro de saudade, mas aqui não tem mesmo e ninguém nunca ouviu falar, eu não consigo nem explicar o que é porque neguinho não tem a menor idéia do que seja. Ontem trocamos várias receitas de inhame. E rimos muito da Katerina, que não está acostumada a beber e depois de uns três copinhos de vinho ruim já dava risada sem parar, e COMEU OS CAMARÕES COM CASCA, CABEÇA E TUDO MAIS, porque ela nunca tinha visto um camarão na vida e ninguém avisou a ela que essas coisas não se comem!

Acabamos dormindo depois do almoço e acordando super tarde. Saímos de casa à meia-noite pra encontrar Marco e Michela num bar, e de lá eles tiveram a brilhante idéia de ir dançar. Eu não tenho mais paciência pra esse tipo de programa, honestamente, e a coisa piora porque ninguém nas discotecas italianas sabe fazer uma caipirinha que preste, e ainda por cima usam açúcar de cana não refinado, marrom e que não dissolve nunca. E chegar em casa às quatro e meia da manhã FEDENDO HORRIVELMENTE A CIGARRO acaba com o meu humor. O único divertimento da noite foi ficar rindo das cubistas. Toda boate italiana tem uma ou mais cubistas, que são garotas gostosonas que ficam dançando seminuas em cima de cubos, que na verdade são mini-palcos colocados em pontos estratégicos. As de ontem eram duas, uma louraça belzebu com cara de quem tem o Q.I. de um caramujo e uma morena lindíssima com jeito de entediada que só mexia os quadris e os braços, fazendo biquinho. As duas de meia-calça cortada no joelho, cintos metálicos (meia-calça sem saia ou short, hein!), LUVINHAS SEM DEDOOOOO, bustier de renda e scarpins altíssimos. Todas elas dançam mais ou menos da mesma maneira, sempre muito sérias, como se o seu trabalho fosse importantíssimo pra manutenção do eixo de inclinação da Terra em relação ao sol. Quando eu chegar aí no Rio faço a imitação pra vocês verem.

Hoje quero ir ao cinema de qualquer jeito, tem muito filme que eu quero ver.

hmpf

Ah, quanto ao Stomp: sou mais a bateria da Mangueira, any time. Onde já se viu batuque em caixa de fósforo ser coisa original?

(O número dos tubos de borracha foi lindíssimo, sutil, delicado, engraçado, um primor. E parabéns à simpatia do grupo. Mas que o espetáculo é repetitivo e cansativo, isso é.)

De volta ao conforto do lar, inventei de fazer a massa e os molhos da lasanha da sessão Fratellão de amanhã. Ficou linda, e eu, que não sei cozinhar sem provar tudo, já posso adiantar que ficou tudo uma diliça.

A festa de aniversário antecipada vai ser sexta-feira, porque a irmã e o cunhado da FeRnanda acabaram tendo um contratempo e não conseguiram ficar até segunda. Sem grilo: vou ter mais tempo de fazer meu strogonoff, coisa que não teria conseguido anteontem, porque trabalhei na loja daquele doido varrido do Fabrizio. Então amanhã vou visitar o açougueiro do supermercado, que já ficou meu amigo e hoje disse que eu tenho uma pele linda e não pareço ter 27 anos, pra comprar carne pro bendito strogonoff. O único ingrediente que não tenho é o molho inglês pra temperar a carninha, mas na hora a gente inventa…

Em tempo: a lasanha eu fiz seguindo uma receita do Cucchiaio di Argento (Colher de Prata), a bíblia da cozinha italiana, que estou comprando em volumes separados de primi piatti junto com uma revista de fofocas, uma vez por semana. Escolhi a receita clássica alla bolognese: ragù que ficou fervendo por muito tempo, temperado com cebola, alho, bacon, pimenta-do-reino e vinho (usei tinto em vez do branco indicado na receita), molho branco que pela primeira vez na vida não empelotou, e nada de mozzarella, mas só parmesão ralado e queijo tipo caciotta (um parente melhorado do queijo prato) em pedacinhos pequenininhos entre as camadas de massa, só pra dar um tchan.

De volta ao conforto do lar, inventei de fazer a massa e os molhos da lasanha da sessão Fratellão de amanhã. Ficou linda, e eu, que não sei cozinhar sem provar tudo, já posso adiantar que ficou tudo uma diliça.

A festa de aniversário antecipada vai ser sexta-feira, porque a irmã e o cunhado da FeRnanda acabaram tendo um contratempo e não conseguiram ficar até segunda. Sem grilo: vou ter mais tempo de fazer meu strogonoff, coisa que não teria conseguido anteontem, porque trabalhei na loja daquele doido varrido do Fabrizio. Então amanhã vou visitar o açougueiro do supermercado, que já ficou meu amigo e hoje disse que eu tenho uma pele linda e não pareço ter 27 anos, pra comprar carne pro bendito strogonoff. O único ingrediente que não tenho é o molho inglês pra temperar a carninha, mas na hora a gente inventa…

Em tempo: a lasanha eu fiz seguindo uma receita do Cucchiaio di Argento (Colher de Prata), a bíblia da cozinha italiana, que estou comprando em volumes separados de primi piatti junto com uma revista de fofocas, uma vez por semana. Escolhi a receita clássica alla bolognese: ragù que ficou fervendo por muito tempo, temperado com cebola, alho, bacon, pimenta-do-reino e vinho (usei tinto em vez do branco indicado na receita), molho branco que pela primeira vez na vida não empelotou, e nada de mozzarella, mas só parmesão ralado e queijo tipo caciotta (um parente melhorado do queijo prato) em pedacinhos pequenininhos entre as camadas de massa, só pra dar um tchan.

16 euros a pequena

O jantar em Deruta até que foi agradável. O restaurante, escolhido pelo Super Chefão da Iron, fica numa casa antiga de pedra muito bonita, mas com estacionamento precário e perigosíssimas escadas em caracol. O menu era fixo:

Antipasti:
Verdure grigliate – abobrinha, berinjela e pimentão na grelha
Affettati (frios fatiados) – prosciutto crudo, pancetta (bacon enrolado), salame
Fave – favas num molhinho picante delicioso
Fagioli e salsiccia – feijão e linguiça desmanchada num molhinho delicioso

Primi:
Macarrão curto in bianco (sem molho de tomate) com linguiça e aspargos
Macarrão longo alla perugina (molho de tomate com linguiça)

Secondi:
Carne fatiada com radicchio e vinagre balsâmico (nem precisa dizer que dispensei alegremente… Vinagre me faz vomitar e radicchio cru não é muito a minha praia)
Lombo fatiado com vagem refogadinha levemente picante (uma delicia)

Dolce:
Mousse de chocolate, miraculosamente bem feita – digo miraculosamente porque a maioria dos restaurantes acha que qualquer creme de chocolate é mousse, quando na verdade sabemos que mousse é aquela toda furadinha, aerada, leve, delicada.

Café, grappa, limoncello e vino liquoroso. Muita água mineral. Vinho tinto da casa, que era gostosinho, mas me deixou de herança uma dor de cabeça fenomenal hoje.

Tudo isso por 20 € por pessoa. Não é muito, se consideramos a quantidade de comida, mas é que a qualidade não era láaaaa essas coisas. O macarrão curto tava cozido demais, mas fora isso, convenhamos, massa com molho de tomate e linguiça é coisa pra se comer em casa. Quando como fora gosto de pedir coisas que normalmente não faço em casa, por falta de saco, habilidade, ingredientes, sei lá. Mas no final das contas nos divertimos, e é isso o que conta.

**

Tive dois ataques de riso sérios ontem. Um por culpa dos galos de Deruta. Já expliquei aqui, pouco tempo atrás, que Deruta é famosa por aquelas cerâmicas majólicas horripilantes. A FeRnanda trabalha numa loja de souvenir em Assis que vende tudo que é cafonice de Deruta, de sininhos inúteis a porta-água-benta, passando pelas famigeradas jarras de vinho em formato de galo – o vinho sai pela boca. Quantas vezes fui visita-la na loja e ficamos horas discorrendo sobre a cafonice do galo!

Pois ontem quando chega o vinho dentro dos galos, na mesa, não resisti e mandei um SMS pra ela contando a beleza que era ter vinho servido saindo do bico do bicho. A resposta curta e rasteira me fez engasgar com o vinho:
– 16 euros a pequena.

Fiquei rindo feito uma besta por horas a fio.

Mas a pior mesmo foi a do Mirco contando suas peripécias da infância. Falava-se das aulas de catequismo, que os meninos só frequentavam pra poder jogar futebol nos intervalos e depois da aula; falava-se das freiras, que pegavam no pé dos alunos. E aí entra o comentário do Mirco:

– A irmã Fulana brigava comigo porque eu comia pedra.

Olhares estupefatos. Alguém (eu) tem a coragem de desenvolver o assunto:
– Como assim, comia pedra?
– Eu comia pedrinha. Claro que não qualquer pedrinha; eu escolhia aquelas que pra mim pareciam diamantes…

Comecei a rir e não consegui mais parar por 10 minutos, até porque cada um começou com a sua piadinha – mas a pedrinha era temperada, era al dente, era fresca, etc.

O problema é que chegamos em casa quase à uma da manhã. Acordei sozinha agora às 7, tomei banho, fiz beicinho pra névoa chata lá fora, e daqui a pouco tenho que ir pra agência. Tô mortinha…

A festa de aniversário antecipada da FeRnanda no sábado foi um sucesso. Eu passei a manhã fazendo os doces, e lá pras três da tarde, quando a FeRnanda chegou com a irmã, Renata, seu marido toscano, o Stefano, e a prima romana, Giulia,

a torta de limão

tava pronta e o bolo prestígio já estava cortado no meio, esperando o recheio de cocada ficar pronto. Prontamente botei as meninas pra trabalhar. Só que na família da FeRnanda NINGUÉM sabe cozinhar nada, nem fritar ovo, então já viu. A Renata foi sovar a massa das coxinhas, mas parecia mais que tava fazendo carinho nela.

A FeRnanda desfiou o frango que eu tinha refogado no dia anterior, mas sobrou tanta carne colada aos ossos que daria pra fazer mais umas dez coxinhas.

A Giulia e depois a Renata fizeram a massa do pão de queijo, que ficou duro, seco e denso feito um meteorito. Em um certo momento resolvemos parar tudo e ir ver a casa que, se tudo der certo, a FeRnanda e o Fabião, que chegou depois, vão comprar em Ripa, não muito longe daqui mas já fazendo parte do comune de Perugia. Ripa tem um castelo, que se chama castelo mas quer dizer burgo medieval, cercado por muralhas. Pois eles vão morar dentro dos muros, na cidadela! Protegidos contra ataques peruginos! Não tiramos fotos porque o Mirco tinha esquecido a máquina fotográfica aqui em casa, mas na próxima vez vamos tirar. O lugar é divino! Os campos em torno são maravilhosos, daquele verde indecente que só existe na Toscana e na Umbria, as casas em torno são lindas, é um lugar super tranquilo, mas ao mesmo tempo a um passo de Perugia. Como disse o cara da imobiliária, em Ripa há dois açougues! Dois! Que modernidade, que megalópole! ;) Ficamos muito felizes por eles; a casa é de pedra, medieval mesmo, linda, e adaptada às necessidades deles. Tô doida pra voltar lá pra fazer umas fotos. Eles devem se mudar em maio. Vão ficar mais longe de nós, mas fazer o quê…

Mas então, voltamos por Bettona, que é uma cidadezinha medieval no alto da colina (como 99% da Umbria, diga-se de passagem…), linda, deliciosa. Só que o frio tava foda e voltamos logo porque ninguém se aguentava em pé com aquele vento gelado na cara. A galera foi pra casa tomar banho, eu botei a quiche de couve-flor no forno e fui tomar banho também. Chegou o Moreno, amigo gatinho do Mirco do qual eu gosto muito e que convidamos pra fazer número par de convidados. Depois chegou o resto do povo e a festa começou.

Renata, Giulia, Mirco, FeRnanda, Fabiao e eu.

Como o frango não bastou pra toda a massa de coxinha que eu tinha feito, acabei fazendo uns risoles de queijo com presunto que, dizem, ficaram ótimos (eu não comi). Os pães de queijo ficaram daquele jeito meteórico mas neguinho comeu assim mesmo, e o que sobrou a FeRnanda levou pra casa pra congelar. A quiche ficou ótima, só sobrou um pedaço, que foi meu jantar de ontem. E os doces ficaram di-vi-nos.

Nós nos divertimos horrores, Fabio bebeu caipirinha demais e dormiu no sofá, Mirco e Moreno, pouco resistentes ao álcool, em meia hora já estavam com as bochechas vermelhas, eu e as meninas fofocamos horrores. Foi uma serata agradabilíssima, mas quando o povo foi embora eu tava a massa falida, com as pernas doendo de ficar em pé cozinhando e limpando o dia todo.

(Renata e o marido Stefano, Giulia, FeRnanda, Fabio, Mirco e Moreno)

(As receitas estão , como sempre. Só não botei a das coxinhas porque não ficou 100% do jeito que eu queria.)

A festa de aniversário antecipada da FeRnanda no sábado foi um sucesso. Eu passei a manhã fazendo os doces, e lá pras três da tarde, quando a FeRnanda chegou com a irmã, Renata, seu marido toscano, o Stefano, e a prima romana, Giulia,

a torta de limão

tava pronta e o bolo prestígio já estava cortado no meio, esperando o recheio de cocada ficar pronto. Prontamente botei as meninas pra trabalhar. Só que na família da FeRnanda NINGUÉM sabe cozinhar nada, nem fritar ovo, então já viu. A Renata foi sovar a massa das coxinhas, mas parecia mais que tava fazendo carinho nela.

A FeRnanda desfiou o frango que eu tinha refogado no dia anterior, mas sobrou tanta carne colada aos ossos que daria pra fazer mais umas dez coxinhas.

A Giulia e depois a Renata fizeram a massa do pão de queijo, que ficou duro, seco e denso feito um meteorito. Em um certo momento resolvemos parar tudo e ir ver a casa que, se tudo der certo, a FeRnanda e o Fabião, que chegou depois, vão comprar em Ripa, não muito longe daqui mas já fazendo parte do comune de Perugia. Ripa tem um castelo, que se chama castelo mas quer dizer burgo medieval, cercado por muralhas. Pois eles vão morar dentro dos muros, na cidadela! Protegidos contra ataques peruginos! Não tiramos fotos porque o Mirco tinha esquecido a máquina fotográfica aqui em casa, mas na próxima vez vamos tirar. O lugar é divino! Os campos em torno são maravilhosos, daquele verde indecente que só existe na Toscana e na Umbria, as casas em torno são lindas, é um lugar super tranquilo, mas ao mesmo tempo a um passo de Perugia. Como disse o cara da imobiliária, em Ripa há dois açougues! Dois! Que modernidade, que megalópole! ;) Ficamos muito felizes por eles; a casa é de pedra, medieval mesmo, linda, e adaptada às necessidades deles. Tô doida pra voltar lá pra fazer umas fotos. Eles devem se mudar em maio. Vão ficar mais longe de nós, mas fazer o quê…

Mas então, voltamos por Bettona, que é uma cidadezinha medieval no alto da colina (como 99% da Umbria, diga-se de passagem…), linda, deliciosa. Só que o frio tava foda e voltamos logo porque ninguém se aguentava em pé com aquele vento gelado na cara. A galera foi pra casa tomar banho, eu botei a quiche de couve-flor no forno e fui tomar banho também. Chegou o Moreno, amigo gatinho do Mirco do qual eu gosto muito e que convidamos pra fazer número par de convidados. Depois chegou o resto do povo e a festa começou.

Renata, Giulia, Mirco, FeRnanda, Fabiao e eu.

Como o frango não bastou pra toda a massa de coxinha que eu tinha feito, acabei fazendo uns risoles de queijo com presunto que, dizem, ficaram ótimos (eu não comi). Os pães de queijo ficaram daquele jeito meteórico mas neguinho comeu assim mesmo, e o que sobrou a FeRnanda levou pra casa pra congelar. A quiche ficou ótima, só sobrou um pedaço, que foi meu jantar de ontem. E os doces ficaram di-vi-nos.

Nós nos divertimos horrores, Fabio bebeu caipirinha demais e dormiu no sofá, Mirco e Moreno, pouco resistentes ao álcool, em meia hora já estavam com as bochechas vermelhas, eu e as meninas fofocamos horrores. Foi uma serata agradabilíssima, mas quando o povo foi embora eu tava a massa falida, com as pernas doendo de ficar em pé cozinhando e limpando o dia todo.

(Renata e o marido Stefano, Giulia, FeRnanda, Fabio, Mirco e Moreno)

(As receitas estão , como sempre. Só não botei a das coxinhas porque não ficou 100% do jeito que eu queria.)

giornata IKEA

E acabei não comentando nossa incursão à IKEA, um dos nossos programas preferidos. Claro que nos perdemos no caminho e viramos à direita quando era pra virar à esquerda, mas considerando o nosso senso de orientação (menor ou igual a zero), até que a volta que tivemos que dar foi pequena.

Chegando lá, a cabeçada de sempre. Um mundo de gente que não tinha coisa melhor a fazer com o sábado à tarde e foi bater perna na IKEA. Aquele sotaque toscano delicioso vindo de todos os lados, o T com a língua pra fora típico do pessoal de Prato (que eles pronunciam Pratho), alguns peruginos comedores de vogais. Não vimos grandes diferenças em relação ao que estava exposto na primeira vez que fomos lá, ano passado. Notamos que nosso espetacular mix de cachorro de parede e gancho pra roupas não estava mais à venda. Em compensação havia minibichos de pelucia foférrimos a 1 euro, porta-lápis bonitinhos, belas coisas pra cozinha, formas pra muffin (que vou usar pra fazer petit gateaux), cadeiras de plástico pra oficina a € 9,90, tapetinhos pro quarto por € 1,90, entre outras coisitchas. Não tem jeito; você pode estar super bem-intencionado, pegar uma sacola crente que todas as suas compras vão caber felizes nela, mas no final das contas você acaba comprando um mucchio de coisas e tem que ceder aos encantos do carrinho. No final da tarde, tínhamos um carrinho por pessoa (a Arianna e a tia do Mirco foram com a gente). Sorte que a mala do carro é gigante, senão um dos quatro teria que voltar pra casa de trem… ;)

**

E segunda-feira jantamos chinês com FeRnanda e Fabião. O aniversário da FeRnanda é agora dia 2 de março, e combinamos de fazer uma mini-festa aqui em casa, já que nosso apartamento é maior e eu tenho uma cozinha mais equipada (a FeRnanda não cozinha). O cardápio: coxinha de galinha, pão de queijo, guaraná, quiche de couve-flor ou empadão de frango ou torta de cebola (não decidimos ainda), bolo Prestígio. De qualquer maneira estamos organizando uma excursão à Castroni, em Roma, pra abastecer as nossas dispensas tupiniquins. A FeRnanda tem mesmo que ir à capital pra pegar uns sapatos que deixou com os primos que moram lá, então vamos matar dois coelhos com uma porrada só.

Mãe, pede a receita do bolo Prestígio pra vovó, por favor, que eu não tenho! E a do quiche também, que ela já me deu 300 vezes mas eu perco SEMPRE…