ciliegie

Margareth foi embora de manhã cedo, então fui até o hotel tomar café da manhã com mamãe e botar as malas dela no carro pra ela voltar a se instalar aqui em casa. Normalmente adoro café da manhã de hotel, mas aqui é tudo sempre doce, e eu detesto doce, sobretudo no café. Tive que me contentar com pedaços de pão sem sal com manteiga sem sal, mas me deleitei com o café com leite.

E comi cerejas pela primeira vez esse ano! As da cerejeira lá da escola ainda estão terrivelmente azedas, mas elas que me aguardem quando amadurecerem. Não vou deixar pedra sobre pedra. Sempre gostei de cereja, e desconfio que não seja só por causa do sabor, mas porque é uma fruta prática. Tenho horror a comida complicada, que requer logística e paciência. A cereja você joga na boca, come o que tem que comer e cospe fora o caroço. Uma praticidade impressionante, acho o máximo.

sparafucile

Quando recebemos visitas é lógico que saímos pra comer, que é só o que há pra se fazer aqui. Então levamos mamãe, Stefania e Rob pra jantar no Sparafucile, em Foligno, aquele restaurante que não tem menu e onde você tem que comer o que te botam na mesa. Hoje foi o primeiro jantar com mesas outdoors do ano, já que só agora começou a esquentar, então o serviço estava péssimo (ele só tem uma garçonete e meia) e acabamos de comer tardíssimo. Mas vale a pena, sempre. Principalmente pelo petit gateau de chocolate feito em casa com sorvete de creme idem.

macalão

Inventei um macarrão estranho hoje. Fiz fusilli (parafuso) especial da Barilla – a massa é de 5 cereais, e eu amo tudo o que tem cereal na receita – com feijão branco enlatado e cogumelo. Com preguiça de cortar alho pra fazer refogado, refoguei com dado – caldo Knorr – de alho e salsinha e outro de ervas aromáticas mediterrâneas. Sabe que ficou uma diliça?

O bom do macarrão é que combina com absolutamente qualquer coisa. Tudo o que você joga por cima do macarrão fica uma delícia, é impressionante. Eu gosto de macarrão com feijão, com verduras tipo abobrinha, aspargos, alcachofras, ervilhas, berinjela; gosto de macarrão com atum, com moluscos, com crustáceos; massa com carne de ganso, de javali, de vitela, de lebre, de faisão, com lingüiça, com presunto, com bacon; macarrão sem nada, só com alho torradinho e azeite – minha versão do spaghetti all’aglio e olio, porque aqui eles não comem muito alho, jogam o dente inteiro, com casca, no azeite, e depois tiram, mas eu amo alho então esmago bem esmagadinho e deixo dourar devagarzinho no azeite. Macarrão é uma comida muito foda. Valeu, Marco Polo.

jantar marromeno

Como hoje eu ainda estava meio assim-assim, Mirco resolveu jantar fora. Veio me encontrar em Foligno, deixamos a Uno largada em um canteiro em um lugar de pouco movimento e fomos pra Trevi. Quem indicou o restaurante foi o Gianni, que é um amor mas meio complicado; levamos séculos pra achar o tal lugar, que é escondido pacas. Restaurante bonitinho, bisteca fiorentina cheirosa na mesa ao lado, eu não tava com muita fome porque só tinha conseguido almoçar às quatro da tarde, mas como tinha sido basicamente tudo abobrinha e cenoura e pouquíssimo macarrão, achei que poderia encarar um jantar. De primo encaramos o risotto della casa, mínimo duas pessoas (veio uma bandeja inteira, comida pra cacete), delicioso, com tartufo e uma espécie de creme de queijo (a garçonete disse que era gruyère e parmesão). Mirco pediu filetto al pepe verde, que veio mais altinho e suculento do que o normal, e eu fui de scamorza, meu queijo preferido, na grelha – nada de particular. Não conseguimos terminar a garrafa de Rosso di Montefalco, nosso vinho mais amado. Estávamos tão cansados os dois que nem curtimos nada direito. Mas foi a primeira vez que fomos a Trevi; a cidade é lindinha e de dia deve ser uma delícia. Ficamos de voltar.

E pra sair da cidade? Cacetes estrelados, mas um mínimo, um mínimo de sinalização estradal não, né? A cidade fica no alto de uma colina e é óbvio que precisávamos descer, mas por onde, se giramos em círculos várias vezes e demos de cara com várias ruas fechadas ou com mão invertida por causa de obras? Depois de uns 15 minutos conseguimos finalmente achar a estrada certa. E como quarta-feira é o pior dia da semana em termos de televisão, nada nos restou a fazer senão dormir e digerir.

la stalla

E à noite jantamos, como sempre, com Marco e Michela. Não sabíamos aonde ir, e eu sugeri o La Stalla (literalmente, O Estábulo), lugar do qual já tinha ouvido muito mas que eu não conhecia. Fica no que era efetivamente o estábulo de um grande casolare antiguérrimo na subida pra Assis. Na casona funciona um hotel, e o La Stalla é o restaurante do hotel. O menu é totalmente típico e rústico e eles são famosos pela torta al testo assada nas cinzas, como naquele pé-sujo de Gubbio aonde fomos com a Roberta na Festa dei Ceri do ano passado. O pessoal aceitou a sugestão e fomo-nos.

O lugar era realmente uma estrebaria, socorro. No meio da sala principal, a “churrasqueira” gigante onde antigamente funcionava a lareira monstruosa, daquelas nas quais você pode entrar e sentar em meio ao fogo, se quiser. Por sorte nos colocaram numa sala lateral onde não fomos defumados e com um pouco mais de calma pro bebê Alessandro. A comida demorou um pouco pra chegar, mas quando chegou… Eu pedi uma torta com prosciutto logo de cara. Normalmente não gosto do prosciutto sem queijo, mas pedi como prato principal um formaggio al coccio, ou queijo na tigela de barro: gruyère (que aqui chamam groviera), caciotta, fontina e scamorza, todos queijos que eu amo, derretidos juntos com uma colherada de vinho branco na tigela de barro, na brasa. Acabou que veio a torta antes e eu acabei comendo sem queijo, mas olha, vou te dizer, tanto a torta quanto o prosciutto tavam DI-VI-NOS. O queijo chegou com o acompanhamento de uma batata assada nas cinzas, coisa de louco. E de sobremesa, porque eu não sou de ferro, um creme de café feito lá mesmo, maravilhoso. Os meninos comeram carne na brasa e se fartaram. As lingüiças tavam com uma cara ótima mesmo. Ninguém comeu massa porque todo mundo come na casa da sogra no almoço e quando tem tagliatelle fatte in casa todo mundo acaba repetindo, então no jantar tem que se controlar um pouquinho. Mas gostamos do lugar e vamos voltar. Na próxima vez vou pedir um primo. As receitas são todas supernormais – carbonara, ragù, gnocchi com abobrinha – mas se tudo é feito lá mesmo e não industrializado, deve ser o ó.

funerais, filmes e jantares

Tivemos um funeral hoje, do pai do Lello (apelido de Antonello), amigo meio afastado do Mirco. O Lello é um cara legal mas MOITO estranho e com fortes tendências de Elesbão não tem amigos. O pai tinha câncer há muito tempo e há semanas estava firme e forte na morfina.

Depois da cerimônia na igreja ridícula de San Vitale, em Viole di Assisi, não fomos ao cemitério. Passamos pra pegar o Moreno em casa e fomos pra Perugia ver Wallace and Gromit. Sinceramente, esperava coisa melhor. Talvez a dublagem também não ajude, sei lá.

Mas pra dar uma alegrada fomos jantar no Sparafucile, em Foligno. Adoramos comer lá porque a comida é bem tradicional umbra, vemos a cozinha de perto como se estivéssemos jantando na casa de um amigo, e o preço é honesto. O menu:

Antipasti: uma fatia de queijo de cabra meio mofado DELICIOSO, pedacinhos de focaccia de alecrim feita em casa com azeite cru, cebola assada com farinha de rosca polvilhada por cima, salmão defumado, alcachofras no azeite com hortelã, omeletinha de verdura.

Uma porção muito pequena de feijão branco tipo canellini ligeiramente picante, um manjar dos deuses.

Uma porção muito pequena de frascarelli (tipo um minimacarrão sem ovo na massa) cozido na lentilha com um fio de azeite por cima, de comer chorando.

Tagliatelle de brócolis com pedacinhos de lula, ótimas.

Um filé pequeno na brasa, ao ponto, com batatas assadas no forno com alecrim.

Um petit gateau de chocolate com sorvete, tudo feito ali mesmo (vimos as meninas preparando o sorvete pro dia seguinte).

Tudo isso regado a um Rosso di Montefalco de uma cantina que não conhecíamos, e que eu fiz a mongolice de derramar bem no forro do meu casaco delicioso da Sisley. É mole ou quer mais?

pizza boa

Toda vez que como a pizza 1822 no Penny Lane, nossa pizzaria preferida, eu penso em como gostaria que as pessoas viessem aqui me visitar. Porque eu quero compartilhar essas coisas com todo mundo, sabe. Pizza di speck (tipo um presunto cru defumado), scamorza (um queijo levemente defumado, primo distante do provolone) e milho, uma diliça. Outra que eu também amo é a Teddy Boy, com batata ralada fininha, lingüiça e alecrim. Tem a Revolver, com salaminho picante. Rapaz, tem muita pizza boa, e eu fico sempre imaginando a Hunka iria adorar essa, o Tuco iria ficar louco com essa, etc.

Venham, dahlings. Please.

risotto gamberetti e zucchine

A pedidos, o risoto de camarão do Ano Novo :)

Não sei quanto botei de camarão; fui à peixaria e pedi “me dá um punhado de camarão”, a menina botou na balança (não vi o peso), achei melhor pedir mais um pouco. Usei camarões cinzentos, daqueles graúdos.

Limpei os camarões direitinho, lavei bem e deixei num prato com alho picadinho, azeite e salsinha picada, de manhã até a hora do jantar.

Refoguei um tiquinho de cebola ralada em um pouco de manteiga, juntei o arroz (usei o tipo arboreo, mas qualquer um pra risoto vai bem) e deixei refogar uns minutinhos. Juntei um pouco de vinho branco, esperei evaporar e adicionei duas conchas de caldo de camarão (o ideal é ferver as cascas e cabeças pra fazer o caldo, mas os meus crustáceos vieram descabeçados, então usei um caldo Knorr sabor camarão mesmo, que trouxe do Brasil porque aqui não tem). O chato do risoto é que tem que ficar vigiando, senão cozinha demais e fica uma bosta, ou então seca e cola tudo na panela. Quando estiver um pouco mais cru que al dente, junte umas abobrinhas picadas em cubinhos (eu boto sempre uma abobrinha por pessoa, pra dar mais volume não-calórico ao prato, mas meia por pessoa já tá de bom tamanho) e os camarões temperados. Quando o arroz estiver al dente, os camarões cor-de-rosa e a abobrinha já cozida mas não desmanchando, pelamordedeus, o risoto tá pronto. Se quiser dar um tcham final, misture um pouco de açafrão – só quando já estiver quase pronto, senão fica amargo. Se fizer como eu e usar o caldo Knorr, preste atenção pra não exagerar no sal. Sirva quentíssimo, E SEM PARMESÃO.