Mais um “veranico”. Depois de uma semana gelada, o último weekend foi super light em termos de temperatura, e por enquanto o clima ainda é de inverno carioca, super tabajara. Anteontem de manhã fui aos correios, só de pullover de lã sobre a malha, e senti calor. De tarde fui correr (na verdade correr um pouco e caminhar muito, porque estou super fora de forma), de camiseta de manga curta. Como é bom poder ir à varanda pendurar as roupas no varal e voltar com as mãos inteiras, em vez de duras, congeladas e insensíveis!

Mas acho que a coisa não dura. Olhando pela janela agora cedinho só vejo um paredão branco de neblina. Merda.

Essas são as fotos do tombo do Mirco domingo, no quintal da Arianna. Foi querer brincar de cabo-de-guerra com meu cachorro e se estabacou de costas no chão. Não consegui tirar nenhuma foto dele já no chão. Estava ocupada me sbudellando (algo como “eviscerando”) de rir.

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Anteontem fomos ao Ipercoop, o supermercadão aqui da área, pra nos distrair, e acabei comprando uma maquininha de fazer pasta, igual à da Franzoca. Comprei também o famoso rolo de macarrão, e uma tábua de madeira pra preparar a massa, já que a minha mesa hedionda é porosa demais pra fazer qualquer coisa com farinha, vai ficar tudo imundo. Ainda essa semana pretendo fazer um macarrão qualquer. Depois digo como ficou e dou a receita.

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Aquela planta comprida que no Brasil se chama Espada de São Jorge aqui na Itália se chama Lingua di Suocera (língua de sogra). Vivendo e aprendendo.

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E a penúltima parte da epopéia sérvia: o mercado de Majilovac. Sabe feiras medievais, ao aberto, com lama no chão e as coisas mais estapafúrdias expostas ao público? É assim. Vendem porcos, sapatos, chapéus, colheres de pau, trenós, galinhas, peças de carro, gasolina, chocolate, binóculos, cigarro, roupas de couro, roupas de couro falso, bandejas em inox, meias (comprei várias), facões, relíquias de guerra, brinquedos tabajara, vestidos de gala, cestos de vime, móveis, carneiros, ferramentas, temperos, água mineral de origem duvidosa, bebidas alcoólicas de tudo que é tipo, pneus, maquiagem, canetas coloridas, perfumes falsos, malas e bolsas, enfeites de Natal. Entre outras coisas. Só não vendem livros.

Que depressão esse mercado! Aquela lama no chão, os carros estacionados de qualquer jeito, gente feia e encasacada caminhando carrancuda pra lá e pra cá, gesticulando com os vendedores; as roupas incrivelmente cafonas penduradas nas araras; todo mundo fumando sem parar; os vendedores botando a mercadoria em amassadíssimos sacos plásticos de supermercado antes de dar aos clientes; gente vindo fazer compras de TRATOR; gente com casaco de pele falsa; gente experimentando sapato ali mesmo, em pé na lama; senhoras comprando brocas pra furadeira e correia pro motor do carro; crianças querendo brincar com os porcos e galinhas… Caramba, é outro planeta mesmo. Chegamos em casa cansados de tanto ver coisa estranha e feia. E as únicas coisas que eu comprei em todo esse tempo na Sérvia foram nesse mercado: alguns pares de meias coloridas (listradas de vermelho e branco, listradas de amarelo, branco, preto e verde, preta com bolinhas azuis, listrada de lilás, verde, amarelo, azul e laranja, e uma listrada em tons de cinza e azul com o desenho do Tigrão), um batom fedorento mas bonitinho, e uma bolsa horrível em couro fake pra Carmen, que é de uma cafonice ímpar. Só.

Sei que em Belgrado com certeza teríamos visto coisas bonitas, e não falo só de coisas pra comprar. Dizem que a cidade é bonita, e vimos algumas pontes interessantes no caminho até lá na volta pra casa, mas infelizmente o tempo e o clima não permitiram. Não posso nem dizer que ficará pra próxima, porque espero veementemente que não haja uma próxima. Programa de índio assim de novo, nunca mais.

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No começo de março vamos a Rotterdam visitar a irmã do Mirco que tá morando lá. Ela quem vai pagar as passagens, porque eu não tenho dinheiro pra ir nem na esquina…

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E pra não perder o hábito, fotos cachorrais. Esse é um vizinho da Arianna que tem vários microcães. No domingo passou lá pra visitar, e levou toda a trupe.

Mister Legolas fazendo pose blasé:

E todo feliz com seu galho no meio do mato:

Srbija

Vamos lá.

Como foram oito dias de não fazer absolutamente NADA, nem de ver absolutamente NADA de interessante, não vou fazer um relato da viagem, mas das minhas opiniões sobre a cidade que visitei. Sei que uma cidadezinha de 2000 habitantes, cuja maioria mora em outros países europeus e só volta pra lá no Natal, na Páscoa e no verão, não basta pra julgar um país inteiro. Não conhecemos Belgrado – a neve e o gelo na estrada não permitiram. Dizem que é bonita, mas eu juro que a essa altura do campeonato não acredito.

Vou colocar a pronúncia das palavras entre parênteses. A sílaba tônica, quando eu souber qual é, evidencio em negrito.

O lugar

Pra quem não lembra, a Sérvia é um dos muitos países fodidos que apareceram depois da fragmentação da ex-Iugoslávia. Os outros países são Croácia, Montenegro, Macedonia, Bósnia Herzegovina, e Eslovênia. A Croácia parece ser o mais civilizado, provavelmente porque tem uma longa costa, que é destino de férias de muitos italianos. Boa parte desse litoral croata um dia pertenceu à república de Venezia, e muitas cidades têm nomes em italiano.

Sérvia, na língua eslava, se diz Srbija (Srbía).

Nós ficamos em Majilovac (Maiílovats), a uma hora de Belgrado. Tem uma rua principal, dois bares, dois mercadinhos, um cemitério, e mais nada. A rua principal é a única asfaltada; todas as outras são um lamaçal só, e impraticáveis a pé. As casas são grandes, muito grandes, espalhafatosas, cafonamente luxuosas. Todas pertencem a gente que deixou a Sérvia e mora na Itália, na Áustria, na Alemanha. Os muros e cercas são TODOS, TODOS tortos, em pelo menos uma das três dimensões.

Eu lembro que achava as casas estranhas mas custei a entender o que estava errado: há um excesso de janelas, de colunas, arcos, varandas, meias-águas. Parece que há uma competição entre os vizinhos: aaaah, a minha casa tem mais janelas que a suaaaaaa… As cores? Vimos casas azuis, amarelo-canário, rosa, lilás. LILÁS.

São todas casas complicadas; as janelas são desniveladas, denunciando a quantidade de andares dispostos loucamente dentro das casas. Tem sempre um anexo, um andar adicionado depois da casa pronta, uma outra casinha dentro do quintal, essas coisas estranhas. Mil portas, portinhas, corredores, escadas, passagens.

Os carros são todos velhos, a não ser os do pessoal que mora fora, e os melhores têm placa da Áustria. Ninguém usa cinto de segurança.

Fuma-se em tudo que é lugar, até no cinema – ah, não, no cinema só é permitido fumar nos intervalos… Como se a fumaça não ficasse ali acumulando. Coisa ridícula. Fumante é idiota em qualquer lugar do mundo. Não há sistema de circulação de ar em lugar nenhum. Do lado de fora do bar não é possivel reconhecer quem está dentro, por causa da fumaça. Dois minutos são o suficiente pros olhos começarem a lacrimejar (nós contamos o tempo, não é paranóia anti-tabagista minha). Respirei mais fumaça nesses 8 dias do que em toda a minha vida.

O lugar civilizado mais próximo é Požarevac (Pojarevats; o ž tem um som entre o z e o j), a 17 quilômetros de Majilovac, e cidade natal do Milosevic.

A cidade é grandinha, tem um pouco de tudo – pouco mesmo. As ruas SEMPRE enlamaçadas, mesmo as asfaltadas. As lojas são de uma cafonice ímpar, não importa o que vendam: móveis, eletrodomésticos, roupas, joias, é tudo horroroso. As vitrines são todas empoeiradas, os logotipos e as fontes são antiquados, é um lugar que parou no tempo.

O único cinema não é exatamente um cinema, mas uma locadora de vídeo, aliás bem completinha, com uma pequena sala de projeção. Mostram um filme por semana, e há poltronas com mesinhas onde você pode comer e beber enquanto assiste ao filme. Saída de segurança? Nem pensar. Três blackouts enquanto assistíamos a Scary Movie 3. O filme da semana que vem é o Retorno do Rei – o rei só nao retornou ainda aqui no Burundi, impressionante. Só dia 22 mesmo.

Indo na direção oposta, há uma outra cidadezinha chamada Veliko Gradište (velico gradishte), que é bem mais bonitinha, mas não tem praticamente nada além de uma bela vista pro Danúbio e pra Romênia, ali pertinho. Ali perto há um lago, Srebrno Jezero (lago de prata, srebrno iezero), com muitas mansões de verão em volta, bares, restaurantes, hotéis, que teoricamente ficam lotados durante o verão. O lago é artificial, formado a partir de um desvio do Danúbio, que passa por Belgrado e por várias cidadezinhas do interior.

Mirco foi cortar o cabelo e fazer a barba duas vezes em Gradište. O barbeiro tem um quiosque com duas cadeiras e uma pia (não cuba pra lavar a cabeça, pia mesmo). Há duas ajudantes, que estão ali pra aprender a profissão. Há três cadeiras pra quem está esperando a sua vez. Fuma-se o tempo todo. Enquanto esperamos, fomos tomar um café no bar-hotel Vegas, de propriedade de mafiosos locais. Quando chegou a nossa vez, a estagiária mais nova atravessou a rua e veio nos chamar. O cara trabalha rápido, é muito eficiente, e só cobra 110 Dinar (mais ou menos 3 euros).

A língua

Eles falam uma língua eslava, difícil de explicar com que coisa se parece. Muitas palavras terminadas em vogal, mas também muitos encontros consonantais malucos, pra nós impronunciáveis. Escreve-se tanto em alfabeto latino, com aqueles acentos doidos sobre (ou sob) as consoantes, lembrando o turco, quanto em alfabeto cirílico, que é belíssimo. A língua eslava não tem nada a ver com o russo, mas a maioria da população entende russo porque foi obrigada a estudá-lo por 4 anos na escola.

Pequeno micro-mini-dicionário sintético-reduzido sérvio-português:

Da – sim
Ne (né) – não
Živeli (jiveli) – tchin tchin (eles brindam O TEMPO TODO)
Polako – devagar
Malo – pouco
Veliko – grande
Kokoska – galinha
Porcil – porco
Hvala (rvala) – obrigado

…continua…

Berlim

Ah nao, tem foto do muro também, mas agora nao dah tempo de editar que to indo trabalhar na loja do maluco. Entao.

Cartazinho indicando o limao verde brasileiro num supermercado em Berlim:

Hamburg

Fotos de Hamburgo:

um prédio feio caindo aos pedaços bem na rua dos restaurantes badalados, onde jantamos num restaurante portugues na primeira noite.

No dia seguinte fizemos um passeio no lago, que é muito bonito.

O centro é mais ou menos assim:

falta do que fazer é f*…

Impressionante a quantidade de gente que me escreveu enchendo o saco porque eu nao gostei da Alemanha. Ninguem nunca ouviu falar que gosto nao se discute? Porra, achei Berlim uma droga sim, é problema meu, por que toda essa encheçao de saco? Nao tenho o direito de achar uma cidade horrorosa, suja, fedorenta, e as pessoas igualmente horrorosas, sujas e fedorentas? Cade a liberdade de expressao? Eu, hein…

Pode ser que eu tenha ido aos lugares errados. Tipo, Lubeck é linda. Dizem que Munich é linda. Nao deu tempo pra ir, e também nao teria dinheiro, porque as passagens de onibus e trem custam uma fortuna, praticamente tres vezes os preços das passagens aqui na Italia. Pode ser que tenha me faltado alguém que morasse em Berlim pra me mostrar as coisas bonitas de lah. Mas posso dizer que rodei bastante, fomos em praticamente tudo que é lugar que o guia turistico indicava, e achamos TUDO uma merda, fora o Tiergarten, que é bonito, mas é soh um parque, nada mais. Alias, nao foi soh opiniao nossa, mas de mais um bando de gente que estava no mesmo albergue – gente de tudo que é lugar do mundo, diga-se de passagem, e que achou Berlim uma droga. Varias pessoas inclusive foram embora mais cedo do que tinham programado, indo pra fora de Berlim, ou continuando o tour da Europa que muitos estavam fazendo.

Neguinho pode espernear, me encher o saco, me mandar spam, me telefonar torrando a paciencia, me chamar de futil (quer dizer que ter uma opiniao ruim sobre um lugar significa ser futil?), achar erro de Portugues que eu nao cometi, dizer que eu sou feia, que eu tenho cara de peixe morto, que as lambretas italianas sao muito piores do que o metro alemao, pode dizer o que quiser. Continuo achando Berlim uma merda, e nao tenho a menor intençao de voltar.

E, na boa: prefiro mil vezes viver numa cidade de transito confuso e lambretas assassinas mas onde pelo menos as pessoas sorriem pra voce, puxam conversa, gesticulam se nao conseguem se fazer entender, comem muito bem, cantam enquanto trabalham ou caminham na rua, onde as crianças de colo nao franzem a testa pra voce (como nos vimos umas quatro vezes na rua e no metro, em Hamburgo e em Berlim: crianças DE COLO ou no carrinho FRANZINDO A TESTA e encarando sério. Medo.), onde a mulherzinha do metro diz “next stop, Barberini” pros turistas entenderem, prefiro tudo isso do que a organizaçao do metro alemao. Um pouco de caos às vezes é bom; pelo menos é mais divertido, e se a gente nao se diverte, entao tah vivendo errado.