Madri

Quando acordamos, estava frio. FRIO. E chuviscando. Desde 1987 não fazia tanto frio em Madri em agosto. Melhor, porque turismo no calor escaldante é de matar. Subimos e descemos a Gran Vía, paramos na Plaza de España pra tirar fotos na estátua do Don Quijote, voltamos de metrô até Sol. Fizemos compras rápidas no supermercado do El Corte Inglés, coisinhas tipo iogurte, leite com nescau, frutas, pra deixar no frigobar do hotel. E fomos almoçar de novo no Museo del Jamón.

Dessa vez os meninos cismaram que queriam experimentar o famoso jamón iberico, que custa OITENTA EUROS O QUILO. Nenhum prosciutto italiano custa tanto assim, e a curiosidade foi maior do que a prudência. Resultado: as partes bem curadas estavam ótimas, as outras tinham gosto de carne crua. E eu toda feliz com a minha omelete baratíssima e absolutamente sem surpresas.

Depois de um merecido descanso no hotel, finalmente fomos ao Prado. Senhores, é um dos museus mais legais que eu já vi. Não é gigantesco como o Louvre e não requer dias e dias de visita nem refinadas técnicas de orientação espacial. Mas TODOS os quadros do acervo são interessantes. Adoramos. Lógico que os meninos não agüentavam mais ver raptos das sabinas nem afrodites nem virgens marias com o menino jesus nem naturezas mortas, e por isso a nossa visita foi relativamente veloz, mas mesmo assim eu a-do-rei o museu. A visita a Madri poderia perfeitamente incluir só a visita ao museu, que já valeria a pena.

Mas o dia não terminaria assim tão facilmente: depois do banho pegamos o metrô até a estação Colón (uma praça sem graça que dói) pra encontrar a Maria. Maria é de Lisboa, trabalha na embaixada portuguesa em Madri e é a namorada do primo da Chiara, que é de Merano mas mora em Milão. Estão nessa ponte aérea há um ano, imaginem. Ela fala um italiano misturado com português, francês, inglês e espanhol, então as conversas são divertidíssimas. Passeamos pelo bairro onde ela mora, Salamanca, que é lindo e chique, e fomos andando a pé mesmo na direção do bairro de Malasaña. Atravessamos a Chueca, o bairro gay da cidade, que lembra um pouco Santa Teresa sem as ladeiras. Paramos em um bar muito estranho em Malasaña pra tomar uma cerveja, aquele povo todo fumando dentro me irritando, mas tudo muito informal, diferente daqui da Bota, onde tudo é motivo pra neguinho se montar todo de Dolce e Gabbana da cabeça aos pés. Maria, com mapa na mão, nos guiou até um restaurante onde já tinha comido uma vez e gostado. Chama-se La Fragua de Sebín e recomendo fortemente: Divino Pastor, 21. O menu era tão interessante que levei horas pra decidir. Acabamos comendo todos pratos diferentes:

De entrada, tomates verdes fritos en ensalada con cebolla confitata y frutos rojos, revuelto (ovos mexidos) de morcilla (tipo um chouriço, delicioso) con piñones, manzana ácida y patatas paja (sim! Existe batata palha na Espanha!), e croquetas de jamón y boletus (cogumelos). Depois: eu comi filetitos de ciervo sobre membrillo asado (uma espécie de geléia durinha) con salsa de boletus y foie (tudo delicioso, fora a geléia que não toquei), Mirco foi de solomillo de buey con puré de calabaza (carne de vaca com purê de abóbora) y idiazábal (um tipo de queijo) y patatas rejilla (não sei explicar). De sobremesa, eu fui de coajada de oveja con salsa de nozes y sorbeto de miel e Mirco de tatin de manzanas calientes. Já não lembro mais o que Gianni, Chiara e Maria comeram porque os nomes eram todos assim longos e complicados feito pedigree de cachorro. O vinho também não lembro mas estava muito bom, e o jantar foi muito agradável. Mais uma caminhada até o metrô Bilbao, e dali voltamos direto pro hotel, de barriga cheia.

 


Toledo

Não ouvimos o despertador tocar e quando o Gianni ligou avisando que estavam descendo pra tomar café e nos esperavam no Faborit, pulamos da cama e em dez minutos estávamos na rua. Só que…

Hoje é quinze de agosto e ninguém trabalha na Europa no dia quinze de agosto. O Faborit estava fechado e acabamos tendo que nos contentar com uma bosta de café e muffins massudos no Starbucks ao lado. Nas calçadas, muita gente voltando da movida, a night dos madrileños. Às sete da manhã tinha gente tomando a última cerveja com bocadillo de jamón, muita gente cambaleando pela rua, muita gente rindo alto e cantando como se ainda estivesse na discoteca. Gente maluca.

Pegamos o metrô até a estação Atocha Renfe, a tal do atentado, onde já tínhamos ido ontem pra pegar as passagens pra Toledo que o Gianni tinha reservado pela internet. A estação é linda, com uma espécie de floresta tropical dentro, com direito a mil tartarugas banhantes e tal. Uma umidade quase estilo Manaus, mas é interessante porque é inesperado. Fiquei fã. Especialmente das tartarugas. Pegamos o trem rápido pra Toledo, que, ao contrário do Eurostar pseudoveloz italiano, saiu na hora e é muito confortável, sem esmagar seus joelhos no banco da frente. A viagem dura meia hora e a paisagem é tão diferente da paisagem umbra que parecia que estávamos em outro planeta. Nada de casas esparsas aqui e ali ou de campos verdinhos brilhando com girassóis; só distâncias grandes e amareladas, secas, rochosas – o que a gente já tinha visto do avião. A primeira coisa que me veio na cabeça foi Asterix e os Ibéricos: Obelix encontrando os ciganos no meio daquelas planícies pardas e torradas, e todos os ibéricos dizendo “ay” e “olé” o tempo todo, com aquela cara de macho e o peito inchado de orgulho. Fiquei rindo sozinha enquanto o Mirco dormia.

A estação de Toledo é de construção recente, mas o estilo é o mudéjar, aquele mix de espanhol e árabe que eu a-do-ro. Resolvemos ir a pé até o centro, subindo uma ladeira maldita. Estava quente mas não excessivamente senegalês, e o passeio foi agradável. Paramos no quiosque de informações ao turista pra pegar mapas e tal, e entramos na cidade pela Puerta Nueva de Bisagra. Logo depois de uma subidinha chegamos à Puerta Sol, ao lado da Puerta Cristo de la Luz. Pegamos essa segunda pra ver a Mezquita Cristo de la Luz, que parecia muito maior nas fotos mas é interessante como estrutura. Foi a única mesquita que sobrou na cidade, das dez existentes, depois da Reconquista católica. Ainda dá pra ver alguns afrescos nas paredes, e nas escavações arqueológicas de vez em quando vê-se uma cabeça de fêmur, um pedaço de íleo, uma costela de alguém enterrado no subsolo do templo. Uma ponte improvisada passa por cima desse sítio arqueológico e leva a um jardinzinho discreto com uma fonte no meio, e só essa agüinha e as plantinhas em volta já baixam a temperatura sensivelmente. Atravessando o jardim chega-se a uma espécie de terraço aberto de onde se vê a parte superior da Puerta Sol, linda, e a vastidão ressecada lá embaixo, intercalada com partes modernas da cidade.

Dali fomos à Plaza de Zocodover, antigo mercado de animais nos tempos dos mouros, que não tem nada de particular além de um McDonald’s bem disfarçado. Velhinhos e velhinhas batiam papos animados nos bancos da praça e turistas alugavam Segways. O sonho do Gianni era andar naquele treco, e lá foram ele e Mirco pagar 12 euros pra ficar 20 minutos aboletados naquelas coisas. Acharam divertidíssimo e começaram a planejar uma atividade parecida, de aluguel de Segway, em Assis. Então tá.

Depois da brincadeira, fomos ao Museo Santa Cruz pra ver obras de El Greco, sempre muito esquisitas e modernosas pra época, e uma tapeçaria linda, o famoso Astrolabio. Descemos a Calle Cervantes e paramos pra almoçar ali mesmo, em um buraco com cara de restaurante improvisado na beira da praia, cheirando a DDT. No fundo do lugar, as mesinhas com a famigerada toalha de plástico. Os meninos comeram salada; eu não sou fã de verdura crua e ataquei de judías con jamón – ervilhas (não as redondinhas mas a vagem da ervilha) refogadas com presunto, uma delícia. Ainda encaramos um peito de frango grelhado e uma racion de presunto com pão. Voltamos à Zocodover pra digerir por meia horinha e voltamos ao batente. A Catedral, onde não entramos porque o ingresso era caro demais e pagar pra entrar em igreja é o fim do mundo, é realmente um desbunde. Até 1851, se não me falha a memória, Madri não tinha catedral porque fazia parte da arquidiocese de Toledo ou alguma coisa assim. Ainda hoje Toledo é um centro importante da igreja católica na Espanha. E a catedral é bonita MESMO.

A Chiara é muito interessada em artes e queria ver El Entierro del Conde de Orgaz, sempre do El Greco, na igreja de S. Tomás. O quadro é interessante mesmo, mas eu acho El Greco deprimente demais. Seus amarelos me angustiam. A igreja mesmo é feia que dói, e dali saímos pra bundear pela cidade, já que tínhamos visto tudo o que podia ser visto (o Alcázar está fechado pra reformas). Andamos, andamos, andamos até as pernas caírem. Mas, sinceramente, qualquer cidadezinha histórica italiana ou francesa bota Toledo no chinelo, apesar de ser patrimônio da UNESCO e coisa e tal. Não me pareceu uma cidade típica nada. Tipo, você vê Assis e a cidade é arquitetonicamente uniforme e bem conservada. Toledo não é nada e é tudo ao mesmo tempo. Mas nem seria esse o problema se fosse tudo puramente histórico – um lugar que mudou de mãos mil vezes não pode mesmo ser homogêneo em termos de aparência – mas a minha impressão é sempre a da mesma decadência e o mesmo deixa-pra-lá de Madri. Não sei. Gostei de Toledo, mas não ameeeeeeei.

Paramos de novo na Zocodover pra comer Crispy McBacon antes de descer pra matar o tempo, porque tínhamos reservado o trem tarde da noite. E chegando em Madri paramos pra tomar vitamina de manga com leite em uma espécie de bar numa das ruelas que saem da Puerta del Sol. Gianni chocadíssimo com a quantidade de viados e xingando o Zapatero a torto e a direito, e eu morrendo de rir. Nem precisa dizer que foi a cabeça bater no travesseiro e o soninho vir, né.

Mais sobre Toledo aqui.

Madri

O nosso pacote turístico não incluía café da manhã, então acordamos e saímos à caça de um lugar legal pra comer. Acabamos descobrindo um lugar legalzinho a cinqüenta metros do hotel. Anotem aí: se chama Faborit, são espanhóis mesmo e só têm duas lojas, em Madrid e Barcelona. A decoração é legal, não servem café em copos de isopor mas em xícaras e mugs bem bonitas e modernas, o chocolate batido é uma delícia e os meninos provaram o cappuccino e aprovaram, os croissants também, e ainda têm uma boa variedade de sanduíches salgados, pra gente como eu que tem pavor de café da manhã doce. O menu café da manhã custa 2,15 euros (se não me engano) e inclui um café/leite/cappuccino/chocolate etc mais um minisanduíche ou um doce – croissant, enroladinho, etc. O pessoal é simpático e há jornais espalhados pros clientes lerem. Mas tem uma placa na parede: atenção aos seus pertences porque nesta zona operam muitos batedores de carteira profissionais. Atenção ao verbo “operar”, que achei quase de uma licença poética.

Resolvido o problema do café da manhã pro resto da semana, resolvemos ir caminhando na direção do Parque del Buen Retiro, que fica pertinho do hotel. Na verdade nossa intenção era ver logo de cara o Museo del Prado, mas, quem diria, fecha às segundas. Então vagamos pelo parque, que é muito bonito e bem cuidado, até a hora de almoçar.

Onde comer? Quando você está em companhia de italianos isso será SEMPRE um problema de vida ou de morte. Eu sou chatinha pra comer, mas se tenho que passar uma semana à base de porcarias porque não acho um lugar decente, pra mim não é o fim do mundo. Pra eles é o fim do mundo com direito a juízo final negativo, sem trocado pra pagar o Caronte. Acabamos entrando, mais por curiosidade do que pelos pobres sanduíches expostos na vitrine. O susto: vinte milhões de presuntos pendurados nas paredes, cada um com o seu copinho de plástico pendurado embaixo, pra recolher as gotas da gordura que derrete. O balcão de aço inox todo amassado não era muito convidativo, e menos ainda as mesinhas lá no fundo, com toalha de plástico. Muito menos as paredes de azulejos velhos, cor de burro quando foge. Também não era atraente a gritaria. Mas a rapidez com que os balconistas fatiam o presunto, TUDO NA MÃAAAAAAAAAO, é impressionante. Tentei fazer um vídeo mas do ângulo em que eu estava o negócio não saiu. Os meninos comeram bocadillos de pão francês com o famoso jamón espanhol, delicioso mas cortado em fatias tão grossas que dava até tristeza, e eu preferi ficar na tortilla española mesmo, que nada mais é do que uma omelete com batatas. Tudo isso ouvindo os meninos discutirem como será que eles fazem pro presunto ficar assim tão diferente do prosciutto italiano (pra mim, honestamente, é tudo a mesma coisa).

Do Museo do Jamón fomos a um museu propriamente dito, o Centro de Arte Reina Sofía, que é todo modernoso e abriga obras modernosas também. Só fomos lá pra ver a exposição do Picasso e babar no Guernica, lógico, mas quando subimos ao segundo andar e demos de cara com todas aquelas instalações contemporâneas, telas brancas (algumas com pontinhos, como uma do Miró que o Gianni fotografou escondido) e outras idiotices pseudoartísticas, resolvemos decidir corredo aonde ir depois. Sentamos num banco em frente a uma instalação ridícula com xales espanhóis colados numa parede, abrimos o mapa e logo apareceu uma daquelas mulherzinhas que têm o emprego mais chato do mundo, que é de ficar passeando pelas salas do museu pra evitar que japoneses sorridentes tirem fotos com flash dos quadros. Puxou papo e o Gianni, com pena da mulher com o emprego mais chato do mundo, deu trela. Pronto! Acho que nunca ninguém tinha falado com ela antes, então se assanhou toda e foi chamar as amigas. As três juntas praticamente decidiram o nosso itinerário pro resto da semana e ainda deram dicas práticas, do tipo tirem as jóias e coloquem a mochila no peito e não nas costas porque aqui tem muito batedor de carteira… Filha, eu passei anos esperando o 157 na boca do Dona Marta pra voltar do Princesa, cê acha que eu vou dar mole em Madri?

Itinerário decidido, abandonamos nossas amigas do Reina Sofía. Pegamos o metrô e fomos direto pra Plaza de Toros, que é muito bonita, apesar de não ser cronologicamente antiga. A tristeza de ver que hoje tinha espetáculo… Pobre touro. O interessante é que os preços dos ingressos dependem se o lugar fica no sol ou na sombra. Os ricos ficam na sombra e pagam uma fortuna. Os pobres ficam lá torrando no sol, vendo o coitado do boi morrer espetado. Mais pão e circo do que isso, só o carnaval tupiniquim…

Deitamos sob os pinheiros de uma colina gramada atrás da Plaza, pra decidir o que fazer. Ainda estava relativamente cedo e resolvemos que dava tempo de dar um pulo no estádio do Real Madrid pra dar uma zoiada. O metrô já tava pago mesmo, não custava nada… Então lá fomos nós naquele calor dos infernos ver o diabo do estádio. A visita guiada custa acho que 9 paus, e como nenhum de nós é particularmente fã de futebol, acabamos só entrando na loja do time, que tem uma janela que dá pro interior do estádio. Aliás, a loja do Real Madrid, lotadíssima de gente comprando baboseiras caríssimas com Ronaldos mal desenhados ou esculpidos, é simplesmente o lugar mais chato do planeta. Saímos correndo pro hotel, e enquanto o Mirco tirava um ronco eu fui escrever cartões-postais.

Aí fiquei pensando sobre a minha primeira impressão sobre a cidade. Madri definitivamente NÃO é uma cidade fascinante. Mais suja do que as poucas outras que já vi aqui na Europa. E notei sobretudo a tristeza das vitrines: o vidro é sempre engordurado, tudo que era branco ficou encardido, os cartazes pendurados são escritos a mão ou feitos pelo filho do dono em fonte Comic com desenhos disformes e quase irreconhecíveis de omeletes, copos de cerveja, sanduíches de presunto. As revistas nas bancas de jornal, aquelas que ficam por trás dos painéis de vidro e que não são trocadas nunca, estão todas esmaecidas pelo sol africano. Assim como as garrafas de refrigerantes expostas nas vitrines. As lojas de roupas têm manequins horrendos, e as roupas parecem ter sido jogadas ali sem nenhum critério. Achei, como dizer, decadente pacas. Sabe aquelas lojas velhas, caindo aos pedaços, no centro do Rio? Estruturas não só antigas, mas velhas, mal conservadas, deprimentes? É assim. Claro que há alguns prédios lindos, lindos, e claro que as mulheres dão de mil a zero nas italianas, porque não usam quilos de maquiagem no rosto, não têm todas o mesmo corte e a mesma cor de cabelo, não usam salto quando não é pra usar salto, enfim, são NORMAIS. As pessoas são simpáticas e solícitas e falam um espanhol que eu entendo (odeio, mas entendo tu-di-nho, coisa que não acontecia na Argentina, por exemplo), mas, cacetes estrelados, COMO FUMAM! Fumam em tudo que é lugar e isso é uma das coisas mais irritantes da Europa. Acredito que um dia vão acordar pra vida, como já aconteceu na Irlanda, na Itália e em outros países que proibiram fumo em lugares públicos, mas até lá, putz, que porreeeeeeeeeeeee.

Tínhamos todos cismado com a paella. José, meu colega de trabalho de Barcelona, tinha me avisado que paella no jantar é que nem cappuccino depois do almoço, coisa de turista. Mas o Gianni e a Chiara são um porre pra comer e acham paella pesado demais pro almoço, então lá fomos nós pedir informações pro mocinho bonito da recepção: onde comer paella no jantar? Ele recomendou um lugar não muito longe do hotel, na Calle de la Reina, então encaramos a caminhada de 10 minutos e chegamos no tal restaurante. O nome La Paella de la Reina brilhava em neon verde sobre a porta de madeira sem charme. O menu colado na porta estava torto e amassado, mas praticamente tudo o que tinha ali a gente gostava, então resolvemos encarar. Não saiu barato, mas a paella estava ótima – só o Mirco não gostou. O vinho branco estava uma delícia e voltamos contentes pro hotel.


Madrid

Acordamos cedo, banho, café etc, e passamos na Arianna pra dar tchau pra cachorrada antes de pegar Gianni e Chiara em casa. Em vez de estacionar no estacionamento de longa permanência do Fiumicino, que custa os olhos da cara, deixamos o carro em um dos muitos estacionamentos que surgiram nos arredores do aeroporto. Eles levam você ao terminal com um furgãozinho ou minivan, mais fácil do que o shuttle do estacionamento “oficial”, que tem horário pra passar e para em todos os pontos, feito cata-jeca.

O vôo, com a Air Madrid, atrasou pra cacete. E depois de embarcar ainda nos deixaram mofando dentro do avião por quase uma hora antes de finalmente decolar (eu dormi e nem percebi, mas me contaram hehehe). Um pouco de turbulência depois, chegamos a Madrid. Compramos os passes semanais pro metrô (18 euros por pessoa, viagens ilimitadas, ótima pedida) e fomos pro hotel Vincci, perto da estação Sevilla. O hotel é legal: 4 estrelas, bem localizado, bem decorado, quarto moderno, chuveiro di-vi-no, camas confortáveis, TV a cabo, ar condicionado, enfim, o básico necessário.

Saímos pra procurar lugar pra comer. Seguimos a Calle Mayor até a Plaza Mayor, e continuamos andando até encontrar uma filial da Vaca Argentina, uma cadeia de restaurantes com, lógico, carne de primeira. Só queeeeeeee… Essa mania espanhola de jantar tardíssimo é um saco. Às oito e meia estávamos morrendo de fome, depois de só um sanduíche vagabundo no aeroporto de Roma, mas ainda estava tudo fechado. Batemos na janela do restaurante pra perguntar a que horas abria e responderam lá de dentro, às nove. Como estávamos todos desmaiando de fome, paramos num boteco pra dividir um bocadillo de jamón – o famoso sanduíche de presunto. O lugar era bem boteco mesmo, azulejos antigos, relógios parados nas paredes, duas máquinas caça-níqueis, balcão de inox todo amassado, guardanapos no chão, cara de sujo. Numa das mesas, duas senhoras distintas tomavam cerveja e comiam batatas chips. O sanduíche estava bom, embora o aspecto não fosse dos melhores, mas o lugar me deu uma certa depressão. Às nove e um estávamos plantados na porta do restaurante, que ainda estava abrindo a porta, hohoho : )

Fomos atendidos por um garçom indiano e comemos muito bem. O vinho estava bom, e o preço foi honesto. Na volta paramos na Plaza Mayor pra encontrar um amigo do Gianni que também estava viajando pela Espanha com a namorada. A praça é bonita mas nenhuma Brastemp. Muita gente sentada no chão comendo salada, sorvete, sanduíche; muito adolescente DEITADO no chão sujo, um cheiro de xixi humano no ar, fui ficando irritada e ainda bem que a conversa não durou muito. Voltamos pro hotel e ainda paramos num mercadinho chinês pra comprar água mineral e iogurte.

firenze

Nenhum de nós tinha visto o verdadeiro David do Michelangelo, então lá fomos nós cedinho pra Florença. Perdemos a manhã inteira na fila, eu e Mirco, enquanto mamãe e Margareth iam às compras. Margareth comprou apartamento no Rio e está num furor de decoração que dá até medo e saía comprando tudo o que era estatuinha que via pela frente. Mas quando finalmente conseguimos entrar e ver o homem, rapaz… Dá até arrepio. O resto do museo vimos meio correndo porque já passava da hora do almoço; o vendedor de uma loja de estatuinhas onde Margareth dizimou o estoque nos recomendou um restaurante honesto e freqüentado pelos locais, e encaramos. Não nos decepcionamos: pão delicioso feito em casa, azeite verdinho maravilhoso, um antipasto com cada salame divino, e massas gostosíssimas. Demos mais um giro rápido na cidade pra não voltar pra casa muito tarde, e ainda conseguimos jantar na sagra de Castelnuovo, com Marco e Michela. Assim que der boto fotos de Florença aqui.

Roma é tudo na vida, parte dez elevado a vinte e seis

Não dormi muito bem. Acordei às quatro da manhã e comecei A Short History of Nearly Everything, do Bill Bryson, aquele que a Cora comentou há algum tempo e que já estava na minha estante há séculos me esperando. Estou AMANDO e quase fiquei triste quando chegou a hora de levantar e ter que parar de ler pra me arrumar, tomar um bom café da manhã e sair correndo pra pegar o trem das seis e vinte pra Roma.

Porque hoje foi dia de Roma, queridos, aquela que é tudo na vida.

Li um pedação do livro no trem, mas trem bom é trem que te adormece, e não ofereci resistência: chapei mesmo e só acordei em Orte, com o Mirco telefonando perguntando se tava tudo OK. Sim, sim; abandonei o pobre Bill e fiquei admirando a vista da janela. A viagem de trem pra Roma é uma das minhas preferidas. Vê-se de tudo: cavalos no “quintal” de galpões, carneirinhos pastando, cachorros pastores, casas lindas e imensas, casas horrorosas amontoadas praticamente de cara pra linha do trem, roupas nos varais, bosques, outros trens, carrões de luxo estacionados em frente a casas que caem aos pedaços, pinheiros alinhadinhos no topo de colinas. Gradualmente fomos abandonando a neblina invernal da Umbria, e quando cheguei a Roma o céu estava aberto.

Eu tinha combinado com a Julie que se chegasse em Roma e o tempo estivesse uma titica eu esperaria por ela lá mesmo, lendo meu livrinho, mas com o céu azulzinho não tive outra alternativa: saí perambulando pelas ruas, e marquei de encontrar a Julie na Piazza Barberini. Eu nunca faço o mesmo percurso quando vou a pé da estação ao centro (eu SEMPRE vou a pé da estação ao centro), e hoje não foi diferente: poderia ter chegado à Barberini rapidinho, mas, depois de uma perambulada na estação pra ver as vitrines, embiquei na Via Cavour e dei uma volta desgraçada, virando aqui e ali, seguindo o meu péssimo instinto de orientação e fuçando ruelas e escadarias. Virei na Via degli Annibali e dei de cara com o Coliseu. Peguei a Via dei Fori Imperiali, passei em frente ao Foro Romano assim como quem não quer nada (cês tão entendendo direito o que eu tô falando? PASSEI EM FRENTE AO FORO ROMANO, DEI DE CARA COM O COLISEU, ETC ETC. Roma é realmente tudo na vida.), caí naquele furdúncio da Piazza Venezia, peguei a inevitável Via del Corso, entrei na nova Galleria Esqueci o Nome bem na hora em que tavam abrindo a Zara e a galera que tava esperando na porta entrou estourando boiada, saí da Galleria e depois do Palazzo Chigi virei na Via del Tritone, que subi até chegar à Barberini. Não sei como a Julie me viu e reconheceu lá da casa do chapéu, deu tchauzinho e lá fui eu encontrar mãe e filha. Eu trouxe pra Camila um exemplar do Gênio do Crime que comprei no Rio em novembro passado e tava só esperando uma oportunidade de dar o presente. Espero que ela goste. As duas são muito simpáticas e é muito engraçado ouvir a Camila falando português com sotaque baiano e italiano com sotaque napolitano :) Dali descemos toda a Tritone de novo, passamos por trás da Piazza Colonna e de Montecitorio, ali pela zona do Pantheon, e fomos pegar sol sentadinhas na Piazza Navona. Batemos papo até a Ane ligar: estava estacionando o carro lá na casa do chapéu, e dali a meia hora deveríamos nos encontrar com ela em frente à Zara da tal Galleria. Voltamos tudo de novo até a Via del Corso e entramos na galeria, que é linda, pra esperar Ane e companhia.

Quando finalmente chegou, quase tive dois trecos: primeiro porque eu gosto MUITO da Ane e do Alfredo e tenho uma imensa admiração por ambos; segundo porque a Isabella é a coisa mais fofa simpática e sorridente desse planeta. Você olha pra cara dela e ela ri. Você faz careta e ela ri. Você mexe qualquer parte do seu corpo sem um propósito específico e ela ri. E ri franzindo o nariiiiiiiiiiiiiiiiiiz! Sabe criança que você quer morder de tão gostosa? Ecco.
Dali caminhamos mais um pedaço de volta à zona Pantheon, pra catar o restaurante que o Alfredo tinha reservado pro almoço, seguindo uma dica de um amigo. Chama-se, se não me engano, La Tavernetta, fica na Via degli Spagnoli (uma ruazinha insignificantemente linda perto da Piazza delle Coppelle) e é administrada por brasileiras. Pagamos dez euros por cabeça e comemos um primo e um secondo (o menu é bem limitado, lógico, mas tudo dá vontade de comer), bebemos água e vinho. Nada de extraordinário, mas honesto. Dali voltamos ao Pantheon pra encontrar outras duas primas da Julie, voltamos ao restaurante pra elas almoçarem, voltamos ao Pantheon pra catar a Gelateria della Palma (na Via della Maddalena), que faz uns sorvetes divinos e onde eu SEMPRE vou pra tomar sorvete de maracujá, de novo ao Pantheon pra reencontrar a família da Julie, e de lá a pé pro Coliseu, que elas ainda não tinham visto. Quando eu cheguei, bem cedo, não tinha nada de especial nas ruas, mas àquela hora da tarde já havia vários tapumes montados pra Maratona di Roma do dia seguinte. Fui batendo papo com o Alfredo e desviando dos tapumes e dos turistas. No Coliseu nos despedimos, e voltei a pé pra estação, sempre pela Via Cavour porque meu trem saía dali a meia hora e eu não podia me dar ao luxo de me perder, embora a vontade fosse grande. Àquela altura do campeonato meus pés também já tavam digamos pedindo arrego, e, agradecida a mim mesma por ter saído de casa com a mochila praticamente vazia, foi com grande prazer que sentei na minha poltrona do Eurostar (não tinha trem de pobre naquele horário) e continuei com o Bryson. Eurostar não é Eurostar se não atrasa; cheguei em Foligno com três minutos de atraso, e o trem da conexão pra Perugia estava só nos esperando. Em vinte minutos estava em Bastia. Mais cinco minutos de carro e cheguei em casa.

Felizmente Marco e Michela tinham desistido de jantar fora, porque eu não teria agüentado não. Eu AMO passear a pé em Roma e o dia foi maravilhoso, mas muito cansativo. E vou fazer uma pequena confissão aqui: eu prefiro perambular em Roma sozinha. Não sei por qual motivo, mas não gosto de dividi-la com ninguém. Tudo bem que eu caminho rápido demais e detesto esperar gente lenta, mas não é só isso. Gosto de passar horas quietinha, sem trocar uma palavra com ninguém, só observando e cheirando e ouvindo e pensando. Amo.

Rotterdam – interior do Zaire

Acordamos tarde, tomamos café em casa mesmo e fomos direto pro aeroporto. Queríamos passar no supermercado pra comprar as sopinhas em lata que adoramos, mas não dava tempo e nem tínhamos espaço na mala (era uma mala pequena pra nós dois, não rolava). O vôo saiu no horário, como sempre, e chegou cinco minutos antes, como sempre. Pagamos 49 euros de estacionamento em Ciampino, bastards!, e fomos direto pra casa. Em dez minutos desfiz a minimala, escovei os dentes e saímos correndo pra Santa Maria. Deixamos os presentes da Arianna e da Lucia, batemos um papo rápido com o Leguinho e encontramos Gianni e Chiara pra ir ao cinema em Foligno. Àquela altura do campeonato eu já sentia as primeiras pontadas atrás do olho esquerdo, mas, burra, ignorei solenemente. Lógico que lá pra metade do filme (Match Point, achei uma caca) eu já nem sabia mais onde estava. Paramos pro pessoal comer uma piadina ali perto e nos mandamos pra casa, eu morrendo. Já cheguei à conclusão que não posso ficar muito tempo sem comer, porque logo me vem a enxaqueca. Não sei qual mecanismo fisiológico pode causar uma coisa assim, mas é batata: é eu ficar sem comer que a maldita vem. Claro que não acontece freqüentemente, muito pelo contrário, já que eu penso em comer durante 28 das 24 horas do dia, mas quando acontece, é batata.

Rotterdam

O dia amanheceu lindo, mas frio pra cacete. Mirco dormiu até tarde; eu acordei cedo e aproveitei pra estudar um pouco de Studi Culturali (aquele do livro maneiro de Rifkin, Il Sogno Europeo). Resolvemos ir ao centro pra um brunch, e pro Mirco cortar o cabelo. Ele agora pegou essa mania de colecionar cortes de cabelo internacionais: já cortou as madeixas na Sérvia, no Rio, em Rouen, e agora queria em Rotterdam. Ontem tínhamos passado no centro rapidinho pra pegar um terno do Rob numa loja e dar uma olhada nos shoppings, e aproveitamos pra passar no barbeiro tradicional do Hotel New York pra marcar horário pra hoje. Então lá fomos nós.

Estávamos marcados pras onze, mas o Rob acordou tarde e chegamos às onze e oito. Foi só entrarmos que uma das duas funcionárias olhou pra nós, olhou pro relógio na parede e antipaticamente nos informou que elas estavam com o horário muito apertado, que ela não podia se ocupar do Mirco porque outro cliente estava pra chegar, mas a sua colega o faria. Cara, a garota demorou 50 minutos pra cortar a bosta do cabelo! Fio por fio, e no final das contas nem parece que cortou! Enquanto isso, a idiota da antipática (primeira holandesa antipática que eu conheço) ficou só perambulando pra lá e pra cá, mudando coisas de lugar, fazendo barulho, telefonando. E o tal outro cliente nada, lógico. Eu e Stefania ficamos observando o lugar, que é muito interessante, à moda antiga, com aquelas cadeiras de barbeiro maravilhosas (depois boto fotos, o Mirco não descarregou a máquina fotográfica ainda) e fotos antigas nas paredes. Rob tinha nos explicado que além do prédio da Prefeitura e de uma grande igreja no centro, nenhum outro prédio sobreviveu aos bombardeios da II Guerra. O Hotel tem esse nome porque ali ficavam os escritórios da empresa de navegação que levava os imigrantes pros EUA, e é um ponto histórico importante da cidade porque era a última coisa que os imigrantes viam quando iam embora, e a primeira coisa que alguém via quando entrava no porto de Rotterdam.

A garota levou tanto tempo cortando o cabelo do Mirco que quando acabou já era meio-dia. Pagamos o absurdo de 29 euros (corte de cabelo agora só em país subdesenvolvido, tá, lanterneirinho querido?) e fomos ver se ainda rolava o brunch no restaurante do hotel. Lógico que não, né. Então acabamos almoçando, até porque a fome era intergaláctica – ninguém tinha tomado café na esperança de se entupir de pão fresquinho e chocolate quente. Eu fui de salmão com molho de cogumelos, Mirco de filé com fritas. A comida estava ótima e o ambiente é bem interessante. A vista também é bonita.

Dali fomos à feira, no mercado. Compramos muito peixe baratíssimo e fresquérrimo pro jantar, pães sementudos e escuros como eu gosto e não acho na Itália, queijos bola bons pra fazer misto-quente, abobrinhas pra fazer com o camarão. Gastamos uma titica: com 14 euros compramos meio quilo de vongole, meio de mexilhões, meio de camarões pequenos, meio de camarões graúdos, dois filés de atum liiiiiiiindos, e quatro “molhos” de canolicchi, não sei como se chamam em português e muito menos se existem por aí; são um tipo de mexilhão comprido, que normalmente se faz gratinado no forno, com farinha de rosca, alho e salsinha. Adoro, e na Itália custam uma fortuna porque não são fáceis de “caçar”: como ficam enterrados na areia, a rede não os pesca, e alguém tem que ir lá mergulhar e desenterrar um por um. Largamos as compras no carro do Rob e voltamos pro centro pra mais compras. As lojas de coisas pra casa são lindas, cheias de coisas bubus (comprei várias pra Newlands e mamãe). Acabamos comprando na Dille & Kamille (Korte Hoogstraat 22) toalhas de mesa lindas que estavam na oferta e que ninguém na Itália vai ter igual, ho ho ho, entre outras coisas fofas. Eu adoro o jeito que os holandeses têm pra decorar as casas. Sobretudo acho FENOMENAIS as janelonas imensas que deixam ver tudo, mas ninguém vê porque ninguém olha porque tem mais o que fazer. Acabo vendo sempre alguma coisa interessante no beiral das janelonas: um belo vaso de formato diferente, uma orquídea deslumbrante, castiçais maneiros, composições harmoniosas e invariavelmente simples de flores bobinhas. Adoro, adoro, fico louca admirando as janelas.

Depois de muito comprar, deixamos a Stefania em casa pra preparar um jantar pra cinco hóspedes, e fomos dar uma volta em Delft. Achei uma gracinha, mas tava um frio do caceteeeeeeeeee e o Mirco começou a se sentir mal. Voltamos pro estacionamento, pegamos o carro e fomos a Dan Haag (Haia), mas nem descemos do carro porque o vento tava foda. A cidade é praticamente um grande escritório e não tem muita coisa pra ver, mas há algumas casas divinas e sei que tem um museu muito interessante. A praia também pareceu bonita, e Rob disse que no verão fica absolutamente lotada. Voltamos correndo pra casa, morrendo de fome, e enquanto o Mirco tomava uma aspirina e deitava cinco minutos na cama eu fui limpar os camarões pequenos, os mexilhões e as vongole. Saltamos os camarões com abobrinha na panela com alho e azeite, só até o camarão mudar de cor e cozinhar o tempo justo; depois jogamos os fusilli cozidos al dente e pronto. Enquanto devorávamos o macarrão, a Stefania abriu os mexilhões e as vongole no alho e azeite com um copo de vinho branco. Comemos tanto que nem consegui terminar o filé de atum no forno sem nada, só um fio de azeite e pimenta-do-reino. Os camarões graúdos e os canolicchi que sobraram resolvemos levar pra Itália. E que os deuses da Aduana nos protejam.

Rotterdam

Acordamos cedo, passamos na oficina pra largar a Uno porque alguém podia precisar, e nos mandamos pra Ciampino. O tempo tava feio por essas bandas, e quando paramos no centro de Ciampino (ô cidade feia!!!) pra comprar umas focaccias pro almoço no avião, o vento soprava terrivelmente. Mais tarde melhorou um pouco. O vôo com Tio Ryan partiu no horário, como sempre, e chegou em Eindhoven dez minutos antes, como sempre. Aterrissamos na parte nova do aeroporto, que ainda não tínhamos visto – no ano passado descemos na parte velha que mais parece um quiosque, e dali pegamos o carro alugado pra ir a Düsseldorf, lembram? Dessa vez esperamos uns dez minutos ali em meio a toda aquela luz, a todo aquele metal reluzente, admirando a arquitetura e a simplicidade das linhas, esperando o Rob.

Fomos direto pra Rotterdam e encontramos a Stefania em casa preparando as coisas pro grupo de aula de cozinha que chegaria logo depois. Eles fizeram uma bela reforma em casa, e agora a cozinha é um ambiente único com a longa sala de jantar/estar/televisão. Atualmente a Stefania está atacando em 4 fronts diferentes: dá aula de cozinha, cozinha take-away, faz catering e ainda por cima a sala de jantar funciona como um microrestaurante. A cozinha ficou linda e quem vem pra jantar fica encantado, não só com a atmosfera rústico-italiana mas principalmente com o menu, todo rigorosamente feito a mão: ravioli com recheio que pode variar de cogumelos ao tradicional ricota e espinafre, frango ou lombinho de porco em receitas sempre muito delicadas, refogadão de pimentão ou berinjela, tiramisù ou torta de maçã, uma garrafa de vinho. Logo depois que nós chegamos um grupo apareceu pra ter aula, e ficamos assistindo. É muito engraçado ver aqueles homões enormes vestindo avental laranja, lutando com a faca afiada pra cortar tomatinhos ao meio, descascar alho, misturar a carne moída com os temperos pra rechear as coxas desossadas de frango. O curso dura umas três, quatro horas, e depois todo mundo come o que cozinhou, lógico.

Eu e Mirco, que estávamos morrendo de fome porque afinal focaccia al rosmarino não é almoço nem aqui nem na China, fomos com o Rob comer pizza no O Pazzo (Mariniersweg 90). A pizza estava ótima, mas o ambiente é realmente maluco como diz o nome: o forno a lenha é coberto de mosaicos brilhantes pra formar um polvo gigante, e a boca do forno é a boca do polvo; no meio do salão, uma árvore com tronco e ramos cobertos de escamas prateadas que, ao chegar mais perto, vê-se que são velhas moedas de liras italianas; no banheiro, canto gregoriano tocando. Um lugar muito esquisito, mas a pizza era muito boa. E depois não tivemos forças pra fazer muito mais não; voltamos pra casa, batemos um papo rápido com o Rob e fomos dormir antes que os hóspedes terminassem de comer.

roma é etc etc etc

E hoje, do nada, resolvemos ir a Roma. Ontem à noite Gianni ligou pro Mirco perguntando se topávamos acordar cedo pra ir a Roma ver o Museu do Vaticano. Era uma coisa que estávamos querendo fazer há muito tempo, porque o Mirco não visita o museu há seis anos, e Gianni e Chiara também não viram ainda a Sistina depois da famosa restauração. Então acordamos às seis e meia, tomamos café com calma e às sete e quinze eles passaram aqui pra nos pegar. Como hoje rolava proibição de circulação de veículos poluentes, não tinha trânsito ne-nhum na cidade, e pudemos ir direitinho até o centro (o carro do Gianni é novo, Euro 4, teoricamente não poluente) e largar o carro em frente à casa da tia solteirona do Gianni, que mora a dois quilômetros do Vaticano, che le piasse un vomito.

Em algum ponto do Viale Angelico paramos pra comprar croissants e tortinha de Nutella naquela padaria estranha e subterrânea que eu e Valeria descobrimos acidentalmente naquele longínquo novembro de 2001, lembra, amigaaaaaa? Comei uma crostatina à sua saúde. Lembra que sentimos o perfume de pão na rua, olhamos pro lado e vimos a fila que chegava até à entrada da escadaria, na rua? Lembra que compramos brioches pra comer no lugar daquele pão maldito cascudo e sem sal que nos davam no albergue? Lembra que eu perguntei como se chamava a tortinha, e a atendente gritou “crostatina” mas eu não consegui entender por causa da confusão – e porque não conhecia a palavra? Que diliça :))))))

Continuamos pelo Viale Angelico às moscas e quando avistamos os murões gigantes do Vaticano subimos a ladeira e fomos seguindo as placas até chegar na porta. Só queeeeee… Nós quatro, seres civilizados, jamais poderíamos imaginar que um museu da importância do Vaticano estaria fechado aos domingos, e não nos demos ao trabalho de conferir o horário na internet. E demos de cara com a porta fechada. Nós e tantos outros turistas indignados. Mas tudo bem, é impossível entediar-se em Roma, então pegamos o caminho da roça e fomos pra São Pedro mesmo. Gianni e Chiara, carolíssimos, queriam porque queriam ver a tumba do Papa, e lá fomos nós encarar a fila, que felizmente andava bem rapidinho, pra ver a tumba mais boba do mundo.

Sou mais aquela toda egocentricamente decorada com mosaicos. Eu acho assim, se é pra ser enterrado, faz logo uma tumbona fashion, senão é melhor cremar, né não? Mas enfim, tem gosto pra tudo, e depois da tumba resolvemos subir na cúpula, coisa que só eu já tinha feito antes. Chegamos lá em cima vomitando as tripas de tão sem fôlego depois dos 350 degraus pós-elevador, mas, como sempre, a vista vale a pena. Vamos lá, repitam comigo o mantra: Roma é tudo na vida, Roma é tudo na vida, Roma é tudo na vida…

TUCO E HUNKA, SE VOCÊS NÃO VIEREM LOGO VER ESSAS COISAS COMIGO EU VOU FICAR DE MAL.

Milenar técnica japonesa de tiração de foto.

Pra recuperar o fôlego, fomos assistir à missa do meio-dia e quinze. Posso dizer muito chiquemente que a primeira missa da minha vida foi no Vaticano! :P Ô coisa chata, socorro! E tinha um padre novinho que pelas pausas completamente erradas e pelo sotaque bizarro era quase certamente brasileiro. O coro que cantou umas ave-marias era DIVINO – eu ADORO coros, e logo lembrei daquele que vimos em Santa Maria Maggiore, lembra, Valerrí de Parrí, aqueles meninos ingleses que estavam no nosso albergue e encontramos no ônibus indo pra igreja cantar, e choramos feito duas bebezonas porque era realmente lindo demais?

Depois da maldita missa chatona fomos almoçar pizza num café na Via Giulio Cesare (a Ane tinha recomendado uma trattoria mas ninguém tava com vontade de sentar pra comer, senão o sono acabaria nos vencendo), e dali resolvemos bater mais perna indo até a Piazza di Spagna pela Via del Corso (Valeriaaaaaaaaaaaaaaaa!) e depois virando na Condotti pra ver os japoneses atacando a Prada e a Louis Vuitton. Paramos na Furla pra comprar um anel bonitão na liqüidação (na mesma Furla onde comprei aquele anel divino com perolinhas que você escolheu pra mim, Lulu), comprei um chaveiro de galinha lindinho, fotografamos esse cachorro delicioso do dono da loja que dormia com a cabeça por baixo do balcão e ficamos vendo a cabeçada passar. Quando cansamos, pegamos o metrô Spagna e descemos novamente em Ottaviano, fomos visitar a tia do Gianni que é a maior figuraaaaaa, e voltamos pra casa.

Precisamos fazer esses programas mais vezes…

p.s.: As fotos ficaram horríveis porque o tempo tava feio e o Mirco tava sem paciência pra ajustar a máquina direito. Foi mal aê.