Foz do Iguaçu – Buenos Aires

Acordamos cedo e Hernán nos esperava na porta. Fizemos o check-out e fomos direto a Itaipu ver a represa. É interessante, imensa, impressiona – e o passeio é grátis. O ônibus com ar-condicionado vai passando devagar pelas estradas internas e o alto-falante vai explicando o que a gente está vendo. Gostei particularmente do Bosque dos Funcionários: ao completar 15 anos de serviço, cada operário planta uma muda do que quiser nesse tal bosque, que na verdade ainda é apenas um gramado com algumas árvores adolescentes que mal dão sombra. Mas gostei do conceito.

Dali fomos finalmente ao centro de Foz fazer compras. Consegui achar uma agência do Itaú pra desbloquear meu novo cartão, e aí pronto, fiz a festa. Comprei o teclado onde estou digitando agora, mas que só funciona no Word, não adianta nada pra escrever e-mail – alguém saberia me ajudar a configurar esse treco? Comprei um sabonete pro rosto no Boticário. Comprei um Collins Ing-Port-Ing, que não era exatamente o que eu queria mas dá pro gasto. Fizemos compras no supermercado: guaraná, gelatina Royal, shampoo pra cabelo ruim, farinha de mandioca, um osso de couro comestível pro Leguinho, aveia com mel e castanha de caju da Quaker, desodorante, escova de dentes, Ninho Soleil (depois fiquei mal por ter interrompido momentaneamente meu boicote à Nestlé, mas eu ADORO Ninho Soleil e aqui não tem), suco Maguary; os meninos compraram um caminhão de Havaianas e suco de manga e cachaça e limão pra caipirinha. Passeamos muito pela cidade, que é feinha, coitada, paramos pro pessoal tomar água de côco, que eles obviamente nunca tinham experimentado, batemos (bati) altos papos com o Hernán, que como eu já disse é malandro mas é legal. Almoçamos na parte de fora de um restaurante com nome alemão: os meninos arriscaram uma pizza, que felizmente estava boa, e eu e Hernán dividimos um filé com alho torradinho, arroz branco e brócolis. Ainda demos um pulo numa loja estilo armadilha pra turista, cafonérrima, com direito a chaveiro de arara e tudo, pros meninos comprarem as Havaianas tamanho gigante pro Gianni, que no supermercado não tinha, e dali tocamos pro aeroporto.

Novamente o vôo foi uneventful, mas quando chegamos a Buenos Aires nenhum taxista queria nos levar, porque as malas eram muitas! Os carros são velhérrimos, tão velhos que a gente nem reconhece mais a marca, e o espaço na mala geralmente é pequeno. Acabamos convencendo um velhinho, que por acaso era de Missiones (ali onde fica o parque das cataratas argentinas) e por isso mesmo muito simpático. Fomos os três espremidos atrás, e uma malona no banco do carona, e o motorista tinha que segurar a coitada nas curvas senão caía por cima dele.

Se você acha que o trânsito de Nápoles é uma loucura, experimente uma meia hora em Buenos Aires. Vai fazer Nápoles parecer Zürich. Ali cinto de segurança não existe mesmo, de verdade. Assim como não existe sinal vermelho, nem faixa de pedestres. O próprio taxista falou que pra ele, no trânsito, só existem duas cores: verde e verde-morango, que seria o vermelho, solenemente ignorado. Os ônibus, todos caindo aos pedaços, pintados em cores cafonas e incrivelmente barulhentos, passam voando nas ruas, se jogando por cima dos carros (não, não é como no Rio. É pior.), buzinando. Enquanto íamos passeando pela cidade, porque queríamos examinar melhor o bairro onde ficava o hotel já reservado e pago pela internet, o taxista ia contando piadas, quase todas contra os argentinos. Dei muita risada, o que significa que entendi tudo, porque ele não era portenho nem mal-educado e falava beeeem devagar. Nosso hotel ficava no Once, lugar barra-pesada depois do pôr-do-sol, e antes mesmo de fazer o check-in e nos instalar resolvemos continuar com o velhinho e catar outros hotéis. Tínhamos anotado os nomes de várias possibilidades pros últimos três dias na cidade, mas esquecemos de um pequeno e delicado detalhe, do qual só nos lembramos depois de conversar muito rapidamente com duas napolitanas enquanto esperávamos nossas malas na esteira: esses três últimos dias caíam na Semana Santa, e os hotéis da cidade estavam todos lotados. Acabamos conseguindo dois quartos com duas camas de solteiro cada num hotel 4 estrelas onde o Moreno dormiu quando esteve em BsAs em fevereiro, e tinha dito que era ótimo, lindo, todo de madeira e vidro, e coisa e tal. Nem vimos o quarto: fizemos a reserva pros últimos dias, montamos no táxi e voltamos pro nosso hotelzinho xumbrega no Once.

Depois de um bom banho no box com cortina de plástico, eca, desci pra encontrar os meninos. O hotel se comunica com um restaurante de mesmo nome (La Perla), e ficamos batendo papo enquanto os meninos comiam: Chiara pediu vitamina de pêssego e Gianni foi de hamburger. Sempre impressionados com os preços baixos pra quem ganha em euro, fomos alongando nossas listas de compras, e comparando nossas impressões iniciais sobre a cidade. Os meninos adoraram o que viram até o momento, mas acho que grande parte da empolgação deles foram justamente os preços baixos e a boa comida, já que pra eles comer mal e não poder comprar nada são grandes fatores de stress e de estragamento de viagem. Voltamos pros nossos quartos, ajeitamos as malas com as roupas de verão que deixaríamos no outro hotel na manhã seguinte, no caminho pro aeroporto, e eu dormi vendo E.R. no Warner Channel. God bless cable TV.

Parque Nacional Iguazu – Argentina

Em teoria eu deveria acordar os meninos, mas antes da hora combinada a Chiara ligou. Também tinham dormido mal e acabaram descendo pra dar uma volta no hotel e tomar café. Desci, e enquanto esperava os meninos fui bater papo com um motorista de táxi pra dar uma checada nos preços. Achei o Hernán meio caro em alguns aspectos mas mais barato em outros, e ainda por cima com a van todas as nossas malas cabiam sem problemas, então acabei dispensando o taxista. Fui tomar meu café da manhã, maravilhoso, com tudo o que tem direito, inclusive pão de queijo, queijo Minas, sucos frescos, mil tipos de pão, iogurtes gostosos. Fiz a festa, e depois de escovar os dentinhos fomos lá pra recepção esperar o Hernán. Ele é paraculo mas é legal, podem perguntar por ele ali no aeroporto de Puerto Iguazu (quem nos mandou pra ele foi o Davi, que fica ali naquelas escrivaninhas de que falei, na saída do aeroporto).

Do hotel fomos direto à parte argentina das cataratas. Na entrada pedi informações pro hominho da recepção, e ele nos deu mapinhas e sugestões de percursos. Fizemos como ele disse, e na parte da manhã fizemos os percursos inferior e superior, que somados dão horas e horas de caminhada e de vistas deslumbrantes. As passarelas são muitas, as possibilidades fotográficas são infinitas, os turistas chatinhos são excessivos, e lá embaixo víamos umas lanchas que zuniam pelo rio e chegavam pertinho das cataratas. A Chiara não sabe nadar e tem horror a barco, mas eu e Gianni resolvemos arriscar: pagamos os 30 pesos por pessoa, botamos os coletes salva-vida e lá fomos nós, sentados bem nos primeiros lugares. Dão umas sacolas de plástico pra proteger máquinas fotográficas e sapatos; no início dá pra fotografar, mas quando você vai se aproximando da cascatona, melhor enrolar bem a máquina no plástico e agarrar o embrulho com força pra ele não sair voando e cair no rio. Vou-lhes dizer: É MUITO MANEIROOOOO! Eu, toda inocente, achando que o barco chegava no máximo até a nuvem de vapor que se forma quando a água cai, mas que nada! Chega-se muito, mas muito perto da cascata de San Martín, que não é a Garganta del Diablo mas é bem impressionante. A água cai forte na sua cabeça, entra no nariz e na boca, aquela água cheirosa de rio e de floresta e de sol, sem cloro, sem flúor, sem o maldito calcário europeu, só água, forte, pesada, limpa, fresca, absolutamente deliciosa e depuradora. MUITO, MUITO BOM. E necessário. Desembarcamos absolutamente ensopados, eu feliz da vida e, pelo menos momentaneamente, desdeprimida; Gianni meio confuso, porque nunca tinha tomado banho de água de rio na vida, ainda mais assim, com essa intensidade toda. Dali pegamos o trenzinho e voltamos à entrada do parque pra almoçar.

O restaurante se chamava La Selva, e fomos comer lá porque na entrada um dos funcionários do parque estava distribuindo vales-desconto pro almoço. A comida não tava lá essas coisas: a clássica parrillada, ou o bom e velho churrasco, que não era nenhuma Brastemp; meia dúzia de acompanhamentos meio macambúzios e uma caipirinha grátis por cabeça. Pelo menos gastamos pouco, muito pouco. Como é bom viajar a países em crise.

Ainda molhados, pegamos de novo o trenzinho até a última estação, a Garganta del Diablo. Fomos andando pelas passarelas, que têm pouco mais de um quilômetro no total. Passamos por cima de pilares de uma antiga passarela derrubada pela enchente de 92, e mesmo sabendo que a quantidade de água que passa por ali é impressionante, fica difícil de imaginar a cena, porque o rio é manso, manso. Há vários pontos de água estagnada, os únicos lugares onde vimos peixinhos. Plantas estranhas, pedras esverdeadas de lodo exibindo-se no meio do rio, um bem-te-vi que cantava de cá enquanto outro respondia de lá. O sol forte batendo na moleira, japoneses de luvinhas brancas e guarda-chuvas abertos contra o sol, americanos ripongas com dreadlocks parafinados, o céu azul acima de nós. Ficamos imaginando quando é que a maldita cascatona iria aparecer, e se realmente era tão impressionante quanto parece nas fotos e cartões-postais e documentários televisivos.

E então eu vos digo, amiguinhos: é MUITO mais impressionante. Nada no mundo, nada, nenhuma foto, nenhuma filmagem, nenhum Globo Repórter é capaz de preparar a gente praquilo. Não consigo nem explicar direito o que eu senti quando dei de cara com aquele monstro. Você vem vindo pela passarela, batendo papo e admirando a fauna humana ao seu redor, apontando pra uma flor esquisita lá naquele canto ali, ó, ih, alá, uma tartaruga pegando sol na pedra, e coisa e tal, e de repente começa a ouvir um barulho, mas um barulho, e a taquicardia chega, e você inicialmente vê só a parte mais alta e externa, um ralo gigante, aquela quantidade absurda, intergaláctica de água caindo não se sabe onde, até que a passarela faz uma dobra à esquerda e você finalmente dá de frente com a Garganta, e olha lá pra baixo e não consegue mesmo ver pra onde a água vai porque é tudo vapor, e o coração parece que vai sair pela boca, que por sinal está aberta e babando, e as lágrimas são absolutamente inevitáveis, e parece que o mundo parou e a única coisa que se move é aquela massa ridiculamente exagerada de água que cai em movimentos hipnotizantes de verde e branco e espuma, e então não importa se tem uma horda de fotógrafos profissionais (cof cof) que sobem em escadas como aquelas que a Maria usa pra limpar as janelas do seu apartamento, pra tirar fotos dos turistas do alto, tendo a Garganta no fundo; não importa se a língua mais ouvida ao seu redor é aquela josta de espanhol; não importa se ao seu lado há uma velhinha americana de cabelos lilás e camiseta cafona com uma arara e escrito “Maceió” em letras vermelhas, nada disso importa, não importa nada, porque a única coisa em que você consegue pensar é CARALHOS ESTRELADOS, como é possível que exista tanta água junta, não é possível, PRA QUE ISSO? Fiquei séculos lá parada, hipnotizada, paralisada, petrificada, olhando praquela coisa monstruosa que cai sempre no mesmo ritmo, sempre igual mas sempre diferente, mais espumoso à esquerda de quem olha, mais esverdeado à direita, e ali no meio ela dá um pulo antes de cair porque tem uma pedra protuberante, e bem no seu lado direito há uma plataforminha de pedra que é tão protuberante que a água não cai exatamente em cima, e então uma moita de alguma planta guerreira se instalou ali, no meio do campo de batalha, e aquele barulho enlouquecedor, e há tantas outras micro-cascatas ao redor que a gente não sabe pra onde olhar, mas os olhos sempre voltam pra Garganta, porque é ela que a gente não consegue entender nem mensurar nem aceitar nem nada, e não consigo evitar de imaginar como seria bonito morrer ali, stravolta dalle acque possenti. Então ficou estabelecido na minha cabeça que não existe coisa mais bonita no mundo inteiro. Não existe, por mais que o Mirco encha a casa e o meu saco com fotos de Ayers Rock. Não existe, porque eu gosto de movimento e não de monumento; gosto de dinâmica e cinemática e da conseqüente potência, e uma cascata é viva e forte e pode tudo, entorpece TODOS os seus sentidos ao mesmo tempo, desliga o seu cérebro que por longos minutos absorve só ela, seu barulho, o cheiro da água, a sensação de umidade na pele, o frescor do vapor d’água no rosto, o gosto de água fresca e natural na língua, e sobretudo aquela visão infinita e absurda de toda aquela água que a gente não entende o que raios está fazendo ali, pra que que serve tanta água junta assim?

Ao redor, tudo é lindo: o capim das rochas brilha com as gotículas de água, as folhas se agitam ao vento causado pelo simples deslocamento daquela água toda, flores pequenininhas crescem em moitas em ilhotas que parecem ikebanas no meio das partes mais calmas do rio. Não há peixes, logicamente; a vista é ótima mas a vizinhança é barulhenta e movimentada demais. Borboletas passeiam sobre as nossas cabeças e quando voltamos, muito a contragosto, a tartaruga ainda está lá na pedra, lagartando ao sol, perto dos pilares destruídos. Continuei abobalhada e muda por todo o percurso de volta à estação, e durante a volta no trenzinho, com os pés estendidos no banco à minha frente pra secar as meias. Comprei uns colares de contas de um índio perto da saída do parque (eles são cadastrados pra poder trabalhar no parque e vendem uns bichos artesanais horrendos – ou tudo que é artesanal é horrendo, a não ser o gelato italiano? – mas os colares de contas são bonitos), dei um tchau mental pra Garganta pensando que um dia ainda vamos nos encontrar novamente, tia, e fomos embora.

Hernán nos esperava na saída, e a primeira coisa que perguntou foi se tínhamos pego a lancha pra nos batizar nas águas de San Martín, como diz o panfleto do parque. Os meninos queriam comprar uma rede, então paramos pra escolher uns exemplares que um paraibano sorridente e com bafo de cachaça vendia à beira da estrada. Puxa de cá, conversa de lá, acabamos levando duas com um pequeno desconto. Fiquei com pena dele porque praticamente há só um fornecedor pra todo mundo que vende rede ali na área, e os vendedores não podem dar muito desconto porque afinal de contas eles também precisam comer. Nós fomos o primeiro cliente do dia e ele agradeceu com sinceridade, e sorriu sem dentes pra foto com o Gianni.

Resolvemos jantar no restaurante do hotel. Os meninos comeram saladas, omelete e arroz branco, e acharam tudo ótimo, coisa maravilhosa porque italiano é chato pra cacete pra comer, ainda mais quem foi acostumado com tomate da horta, frango do galinheiro da avó, vinho feito pelo tio. Eu ainda tava abobalhada demais pra sentir fome, e pedi pro garçom encomendar uma vitamina caprichada na cozinha, de mamão, banana e laranja, minha preferida.

Subi cedo pro quarto e fiquei estatelada na cama esperando o ar condicionado refrescar o quarto, antes de cair no sono. Revi os acontecimentos do dia, me preparando pra escrever, e cheguei à conclusão de que o parque argentino é mais tosco do que o brasileiro, mas como área natural é mais bonito, porque maior. Só que a nossa vegetação tropical é aquela exuberância deselegante que a gente conhece bem, conseqüência inevitável do calor e da umidade. Nada de bosques europeus arrumadinhos, não. No hemisfério pobre há muito undergrowth, sottobosco, uma confusão danada de parasitas, de bambus caídos, de plantas que trocam de casca, de cipós pendurados em ângulos aparentemente impossíveis, uma variedade confusa de verdes. Um excesso, uma bagunça, uma indisciplina, uma improvisação, enfim, um samba do crioulo doido que é, ao mesmo tempo, o nosso tesouro e a nossa inevitável ruína. É tudo tão vulgar, tão exagerado, tão desnecessário. Penso nas combinações bizarras e despudoradas de cores das roupas de muitas meninas sul-americanas que vimos no parque, e vejo que tem tudo a ver, não poderia mesmo ser de outro jeito. Tudo faz sentido. Ou talvez sou eu que sou self-conscious demais, não sei.

Roma – Buenos Aires – Foz do Iguaçu

Passei a manhã em casa dando uma última geral, terminando de arrumar as malas, passando roupa. Almoçamos correndo e às três da tarde Gianni e Chiara passaram aqui. Quem nos levou até o aeroporto foi a Roberta, irmã do Gianni, que é muito gente boa. Quando viajam, Gianni e Chiara sempre têm que fazer o check-in o mais cedo possível, pra tentar arrumar lugar nas fileiras mais anteriores ou perto da porta de emergência, porque são muito altos e precisam esticar as pernas, senão morrem de desconforto. Acabamos sentando separados, mas pelo menos todo mundo tinha espaço suficiente pra evitar formigamentos, dores musculares e pés inchados. Voamos com a Aerolineas, e demos o azar de pegar uma tripulação antipaticíssima. O avião era meio velhusco. Nada do telão mostrando a posição do avião, velocidade, temperatura, tempo de viagem, essas coisas. O vôo estava lotado, uma quantidade impressionante de velhos sem loção, do tipo que não trancam a porta do banheiro e aí chega alguém querendo usar o banheiro e abre a porta e vê o velho lá dentro sentadinho na privada. Diliça. O jantar foi franguinho refogado com arroz branco e vagem, bem razoável pra mim, mas eu adoro comida de avião. Os meninos, obviamente, detestaram. Ao meu lado esquerdo, um piacentino fedendo a cigarro que só lá pro final do vôo resolveu puxar papo e contou que tinha um restaurante, mas que agora o vendeu e resolveu tirar um mês de férias pra pensar no que fazer da vida. No meu lado direito, um argentino que felizmente dormiu o tempo todo. Eu consegui dormir direitinho, até porque já tinha visto o filme que passou (Neverland), e entre uma soneca e outra dei uma lida no guia Lonely Planet que o Gianni comprou pra viagem. Qual não foi a minha surpresa ao ler aquela velha história de que os argentinos são italianos que falam espanhol e acham que são ingleses! Apesar de ser de três anos atrás, a edição italiana do guia é legalzinha, dá alguns toques básicos sobre a arrogância dos argentinos (chamada repetidamente de ”orgulho”) e sobre a decadência de Buenos Aires. Me diverti.

Chegamos bem cedo e pegamos um táxi até o outro aeroporto, o Aeroparque, que seria o equivalente ao Santos Dumont no Rio. O carro era um Peugeot caindo aos pedaços, com os vidros rachados e mala que não fechava direito. O motorista era uma figura, o clássico portenho paraculo (palavra italiana que eu amo e quer dizer algo como malandro, espertalhão), com cara de napolitano, cabelos muito escuros, sobrancelhas marcadas, olhar safado. Pegou um caminho comprido e engarrafado, e enquanto ele falava sem parar íamos vendo a paisagem: um viaduto parecido com o Paulo de Frontin, inclusive pela feiúra dos prédios colados nele, placas de trânsito tortas, poluição. Vimos até umas coisas favelais brotando nas margens de estrada, bem no estilo Maré, se o dono da casa estende o braço pra fora da janela chega quase a encostar nos carros que passam. E enquanto tudo isso passava o motorista falava que falava, descrevendo em detalhes o parto do primeiro filho, o sangue, a placenta, uma delicadeza só. Mas eventualmente chegamos, e esse aeroportinho é bem bonitinho, de frente pro rio, com uns belos gramados em torno. A estrutura parece nova e moderna, e ficamos dando umas voltas até a hora do vôo. Acabamos sentando num café pra passar o tempo, e puxei papo com uma senhora que morava em Foz e trabalhava com turismo e nos deu umas dicas do que ver, quanto tempo gastaríamos pra ver as cataratas, os preços dos ingressos e mais ou menos quanto os motoristas da zona cobravam pra levar os turistas pra lá e pra cá. Disse que nosso hotel não ficava muito perto do centro e por isso seria uma boa idéia estabelecer um preço fixo por dia com uma das quatro empresas que fazem esse trabalho por ali, de modo que teríamos sempre um carro e um motorista à nossa disposição.

O vôo, sempre da Aerolineas, saiu com 15 minutos de atraso, mas foi bem light. Serviram só uns sanduíches de queijo e presunto no pão de forma, porque o vôo era curto. Chegamos em Puerto Iguazu, que tem um aeroporto bonitinho, todo de tijolinhos, e logo de cara vimos as quatro escrivaninhas com os quatro fulanos que a senhora tinha descrito, sentadinhos ali entre a esteira das bagagens e a porta de saída, caçando turistas. Escolhemos um ao acaso e ele nos passou a um lourinho de óculos escuros, o Hernán, que é argentino de Mendoza, ao norte, mas morou em Foz e namorou brasileira e fala bem o português. Seguimos os conselhos da senhora no aeroporto de Buenos Aires e fomos direto do aeroporto pras cataratas brasileiras, que são menos extensas e podem ser visitadas numa tarde. Cruzamos a ponte Tancredo Neves, aquela cafonice das cores da argentina até a metade, e dali em diante o concreto lateral pintado em verde e amarelo. É cafona, mas não agüentei e dei de chorar. Não só por estar tecnicamente pisando no Brasil, mas principalmente por estar vendo árvores e plantas e pássaros que eu reconhecia, embora não conhecesse tudo, claro. Vi pés de mamão, mangueiras, bananeiras, flamboyants e muitas outras plantas às quais nunca fui apresentada pessoalmente mas que conheço de vista. Nunca tinha parado pra reparar nessas coisas, mas acho que é mesmo porque a gente só sente falta de determinadas coisas quando elas não fazem mais parte da nossa vida. Quem diria que o canto de um bem-te-vi, que aqui na Bota não existe, me faria chorar até o nariz inchar.

Mas tudo ali é tão feio, a gente é feia, a terra é vermelha e fina e mancha tudo, tudo é tão improvisado, os letreiros são pintados a mão, os carros são velhos, todo mundo perambula de sacola de plástico pendurada no braço (bem coisa de pobre, né não?), os nomes das lojas são terrivelmente cafonas, as Havaianas de pivete imperam – são aquelas brancas com as tiras verde-água, sacam?

O Parque Nacional é muito bonito e aparentemente muito organizado. Paguei meu ingresso com desconto mostrando meu passaporte, comprei uma lata de guaraná Antarctica no barzinho antes de entrar, passamos pela roleta e subimos num ônibus muito colorido, com um tucano estilizado pintado nas laterais. Sentamos no andar superior, e fomos passando pela estradinha asfaltada mas esburacada que atravessa a floresta. Outros ônibus vinham da outra direção, alguns do parque, outros de turismo; a gravação nos alto-falantes explicava onde estávamos, que animais poderíamos ter esperanças de ver, advertia a não dar comida aos quatis, jamais, porque eles ficam abusados e não podem ver um saco de batata frita que avançam na maior cara-de-pau. Descemos na última estação, Trilha das Cataratas, e percorremos todos os caminhos possíveis. As passarelas chegam bem perto das quedas menores e a gente fica lá, de boca aberta, tirando fotos com as mãos cobrindo a máquina pra que o vapor d’água não a molhe. A sensação é maravilhosa, aquelas gotículas finiiiiiinhas cobrindo meu rosto, meu rabo-de-cavalo torto, meus tênis vermelhos. Poderia ter ficado lá o dia todo, mas estávamos cansados e o Hernán nos esperava às seis e pouco na entrada do parque, então voltamos pra lojinha, compramos uns cacarecos e cartões-postais e fomos pro ponto de ônibus. Um pouco depois do hotel maravilhoso em estilo colonial que fica dentro do parque há um mini-complexo de lojas e barzinhos onte paramos pra tomar um suquinho Maguary de manga, que os meninos adoraram. Logo em frente fica uma estátua do Santos Dumont, que eu obviamente tive que explicar quem era e coisa e tal. Enquanto esperávamos o ônibus pra saída do parque, vimos um grande grupo de quatis saindo da mata e atravessando a rua na maior. Uma imbecil, que não sei de qual país da América Latina saiu, caiu na asneira de tirar da bolsa um pacotinho de salgadinhos. Não deu outra, os quatis enlouqueceram, começaram a pular nas pernas dela, estendendo as patinhas e puxando a mochila com os dentes. A idiota da mulher quase morreu de susto, e eu só pensando bem feito, vai na fé, quati, quem mandou ser otária e não obedecer às instruções da administração do parque? Gianni e Chiara, que nunca tinham visto um animal “selvagem” tão de perto, ficaram enlouquecidos. E assim terminou nosso passeio no parque.

Fomos direto ao hotel, que é bonitinho mas deu uma mancada tão, mas tão grande comigo que eu nem vou contar pra não me irritar outra vez. Meu quarto dava pra piscina, e naquele dia abafado o ar-condicionado foi muito bem vindo. Estranho assistir à TV em português de novo, ver pedaços de novelas que não conheço, atores novos, ex-atores-mirins que cresceram. Tomei um banhão show de bola no box imenso com portas de Blindex e desci pra encontrar os meninos. Mais tarde o Hernán passou pra nos pegar e fomos, caindo de sono, jantar no RafaIn, churrascaria com show de danças típicas sul-americanas. Dispensamos o show e comemos bem, mas não maravilhosamente bem. As carnes não tavam lá essas coisas, mas o feijão tava delicioso, a farofa idem, as frutas eram muitas, as saladas eram lindas, e os doces ótimos. Paguei com cheque do Itaú, que minha mãe tinha mandado para o hotel pelo correio. Assim que cheguei no quarto meu pai ligou, depois minha mãe, e depois não agüentei e chapei. Dormi mal, tive sonhos estranhos e acordei muitas vezes de madrugada. Excesso de cansaço não ajuda muito a dormir direito…

dusseldorf streisend

Nosso vôo saía de Eindhoven às duas e pouco da tarde, então tínhamos que sair cedo de Düsseldorf pra pegar a estrada com calma, reabastecer e devolver o carro, e fazer o check-in com tranqüilidade. Até que nem nos perdemos muito e caímos na estrada sem problemas. Chegamos em Eindhoven com muita calma, e aproveitamos a meia hora de tempo a mais pra dar uma olhada a jato na cidade. Estacionamos o carro na estação de trem e demos uma volta rápida por ali mesmo. Como não tinha nada pra ver, porque, honestamente, não tem nada pra ver ali mesmo além do estádio Philips, fomos fazer compras num supermercado onde já tínhamos ido em Rotterdam, ano passado. Eles têm umas sopinhas enlatadas ótimas, e fizemos um estoque, até porque com a falta de tempo e o horário em que chegamos em casa ultimamente essas coisas quebram o maior galhão: gorgonzola, lagosta, aspargos, salmão, frango, e só não compramos mais coisas porque não entendíamos o que estava escrito no rótulo e os desenhos não eram exatamente elucidativos. Também compramos couve-de-Bruxelas que tava em oferta e nós adoramos, dois tipos de pão de forma com grãos estranhos, e os xaropes de laranja e frutti di bosco que o Mirco adora, pra fazer refresco. Pegamos o carro e fomos direto pro aeroporto, não sem antes dar uma volta danada e inevitável, seguindo as instruções de uns holandeses simpáticos que passeavam por ali, naquele frio. Carro devolvido, check-in feito, sentamos pra comer uns sanduíches que tínhamos trazido do hotel em Düsseldorf, porque a única cafeteria do aeroporto não tinha nada a oferecer além de caríssimos sanduíches de pão de forma que não davam nem pro buraco do dente da galera esfomeada. O vôo foi light como sempre, dormimos todos como pedras, e depois foi só encarar a estrada de Ciampino até em casa.

Tio Ryan, eu te amo. Mas se não fosse o Euro, hein, Tio, cê não tava com essa bola toda não, podes crer. Trocar dinheiro é uma encheção de saco cara demais pra um mero fim de semana. Os preços aumentaram, principalmente aqui e na Grécia, mas pelo menos tornou tudo mais fácil.

A brincadeira toda saiu meio cara porque 1) alugamos carro e 2) dormimos em hotel e não em albergue. O carro, incluindo gasolina e pedágios e estacionamento, saiu por € 44 por cabeça. Uma noite no hotel saiu € 66 por casal. A passagem, a € 0,42/pessoa em cada trecho, acabou ficando uns € 40, por pessoa, ida e volta, depois das taxas. Não achamos a comida tão cara. Pena que não deu pra entrar em supermercado nenhum na Alemanha, porque tava tudo fechado no domingo.

Agora da Alemanha a única coisa que ainda tenho vontade de ver é a Bavaria. Da Holanda quero ver Utrecht, Delft e Maastricht. E aceito sugestões, obviamente. Até porque eu gostaria de curtir mais um fim de semana europeu, cortesia Tio Ryan, antes de partir pra Argentina.

Düsseldorfstrass

Mirco acordou às cinco e foi direto pra oficina, pra deixar umas coisas organizadas pros meninos pintarem mais tarde. Eu não conseguia mais dormir e fiquei lendo Dickens, depois tomei meu banho, um bom café da manhã, peguei o carro do Mirco e fui pegar o Gianni e a Chiara em Santa Maria. Dali fomos pra Torgiano pegar o Mirco, e pegamos a estrada. O Mauro e o não-Mauro, que moram em Bastardo (juro), já meio que no caminho pra Roma, nos encontraram num Autogrill na estrada mesmo. Passamos um ligeiro excesso de bagagem pro carro deles e fomos direto até o aeroporto de Ciampino.

O vôo saiu na hora, como sempre, porque Tio Ryan não nos decepciona jamais, e todo mundo dormiu direitinho. Chegamos no aeroporto de Eindhoven, que é minúsculo e todo bonitinho limpinho moderninho, e logo de cara vimos um ruivo com uma menininha que segurava um cartaz com o nome do Mirco. É que nós estávamos levando três caixotes de aventais com o nome da escola de cozinha da irmã do Mirco, que o namorado dela deveria ter vindo de Rotterdam pegar. Como estava de cama com a gripe que pegou a Europa de jeito, mandou o amigo ruivo, que nós já tínhamos conhecido no aniversário do tal namorado, em abril do ano passado, na Toscana. Descarregamos os caixotes de aventais, pegamos o carro alugado da Hertz (um Wolks Sharan de 9 lugares) e, até que com poucos problemas, porque quem estava co-pilotando não era o Mirco e quem dirigia era o Gianni, caímos na auto-estrada.

A paisagem é bonitinha mas muito triste no inverno. As casas holandesas são tão arrumadinhas, sempre com uma florzinha, um bicho, uma coisinha fofa na janela, cortininhas brancas, telhadinhos impecáveis, cerquinhas simétricas. Mas as árvores secas e nuas, o céu cinza, o termômetro do carro que marcava 3 graus lá fora, os campos marrons, tudo isso dá uma tristeza!

Paramos num hotel/restaurante na estrada pra almoçar. Eu adoro os holandeses; são quase sempre muito simpáticos e sempre falam Inglês direito. Comemos bem; os meninos atacaram uns hamburgers abertos com salada e eu e Chiara fomos de bruschetta de cogumelos com presunto e salsinha. Voltamos pra estrada e logo depois ultrapassamos a pseudo-fronteira com a Alemanha – e imediatamente neguinho começou a ultrapassar nosso carro a um milhao de quilômetros por hora. Chegamos a Düsseldorf quando já estava escuro. Custamos um pouco pra achar o hotel, entre Platz de cá e Strass de lá, mas finalmente chegamos.

O hotel era… estranho. Não me levem a mal, tudo muito arrumado e limpo, funcionários cordiais (eu disse cordiais, não simpáticos), mas os quartos eram… estranhos. Estávamos no último andar, e todos os quartos eram duplex. No andar de baixo, a TV com duas poltronas, o banheiro e a porta que dava pra uma varanda comum a todos os quartos daquele andar. No segundo andar do quarto, acessível somente através de uma escada íngreme assassina, da qual por pouco não caí e quebrei o pescoço mais de uma vez por ter cometido o crime de querer fazer xixi no meio da noite, a cama e um armário. É melhor não acordar e levantar de repente da cama, por causa do alto risco de dar uma cabeçada no teto baixo e inclinado. Atrás do hotel, a estação de trem, que felizmente não era muito barulhenta. O aquecimento do quarto não funcionava nem com reza forte; o da parte de baixo funcionava, e muito bem, e o calor que subia era suficiente pra dormir direito.

Então; tomamos banho, trocamos de roupa e fomos jantar com o pessoal da malharia onde o Gianni trabalha. Eles mantêm um show-room permanente em Düsseldorf, que é, e eu não sabia, um importante pólo de moda na Europa. Havia uma feira internacional de moda entre 31 de janeiro e 2 de fevereiro, e todo ano, nesse evento, uma equipe da malharia vai a Düsseldorf, cuidar pessoalmente dos clientes. Eu e Mirco também fomos convidados e fomos jantar na cidade velha com o pessoal da empresa. Ao todo, éramos 15. O restaurante, cujo nome não consegui decifrar entre as letras excessivamente góticas do cartão de visitas, era tipicamente alemão, freqüentado por alemães, o que não é necessariamente um elogio. A cerveja é de produção própria e, disseram todos, gostosa e bem leve – eu não sei, tenho pavor de cerveja, fiquei na Pepsi horrivelmente sem gás mesmo. Só um garçom foi simpático com a gente, talvez porque alemães e italianos estejam, moralmente e comportamentalmente falando, em pólos opostos. Falava um Inglês muuuuuuuuuuuuuito xexelento, mas dava pro gasto. Quase todo mundo comeu salsichão branco (…) com repolho (…); eu e Gianni pedimos peito de frango grelhado com arroz de ervilhas e um outro acompanhamento gostoso, de cogumelos e umas coisas que jamais identificamos nadando num molhinho pálido. Mauro não-Mauro foi de joelho de porco com repolho. Coitado do Mauro, que dividiu o quarto com ele.

Demos muita risada; a equipe da malharia (que pega até mal chamar de malharia; eles só trabalham com cashmere e lã Merinos e apliques de vison verdadeiro e coisas do gênero, e as roupas custam uma fortuna já aos lojistas, imagina pra nós, pobres mortais) é simpática, ainda mais quando a cerveja corre solta. Mas lá pra uma certa hora ninguém se agüentava mais em pé, e fomos nanar.

estacionamientos tabajara

Ontem Gianni e Chiara vieram aqui em casa à tarde pra resolver a história da viagem. Fizemos as reservas, que hoje foram confirmadas por e-mail. Então o itinerário vai ser assim: eu e eles vamos sair de Roma dia 14 de março. Chegamos em Buenos Aires de manhã cedo, mudamos de aeroporto e pegamos diretamente o vôo pra Foz do Iguaçu (que em espanhol vira a maravilha “Iguazu”, socorro). Como o Mirco já viu as cataratas duzentas vezes e não pode ficar mais que uma semana longe da oficina, eu vou antes com os meninos, vemos as cataratas e Itaipu, voltamos pra Buenos Aires dia 18, encontramos o Mirco no aeroporto e vamos diretamente lá pra baixo. Não lembro direito a ordem das paradas, porque honestamente essa não é a viagem dos meus sonhos e não participei ativamente da organização, mas vamos ver El Calafate, Perito Moreno, Ushuaia e coisas assim. Depois voltamos pra Buenos Aires, que o Mirco conhece bem, ficamos ali alguns dias e voltamos pra casa dia 30.

De uma certa maneira me sinto uma traidora, por estar botando os pezinhos tão perto de casa e não passar por lá, mas não tem outro jeito. Pelo menos assim o Mirco tira essa cisma de Patagônia da cabeça, e na próxima vez que formos ao Rio vamos ficar só lá, em vez de catar sarna patagônica pra nos coçar e encolher meu tempo em solo carioca.

Hoje vamos jantar peixe na casa deles e ajustar os últimos detalhes, como reserva de hotel, etc. Eles compraram um guia da Argentina, que só o Lonely Planet tem; fiquei tentada, mas é tão caro quanto o da Irlanda, e perguntar qual dos dois eu escolheria é como perguntar a macaco se quer banana.

uhuuuuu

Acabamos de comprar bilhetes por € 0,62 (que na verdade, com todos os impostos e coisa e tal, acaba custando uns € 40 por cabeça) pra Eindhoven. Gianni tem um congresso sei lá do que por aquelas bandas e aproveitamos pra ir junto. Não tenho a menor idéia do que exista por lá pra ver, se é que existe. Vamos dia 29 de janeiro e voltamos dia 31, só o fim de semana mesmo.

Se alguém souber de algo interessante pra se ver por ali, por favor me avise!

os altos, sempre eles

. Rever as meninas do colégio, no casamento da Dani, depois no aniversário da Mari, e depois ainda no Seu Martim, no Leblon: Mari, Patricia, minha prima Erica, Briza, Alessandra, Bebel Lobo, Manu!!! Manu, que eu não via há séculos e é uma das pessoas mais alto-astral que eu conheço! Cada dia mais bonitona, e hoje ainda é G/O e médica do trabalho. As meninas, respectivamente: Mari trabalha com moda, Patricia tem uma produtora de vídeo, a Erica e a Briza são dentistas (a Erica faz canal e a Briza esqueci), a Alessandra canta pacas. Bom, já sabem: precisando de médicos ou dentistas de qualquer especialidade, é só falar comigo que eu tenho mil ótimas indicações pra dar. É uma das maiores vantagens de ser ex-médica.

Eu e a doutora Manu, o alto-astral em pessoa I.

Doutora Manu, Méri-Gu (o alto-astral em pessoa II), eu e o lanterneiro.

Patricia, minha prima Erica, Bebel Lobo, Mari e eu.

mas quantos altos!

. A escova progressiva. Quéridos, não tenho palavras pra descrever a felicidade de ser lisa, leve e solta. Qualquer que seja a doença que o formol na cabeça possa dar, é dela que eu quero morrer.

. Bater papos filosóficos sobre medicina oriental, acupuntura, ying e yang e outras coisas interessantes mas além da minha compreensão, até altas horas, em frente ao meu prédio, com Huňka e Newlands, depois de chopada + belisquetes (com direito a banana split) no Manuel e Joaquim da Barão com a Farme.

. Ser acordada às seis da manhã por um telefonema da lastminute.com avisando que o vôo do Mirco foi juntado com o meu, e que por isso viajaríamos juntos, ao contrário do que tinha sido inicialmente programado.

. Fazer esteira no play do meu prédio olhando pra vista da Lagoa.

. Comprar calça jeans maravilhosa na Richards e sapatos lindos na Mr Cat pro Mirco a preço de banana pra quem ganha em euro.

. Comer banana de verdade, e não essas porcarias porto-ricanas que se vendem aqui.

. O milkshake de Ovomaltine do Bob’s.

. Shrek 2 no avião de ida, e Mean Girls, aquele com o Pierce Brosnan e Julianne Moore, e 13 Going on 30 no avião de volta.

. Conhecer a dra. Vania, dermatologista, chique e simpática, que deixou o Mirco impressionado como os médicos no Brasil conversam com os pacientes – coisa que na Itália não acontece, nem quando eu digo que sou médica também (o ex nesses casos eu prefiro omitir, claro).

. TODOS os porteiros e amigos e conhecidos pedindo notícias do Legolas.

. Sobremesas decentes nos restaurantes (os doces por aqui são de razoáveis a ruins).

. Já falei da escova progressiva?

mais altos

. Ver que minha avó está magra, e ótima.

. Receber uma tonelada de amigos da minha mãe lá em casa, e alimentá-los com pasta fatta in casa que eu penei pra fazer com o Mirco, porque nem rolo de macarrão tínhamos e improvisamos com garrafa de vinho mesmo.

A Luciana, de camisa listrada, é uma olftalmologista de primeira. Precisando, é só perguntar.