Um dia recebo um e-mail da Beachbody com a propaganda do seu mais novo produto, um tal de Brazil Butt Lift. Pronto, pensei, é exatamente disso que o mundo civilizado precisa, de mais sacolejantes e bronzeadas bundas brasileiras. Que beleza. Mas como sou um bicho curioso, fui lá olhar. E como além de ser um bicho curioso sou também um bicho que está num platô de peso há alguns meses e incrivelmente irritada com isso, resolvi que arrumar um programa novo pra alternar com o Turbo Jam e o ChaLEAN Extreme poderia me ajudar. E como sou um bicho até agora muito satisfeito com os produtos da Beachbody, confiei e comprei o programa; comprar qualquer coisa com Brazilian Butt no nome foi a coisa mais próxima ao pacto com o demo que eu já disse que faria sem pestanejar pra conseguir emagrecer. E como além de todas essas coisas eu sou também um bicho escrevinhador, posto aqui o meu review, a quem interessar possa. Ou não.
Comprei os DVDs em dezembro, mas a minha amiga Meredith só me mandou agora no final de janeiro (a Beachbody não entrega fora dos EUA e do Canadá, então tenho que usar a Meredith como intermediária). A Meredith, pra quem não sabe ou não lembra, é a minha amiga ex-obesa que perdeu 60 quilos e um diabete fazendo Turbo Jam e hoje ensina Turbo Kick. Como eu, ela também está num platô antipático. E foi ela quem me apresentou ao Turbo Jam e à Beachbody. Pois então; o programa chegou no final de janeiro e consiste no seguinte: 3 DVDs (total de 8 workouts), um livro de receitas que logicamente não acrescenta nada de novo ao que a gente já está careca de saber sobre perder peso (ou seja, só peito de frango com salada salva), um 6-day supermodel slimdown plan (pra você ficar empolgada com os resultados e sair malhando loucamente e insistindo com a reeducação alimentar), umas fichas explicando os movimentos principais do programa (pra quem é mais lerda e não consegue acompanhar pelo vídeo), uma fita métrica pra você tirar as suas medidas, um lápis pra você ver se a sua bunda está empinadinha comme il faut ou se precisa de um lifting (juro), uma faixa de borracha MALDITA MARAVILHOSA pra usar como resistência e acho que só.
Eu já tinha visto uns previews do programa no YouTube e quase me arrependi de ter comprado. Porque o negócio é o seguinte: o programa é corny. Não me vem outra palavra na cabeça agora; a descrição perfeita é CORNY. Não me levem a mal, estou adorando a coisa, mas deixa eu destrinchar a cafonice pra vocês entenderem do que eu estou falando.
Vamos começar pelo instrutor, o Leandro Carvalho (que os americanos pronunciam Carvallo). O Carvalho tem olhos claros mas orelhas de abano, barba por fazer, um corpo bem legal e uma cara de pobre que benzadeus. Mas é simpático, obviamente bem intencionado, obviamente sabe perfeitamente o que está fazendo e obviamente ganha dinheiro com isso há um certo tempo (parece que ele treina as modelos da Victoria’s Secrets). Só que o inglês do Carvallo é digno do Joel Santana. O horror, o horror. Seu slogan é “Don’t settle for less”, que ele pronuncia mais ou menos como “doncérou folés”, em carioquês. Ele come verbos (“Dis mai signatchur workout”). Ele mistura português com o inglês (“E up, e down”, “Higher, né”). Ele muda a ordem dos elementos na frase (“Let’s do uan mór táim dis workout”). Ele às vezes fica mudo no meio da frase sem saber o que dizer. Ele come artigos (“All way up, all way down”, “More you work hard, more you will see results”). Enfim, ele é terrível, vergonha alheia total language-wise, uma coisa horrorosa, de causar coceira no zovidos. E isso porque ele mora nos EUA há não sei quantos anos. Mas enfim, é simpático, competente etc, então a gente releva, apesar da coisa ser muito distracting. E pela entrevista detalhada que ele deu à newsletter da Beachbody, parece ser um cara simpático e legal, alguém com quem eu definitivamente gostaria de malhar. Ele também é bem empolgado. Rebola legal, sorri muito (mas não aquele sorriso congelado americano). Mas, apesar da empolgação, e ao contrário da Chalene, ele não perde a conta, nunca faz um lado diferente do outro e não sai do ritmo. Ponto pra ele.
O cenário. A sala onde eles fazem os workouts é pobrinha que dói, com umas plantas visíveis através de uma janela no fundo e mais nada. A música é uma espécie de world music não identificada, uma coisa meio lounge com um leve toque de tropicalismo pra dar um tcham. As cenas na sala de ginástica se alternam com as mesmas pessoas fazendo a mesma série numa praia, obviamente não brasileira, mas onde vemos palmeiras, bandeiras do Brasil e um quiosque pra lá de Malibuesco no background – vergonha alheia de novo. As meninas – as que não usam coisas da Nike, facilmente identificadas pelo logotipo bem à mostra – usam uns tops absolutamente horrorosos tipo cortininha gigante com um debrum de bolinhas ou quadradinhos, não entendi direito.
O programa em sirrrrrr, como dizia um amigo do meu pai, consiste nos seguintes workouts: Basics, Bum Bum, Bum Bum Rapido, Bum Bum Live, High and Tight, Sculpt, Cardio Axe (ele explica no início que a palavra é axé mas no CD não tem acento; logicamente todo mundo ignorou o coitado do Carvallo e continua a dizer cardio axe – vi no You Tube, como se isso fizesse algum sentido. ODEIO gente que tem a oportunidade de aprender a pronunciar alguma coisa e passa batido) e Tummy Tuck. O Basics só explica os movimentos; eu fiz alguns anos de balé e sou bem coordenadinha em termos de dança, embora seja totalmente desprovida de molejo, então sempre pulo essa parte e vou aprendendo conforme vou malhando. O Bum Bum é cheio de agachamentos, jairzinhos pulados e outras coisas horríveis que, infelizmente, funcionam. O Bum Bum Rapido ainda não fiz, mas vai ser bom pra dias com pouco tempo pra malhar. O Bum Bum Live vi só de relance, vai ser bom pra alternar com outras coisas pra mudar um pouco a parada. O High and Tight, senhores, é um horror – absolutamente maravilhoso. Começa usando as malditas faixas elásticas em torno dos pés, com você em pé, dando passinhos pros lados, levantando a perna pra trás, destruindo maravilhosamente os músculos laterais externos das coxas. Depois vem a faixa com você deitada com as pernas juntas, afastando os joelhos, destruindo lindamente os músculos laterais internos das coxas e os glúteos. Termina com as caneleiras, coisa sem a qual brasileira nenhuma vive e que estranhamente é desconhecida no resto do mundo. Eu não tenho (só a versão Deluxe do programa vem com as caneleiras, e como eu disse por aqui não existem pra comprar), mas como eu tenho perna fina uso as weighted gloves nos tornozelos e funciona que é uma maravilha. E a parte das caneleiras é, previsivelmente, toda de quatro apoios, com alguns movimentos novos. Um workout assassino, do tipo que deixa você sem conseguir abaixar pra fazer xixi no dia seguinte, um amor. O Sculpt aparentemente é um interval training, com exercícios mais aeróbicos se alternando com muitas repetições de pesos leves; não fiz ainda mas já vi e parece ser bem hardcore. O Tummy Tuck é uma coleção de abdominais assassinos que me deixou toda dolorida no dia seguinte; além de exercícios velhos conhecidos e alguns odiados (todos os de plank position, que sou incapaz de fazer de maneira eficaz), rolam umas coisas novas também. E o Cardio Axé tem uns movimentos com nomes embaraçantes (international samba, samba tornado, sweep the sand, ride the wave, play the drums) e de novo a música blé com um toque tropical.
Eu não sei dançar. Nada. Não conseguiria sair do ritmo nem se quisesse (outro TOC meu), mas não tenho ginga, naturalidade, molejo, nada disso. Eu odeio 90% do que existe em termos de música brasileira, com um espaço especial de horror reservado ao axé. Mas sou da teoria que qualquer coisa dançada em grupo fica automaticamente divertida, de modo que dei uma chance ao Cardio Axé. E quer saber? Dei muita, muita risada, do inglês do Carvallo, dos nomes dos movimentos mas sobretudo de mim mesma, ultimamente incapaz de decorar qualquer coisa, inclusive coreografia. E o melhor: queimo em média 250 calorias na meia hora que dura o workout. Quase a mesma coisa que com o Turbo Jam. Suspeito que depois que eu finalmente decorar a coreografia e sair da paranóia de estar fazendo tudo errado vou conseguir me concentrar em fazer os movimentos com mais intensidade, e esses 250 vão aumentar. Vou fazer com as weighted gloves também pra ver se faz alguma diferença. De qualquer maneira, gostei tanto do programa que me arrependi de não ter comprado a versão Deluxe.
Refiz todo o meu workout plan pros próximos meses, incluindo um Brazil Butt Lift quase todos os dias. Vou fazer o 6-day meal plan depois que o meu irmão for embora (com ele aqui a gente sai muito pra jantar e fica difícil resistir às tentações dos meus restaurantes preferidos). Minha assinatura do site do bodybugg venceu, e como a pindaíba persiste resolvi não renovar e usar o myfitnesspal.com no lugar dele. Como não tenho como dar upload das informações do bodybugg, tenho que olhar no display no final do dia e subtrair das calorias queimadas o total de calorias comidas que o myfitnesspal.com calcula de graça, mas não tem problema; o efeito final é o mesmo (e o myfitnesspal.com tem um banco de dados melhor do que o do bodybugg, já que o que os usuários inserem fica visível pra todos os outros). Calories in, calories out, baby. E que o platô vá pro diabo que o carregue.
P.S.: Se você estiver a fim de comprar qualquer coisa da Beachbody, compre por aqui. A Meredith, muito precisada de grana, agradece.