cachos

Finalmente chegou o pacote da mamãe, com artigos de jornal, uma blusa de tricô, o líquido pra escova progressiva, entre outras coisas.

Decidi que vou ser lisa só até o líquido que ela mandou acabar. Cabelo liso é ótimo mas não tem nada a ver comigo. E não é só porque à medida em que o tempo passa eu vou ficando com mais e mais cara de árabe (síria, no caso), mas porque não tem nada a ver mesmo. Fico engraçada de cabelo liso, e não bonita. Não é pra mim.

ventania

Tá ventando pra burro. Já cheguei à conclusão de que os italianos têm uma ponta de razão quando dão a culpa de tudo ao vento. Toda vez que o vento sopra forte assim, e gelado assim, eu fico com dor de cabeça.

Meu aluno endocrinologista me receitou almotriptan contra a crise de enxaqueca. Custa uma fortuna e resolvi dar um pulo na minha médica de família, uma vesguinha muito boazinha, pra ver se ela me dava uma receita daquelas vermelhinhas, que me permitem de pegar o remédio de grátis na farmácia. Acabou que ela me deu uma amostra grátis com três comprimidos. Devo tomar um assim que começarem os sintomas iniciais da enxaqueca (eu não tenho aura, pulo diretamente pra cefaléia e dali pra enxaqueca homicida), mais um, depois de duas horas, se não sentir nenhuma melhora.

Hoje de manhã fiz um milhão de quilômetros, entre bancos, correios, padaria, escritório do Roberto pra deixar um negócio pra ele que o Mirco consertou, galpão de cliente pra deixar o cesto de Natal, oficina, onde botei umas faturas em ordem. Todo esse entra-no-carro-aquecido e sai-pro-vento-gelado repetido mil vezes não pode fazer bem a ninguém. Resultado: já tá a pontada atrás do olho esquerdo me atazanando outra vez. Mas não quero tomar nada, porque a enxaqueca bombástica mesmo só vai vir daqui a quatro semanas, se for uma menina pontual, e quero fazer um teste pra ver se o almotriptan funciona. Vamos ver se com um paracetamolzinho passa essa dorzinha. Já almocei (massa curta com atum refogado na cebola, cenoura meio crua, meio cozida, e milho) e agora vou ver o Comissário Rex antes de encarar outros quilômetros pra lá e pra cá, e depois finalmente dar aula de português à Quarentona Estressada.

run, paca, run

Ontem, estranhamente, acordei com disposição e vontade de ir correr. Talvez porque o dia tenha amanhecido lindo, de céu azul, ar frio mas suportável (dez graus), seco. Eram nove e pouco quando desci, de calça de moletom, camisa de manga comprida e um moletom verde-escuro do Mickey. Virei à direita, passando em frente ao bar onde o Fabrizio o Louco vai passar o tempo depois do jantar, pra não ter que aturar a mulher insuportável e tão graciosa quanto um tanque de guerra. A minha rua, depois do bar, acaba na via Sofia (em Bastia, como em muitas outras cidades da Itália, muitas ruas têm nome de cidades ou países). Virando à esquerda caio na via Cipresso, que depois vira via Torgianese, porque vai a Torgiano. Virando à direita, vamos parar numa das muitas estradas di campagna que há por aqui – estradinhas de roça mesmo, que passam por entre os campos, não são iluminadas nem têm acostamento e só exibem umas poucas casas, aqui e ali. Virando à direita vou na direção da fábrica de biscoitos Colussi, em Petrignano; à esquerda eventualmente vou parar numa paralela à superstrada que leva a Perugia. Faço sempre esse caminho pra ir trabalhar, porque essa paralela nunca tem engarrafamento, ao contrário da superstrada. Quando vou correr, em vez de pegar o pedaço de estrada que vai cair nessa paralela, vou pro outro lado, e quando a rua termina, em vez de virar à direita e ir subindo a colina onde fica Brufa, viro à esquerda, basicamente dando a volta no aglomerado de prédios baixos e casas onde moro e chegando em casa pelo lado oposto de onde eu parti.

Qual não foi a minha surpresa quando, ao chegar na via Sofia, dei de cara com uma cabeçada que corria na direção da via Cipresso. Eu tinha visto as faixas anunciando a competição de podistica non competitiva (leia-se corrida) nas ruas de Bastia, mas não tinha ligado o nome à pessoa, por assim dizer. Pois então; em frente a uma casa onde mora um yorkshire pentelho que sempre late quando eu passo foi montada uma mesa, onde três aposentados enchiam copinhos de plástico com água mineral ou chá gelado, e cortavam laranjas em fatias finas pra distribuir aos corredores que passavam. O chão estava cheio de copinhos vazios, o que dava um ar levemente sério à corrida, tipo, o corredor está disputando uma prova séria, por isso não pode parar pra jogar o copo vazio na lata de lixo. Ha ha ha. Tinha de tudo nessa corrida: gente velha, adolescente, gente com roupa coladinha, gente de touca de lã, gente de bermuda, gente que corre quase andando, gente que acha que tá correndo a maratona de NY. No final de toda essa gente, um barrigudo com um labrador amarelo, com dezoito metros de língua de fora. Passam dois caras de faixa na testa (existe coisa mais anos 80 do que faixa na testa?) e óculos escuros, e brincam comigo, dizendo que a corrida é na outra direção. Eu dou uma risada, boto os headphones nos zovidos e vou em frente.

Meu fôlego, não é de surpreender, foi pras cucuias. O percurso que antes eu fazia com o pé nas costas agora peno pra fazer até a metade. O ar gelado queimando as vias aéreas não ajuda, devo admitir. Acho que não tenho pêlos suficientes no nariz pra aquecer o ar, então sinto dor mesmo, de verdade, quando o ar gelado entra com força na traquéia e desce pros pulmões. Sinto os alvéolos gritando, mamãe, mamãe, que porra de ar gelado é esse que você tá mandando pra cá? Tá de sacanagem, né? Os olhos lacrimejam, o nariz escorre. Lembro-me de que ODEIO correr no frio.

Outro problema é que deixei meu par de tênis mais novos no Rio. Anta. Esses que ficaram já estão velhos, as solas estão praticamente lisas, e pegaram tanto a forma do pés que esses afundam, as laterais ficam altas demais, e machucam os maléolos, principalmente o direito, onde ganhei um quelóide depois do tombo com o scooter.

Outro problema é que, recém-saída de uma crise enxaquecal, resolvi não sentir frio na cabeça e taquei um gorro horripilante do Mirco, cor de diarréia. Só que com o volume do gorro de lã os headphones não páram na cabeça, e toda hora desciam, indo parar em volta do meu pescoço.

Mas no final das contas vale sempre a pena; chego em casa com esperança de um dia deixar de ser gorda, e me sentindo cheia de energia.

ui

Enxaqueca braba hoje.

A essa altura do campeonato, já entendi o mecanismo. Só pode ser de origem hormonal, porque só se manifestou fora do período pré-menstrual uma vez. Acordo de manhã com uma leve dor de cabeça que vai piorando ao longo da manhã. Lá pra hora do almoço já não sei mais nem como me chamo. Dirigir é perigoso, os olhos não se mantêm abertos, não posso mexer a cabeça porque a dor é insuportável. A esse ponto só me resta me enfurnar debaixo das cobertas, no quarto completamente escuro e silencioso; não consigo comer nada porque a náusea é bem intensa. Durmo a tarde inteira e quando acordo, à noitinha, estou um pouco melhor: já sei quem sou e onde estou, e já sou capaz de suportar a TV ligada e de sentar um pouquinho ao computador. Como alguma coisa e vou dormir de novo. No dia seguinte o ciclo se repete, igualzinho; à noite já estou melhor e posso até sair de casa, preferivelmente sem pegar vento frio na cabeça, e depois disso não tenho mais nada, é como se a enxaqueca nunca tivesse existido.

:(

Não pára de chover na Itália central. Chove há dias, e quando não chove, o sol não dá o ar da graça. Minhas plantas estão em um estado lastimável. O ficus que o Mirco me deu de aniversário tá todo manchado e as folhas caem com a mínima brisa. Mudei-o pra varanda do quarto hoje, quando vi que tinha um fiapo de luz do sol batendo, mas agora o tempo já fechou horrivelmente outra vez e acho que o ficus vai mais é subir no telhado mesmo. A pianta grassa, presente da Arianna, também tá amarelada e manchada, os pés de manjericão já secaram há muito, os pés de peperoncino estão amarelados e a única pimenta de cada um não fica vermelha de jeito nenhum. As tulipas da cunhada também ainda não apareceram, porque a umidade é excessiva e o frio ainda é pouco pra elas. As plantas estão morrendo por incapacidade de fazer uma fotossíntese comme il faut e também, suspeito eu, por saudades do sol.

uhuuuu

Pega-pra-capar ontem na casa da Suely Maria.

Eram umas quinze pras onze, já tínhamos visto E.R. e eu estava vendo a sátira ao Grande Fratello no canal 6. Levantei pra pegar um copo d’água e escutei uma gritaria lá fora. Pensei que fosse alguém falando no celular no corredor, porque só ouvia uma voz, de homem. Abri um pouco a porta da sala e entendi que os gritos vinham da casa da minha digníssima (cof cof) vizinha brasileira. Era o seu digníssimo (cof cof) companheiro, aquele que fuma no elevador e tem cara de bêbado/cafetão, e que eu não tenho idéia de que trabalho tenha porque seu carro, uma Audi TT ridícula pra um homem da idade dele, está eternamente estacionado aqui na frente do prédio. Enfim, era ele quem gritava, ou melhor, falava muito alto, mas educadamente, sem palavrões, sem baixarias. Dizia que ela era uma mulher como todas as outras, uma pessoa normal, como ele, e por isso tinha que parar de se achar (quase bati palmas nessa hora). Eu também não sei o que ela faz da vida, porque está sempre em casa, ouvindo música italiana chata ou aquela mala da Adriana Calcanhoto. Quando sai, é toda emperiquitada, estilo calça da Gang, obviamente por dentro das botas brancas. Dirige um velho Escort branco conversível, com uma Árvore Mágica tigrada (Perfumes Africanos) pendurada no retrovisor.

Bom, sei que o assunto não saía disso, ela choramingava e dizia alguma coisa que eu não conseguia ouvir e ele continuava na lenga-lenga. Ouvi o escrotão dizendo que ela teria que começar a pagar o aluguel e as contas – lembram que assim que ela se mudou pra cá eu disse que tudo tinha a maior pinta de que ela não pagava nada? Enfim, non sono cavoli miei, mas que fiquei curiosa, fiquei. Só não fiquei com pena dela porque 1) o cara em nenhum momento disse palavrões ou falou que ela era isso ou aquilo; 2) ela é absolutamente nojenta e mais vulgar que uma cubana, e por mim se saísse do prédio, melhor ainda, do continente, me faria um favor.

Fui dormir e sonhei que estava sendo perseguida por suíços nas entranhas do metrô do Rio, que tinha estações que eu nunca ouvi falar, com nomes muito estranhos. Não foi a primeira vez, mas acho que nesse caso tenho uma explicação: Asterix entre os Helvéticos foi a última coisa que eu li antes de dormirl.

bambini

Eu e Mirco temos, obviamente, muitas coisas em comum, mas uma delas é a criancice em relação a comprar coisas. Adoramos fazer compras, por mais idiota que seja a coisa comprada. E ficamos desesperados pra voltar logo pra casa, abrir o pacote, ficar olhando, lendo o manual de instruções, se houver, ou qualquer coisa que esteja escrita na caixa. Normalmente não sossegamos enquanto não montamos a tal coisa, a testamos e, dependendo do que for, fazemos uma foto.

Pois então: hoje fomos cedo pra oficina e só fomos almoçar às duas e meia da tarde. Enquanto eu cuidava do almoço e ao mesmo tempo recolocava as plantas na varanda, com a esperança de que o vento pare de encher o saco, o Mirco foi cuidar das novas compras. Espalhou as folhinhas do pot-pourri cheiroso pela casa, guardou os apetrechos de cozinha, botou os lençóis novos pra lavar, pendurou os ganchinhos pro secador de cabelo no banheiro. Só ainda não deu pra prender o porta-revistas na parede aqui do escritório, porque esquecemos de trazer a furadeira da oficina. O bicho tá ali me olhando, pedindo pra ser montado. Coitado, mal sabe ele que nessa casa não há revistas, e que ele irá segurar basicamente pastinhas com documentos e coisas pendentes.

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Ando morrendo de vontade de comprar uns dicionários. Adoro dicionário. Qualquer um, até búlgaro-nepalês. Acho dicionário uma das coisas mais interessantes na face da terra. Meu Zingarelli gigante, que ganhei de prêmio em um concurso idiota no Consulado Italiano há três anos, eu deixei no Rio. Aqui comigo só tenho um Oxford, um de italiano do Mirco MUITO velho, e várias daquelas porcarias Michaelis de bolso. Já fui na Libreria Grande catar, mas eles só têm porcaria. Aí agora estou morrendo de vontade de dar um pulo em NY pra tomar de assalto uma livraria e voltar com uma mala abarrotada de livros e dicionários.

Vocês têm essas compulsões malucas assim também ou sou só eu?

IKEA day – momento diarinho que só interessa à mamãe

Acordamos cedo, não sem um certo nível de sofrimento visto a hora em que fomos dormir ontem, e fomos pegar Arianna e Lucia em Santa Maria. Lucia é a mãe da Arianna, uma velhinha fofa de 80 e poucos anos que é uma gracinha. Ela não se dá bem com a nora, uma escrota que o filho insistiu em botar dentro de casa, e agora mora com a Arianna. Praticamente só sai de casa pra ir ao cemitério, mas passa um bom tempo na horta, cuidando das galinhas, descascando avelãs e cortando verduras pro minestrone. Pois bem, lá fomos nós carregar a Lucia pra IKEA de Firenze. Almoçamos por lá mesmo e compramos muita tralha, inútil em sua maior parte, mas é impossível pisar na IKEA e não trazer algo pra casa. Deixamos as duas senhoras em casa e fomos jantar com Marco, Michela, Peppe e um casal de amigos deles, com a filha pequena, Asia, que é uma peste. Não voltamos tarde, mas não dava pra ajeitar nada em casa.

vento, ventania

O dia amanheceu estranhamente limpo. Mirco saiu cedo pro trabalho, eu dei uma ajeitada rápida na casa e resolvi ir a pé a Bastia comprar umas coisas pra oficina, em vez de pegar o carro. Dei uma bela caminhada: 40 minutos a pé, debaixo de um estranho sol de novembro, de moletom e camisa de manga comprida, ouvindo Elvis no mp3 player, fazendo muito esforço pra não sair pulando pela rua. O céu azulziiiiiiiiiiinho, só o Subasio coberto de nuvens, coitado. Mais 40 minutos pra voltar, terminei de ler a última parte de The Belgariad, fiz faxina, deixei o almoço engatilhado e fiquei vendo TV, esperando o Mirco pra almoçar. Ele chegou às quatro da tarde, comemos rapidinho e fomos dar uma volta no GranCasa, em Spello, tipo uma superloja de coisas pra casa, acampamento, escritório, material de limpeza, caixas de correios, essas coisas. Depois fomos pegar Mario Belli e a noiva siciliana, cujo nome descobrimos ser Maria Rita. Jantamos no chinês em Foligno com toda a intenção de ir ver The Manchurian Candidate depois, mas engatamos no papo e quando vimos já tínhamos perdido a última sessão.

Na volta Mirco teve um desejo de tomar sorvete e paramos no bar de um amigo do Mario, em uma fração de Foligno. Quando saímos o vento já soprava forte e a grama dos campos em frente ao estacionamento do bar estava completamente na horizontal, e os galhos das jovens árvores ao redor balançavam loucamente. Na estrada, o vento sacudia o carro e jogava nuvens de folhas secas na nossa frente. Deixamos os dois em casa, em Santa Maria, e voltamos pra casa. Uma quantidade de coisa voando na rua impressionante; folhas, galhos, papel, sacolas plásticas, e, surprise, surprise, uma cadeira de plástico no estacionamento em frente ao nosso prédio, onde deixo o meu carro. Não sei de qual varanda a cadeira voou, mas espero que não tenha sido em cima do meu carro. Estacionamos na garagem e subimos correndo pra ver se tinha voado alguma coisa de nosso lá embaixo também. Meu vaso gigante de ficus estava tombado, o varal da varanda se desmontou e caiu. Começamos a botar tudo dentro de casa, todas as plantas, a mesa de plástico, o varal desmontado. Lembramos da tromba d’aria (o que seria isso? Rajada de vento? Pé-de-vento?) que rolou essa semana numa cidade da Calabria, que chegou a virar ônibus e o escambau. Do ralo do bidê subia um barulho impressionante do vento nos canos.

Mesmo assim, sabe-se lá como, dormi feito uma pedra.

nham

Apesar da maldita enxaqueca de ontem, tínhamos convidado um casal de amigos pra jantar, então não dava pra desmarcar em cima da hora. Eram o Mario Belli, um dos gêmeos da família proprietária da floricultura mais conhecida de Santa Maria, e a noiva, cujo nome esqueci, uma siciliana bonitinha que já foi cabeleireira e agora é caixa na Metro, tipo o Makro aqui da Europa. Eles são meio devagar quase parando, especialmente o outro gêmeo, o Carlo, que frequenta frades e coisas do gênero, mas são gente muito boa. E a primeira viagem do Mirco à Austrália foi com eles, então motivo pra conversar não falta.

Como passei a manhã de ontem em casa, antes da dor de cabeça atacar com todo o seu esplendor, cozinhei com muita calma, deixando tudo mais ou menos pronto pro jantar. Fiz crepes com recheio de verdura, lombinho no leite, batatas gratinadas tabajara e quadradinhos de laranja.

As crepes nada mais são do que panquecas finiiiiinhas. Fiz duas por pessoa: uma com recheio de brócolis e cebola cozida no molho shoyu, a outra com cenoura, alho-poró e abobrinha ralados e cozidinhos no azeite, com um pouco de ricota pra tirar aquele gosto de grama. O lombinho foi todo furado, e em cada buraco coloquei um pedacinho de alho e umas folhinhas de alecrim; também juntei umas folhas de sálvia, pimenta-do-reino e sal grosso, e cozinhei no leite (receita da cunhada). Ficou até gostoso, mas eu acho moooooooooito melhor quando a carne é cozida no vinho. Oooooutros 500. O líquido que sobrou na panela eu triturei com o mixer e servi como um molhinho bem grosso, pra dar uma molhadinha na carne, porque lombinho é uma carne naturalmente seca, como o peru. As batatas eu cortei em rodelas e assei no forno com pouca água e um tiquinho de leite, e no final joguei um parmesão por cima, mas sem exagerar, porque a noiva do Mario é alérgica a queijo. E os quadradinhos de laranja são aqueles fáceis de fazer e que todo mundo adora.

Eu ganhei uma planta linda, que esqueci de perguntar o que era mas tem toda a pinta de bromélia. Conversamos bastante e nos divertimos, mas não dava pra esquecer as facadas atrás do olho. Eles foram embora depois da meia-noite, quando eu já tava querendo estrangular o Mirco, que usa qualquer coisa, por mais insignificante que seja, entrar no assunto viagens já feitas ou ainda em planejamento, e não pára nunca de falar. A coitada da garota querendo ir embora dormir, eu em vias de botar a cabeça dentro do congelador pra ver se a dor melhorava, e os dois falando daquela multa que levaram sei lá onde, lembra? E o Fulano, que dava em cima daquela francesa em Brisbane? E aquele albergue em Nova York, lembra? AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAARGH!

Dormi como uma pedra e hoje acordei melhor. Mas como ontem de manhã eu também tava bem e depois piorei, vou é ficar quietinha hoje, vou dar minha aulinha e voltar correndo pra casa antes que escureça, porque eu já sou fotofóbica normalmente, mas com enxaqueca assim não enxergo N-A-D-A na estrada. Que não é iluminada, porque passa entre os campos cultivados de Torgiano, não há quase ninguém morando às margens da estrada. A concentração pra não sair da pista e os faróis dos outros carros não ajudam a enxaqueca a ir embora, muito pelo contrário.

Ai, ai.