de titio, raios & cia

Sábado recebi um telefonema deliciosamente inesperado do meu tio Égas, irmão mais velho do meu pai. Acabei falando também com meu avô, que fez 93 anos dois dias depois do meu aniversário, com a minha tia Ilse, e com a mulher do meu tio, a tia Iara. Acho que bateu a nostalgia geral porque a filha do tio Égas, a Paola, tá morando na Dinamarca e ficou todo mundo meio bobo com essa debandada das netas mais velhas. De qualquer maneira fiquei muito feliz dele ter ligado.

Na noite de sábado rolou uma forte tempestade aqui na zona, e hoje o telefone da agência não parou de tocar por conta de clientes que queriam denunciar danos causados por raios. Um raio caiu na torre da praça central de Assis, bem do lado da loja do Fabrizio o Louco, e derrubou um pedaço de pedra da torre da igreja que caiu dentro de um escritório – não sei os detalhes, não vi o telejornal regional ainda. Ainda bem que aqui em casa deixamos tudo desligado antes de sair pra jantar com o Fabio e a FeRnanda, por isso não queimou nada.

blah blah

Dois balacobacos rolando por aqui, um bobo e um sério. O sério: dez novos países, alguns bizarros, estão pra entrar na Comunidade Européia. Eu não tenho nada a ver com o peixe, mas tô achando que tá virando um samba do crioulo doido, saca só: Hungria, Polônia, Malta, Chipre (Chipre!!!), República Tcheca, República Eslovaca, Eslovênia (ai!), Lituânia (ei!), Letônia (ui!) e Estônia (hein?). De qualquer maneira, espero que a entrada na CE dê um empurrãozinho de desenvolvimento a esses países. Pobreza não tá com nada.

E eu tenho a maior vontade de conhecer a Estônia, juro. Tenho visto vários documentários interessantes sobre a Estônia na TV ultimamente, e tudo me parece muito bonitinho. Quanto à língua, a única coisa que eu sei é que eles têm duplas e triplas vogais, com valor distintivo, ou seja, uma palavra tipo agua significa uma coisa, aagua outra e aaagua outra. Estudei com uma garota estonese (existe isso?) em Perugia por alguns meses no longínquo 2002. Pena que era muda feito um peixe e ninguém aprendeu nada sobre a Estônia com ela.

O outro bafafá é o assunto principal lá na agência nos últimos dias. Entrou na programação da TV essa semana o comercial de uma companhia de seguros que não tem escritórios fixos, só trabalha por telefone. A propaganda, que eu achei muito cruelzinha, é assim: um cara chega numa agência de seguros, senta e diz que precisa fazer um seguro pro carro. O agente de seguros pega uma máquina de calcular, digita um valor inicial, o valor do seguro propriamente dito, e depois começa a adicionar:
– Tantos euros pelo aluguel da sala, tantos pela minha gravata…
– Peraí! Tenho que pagar o aluguel da sala também?
– Você tá pensando que isso tudo aqui é de graça?

Na verdade o que acontece é que essas agências de seguro por telefone se multiplicam e morrem na mesma velocidade. Como o dinheiro pra reembolsar os sinistros vem dos prêmios pagos pelos clientes, se os prêmios são muito baixos a empresa não consegue cobrir todos os sinistros, e é nessa que você se fode – é o famoso barato que sai caro. Você paga uma merreca, mas quando bate o carro e precisa do reembolso a empresa demora a pagar, ou não paga nunca, paga em parte, ou, pior, já faliu e você nem percebeu. O caso dessa agência da propaganda é particular, porque eles são conhecidos no mercado, mas de qualquer forma acho muito feio fazer comercial atacando os outros. Até porque, por exemplo, a empresa onde eu estou estagiando é uma das mais antigas da Itália, tem costas largas e está bem no mercado acionário, e paga os sinistros rapidinho, sem lenga-lenga, e é por isso tudo que custa um pouco mais. Quer pagar um pouco menos? Basta pesar a relação custo-benefício, o mercado é livre, ninguém obriga ninguém a pagar mais só por pagar.

Sei que as grandes empresas de seguros do país estão se mobilizando pra tirar o comercial do ar, e fazer com que essa agência da propaganda se retrate publicamente na TV. Claro que a essa altura do campeonato o estrago está feito, mas, enfim…

Eu me divirto horrores com essas polêmicas italianas.

nem igor, nem dara

Ontem uma cigana que vive pedindo esmola no sinal de S. Maria (eu deveria dizer O Sinal, ou Il Semaforo, porque só tem um, então vira uma coisa importantíssima, um super ponto de referência) veio me pedir uns trocados com a eterna criança no colo. Normalmente eu finjo que não vejo, porque odeio essa gente que coça o saco o dia inteiro e de noite vai roubar galinha dos outros (já roubaram da Arianna várias vezes), mas dessa vez olhei bem na cara dela e falei “não, minha filha”. Não é que ela me soltou um vaffanculo e ainda me chamou de escrota (stronza)? Só não abri a porta do carro com força suficiente pra catapultá-la até Foligno porque tava com o filho no colo. Feladaputa. Na próxima vez vou fazer como já fiz na estação Carioca: perguntei se a mulher tinha trabalhado pra mim alguma vez. Já estou imaginando o diálogo com a cigana desdentada:

– Ma Lei [sente a educação] ha mai lavorato per me?
– No, signora.
– ALLORA PERCHE’ CAZZO TI DEVO DARE DEI SOLDI, MIGNOTTA CHE NON SEI ALTRO? MA VA’ A TROVARTI UN LAVORO, BASTARDA INUTILE!

Sou muito fina, mas há coisas que realmente me tiram do sério. Ciganicídio já!

é primaveraaaa… te amuuuu!

O dia hoje foi um esplendor. Céu claro, sol quente e brisa fresca, humor dos melhores. Mesmo tendo feito algumas visitas a clientes chatos o dia foi interessante. Poder andar de carro com a janela aberta, o vento fresco te descabelando loucamente, é uma bênção. Como sou meteorologicamente otimista, hoje vou tentar dormir sem meias.

Menu do jantar Fratellão de hoje:

– salada de feijão branco com alface cortada finiiiiinha e ovo de codorna
– carne assada fria em fatias finas com batata assada recheada com vagem e parmesão
– pudim de chocolate (que ainda tenho que decidir se ficou bom ou não, por isso ainda não dou a receita)

E todos esperamos que saia aquela piranha da Carolina, ou o paraculo do Tommaso.

velhice

Meu primeiro presente de aniversário chegou quinta-feira, vindo do norte da Itália. A Lidia, gentilíssima leitora italiana que testa tudo que é receita que eu boto aqui, me mandou um espetacular par de meias cor creme com vaquinhas, que infelizmente não fotografei porque já foram usadas e estão penduradas na corda pra secar.

Na sexta-feira rolou o balacobaco básico aqui em casa, com FeRnanda e Fabião e Renata e Stefano. O strogonoff ficou bom, o guaraná acabou, o vinho tava ótimo, o bolo ficou uma bosta porque só lembrei de botar o fermento quando o bicho já tava na forma, mas a serata foi ótima. Batemos muito papo, rimos, fofocamos, e acabei ganhando mais dois presentes, além da companhia dessas pessoas maravilhosamente normais e educadas que eu dei a imensa sorte de conhecer aqui no interior do Burundi: uma vela-potpourri da Renata, e uma coleção de meias (claro!) coloridas da FeRnanda.

Sábado passei a manhã dividida entre passar toneladas de roupa, falar com meu pai, minha mãe e minha avó no telefone, e ouvir o último CD do Live (ótimo, mas falarei mais dele aqui quando tiver ouvido mais vezes) que eu me dei de presente quinta-feira passada. Lá pra hora do almoço chega o moço das entregas de uma floricultura tabajara de Torgiano: Mirco tinha me mandado um ficus (eu não gosto de flor cortada pra botar em vaso, prefiro coisas vivas, com raiz, plantáveis), que eu já transplantei pro vasão que comprei ontem. Almoçamos, dormirmos e partimos pra Toscana, visitar a Stefania. O namorado dela veio da Holanda com vários amigos pra comemorar o aniversário dele (dia 16) no agriturismo onde a Stefania trabalha, e não pudemos recusar o convite.

Então lá fomos nós, lemmings, pegar a estrada na direção de Firenze. Saímos em Valdarno e passamos por Montevarchi e Cavriglia antes de entrar na região do Chianti. Pra quem não tá ligando o nome à pessoa, Chianti é um rio, em cujo vale se produz o vinho de mesmo nome, o mais famoso da Toscana. Aquele que o Hannibal Lecter tomou num dos seus jantares canibalísticos, lembram dele contando pra Clarice que comeu o fígado do fulano with a nice Chianti? É um vinho seco, que pode ser muito bom ou muito, muito ruim mesmo – aliás, dada a imensa quantidade de barris que se produz atualmente, a probabilidade de achar um Chianti ruim é bem alta. Todo mundo faz Chianti hoje em dia, e claro que desse oba-oba não pode sair só coisa boa.

Pois então: todas as cidadezinhas microscópicas do vale do Chianti vivem em função da produção desse vinho. As colinas são maravilhosamente regulares, cobertas de videiras que, nessa época do ano, parecem mortas, secas, desfolhadas (a colheita só rola no final do segundo semestre). Algumas casas antigas aqui e ali, a maioria agriturismos ou bed & breakfast, porque são edificios históricos cuja manutenção é cara, mas com os benefícios fiscais que o governo dá pra quem investe numa estrutura hoteleira a coisa fica viável. Como resultado, muitas famílias proprietárias de casarões abandonados impossíveis de vender porque custam uma fortuna entraram nessa pra conseguir reformar a casa.

Lá fomos nós pela estradinha estreita e cheia de curvas, no meio de chuva e neblina: Radda in Chianti, Gaiola in Chianti, Greve in Chianti, até chegar a Panzano in Chianti, onde fica o tal agriturismo, que se chama Fagiolari. O lugar é maravilhoso, uma lebre atravessou a estrada esburacada logo na nossa chegada, e a Stefania já encontrou javalis passeando à noite no bosque, mas não há maravilhosidade que resista a tempo feio + gente esquisita, por isso não posso dizer que nos divertimos muito. No dia seguinte demos um pulo em Panzano pra comprar pão pro almoço, passamos no açougue mais famoso da Itália, onde a bisteca, que por melhor que seja eu considero carne de quinta, custa uma fortuna,

compramos um bom pecorino e molhos de carne de caça (faisão, lebre e javali) e voltamos pra almoçar as sobras do jantar de sábado. Viemos embora no domingo à tarde, e fomos jantar com o Marco e a Michela, amigos de escola do Mirco que casaram no ano passado e foram uma outra ótima descoberta, porque são ótima companhia. Excrusive devem vir jantar aqui amanhã, se eu conseguir achar ingressos pro Stomp pra hoje à noite em vez de quarta-feira.

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Muitas das pessoas que me escreveram dando os parabéns disseram pra eu não esquentar com a idade. Eu não tenho o menorrrrrrrr problema em envelhecer! Muito pelo contrário, acho a vida do jovem tão ridícula, tão idiota (e olha que eu fui uma jovem espertinha, madura, observadora, mas mesmo assim fui ridícula e idiota), que não vejo a hora do tempo ir passando, deu ir ficando mais interessante, mais segura, com mais histórias pra contar, enfim, melhor – como um bom Brunello.

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Comprei e plantei petúnias brancas e vermelhas. Lindas!
As dálias estão crescendo bem. Os cravos parece que empacaram.
Comprei manjericão adulto também. A previsão do tempo não é muito animadora e as sementes que plantei tão cedo não vão dar as caras.

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O presente oficial do Mirco vai ser a minha wishlist da Amazon. Só tenho que ter tempo de comprar…

é maquilage, creuza

E então hoje, como presente 2-em-1, ou seja, antecipado de aniversário e por ter feito várias coisas hoje no trabalho que precisavam ser feitas, me dei um novo rímel da Clinique, que o meu da Mac acabou. Espero que não seja do tipo que borra, como era essa da Mac. Espero um dia ter grana o suficiente pra ter coragem de pagar 25 € num rímel YSL waterproof sem pestanejar.

Hoje e amanhã trabalho na loja do Fabrizio, o Louco, e amanhã vai ter festinha antecipada de aniversário aqui em casa, pra aproveitar que a irmã da FeRnanda e o marido tão aqui na área.

Quero escrever sobre Hidalgo e a Paixão de Cristo, que vimos anteontem e ontem, respectivamente. Mas preciso de um tempinho e não sei se vai dar, porque agora vou correr, fazer máscara de creme no cabelo, dar uma geral na casa antes de ir me empanturrar no almoço de Páscoa na Arianna…

E antes que alguém venha me chamar de mal-educada… Boa Páscoa, o que quer que isso signifique.

é a idade…

Chuva até Pasquetta (a segunda-feira depois da Páscoa). Sabe depressão meteorológica? Então.

Pra mudar de assunto: quarta-feira fomos jantar no Massimo, restaurante de frutos do mar mais famoso da zona, lá pros lados do Lago Trasimeno. Fomos com um amigo de infância do Mirco e a mulher dele. Comemos super bem, detonamos três garrafas de bom vinho branco, batemos um papo muito agradável, apesar de ter sido um saco aguentar um cigarro do Marco entre um prato e outro (considerem que houve 3 antipasti, 2 primi e 1 secondo). Tava frio mas não muito, meus sapatos maravilhosos detonaram meus pés, cheguei em casa meio tontinha mas nada de muito complexo. Só que eu devo ter dormido em uma posição esquisita, porque ontem de manhã acordei com o pescoço e o ombro esquerdo muito doloridos. Fui trabalhar do mesmo jeito, mas à medida em que o tempo passava a dor ia piorando. Quando acabou o expediente da manhã e fui pegar o carro pra vir pra casa almoçar, percebi que estava toda paralisada de dor, o ombro completamente duro e imóvel. Pra sair da agência foi um parto, porque eu não conseguia virar o pescoço pra ver se vinha carro da direita. Cheguei em casa, me joguei no sofá e dali não saí mais. Simplesmente não conseguia me mexer. Fabião e FeRnanda vieram pra sessão semanal de Grande Fratello (cujo paredão foi completamente armado. Todo mundo odeia aquela piranha da Carolina, comé que saiu o Bruno, tão legal, coitado, que precisava do dinheiro pra casar?), mas trouxeram rango do McDonald’s porque eu realmente não estava em condições de cozinhar.

Hoje acordei melhor, mas ainda estou dolorida. Aí vêm os pitacos da galera hipocondríaca: foi o colpo della strega (golpe da bruxa), ou seja, golpe de ar frio! Arrã, falei. Frio onde, se na quarta-feira à noite eu tava toda encasacada quando saí do restaurante pra entrar no carro, e nem estava tão frio? Se dormimos com as janelas do quarto fechadas e com um edredom de pena de ganso super pesado? Meu diagnóstico é a síndrome do bêbado mesmo – quando bebemos dormimos feito pedras, mudando pouco de posição, por isso é comum acordar com o braço dormente. Se eu fosse um braço e meu dono, bêbado, dormisse a noite inteira com todo seu peso em cima de mim, eu também ficaria dormente e dolorido, por culpa de meus nervinhos esmagados por horas a fio.

papatinho

A pergunta do dia é: meus geloni* me deixarão usar meus sapatos marrons altíssimos com cristaizinhos Svarowski azuis pra ir jantar frutos do mar hoje à noite ou vou ter que dar uma de pimba e ir de salto baixo mesmo?

*Gelone é uma inflamação articular e cutânea das extremidades (pés e mãos) causada pelo frio. Os sintomas são vermelhidão, prurido, e uma dor feladaputa.