Camillina

Hoje comecei uma experiência diferente na nova escola de Foligno. Me botaram pra fazer conversação com uma menina de 6 anos.

Ela se chama Camilla e é uma figurinha. O pai trabalha numa famosa empresa suíça de sapatos que tem um milhão de lojas aqui na Itália e viaja muito a trabalho. As meninas passam boa parte do ano em Bangkok e estudam sempre em escolas internacionais, por isso falam bem direitinho o inglês e eu só tenho que manter esse inglês funcionando e corrigir certos errinhos – tipo usar o verbo no infinitivo em vez do passado, esquecer de usar o verbo auxiliar na pergunta, essas bobeirinhas típicas dos italianos. A pronúncia e a entonação são perfeitas, então na verdade não tenho muito o que fazer. Hoje desenhamos um mapa da Itália, com purpurina e tudo, porque ela se recusou terminantemente a ler. Semana que vem vou levar uns livros pra ver se ela gosta. A mãe da garota é uma mala, daquelas dondocas ridículas que não têm o que fazer. Mal fala inglês, é mulher de um alto escalão de multinacional mas tem o QI de um ovo de codorna, dentes pequenininhos e pontiagudos e um corte de cabelo que beeeeeeeeeeeeeenzadeus, e ainda quer vir me dizer o que EU tenho que fazer? Ora, vá pastar, minha senhora.

Aliás, essa escola tá cheia de pais chatos. Só porque a cidade é rica neguinho acha que é sei lá o que. Alôooooooooo, estamos em Foligno, darling, você pode ser o imperador de Foligno, mas a sua importância pro andamento do mundo é ZERO. Pelamordedeus.

vai, isaurinha

Como se já não me bastassem as sarnas que tenho pra me coçar, arrumei outra. Aceitei trabalhar também praquela escola de Foligno. Não gosto da dona, mas gosto do fato de que eles fazem parte de uma cadeia, que obedecem à sede em Milão, que por sua vez obedece ao British Council. Seguem o European Framework pra línguas e usam livros legais. A escola fica em uma casa, e não em um prédio de escritórios. Até aí tudo bem, só que fica em Foligno, que é MUITO fora de mão pra mim, já que toda a minha vida (e a do Mirco) está organizada na outra direção, de Ponte San Giovanni e Perugia. Mas eles pagam bem, me dão um contrato melhor e me fazem trabalhar quatro horas seguidas por dia, coisa que com a AISIL não consigo porque meus horários são todos esburacados.

Que horas eu vou estudar, comer, dormir e fazer cocô, eu não sei. Mas a gente dá um jeito.

será?

Parece – PARECE – que finalmente arrumamos um secretário. É o Stefano, um menino gigantesco de 19 anos que acabou de terminar a escola técnica de contabilidade. Quem mandou a criança pra nós foi uma das meninas da contabilidade do nosso maior cliente na oficina. A garota é esperta e por isso achamos que seu primão tem boas chances de funcionar bem com a gente.

Além de ser imenso, ele é engraçado, e quando começa a rir a gente acaba rindo junto mesmo sem saber do que se trata. Coisa mais engraçada é vê-lo junto da Elena, que é miudiiiiinha.

Eu não agüento mais pisar naquela oficina. Todas as manhãs bato ponto por lá, e não agüento maaaaaaaais. Odeio caminhões, odeio caminhonistas, odeio ferramentas, odeio prensas, odeio furadeiras, odeio gente mal educada. A coisa tá ficando tão chata que eu já tô até vendo o dia em que vou acordar com o pescoço duro, que nem no ano passado, durante aquele abominável estágio na agência de seguros. Só Stefano pode me salvar. Torçamos, torçamos.

portuguêish

A minha turma de português é muito legal. É um casal jovem, ela grávida de três meses, que tem família em São Paulo, e uma menina muito legal, formada em línguas (alemão e inglês), com um namorado que adora o Brasil e uma grande curiosidade por línguas ocidentais.

É muito engraçado porque a Elisa, formada em línguas, tem obviamente mais facilidade, mas os outros dois, que já foram várias vezes ao Brasil, sabem um monte de palavras soltas (para com isso, vem cá, que saco, olha lá, hein, ih, alá!) e têm mais intimidade com a pronúncia. Que é, aliás, o fator mais desencorajante pro estrangeiro que aprende português. Até neguinho acostumar que Ronaldinho se diz Rronaudjinhu, menina do céu, que sofrimento. Passam a aula toda suspirando, um corrigindo o outro, é antchigo e não antigo, é mininu e não menino, é carro e não carru, e por aí vai. Quando eu li em voz alta um trecho que dizia “eu gosto de dirigir” eles quase infartaram. Djidjirigí? Que raio de verbo é esse?

Mas eu me divirto. E me emociono também, porque escutar alguém se esforçando pra falar a sua língua tão difícil, fazendo força pra pronúncia sair direito, e no final acabar falando igualzinho à Huňka, não é mole. Tem horas que morro de vontade de chorar.

érre agá

O menino que tinha vindo aqui por umas semanas pra ver se dava conta do recado de ser secretário da oficina acabou se mandando. Foi contratado full-time pela empresa onde já tinha trabalhado ilegalmente antes, e resolveu ficar por lá mesmo, vendendo televisão e DVD. E com isso novamente mandamos pedido de secretários pro centro do emprego de Bastia. Por incrível que pareça, a senhora que comanda o batatal por lá trabalha muito bem. É sempre disponível, segue de perto os donos dos CVs que recebe, liga pras empresas que botaram anúncio pra saber como andam as coisas.

O problema é que só chegam salames.

Segunda-feira chegou um de Santa Maria, mas vestido como um bastiolo, todo gostosão, cinto Dolce & Gabbana, sapatos Prada, jeans Moschino (tudo com etiquetas e logomarcas enormes, claro), quilos de gel no cabelo, sobrancelhas feitas e um jeito de caminhar que ele deve ter levado algumas boas semanas pra desenvolver em frente ao espelho. Vinte anos e nada na cabeça. Parecia muito imaturo mas não necessariamente retardado, e combinamos que ele viria no dia seguinte às oito pra fazer uns dias de prova. Na tua oficina, ele veio? Nem na nossa.

Depois veio uma balzaca daquelas que ainda pensa que tem 20 anos. Cabelo repicado anos 80, batom rosa Paquita, blusa vermelha de elastex daquelas 150% sintéticas. Te olha com os olhinhos meio fechados, a cabeça de ladinho, estilo já saquei qual é a tua. Odiamos.

Depois veio um meio afeminado, de brinquinho e mechas no cabelo. Por mim e pelo Mirco, nenhum problema, ainda que sejamos meio antiquados com certas coisas, mas lugar de perua definitivamente não é em oficina. Imaginem o quanto o coitado não iria sofrer nas mãos dos operários, atualmente todos estrangeiros (incluindo dois muçulmanos). Mas mesmo assim seria um problema dele; o lance é que ele chegou com o zíper aberto, coitado, e mesmo tendo estudado escola técnica de contabilidade (são 5 anos), não sabia coisas muito básicas, e a manhã que passou comigo no escritório foi desastrosa. Salame, salame, salame. Salame com mechas.

Hoje de manhã veio uma sem queixo. A cara dela é muito engraçada, efeito intensificado pelo batom que ultrapassa os confins dos lábios. Louraça belzebu, barriga de fora, blusa ciganinha, uma bolsa Gucci pavorosa, voz de taquara rachada. Péssimo sinal, mas essa tem várias vantagens em relação aos outros salames: apesar de ter 32 anos, o que a desqualifica como aprendiz (o aprendiz ganha menos e há descontos fiscais pro empregador), está desempregada há três anos, o que imediatamente nos daria outros tipos de ajudas em termos de impostos e contribuições INPS. Além disso está fazendo um curso de administração de empresas daqueles financiados pela Regione Umbria, o que dá direito a 400 horas de estágio, pagas pela Regione e não pelo empregador. Ou seja, teríamos 400 horas de secretária grátis, suficientes pra fase de treinamento. E muito provavelmente o ente público que organiza o curso dá algum tipo de ajuda financeira, sempre tendo a Regione por trás, pra quem emprega os alunos – lógico, já que o objetivo final e concreto de todos esses cursos é enfiar essa gente no mercado de trabalho. Nosso contador está investigando melhor essas coisas pra ver o que rola. Ela teve uma malharia por sete anos, ou seja, sabe tocar pra frente uma empresa, e cuidava pessoalmente da contabilidade. Como experiência, é perfeita. Mas se tudo der certo, ainda vamos ter que convencer o Ettore, que não quer outra mulher aqui dentro. Não posso não concordar com ele; nem eu nem o Mirco escolheríamos uma mulher, se fosse possível. Uma oficina de lanternagem de caminhões e de pintura de máquinas industriais não é, definitivamente, lugar pra mulher. Primeiro porque, por mais que o Ettore e o Mirco sejam organizados e limpos, é impossível manter o ambiente impecável como o box da Ferrari. Os caminhões carregam tudo que é tipo de mercadoria, e sempre cai alguma coisa no chão – o que eu já varri de ração de coelho aqui do chão não tá no gibi. A poeira é onipresente, já que há sempre alguem lixando alguma coisa. A barulheira é tremenda, porque tem sempre alguém martelando, batendo, furando, limando, esmerilhando alguma coisa, cortando lâminas de metal, usando a prensa, soldando coisas. Pra se fazer ouvir nesse furdúncio, os meninos têm que berrar. Imaginem o bordel. Além de tudo isso, os caminhoneiros são absolutamente selvagens; ninguém dá bom dia ao telefone, entram no escritório com o cigarro aceso, entram com o caminhão a toda na oficina se calhar de encontrar o portão aberto, gritam, cumprimentam-se com tapões nas costas, trocam palavrões e imprecações. Os marroquinos fedem horrores e falam uma língua que não é nada, entendemos algumas palavras de italiano aqui e ali mas o resto é uma bagunça incompreensível. O menino do Congo, único educado e limpinho, ainda tem um italiano muito precário. Os dois equatorianos são praticamente mudos e ainda por cima falam com a boca quase fechada. Tudo é tão complicado que tem que ser muito macho pra aturar. Mas se todos os machos que chegam aqui são salames, então vai ter que ser uma Maria mesmo, e o Ettore que agüente a barra.

É uma experiência engraçada, essa de RH. É inevitável reparar em coisas que normalmente passam despercebidas (ou são ignoradas) em contatos mais rápidos e menos importantes: detalhes da roupa, do modo em que penteiam o cabelo, a intensidade e o tipo de perfume, se fuma ou não, se tem voz e jeito firmes de falar ou se está mais pro estilo gato miando, se os gestos são econômicos ou inúteis, os sinais que o rosto dá quando o interlocutor está realmente ententendo e processando o que você está falando. Estou me divertindo. Perco um tempo danado repetindo as mesmas coisas, mas me divirto.

as cores de plástico não morrem

A gente vai vivendo e aprendendo, né.

Hoje eu e Mirco ficamos até quase duas da tarde tentando ajustar a cor de uma tinta pra porta de um caminhão. A cabine é branca, e aí vocês vão se perguntar, mas quanto pode ser difícil arrumar um branco? Quem trabalha com cores até vai dizer que existem muitos tipos de branco. Mas vocês sabiam que existem catalogados quase TRINTA MIL TIPOS DE BRANCO, só no ramo das tintas industriais?

O Mirco usa um tintômetro, cortesia do fornecedor de tintas, pra poder ele mesmo fazer as tintas de que precisa. O cliente dá o ano, a marca e o número do chassis do caminhão ou do carro, você insere esses dados no tintômetro, diz quanta tinta quer fazer, e ele te diz as quantidades, mantidas as justas proporções: 303,2 gramas de branco, 0,25 gramas de verde, e por aí vai. Esse branco do tal caminhão levava na fórmula original só preto e verde. Só que o caminhão é velho, já foi muito exposto ao sol e à chuva, já foi repintado outras vezes, de modo que o branco já não é mais aquele. E aí começou o sofrimento. A gente dava uma dedada de branco na porta, olhava, hm, tá cinza demais, vamos botar mais branco. Outra dedada: falta verde (eu não sou capaz de dizer se falta verde num branco, isso é coisa pro Mirco que trabalha com isso há anos). Outra dedada: falta vermelho.

As latas de tinta têm uma tampa com um misturador, sabe sorveteira elétrica, que fica com as pás girando dentro enquanto congela, pra não endurecer? Aqui é a mesma coisa; as latas de tinta, com suas tampas com misturador acoplado, ficam em uma estante com um motorzinho que faz girar umas borboletas, uma pra cada lata, que por sua vez movimentam os misturadores internos. Todas as latas têm a mesma capacidade volumétrica, mas há tintas mais ou menos densas, de modo que um litro de vermelho é muito mais pesado do que um litro de branco, por exemplo. Eu não sei direito o que é leve e o que é pesado, e quando o Mirco finalmente se rendeu e resolveu tascar umas gotas de amarelo no tal branco, mesmo não estando presente na fórmula original, lá fui eu pegar a lata. Me preparei mentalmente pra levantar no máximo 3 quilos (as latas são de 3 litros), mas esqueci do detalhe da densidade e quase quebrei o punho com o maldito amarelo, pesadíssimo.

É lindo ver as cores se misturando na lata. A tal tampa com o misturador acoplado tem um mecanismo que regula o quanto de tinta sai pelo bico – existem alguns dosadores de mel iguaizinhos no mercado; você aumenta ou diminui a boca do bico (cruzes) e assim aumenta ou diminui o fluxo de saída do que está dentro do pote/vidro/lata. Uma gotinha do amarelo cai no branco, fica ali um segundo e tchuuuuuum, afunda, some. A gente começa a misturar e lá vai ela, não mais gota mas agora uma linha, logo logo uma espiral, e depois sumiu, e eu continuo achando que não mudou nada da cor mas quando damos mais uma dedada na porta vemos que está, sim, mais puxado pro marfim.

Nessa brincadeira, muitas dedadas depois e a cabeça já girando de tanto procurar verde em branco, fomos almoçar quase às três da tarde.

é chato ser foda

Uma das coisas boas da Itália é que, apesar do preconceito com os imigrantes, a meu ver plenamente justificável e que muito freqüentemente compartilho completamente, é que a curiosidade dos botenses às vezes é grande o suficiente pra vencer o preconceito.

Explico. Meu currículo de tradutora já correu o país inteiro, mas entendo que não deve ser muito comum ler coisas tipo “formada em Medicina”, “Cambridge Proficiency”, “professora de inglês”, “ex-vendedora de salame de javali”, “curso de roteiro cinematográfico na PUC-RJ”, “nascida no Rio de Janeiro, Brasil”, tudo isso no mesmo currículo. Então é normal que neguinho só me ligue quando a coisa aperta e surgem trabalhos bizarros que ninguém tem capacidade, ou vontade, de traduzir, e só alguém com um currículo tão estranho e inverossímel quanto o meu tem saco pra encarar. Mas às vezes acontece, e com isso já fiz trabalhos pra agências de tradução de Biella, láaaaaa nos confins do Império Austro-Húngaro, pra empresas na Toscana, e semana passada me ligaram de Foligno pedindo a tradução de uns textos técnicos sobre extintores de incêndio. Não posso ir a Biella nem quero me desabalar pra Toscana pra conhecer as outras agências, mas Foligno é aqui do lado, então liguei avisando que eu ia aparecer pra ver pessoalmente em que pé estavam as coisas. E fui, de carona com meu pai.

E o que aconteceu foi o seguinte: enquanto eu conversava com a dona da agência, uma morena muito escura por causa de melanócitos excessivamente ativos (assim ela me disse), entrou na sala um senhor barbudo e branquelo, de camisa pólo azul-celeste. Ela pediu que ele, inglês da gema mas com experiências de vida na França, na Espanha e em outros lugares, conversasse um pouco comigo em inglês. E aí repetiu-se a cena que sempre acontecia na loja do Fabrizio, o Louco: uma espécie de jogo de adivinhação, pra ver se ele descobria, pelo meu sotaque, de onde eu era. Cismou que eu era americana, e eu neguei. Começou a enunciar todos os países de língua inglesa, e eu, rindo, balançando a cabeça. Sobrou Malta, ele disse, mas o inglês maltês é esquisito. Tem certeza que você não é californiana?

Tudo isso resultou em uma nova oferta de trabalho. Porque o andar de cima é da agência de tradução, e no andar de baixo funciona, sempre pertencendo à mulher dos melanócitos assanhados, uma filial de uma famosa escola de inglês aqui do interior da Serra Leoa. Segundo o senhor inglês, que é um amor, é claro que posso dar aula (eu já tinha falado com essa escola pelo telefone, pra pedir o número de fax pra mandar o currículo, e foram muito enfáticos ao me dizer que só contratam native speakers), desde que, claro, não diga que sou brasileira. Então ficou combinado que quando (e se; não discutimos salário nem nada ainda) eu começar a dar aulas, vou virar nativa da Flórida. Então tá.

O chato de Foligno é que eu não posso ir de lambreta. E que se eu realmente conseguir voltar a estudar, vai ficar fora de mão pacas, porque é na direção oposta à de Perugia. Mas a gente dá um jeito.

E eu que só queria que me dessem livrinhos legais pra traduzir. SOMEONE GIVE ME SOME GOOD FUCKING LITERATURE!

il segretario

O novo secretário é gente boa. Meio infantilzinho, mas aqui é coisa comum. Fisicamente é a cara do meu irmão, só tem os cabelos mais claros. É bonzinho pacas e está aprendendo rápido. Não é nenhum primor de esperteza e dinamismo e tenho a impressão de que em um determinado momento vai ter que escolher: ou acordar pra vida e ficar esperto, ou sofrer feito um cão na mão do Ettore e do Mirco, que são pessoas maravilhosas mas quando se trata de trabalho e coisa séria viram bicho.

Estou gostando de explicar as coisas pra ele. Juntos estamos revendo todo o meu método de trabalho. Ele é interessado e pede explicações, dá sugestões. Miraculosamente tem mais intimidade com o computador do que a imensa maioria da sua geração, o que já é um grande ponto a seu favor. Fiz pra ele um passo-a-passo do que fazer quando chega uma fatura, quando chega um caminhão, quando chegam peças pra pintar, quando chegam peças de um fornecedor. Expliquei que se a gente mantiver um método de trabalho, as chances de errar são pequenas. Expliquei que esse meu método de trabalho não veio do nada, mas de adaptações do que a coitada da Elisabetta, menina confusíssima, fazia antes, e de outras coisas que eu inventei pra simplificar a minha vida escritorial. Ele ficou todo agradecido e já começou a sacar umas coisinhas básicas.

Parece que vai funcionar bem. Acendamos velinhas.

vai pro tronco ou não vai?

Os Salames estão acabando comigo. Não só porque o horário das aulas deles é terrível – terminar o expediente às dez e meia da noite é o ó – mas porque são realmente duas mulas. Ela nem tanto, mas ele, além de mula, é chatíssimo. Chatíssimo, íssimo, íssimo. Junte a isso um calor desgraçado na sala de aula, e pronto, imaginem o nível de endorfinas no meu organismo como anda: no porão do fundo do poço.

A boa notícia, se não pro meu bolso, pra minha saúde física e mental, é que a partir da semana que vem passo uma turma pra Margherita, filha de italianos da Basilicata mas born and bred na Inglaterra. Resolvemos, em reunião, que estudantes mais avançadinhos farão a primeira metade do curso com um professor não native speaker, e na segunda metade pegam um native speaker. Os Mosqueteiros não quiseram mudar de professor e continuei com eles até o fim, e a Quarentona Estressada também, mas com essa turma, que até que é legal mas tarde e longe demais pro meu gosto, deixei bem claro que é uma política da escola e que a mudança seria obrigatória. Depois de um breve muxoxo mudei de assunto e a partir de segunda a pobre Margherita é quem vai chegar tarde em casa. Num güento mais, chega.