Os italianos são hipocondríacos. E

Os italianos são hipocondríacos. E poucas coisas no mundo são mais chatas que hipocondria. Talvez seja porque eu, por motivos genéticos e psicológicos (ou alguém tem alguma dúvida de que quem não quer ficar doente, não fica?), quase nunca adoeço. O fato é que curtir a doença, como eles fazem aqui, me irrita muuuitooo. Não tem UM dia em que uma das meninas do escritório não me venha com dor de cabeça, nas costas, no dedão do pé, conjuntivite, a maldita “cervical”, enjôo, nervoso. Pombas, a mais velha sou eu, que tenho 26 anos! É possível ter todas essas dores, todos os dias? Quequeísso…

A minha reação quando sinto dor de alguma coisa é: que saco essa dor de cabeça (aliás, coisa que eu quase nunca tenho, só quando fico o dia inteiro de rabo-de-cavalo apertado ou quando durmo mal). A das meninas aqui é: aaaaaaaai que dor de cabeeeeeeeeça infernaaaaaaaaaal não aguento maaaaaaaaaais estou morreeeeeeeeeendo… Eu sabia que os italianos eram dramáticos, mas assim também é demais. E olha que EU sou muito dramática – minha mãe me chama de Yoná Magalhães – mas tudo tem limite, né, gente.

O engraçado é que eu digo que só fica doente de verdade quem pode, não quem quer, e eles não acreditam. Mas é a mais pura verdade: fora as doenças óbvias que te pegam pela sua fraqueza genética, as coisas do dia-a-dia não te atingem se você dorme bem, come bem, gosta do seu trabalho, está bem com a sua família, e NÃO QUISER FICAR DOENTE. Eu ODEIO ficar doente, e quando fico não perco o apetite nem o sono, o que me ajuda a me recuperar mais rápido. A última vez em que fiquei de cama foi em 2001 em Chiavari, quando tive uma amigdalite irritante que me deu uma febrinha chata por alguns dias. Antes disso, só uma amigdalite vai-e-vem muito provavelmente causada por microorganismos hospitalares (eu ainda tava no internato), e antes disso acho que por muitos anos não fiquei doente de verdade. Talvez seja só sorte de ter nascido com uma boa constituição física, mas acho que tem muito da cabeça também. Quem, como eu, acredita que doença é só perda de tempo e encheção de saco, acaba ficando menos suscetível a gripes e coisas do gênero. The mind is a powerful thing.

(Exceção é o Duduzão, que já teve TODAS as doenças e fraturas e acidentes e coisas estranhas do mundo, e não é nada hipocondríaco. Perguntem a ele quantas vezes ele já quebrou os ossinhos da mão, luxou alguma coisa, torceu o joelho e coisas do gênero. E nao botei o link ali à toa; aproveitem as dicas musicais do menino).

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Curiosidade: aqui na Itália o que nós chamamos de prato de sobremesa eles chamam prato de fruta (porque toda refeição termina muito salutarmente com uma fruta). O prato fundo, ou de sopa, eles chamam de prato de massa – porque macarrão e risoto só em prato fundo. Talheres de sobremesa não existem. Colher de café não existe, só usam a de chá. Xicrinha de café existe, mas de chá não – pro café da manhã eles usam xícaras ENORMES, onde pobres biscoitos e croissants recheados de geléia de frutas são afogados no café com leite. Panelas com cabo? Pra quê, se com o cabo curto você pode queimar sua mão toda hora? Teflon? Dá câncer. (eu prefiro morrer de câncer do que passar a vida ariando panela, mas essa é só a minha opinião pessoal). Microondas? Dá câncer. (idem)

A vida aqui muitas vezes segue o slogan daquela velha propaganda do SuperNintendo, que anunciava um jogo super difícil de chegar ao final: pra que facilitar, se dá pra complicar?

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Estou pensando em fazer pequenos ajustes no blog – um mini-glossário gastronômico, uma lista das coisas estranhas que existem aqui e não no Brasil e vice-versa, um microdicionário de palavras esquisitas, etc. Só me faltam o saco, o conhecimento de html e uma linha ADSL. No momento não tenho nenhum dos três…

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Eu e FeRnanda outro dia passando em frente ao salão de beleza em frente à minha casa. Vemos um calhambeque ROSA E LILÁS estacionado em frente. Rimos; nossa, que cor estranha… Olhamos dentro do salão e vemos uma menina de cabelo rosa. FeRnanda: deve ser da garota de cabelo rosa, o carro combinando com o cabelo… Dias depois vejo a menina dirigindo o carro. Era dela mermo.

Hoje vou lá esticar o pixete no salão da garota. Se chama Barbara e é a namorada de um operário do Mirco, e aliás jah foi várias vezes em Cipresso, quando eu ainda morava lá, quando o garoto ia ajeitar o computador ou outra coisa parecida. Como ela também tem cabelo ruim, espero que tenha pena de mim e ajeite o meu cabelo direito…

O menino que reabastece a

O menino que reabastece a maquina de comidinhas/bebidas/café aqui do escritorio é um gato, apesar de todo tatuado. Quando ele vem aqui é um rebuliço soh, eu me divirto. Cada biceps, mamma mia… ;)

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Hoje, mjadra do mes passado pro almoço. Jantar: filé de merluzo com arroz branco e cenoura e milho. (eu sou assim, vivo em funçao de comida, e hoje jah estou planejando todas as possibilidades alimentares da semana que vem)

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Enquanto isso… Tem uma lata de leite condensado, uma caixinha de chocolate em poh e um pacote de biscoitos estilo Maisena me implorando pra fazer palha italiana. Tudo bem que de italiana essa palha nao tem nada, até porque aqui nao tem leite condensado, mas enfim.

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Estacionados em frente ao escritorio hoje, dois carrinhos de mao cheios de batatas. No deposito de caixotes, além das pegadas dos cachorros sobre as caixas, tem um engradado cheio de alho e outro de tomate. Roça… é isso aih.

A novidade aqui é a

A novidade aqui é a revoluçao no codigo de transito: agora os italianos começam com 20 pontos na carteira de motorista, e vao perdendo pontos à medida em que fazem cagadas no transito. O mais engraçado é a indignaçao das pessoas que levam multas, mesmo por motivos obvios, como altissimos excessos de velocidade ou dirigir sem o cinto de segurança. Claro que logo na primeira semana teve gente que numa soh vez jah perdeu tipo 50 pontos (com menos de 5 anos de carteira os pontos perdidos sao dobrados. Jah conseguiram abaixar os 5 anos pra 2, no entanto.)

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Ainda no assunto “esses italianos sao todos neuroticos”, a FeRnanda me emprestou “Traçando Roma”, do LFV, com ilustraçoes de Joaquim Fonseca. Eh simplesmente a coisa mais divertida, simpatica, deliciosa e bem-humorada que eu jah li nos ultimos tempos. LEIAM!

Sabe o que eu queria?

Sabe o que eu queria? A letra daquela musica cantada pela Marisa Monte no primeiro CD dela, aquela das sereias. Alguém se habilita?

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CALOR DOS INFERNOS! Nosso escritorio, que tem tres paredes de vidro, vira um microondas à tarde, depois de passar a manha toda absorvendo calor. Merda.

Hoje salvei um gatinho. Tava

Hoje salvei um gatinho. Tava na sala lendo quando escuto um miado muito alto, o que significava que nao podia ser o gato da vizinha, que nunca sai de casa, mas algum outro que estivesse no corredor do prédio. Saih pra dar uma olhada e vi um gato preto, jovem, de grandes olhos amarelos, miando desesperado do alto de uma planta embaixo da janela desse andar. O coitado do bicho fez a burrada de subir e nao conseguia descer – uma classica idiotice felina, mas enfim. Na maior calma botei o bicho no chao, e ele veio todo dengoso pra mim, se esfregando nas minhas pernas. Nao era maltratado, mas também nao tinha aquele pelo brilhoso de gato que tem dono. Botei-o pra dentro e dei um pouco de leite; ele tomou metade e desdenhou o resto. Da varanda perguntei à senhora que mora no apartamento do lado, que estava estendendo as roupas no varal da varanda dela, se conhecia o gato, se tinha dono; ela disse que era o gato da pracinha, que volta e meia aparecia no bar ali embaixo do prédio ao lado. Desci as escadas com ele atras de mim, abri a porta da portaria e ele saiu, parou logo do lado de fora e ficou me olhando… Abaixei pra fazer carinho e ele pulou no meu colo. Ficou lah de olhos fechados enquanto eu fazia carinho na sua cabeça e atras das orelhas, depois o momento cat-person passou, botei o bicho no chao e entrei no prédio. Fiquei com pena, mas como vi que ele nao tava passando fome nem tinha pulga nem nenhum machucado, deixei pra lah. O pessoal do bar deve dar comida pra ele…

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Vamos passar a semana de ferragosto (ferragosto é o 15 de agosto, quando a Italia INTEIRA para e sai de férias “pro mar”) na Alemanha – era onde as passagens da RyanAir custavam menos :)

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O vocabulario do lanterneiro tah cada vez melhor, agora jah estah até emitindo frases inteiras. A primeira oraçao aprendida foi: um bicho me mordeu.

Falei que os cogumelos mereciam

Falei que os cogumelos mereciam um outro post, entao aih vai: eu odiava cogumelos antes de vir pra cah. Alias, odiava um monte de coisas que vim a aprender a comer (e beber) aqui. Champignon no strognoff eu comia, mas nao passava disso, até porque no Brasil a gente nao tem habito de comer cogumelos – acho que porque temos coisa melhor pra comer. O que soh reforça a minha tese de que o italiano é meio chines: come de tudo, indiscriminadamente, como todo povo que jah passou por guerras e fome. Afinal de contas, quem tem boi gordo no pasto e feijao com arroz na mesa e mandioca no quintal vai ter idéia de ir catar COGUMELOS no bosque, aquelas coisas feias que, como diz o meu pai, crescem em madeira podre, em lugar umido e escuro? Nao, né. Fora que todos tem mais ou menos o mesmo sabor, e se nao forem temperados bem ficam com gosto de nada. Mas aprendi a comer, e nao soh com linguiça e creme de leite como na receita que eu dei ali embaixo, mas de tudo que é jeito. Como “contorno” (acompanhamento), com macarrao (viva os cogumelos porcini, sao perfumadissimos), no risotto (como o que eu fiz na casa da Simone em Milano), na pizza, na grelha acompanhando carne grelhada, picadinhos em cima da bruschetta, na salada, nham nham. Na loja do Fabrizio o Louco tinha uma enorme variedade de molhinhos prontos à base de cogumelos, todos otimos. De vez em quanto eu botava um dos molhinhos no meu sanduiche na hora do almoço. Show de bola. O melhor é que o bicho quase nao tem calorias. Mas é um saco de preparar, porque tem que lavaaar, descascaaar (cogumelo nao tem casca, mas tem que tirar a pelicula que tem no “chapéu” dele, é como se fosse descascar), picaaar, refogaaaar… Mas o melhor mesmo é franguinho ou carninha com molho de cogumelos feito no caldinho da carne que fica na penale e um pouco de vinho. Aaaaaaaaaaaaaaah…

(a mae do Chefe Meio Idiota tah cozinhando, tah vindo um cheiro de refogado aqui no escritorio, eu e Martinha tamos quase morrendo).

Eu falei que vimos The

Eu falei que vimos The Italian Job semana passada? O filme é um saco. Nem o Edward Norton salva, porque faz o papel do escrotinho, como sempre, e esse papel jah cansou. As unicas coisas boas sao os carros deles, todos Cooper Minis, cada um de uma cor, e a espetacular jaqueta jeans da Charlize Theron. Alias, minha filha, voce é linda de morrer, sofisticadérrima e tal, mas QUE PORRA DE NOME E’ ESSE? Charlize? Tua mae deve ter bebido muita cachaça Pitu durante a gravidez pra ter a idéia de botar um nome desses na filha.

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E hoje nao rola nada de particular, porque é dia de faxina: faxina aqui no escritorio, faxina no meu quarto que tah emoooondo, lavagem no banheiro, e soh nao lavo os cachorros também porque a Arianna jah lavou semana passada, e eles aqui sao super reservados com banho, voces sabem.

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Ter amigos fodoes é BOM: ontem recebi um envelope da Newlands cheio de coisas legais, bubus, fofas, bruxais e passarinhais, e o melhor: totalmente enuteis. Amei :))))))))))))))))))))))))
[pra quem nao sabe, todo o material distribuido no Fashion Rio – convites, bolsas, as gravatas dos seguranças, etc – foi desenhado por ela, tah?]

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Enquanto isso… A vontade de comer geléia de mocotoh nao passa de jeito nenhum. E o desespero livral também: estou acabando The Pillars of the Earth (literariamente fraco, mas daria um bom filme, que dizem que jah foi feito mas eu nunca ouvi falar), e depois nao tenho mais nada inédito pra ler!!! Minha mae tah mandando, com o proximo caixotao, alguns Penguin Classics que deixei no Brasil, mas até a caixa chegar o que é que eu vou lerrrrrrrrrrrrrrrrr? O conceito de poupar livros me é totalmente estranho. Nao sossego enquanto nao termino. Levo o livro pra tudo que é lugar que eu vou: pro banheiro (mesmo quando vou soh pra escovar os dentes), pra cozinha ler enquanto como, pra trabalhar. E se por algum motivo devo abandonar o livro antes do fim, fico com pena dele. To falando sério. Tipo, eu tava lendo um livro meio chato sobre o Japao enquanto o Harry Potter nao chegava – nao que seja chato Japao, mas o livro é escrito com uma pagina em Ingles e outra em Japones, é um livro didatico pra quem tah aprendendo a lingua japa, entao é tudo escrito em oraçoes curtas e simples, e isso vai me irritando. Pois bem, o Harry chegou e eu tive que abandonar o Japan As It Is. Fiquei com pena dele, coitado, largado lah no armario perto dos Calvinos, do Decamerone, de um Ian McEwan, do Atlas of Middle-Earth, totalmente desenturmado. Coitadinho.