Penne alla Norcina* Linguiças de

Penne alla Norcina*

Linguiças de suino (uma por pessoa; eu, que sou carnivorissima, sempre boto uma a mais pra dar um tchan)
Cogumelos (mas nao champignon em conserva, por favor, hein? cogumelinhos fresquinhos. Alias, os cogumelos dariam um post à parte qualquer dia desses.)
Creme de leite
Alho
Pimenta-do-reino
Azeite
Penne ou qualquer outro macarrao curto

Refogue o alho no azeite. Abra as linguiças, tire-as da pele e refogue-as no alho, como se fossem carne moida (bem, a linguiça nada mais é do que carne moida com gordura e temperos, enfiada em peritoneo). Quando estiverem bronzeadinhas, junte os cogumelos cortados em lascas e deixe cozinhar. Pra dar um super hiper tchan eu boto um pouco de vinho branco (cozinho tudo com vinho branco, fica sempre otimo). Quando estiver sequinho junte o creme de leite, misture bem, e misture ao macarrao cozido al dente. Pimenta-do-reino moida na hora e parmesao por cima, e pronto! Uma bomba calorica bissolutamente DELICIOSAAAAA.

*Norcino é quem vem de Norcia, uma cidade perto daqui, famosa pelos embutidos, presuntos, etc. A regiao é tao famosa por esse tipo de produto que em muitos supermercados em outras partes do pais ao lado da peixaria, da padaria, etc, tem uma parte chamada norcineria, soh com salames, presuntos e outras coisas igualmente horreeeendaaaaaaaas. Torta al testo com salame norcino ou presunto cru ou capocollo (um embutido feito do musculo do pescoço do porco) é o que hah, senhores.

O show foi legal. Eu

O show foi legal. Eu nunca tinha visto o Mango na TV, e não tinha muita idéia de como era a cara dele. O cara tá há uns 20 anos na estrada, tem sempre alguma música tocando nas rádios. Tem uma voz rouquinha, gostosinha, embora de vez em quando dê uns agudos meio nada a ver. A música é bem comercialzinha mermo, mas tem algumas bem bonitinhas – recomendo Bella d’Estate, Mediterraneo, e a minha preferida, La Rondine.

O show foi na praça principal de Foligno, uma cidade bem antiga a uns 15 minutos daqui, indo na direção de Roma. No verão rolam esses shows na praça, com ingressos a preços módicos – e organização igualmente módica, sem nenhuma placa ou sinalização, nada. Demos mil voltas até chegar à praça, porque além das ruas do centro histórico que normalmente são fechadas ao trânsito, havia outras bloqueadas pra impedir que neguinho chegasse à praça por outros acessos, sem pagar. A praça é uma gracinha – aliás, a cidade é bem bonitinha. O palco, pequeno e simples, foi montado tendo a igreja principal da cidade à esquerda, e o prédio da prefeitura à direita. Várias botegas antigas rodeiam a pracinha – uma farmácia, uma padaria, uma loja de roupas íntimas, uma de artigos pra presente. No passado provavelmente eram locais de trabalho de sapateiros, alfaiates, ferreiros. A metade da praça em frente ao palco ficou reservada pro pessoal que comprou ingresso de cadeira; nós, com nossos ingressos tabajara, ficamos em pé, na metade de trás. No fundo da praça, atrás de nós, um monte de gente na janela de casa assistindo ao show, que nem neguinho que fica pendurado no viaduto no Rio pra ver o desfile das escolas de samba sem pagar ;)

O show começa com meia hora de atraso. Mango é um cara pequenininho, mirrado e cabeçudo – um paraiba napolitano. Dança fazendo aviãozinho, que nem jogador de futebol comemorando gol. Canta uma música – La Mia Città – e depois começa a bater papo com o público. Boa noite, Foligno! Fazer show aqui já tá virando hábito, já somos amigos íntimos! (ele fez show lá ano passado). Canta outra música, depois para de novo e aponta pra um holofote no alto de um prédio da praça: olha, infelizmente vocês não estão vendo a iluminação do show perfeita, porque aquele cidadão ali não quis apagar aquele holofote… O pessoal começa a bater palmas e a vaiar, e logo depois o holofote apaga. O show continua; ele pára praticamente entre todas as músicas pra explicar as canções, pra bater papo furado, pra conversar com a platéia. Que figura!

O engraçado é que quando rolam essas coisas a cidade pára. O número de pessoas era super pequeno, mas tinha tanto guarda na praça, e tanta gente com camiseta “Security” ou “Staff” ou “Estate in Piazza” (linda a camiseta, queria uma pra mim…) que parecia que o Bush tava vindo visitar. Aliás, era lindo também o menino (aqui se diz “frego”) que tomava conta da entrada na parte fechada da praça. Um nariz divino!!! Pena que olhando mais de perto vi que ele fazia as sobrancelhas… Aliás, muitos homens aqui fazem as sobrancelhas, dá vontade de chorar. Esse, além de ter as sobrancelhas feitas, fumava. Ah, meu filho, assim não tem nariz lindo que compense…

Entao. Segunda-feira de manha partimos

Entao. Segunda-feira de manha partimos às tres, porque jah sabiamos que iriamos nos perder e precisavamos de tempo extra. Fomos eu, o lanterneiro e o Monstrinho, um iugoslavo de 18 anos que trabalha pra ele e é obviamente muito feio. Muitos cafés, muitos engarrafamentos e muita irritaçao depois, chegamos a Saronno, uma cidade-satélite de Milao, onde ficava o hotel 4 estrelas onde ficamos hospedados – eles por conta do fornecedor de tintas, eu pagando por fora, mas no final saiu soh por 40 euros, jah que a segunda pessoa nao paga a diaria inteira.

O hotel se chama Hotel della Rotonda. Rotonda é aquele negocio que no Rio quase nao tem e em SP tem duzias: rotatoria. Eu ODEIO rotatorias. Os arredores de Milao sao nada mais nada menos que coleçoes de rotatorias, onde voce corre o risco de ficar girando feito um retardado por horas a fio se perder a saida correta. A cidade é feia, feia, feia – pude ver de perto porque fui a pé do hotel até o centro da cidade pegar o trem pra Milano.

A estaçao nao era administrada pela Trenitalia, ou seja, eu, acostumada à bagunça das Ferrovie dello Stato, nao entendia nada dos horarios dos trens, além do fato que os nomes das cidades sao muuuito estranhos. Mas cheguei viva a Milao. De lah peguei o metro pro centro – merda de metro, diga-se de passagem; cheio, sujo e quente que nem o de Roma. Desci na estaçao Duomo, e subi as escadas toda feliz, obaaah, vou ver o Duomo de Milano – cheio de tapumes na frente, passando por reformas. Merda. Mas as laterais dao uma idéia do que é a igreja, que é simplesmente divina. Nao tirei foto nenhuma, mas o que nao falta é foto na internet, vao lah procurar. Enfim. Fiquei lah babando um pouco, liguei pra Simone (que também tem blog: lalonge.blogspot.com) e fui pra casa dela. Fiz um risotinho ai funghi porcini assim basico, uma saladinha, abrimos um vinho tinto, fofocamos, rimos, e depois saimos pra fazer turismo em Milano.

Turismo em Milano é assim: Duomo – Galleria Vittorio Emmanuele – Castello Scorzese – acabou. Nos duas batendo perna naquela cidade poluida, com aquela capa de nuvem que nao te deixa respirar, cheio de gente feia (leia-se imigrantes) na rua, e de vez em quando um japa saindo ou entrando numa Gucci ou outra coisa parecida. Glamour? Charme milanes? Gente chique? Mas adonde, que eu nao vi?

Ou seja, a unica coisa legal de Milao é a Simone, que é muito gente boa.

De noite (eu sei que é à noite, mas é que nao dah pra botar crase no a maiusculo…) fomos jantar, sempre às custas do fornecedor de tintas, num restaurante especializado em frutos do mar. Bom, restaurante especializado em frutos do mar longe do mar é aquilo: uma merda. Chapados de sono – acordar às tres da manha e pegar estrada por 5 horas né mole nao -, capotamos logo.

No dia seguinte fui a Milano de novo encontrar a Simone outra vez. Fiz amizade com um senegales que me deu de presente uma pulseirinha coloridinha e pediu pra eu avisar que o Marco do Senegal (ele) é fa do Brasil e do Ronaldo. Tah dado o recado. Encontrei a Simone na praça do Duomo, rodamos, fofocamos, almoçamos no McDonald’s (pombas, comer em Milano é caro pra cacete, pelo menos no Mc a gente sabe que o preço nao passa daquele padrao…) e logo depois tive que voltar porque se deixassemos pra pegar estrada tarde pegariamos o maior transito.

Claro que pegamos transito de qualquer maneira, mesmo tendo partido antes das quatro da tarde.

Crianças, nao querendo ser repetitiva mas jah sendo… A cada dia que passa, a cada cidade que eu visito, confirmo a conclusao: Roma é tuuuuudo na vida, o resto é perfumaria.

***

Nao sou uma pessoa muito musical – prefiro a companhia de um livro – mas na viagem de carro ouvi meus CDs que eu trouxe do Brasil e hah muito nao ouvia. Entao agora menciono as Cançoes Mais Belas do Mundo, de acordo com os padroes Pacamanca de Qualidade:

Turn my Head – Live
Pillar of Davidson – Live
Run to the Water – Live
Para Ver as Meninas – cantado pela Marisa Monte

Vao lah baixar, vao.

***

Falando em musica… Hoje vamos ao show do Mango em Foligno. Foligno é a outra cidade “grande” aqui perto. O Mango tava de show marcado em Perugia hah alguns meses, mas ficou doente e o show foi cancelado. Basicamente ele é o unico cantor italiano que eu escuto sem reclamar. A musica italiana é uma coisa horripilante de tao ruim.

No Brasil a mulherada é

No Brasil a mulherada é paranoica com as unhas. Aqui a mulherada é paranoica com roupas da moda, cabelos todos cheios de nove-horas, MUITA maquiagem, muito fio-dental (acho horripilantemente vulgar, além de me parecer extremamente incomodo). Por outro lado, nao usam muitas joias nem bijoux; dificilmente mudam brincos toda hora como nos gostamos de fazer no Brasil. Também tao cagando e andando pra coisas pra nos absurdas, como sutia e calcinha escuros sob roupa clara. Alça do sutia aparecendo, entao… aos montes. E blusa de uma alcinha soh, com sutia normal por baixo? E TOP TOMARA-QUE-CAIA COM SUTIA? Hein? Hein? Nem nos suburbios mais suburbanamente suburbanos e bregas voce acha uma coisa dessas, mas aqui na Italia, ou pelo menos na Umbria, é o que mais tem.

Putz, que calor. Minha escrivaninha

Putz, que calor. Minha escrivaninha tah toda bezuntada de filtro solar proteçao 60 – que, jah percebi, nao adianta nada, porque infelizmente ainda estou bronzeada. Com esse cabelo ruim e a cara e os ombros queimados de sol, soh falta o bundao pra ficar parecendo exatamente o que eu nunca fui: mulatinha caça-gringos. Puta que pariu.

***

Hoje à noite teoricamente assino o contrato de aluguel do apartamento show de bola em Bastia. Acendam velinhas, darlings.

***

Domingo de madrugada vamos a Milao. O lanterneiro tem um curso de, bem, lanternagem (nao é tao simples quanto parece, mas é mais facil definir assim), pago pelo fornecedor de tinta, na capital lombarda, e eu vou na aba. Nao conheço Milao, entao acho que vai ser legal :) Chato vai ser passar direto pelo dia 15 de julho, quando eu, em teoria, estaria voltando pro Rio… Nao volto porque depois nao tenho mais dinheiro pra voltar pra cah. Mas perder bilhete marcado é muito desagradavel…

***

Estou precisando URGENTEMENTE de uma boa dose de geléia de mocotoh Colombo, sabor natural. Ou de coxinha de frango com catupiry. Claro que banana passa também serve. Infelizmente nao tenho nada disso aqui, minha mae ficou de mandar mas até agora soh vieram sandalias, camisetinhas, sutias e calcinhas, e shampoos pra cabelo ruim, conteudo das duas ultimas caixas que mami me mandou através do endereço da Martinha. Mas daqui a um mes vou ter meu proprio endereço em Bastia, e nao vou precisar dar o endereço dos outros pra receber coisas legais, huahuahua

Melhor parar de pensar em comida e continuar a minha dietinha, que tava indo muito bem até hoje no almoço, quando entrei em crise de abstinencia de cacau e ataquei o Nesquick às colheradas. Mula. Pra queimar todas essas calorias agora, soh indo pra Milao de bicicleta.

Morar no exterior è, pelo

Morar no exterior è, pelo menos pra mim, um conjunto de flashes e de pontadas. Explico: as pontadas de dor sao agulhadas muito, mas muito dolorosas mas de curta duraçao que me vem quando vejo uma foto do Rio (ah, que falta me faz o Rio!), quando escuto o samba do aviao, quando penso nas risadas que davamos no Letras & Expressoes, na cara do japa quando via o sorvete que eu sempre fazia pras noitadas na casa da Newlands, na cara da Newlands quando descobriamos juntas alguma coisa bubu, quando penso na minha avoh e nas comidas gostosas que ela fazia pra mim, quando penso nas risadonas enormes imensas gigantescas que rolavam nos corredores do hospital com a Yasmine (a.k.a. Djésmine), com o Pfaender, com o Alexandre Queiroz que tah pra casar, com aquela louca da Patricia que nao fala mais comigo; quando penso no meu irmao cantando altissimo no banho, na risada da minha mae, no casamento da minha prima mais querida ao qual eu nao fui e nunca, nunca vou me perdoar por nao ter ido; e tantas outras coisas. Sao pontadas agudas, que incomodam MUITO, mas que logo passam. Passam porque a memoria fica; os momentos bons a gente carrega sempre, e nada nem ninguém consegue apagar.

Os flashes sao coisas estranhas que sinto de vez em quando toda vez que faço algo que aqui ja virou rotina, mas que è meio ou muito diferente de como era no Brasil. Como levar o lixo na lixeira. Nas grandes cidades os prédios tem uma lixeira por andar; voce sai no corredor com o saco na mao, abre a porta, abre a lixeira, joga o saco, e ele desaparecera misteriosamente – o que significa que os porteiros vao juntar os saquinhos em sacoes que depois serao recolhidos pelo caminhao da Comlurb. Aqui a gente tem que levar o saco na caçamba la fora. Ja virou rotina, mas esse tipo de coisa tipicamente causa flashes estranhos; me vedo na minha casa, saindo no corredor pra botar uma sacola na lixeira, e pensando em uma outra eu levando o lixo na caçamba la fora, e aih pisca a pergunta na minha cabeça: MA CHE CAZZO STO A FARE DI QUI? (sim, a pergunta vem em italiano mesmo). Nao é uma sensaçao muito agradavel, mas essa também passa.

Alias, essa pergunta vive me perturbando. Nao se enganem, eu ADORO a Italia, adoro morar aqui, e apesar de estar com a vida em stand-by no momento (sem carteira de motorista nem de identidade nem de desconto no supermercado porque nao tenho endereço fixo, sem contrato regular de trabalho porque aqui ninguém faz nada antes de setembro, etc), estou feliz. Mas fico me perguntando se nao era possivel ser feliz la na minha casa, na cidade mais linda do mundo, com uma familia legal, falando a minha lingua e comendo as minhas coisinhas tipicas de sempre. Fico me perguntando do que foi que eu fugi, ou se parei de fugir, se encontrei o que eu queria aqui. Fico imaginando se na proxima vez em que eu voltar pro Rio – e nao tenho a MENOR idéia de quando sera, por motivos puramente economicos – as pessoas vao me achar diferentes, se eu vou achar tudo diferente, se vou me irritar com a sujeira e os mendigos nas ruas, se vou adotar a posiçao paranoica de quem se desacostumou a ser assaltado rotineiramente, se o fedor da cidade vai me chocar, se o transito da grande cidade vai me assustar, se vou sentir falta do salame umbro, do prosciutto crudo, se vou achar a massa cozida demais, se vou achar a mozzarella com gosto de nada, se vou achar o sorvete horrivel tanto quanto hoje acho horrivel o chocolate brasileiro (soh consigo comer o diamante negro e o serenata de amor, acho todo o resto com gosto de vela), se vou continuar esquecendo palavras da minha lingua e de vez em quando inserindo expressoes ou gestos italianos no meio da conversa, se meus amigos vao me achar chata e esnobe e metida a italiana, se a TV brasileira que eu acho que ainda seja um pouco melhor do que a italiana vai me decepcionar e ser muito pior do que eu imaginava. E aih fico imaginando o meu retorno à Italia, e me vejo irritada com o sistema bancario neanderthal deles, com a burocracia tao ridicula quanto a nossa, com a xenofobia alimentar deles, com os zilhoes de impostos que vou ter que encarar sozinha, com a falta de transporte publico nessa cidade pequena, com a ausencia total e absoluta do maracujah na dieta mediterranea, com as panelas italianas que sao TODAS de cabo curto e NENHUMA de teflon (eles tem medo de teflon, de microondas, etc) e que SEMPRE me queimam a mao e nao sao nada praticas.

E o pior é que essa situaçao nem lah, nem cah é irreversivel. Eu, que nunca fui muito cariocona, de praia, malandra, gostosa, que odeio tropicalidades, que tenho horror a Maria Bethania e nao gosto de Chico, me sinto menos brasileira do que nunca, e jamais vou retornar ao meu estado de quase-carioca antes da minha vinda à Italia. Mas também sou muito pouco italiana, apesar do que dizem por aqui. Nao vou mais ser uma coisa soh, nunca mais. Nunca mais.

E’ necessariamente uma coisa ruim? Nao. Culturalmente é uma experiencia fenomenal; morar fora abre os olhos e a cabeça em um modo indescritivel. Mas emocionalmente é destruidor. Eu nao sou nem uma coisa, nem outra, eu nao sou nada. Nao sou nada.

O fim de semana foi

O fim de semana foi ótimo, tanto em termos gastronomicos como de companhia. Lá fomos nós a Faenza no sábado depois do almoço. A estrada é uma bosta: tem um pedaço que tá em obras há anos por conta de uma fraude descoberta na empreiteira responsável (opa!). A paisagem muda radicalmente quando se entra na Emilia-Romagna; difícil explicar exatamente o que muda, mas as plantações são diferentes, tem menos azeitona – a Umbria é lotada de azeitona – e mais pedregulhos, as colinas são menos suaves, sei lá. A viagem foi curta, umas duas horinhas e pronto, e sem imprevistos, além da quase dormida do Mirco no volante que nos levou a parar num beira-de-estrada pra ele tomar um café e dois picolés.

Já na periferia da cidade, o lanterneiro vê um caminhão encostado num estacionamento abandonado onde outros carros estão parados, e encosta. São poloneses vendendo coisas estranhas da ex-URSS – ferramentas, instrumentos cirúrgicos, binóculos, capacetes de couro, ímãs, botas, e outras coisas igualmente interessantes. Os caras encostam, montam as barraquinhas – ou melhor, mesinhas -, e ficam ali parados esperando neguinho passar e parar. E o pior é que neguinho passa e pára mesmo – e não tinhamos só nós, mas váaarias outras pessoas, incluindo algumas senhoras cujo interesse nas pontas de furadeira e nos alicates e chaves inglesas eu não consegui entender. Saímos de lá com um porta-agulhas, dois pares de pinça de dissecção, duas coisas estranhas que achei geniais – tipo canetas que se esticam e viram tipo uma antena daquelas que se usam pra apontar no quadro-negro, com a ponta magnetizada pra pescar parafusos e outras coisas metálicas que adoram se esconder em cantos escuros e inacessíveis e debaixo de móveis e carros -, quatro alicates poderosos, duas chaves inglesas idem, e aqueles negocinhos de ferro com números e letras em relevo na ponta, que você bate com um martelo pra marcar numeração em baixo-relevo em peças industriais, chassis de carro etc. Tudo muito interessante.

Depois de uma leve perda de direção – lanterneiro, além de odiar dirigir, não tem o menor senso de direção, e eu não sou muito melhor que ele, ainda mais sem mapa na mão – finalmente conseguimos chegar na casa da Fran, que mora bem no centro, num apartamentinho legal. Depois de uma volta na cidade, que é um pouco maior que Bastia e muito bonitinha, fomos jantar em um fim do mundo lindinho chamado Terra del Sole, num restaurante chamado Osteria del Capitano. O menu é todo confuso, escrito em dialeto com a tradução em italiano do lado. Comemos super bem: de aperitivo, uma coleção de bruschettas e pera em cubinhos com queijo pecorino derretido (eca); de primo piatto eu mandei ver de pappardelle (uma massa mais larga que o talharim, é a minha preferida) verde com molho bolonhesa e muito parmesão, o lanterneiro tortellini recheados com ricota e espinafre com molho de tomate-cereja e manjericão, Fran talharim verde e amarelo com legumes, e o Marco, o marido simpático e bonitão dela, massa curta com molho à bolonhesa. Depois eu e Mirco dividimos pedacinhos de filé no azeite com alecrim, e Fran e o Marco os mesmos pedacinhos em vinagre balsâmico. Infelizmente a casa não tinha NENHUMA sobremesa com chocolate, e por isso só eu fiquei sem sobremesa… Não como nem zabaione nem panna cotta (esse último um pudim meio tabajara), então fiquei só na vontade.

Ontem todo mundo levantou tarde – eu acordei cedo mas tinha o Harry Potter me chamando, entao fiquei lendo – e depois de passar na agência onde a Fran trabalha, pra conhecer (a casa é LINDA e fica num lugar LINDO! Só achei o banheiro, todo afrescado e grande pra caramba, assim meio esquisito; eu ficaria inibida de fazer xixi num banheiro assim tão espaçoso ;), fomos dar uma volta em Brisighella, cidadezinha ali perto. Tem uma fortaleza antiga que tava fechada, depois caminhamos um pouco numa trilha até a torre do relógio, e voltamos pra casa, todos já azuis de fome. Fran e Marco tinham feito feijoada no dia anterior e torta de frango com palmito de manhã cedo, então eu fiz o arroz, a farofa, o pão de queijo; o Marco fez a caipirinha com a Nega Fulô que eles acharam dando sopa em cima do armário, tiramos a cerveja da geladeira e comemos até morrer, porque tava tudo ótimo. Claro que depois do almoço só nos restou dormir, e depois nos mandamos.

Na volta ainda passamos no cinema pra ver Charlie’s Angels 2. Eu adoro esses filmes despretensiosos, e tenho que dizer que a Cameron Diaz tá cada vez melhor como atriz cômica. Morro de inveja desses filmes, que devem ser divertidíssimos de gravar, além das roupas delas serem bárbaras hehehe

E aí hoje de manhã me sinto ainda no domingo, estou toda lenta lesada lerda meio baiana, e isso tá me irritando. Ainda bem que sei que depois passa, meus ataques de lerdeza nunca duram muito.

E hoje vou a Faenza,

E hoje vou a Faenza, visitar a Fran*, que faz aniversario segunda-feira. As outras meninas de Roma nao podem ir, mas eu to precisando de uma social basica, to com saudade das meninas todas mas pelo menos as de Roma eu posso encontrar mais facilmente, jah que qualquer coisa é motivo pra me fazer ir a Roma (que é tudo na vida), e to doida pra comer a feijoada que o marido dela faz. Vou levar a farofa e preparado Yoki pra pao de queijo. Também to levando minha amiga Suellen, a solitaria mais faminta do planeta Terra. Volto amanha, e espero poder botar fotos no ar, assim que a Telecom Italia se dignar a reestabelecer a linha ADSL do lanterneiro.

***

Enquanto isso, preciso resolver logo minha situaçao contratual com o Chefe Meio Idiota. A dona do apartamento tchutchuco em Bastia vive me ligando querendo fazer logo o contrato. A boa noticia é que os atuais moradores nao vao mais embora em setembro, mas em agosto! Obaaaaaaa casa novaaaaaaaaa soh minha e do Legolaaaaaaaaaaaas, em frente ao supermercado ao cinema ao bosque publico à casa da Marta perto da estaçao de tre-eeeeeeeeeeeeeem…

Tudo bem que eu e Suellen vamos passar uma certa fome, porque com o aluguel mais as contas pra pagar, mais todas as taxas absurdas de transferimento de morador (é rapaz, tah pensando que é mole?), vou ficar assim digamos na merda financeira total e absoluta. Favor acender velinhas pra aparecerem umas traduçoes de vez em quando senao vai ficar preta a coisa pro meu lado.

***

Se essa dor de garganta e de cabeça passarem logo, eu agradeço muitissimo.

***

*A Fran, além de ser um amor, escreve bem e tem uns vizinhos muito estranhos.

Eu tenho um defeito, que

Eu tenho um defeito, que muitas vezes é uma qualidade mas às vezes vira realmente um defeito: nao sei fazer nada devagar. Nao sou hiperativa ou superagitada, sou simplesmente rapida, e a lerdeza alheia me dah nos nervos.

Comecei a pensar nesse assunto quando vinha pra cah hoje, de bicicleta. Sou absolutamente incapaz de fazer um simples passeio de bicicleta. Qualquer movimentaçao bicicletal pra mim vira aula de spinning. Dependendo do que tiver tocando no walkman, entao, iiiiih… Resultado: cheguei toda suada e vermelha no escritorio hoje. Isso porque obviamente cheguei dez minutos antes da hora, e fiquei dando voltas em Rivotorto, aqui perto, pra passar o tempo. Voltas em alta velocidade, claro.

E aih fui desenvolvendo o assunto lerdeza na minha cabeça, e tenho que concordar com a minha mae: nosso maior medo em relaçao à velhice nao sao as rugas, o cabelo branco, a falta de saude, mas é a lerdeza. Vejo os velhos fazendo tudo em camera lenta, com a maiooooooooor calma do mundo, e me vem um pavor insano: serah que eu vou ficar assim também? Com certeza nao, no que depender da minha vontade, porque realmente nao sou capaz de ser lerda, mesmo que eu tenha todo o tempo do mundo pra fazer uma coisa, e nao tenha nada pra fazer depois. Mas e se (ou melhor, e quando) os musculos começarem a negar fogo, e se recusarem a manter o meu ritmo atual, nao-lerdo?

Se eu nao morrer de morte morrida ou de morte matada, vou morrer de morte lerdada. Ficar lerda vai ser a morte pra mim.