Como eu disse ontem, o

Como eu disse ontem, o Ralph, o cao corso aqui do escritorio/casa, foi mordido pelo Pedro, o Sao Bernardo. Hoje liga o funcionario da companhia de seguros (tudo que é cachorro aqui tem seguro, é obrigatorio) pra saber exatamente o que aconteceu. E se dah o seguinte dialogo absolutamente surreal:

– Entao, o codigo (a tatuagem) do cachorro é PGxxxx, que corresponde a um husky siberiano, nao?
(detalhe que os italianos, incapazes de fazer o som h do ingles, correspondente ao nosso rr, simplesmente nao o pronunciam. E assim husky vira “âski”).
– Nao, senhor, é um cao corso.
– Mas aqui tem escrito âski.
– Mas o cachorro é um cao corso.
– Hm… Tem muita diferença?
(pausa para vomitos e convulsoes incontrolaveis)
– Tem toda a diferença do mundo, meu senhor.
– Bom, de qualquer forma, o numero corresponde a um âski, de propriedade da senhora Simona C., em Assis, nao?
– Sim, soh que nao é um hhhhhusky, é um cao corso.
– Mas ele nao foi mordido ontem?
– Sim senhor.
– Entao, bate direitinho. Âski, Simona C., Assis, mordido ontem.
– Sim senhor, soh que NAO é um hhhhhhhhhusky, é um cao corso. Que que eu posso fazer, nao posso fazer o cachorro mudar de raça!
– Isso quem vai decidir sao as autoridades competentes. De qualquer maneira, obrigado.

Quem mora fora do Brasil

Quem mora fora do Brasil tem sempre mais ou menos a mesma lista de saudades, normalmente gastronômicas mas nao só: churrasco, guaraná, leite condensado, Catupiry, coxinha de galinha, limão verde, pé-e-mão-derreau etc – os clássicos. Mas a lista das saudades inclui uma coisa aparentemente simples mas que faz toda a diferença do mundo: o ralo. O conceito de lavar ambientes – a cozinha e o banheiro – causa tanta estranheza nos não-brasileiros quanto causa em nós o hábito europeu de lavar a cabeça só uma vez por semana, e de não tomar banho todo dia.

Senhores, eu não acredito em lendas urbanas, em unanimidades burras. Coisas como “francês fede”, “italiano fala alto e gesticula”, “napolitano é tudo safado” não se espalham pelo mundo à velocidade da luz se não tiverem um mínimo de fundamento científico. O francês realmente fede, como aliás quase todos os europeus, em particular aqueles do leste, socoooooorro que bando de bodes; os italianos berram e gesticulam muito; Napoli è a capital italiana da picaretagem DE VERDADE. Pois então: sair na rua de cabelo molhado é quase uma heresia pros europeus. Não tem UM dia em que alguém me veja de cabelo molhado (e olha que eu, proprietária de cabelo ruim e portanto não passível de lavagens diárias sob o risco de ressecamento total eterno e irreversível, só lavo dia sim, dia não) e não diga: nossa, menina, mas você com esse cabelo molhado assim… Como se fosse uma coisa do outro mundo. Eu não seco o cabelo nem no inverno, porque cabelo ruim e secador de cabelo são coisas tão incompatíveis quanto abacaxi e salada – desculpem, mas eu ABOMINO a combinação doce-salgado – ainda mais no verão marroquino que tá fazendo aqui! Mas eles acham estranhíssimo. Também não tomam banho todo dia – dão “uma lavada” nas partes íntimas, pés e sovacos. Em todo o nosso tour da Itália eu e Valéria encontramos mil banheiros só com chuveirinho, e nos perguntamos milhares de vezes como uma criatura consegue tomar banho com uma mão só, enquanto a outra segura o chuveirinho. Aqui na roça uma desculpa frequente pra “lavada” em vez do banho decente de chuveiro é a sensação de afogamento causada pela água do chuveiro caindo em cima da cabeça e no rosto. Então tá.

Desde quando me mudei sou a feliz embora temporária usuária de um banheiro provido de ralo! CLARO que o supracitado ralo não foi colocado ali com o objetivo de escoar a água de lavagem do banheiro. Simplesmente o chuveiro não é fechado em um box, fica no canto do banheiro. E o ralo do chuveiro virou o ralo do meu banheiro. Todo domingo de manhã me armo de balde, sabão em pó tabajara (ensinamento de mamã: sabão em pó bom pra lavar roupa, sabão em pó tabajara pra lavar o chão), removedor de calcário, Lysoform Bagno, pano de chão, Pato Purific, esponja, vassourinha de cerdas duras que eles usam pra passar pano no chão mas eu uso pra esfregar o chão mermo, rodinho pra limpar vidro que eu uso como rodo no chão mermo, já que em terra onde não tem ralo, rodo não existe e a gente tem que improvisar. Jogo água pra tudo que é lado, lavo e esfrego tudo – me sinto a Dona Teresa que tinha mania de limpeza, aquela do livrinho da Atica que todo mundo da minha geração leu na escola; d. Teresa, que lavava até o sal e o açúcar… Só não tiro as teias de aranha da janelinha lá do alto porque os Silvas – há tantas aranhas na roça quanto Silvas nos catálogos telefônicos brasileiros – servem pra comer os mosquitos, que também abundam. Deixo a porta aberta pro chão secar e pro cheirinho de limpo se espalhar pela casa e quem sabe inspirar os outros moradores a serem limpinhos também.

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Aih ontem depois da lavaçao banheiral tomei meu banhinho basico no banheiro cheiroso, fiz um almocinho de verao – alface, atum, milho, ervilha e umas batatas cozidas temperadas com timo, que eu nao sou de ferro e sem carboidrato nao vou nem na esquina – e fui a Perugia encontrar a Verinha, gaucha que estudou comigo em Perugia e que agora tah em Bolzano, no norte da Italia, e de vez em quando vem pra essas bandas visitar as ex-roomates. Levei meu espetacular cachorro comigo, obviamente. Também obviamente fingi que nao sabia que precisa amordaçar cachorro pra andar de onibus, e pagar metade do bilhete pro cachorro andar de trem. Mas correu tudo bem, fora o calor insuportavel. Era aniversario da Verinha, dei de presente pra ela uma latinha de Guaranah Antarctica, uma das ultimas que sobraram da ultima viagem a Roma. Tomamos o sorvetinho nosso de cada dia, botamos o papo em dia, peguei meu buzao e meu trenzinho escaldante de volta pra casa e pronto. Larguei o Leguinho na casa dos ex-mas-nao-tanto-sogros, tomei outro banhinho no meu banheiro cheiroso e fomos comprar comida chinesa pra jantar na casa da FeRnanda. Acabamos dando carona a uma senhora equatoriana que chorava na estrada em Bastia, porque tinha perdido o ultimo trem pra Perugia e nao sabia como voltar pra casa. Lah vamos nos a Perugia deixar a senhora, a coitada da mulher chorava de nervoso, estava parada em pé hah UMA HORA pedindo carona na ponte de Bastia, e nada. Neguinho é foda mermo, ninguém para pra dar carona, nao tavam vendo que era uma senhora quase nos seus 50 anos, que nao era uma prostituta qualquer ou uma cigana ladra?

De volta à casa da Fernanda, rimos muito e comemos feito loucos: ravioli de carne no vapor, rolinhos primavera, spaghettini de soja com frutos do mar, frango com amendoas e cenoura, carninha com bambu e cogumelos chineses, arroz à cantonesa, frango agrodoce, cerveja chinesa (que segundo a FeRnanda tem cheiro de lança-perfume). Ouvimos Cidade Negra, discutimos as chateaçoes burocraticas envolvendo traduçoes juramentadas de documentos etc, e fui pra casa dormir. Claro que nao dormi right away; tendo alguma coisa pra ler perto da cama eu nao consigo fechar os olhos enquanto nao dou uma olhada, e acabei lendo a Panorama (tipo a Epoca), com uma reportagem de capa sobre gente “handicap” (aqui eles nao dizem deficiente fisico ou mental, dizem handicap, que com o sotaque italiano vira “andiquép-a”) que venceu na vida. Fiquei impressionadissima, as fotos sao muito bonitas mas muito chocantes também.

E aih hoje o Chefe Meio Idiota nao tah no escritorio, nem o Meio Chefe, nem o Cretino Pai do Chefe Meio Idiota, entao estamos super light: a Martinha toda vestida de azul-celeste, a menina da calça dourada hoje veio de vermelho e de saia florida, a irma do CMI tah ligando pro veterinario pra alguém vir suturar o coitado do Ralph (o cachorro da casa-escritorio) que tah com um buraco embaixo das costelas por conta da mordida que levou do Pedro (o Sao Bernardo da casa em frente) no sabado à noite. Eu até suturaria, mas nao tenho material. Coitado do bicho, tah com um rombo tao grande, tadinho, o corte abriu todo o subcutaneo e dah pra ver até a fascia muscular.

E agora que eu jah fiz tudo o que eu tinha pra fazer – ligar pras escolas do Lazio onde recolhemos cartuchos vazios, preencher formularios, inserir os poucos pedidos – sao sempre poucos na segunda-feira de manha – o que é que eu vou ficar fazendo nesse escritorio? Sugestoes?

A televisão italiana não pára

A televisão italiana não pára de me surpreender. Sempre no mau sentido, é claro. A última novidade do programa matinal de variedades da Rai Uno é uma garota linda, formada em Química (jacaré acredita? Eu também não), que escreve no quadro-negro e depois mostra na tabela periódica fórmulas e propriedades químicas de alimentos como vinho, azeite, açúcar. A garota aparece sempre em trajes sumários: top tomara-que-caia, mini-saia de babadinhos, decotes alucinantes. Agora me digam o público-alvo do quadro: italianos interessados em química (cof cof) ou italianos do sexo masculino interessados no complexo bunda-peito?

Quando você acha que já viu de tudo nesse mundo, que pior que Ratinho e Monique Evans na TV não pode existir nada, vem a TV italiana e te bota um troço desses na programação. É mole ou quer mais?

p.s.: notaram os acentos? Tive o brilhante insight de escrever no Word, acentuar e depois passar pro Blogger. Claro que, uma vez que a paciência não é uma das minhas virtudes e acentuar textos “na mão” requer MUITA paciência, não vai ser sempre que os acentos vão aparecer direitinho por aqui. Só lamento.

Escritorio na roça é otimo.

Escritorio na roça é otimo. Sao quase onze da manha e o Chefe Meio Idiota ainda estah na horizontal, como dizemos aqui. A noitada ontem foi boa, Martinha o encontrou na boate fashion de Bastia tardissimo da madrugada. O Segundo Chefe precisava falar com ele, entao simplesmente pegou uma escada de metal, encostou-a na parede da casa entre o pé de damasco e a casinha de ferramentas, bateu na janela do Chefe Meio Idiota e perguntou a que horas ele ia se dignar a descer. Eu, Martinha e Antonietta, a menina do almoxarifado, aqui embaixo olhando. O Segundo Chefe diz que tem uma fila de mulheres esperando por ele, ao que ouvimos uns resmungos longinquos vindo da janela fechada, que o Segundo Chefe traduz pra nos: deixa quieto, deixa quieto.

Vai ser dificil pro CMI sair da horizontal hoje, jah vi tudo.

Melhor assim, né nao? ;)

Aih neguinho me pergunta por

Aih neguinho me pergunta por que eu nao boto comentarios, lista de links, gifs animados, blinkies irritantes e outros foronfonfons aqui no blog. E aih eu respondo: porque eu escrevo porque gosto e nao porque tah na moda ter blog; nao quero que esse espaço de desabafo e curiosidades sobre a vida na Italia vire o que muitos blogs que eu lia e eram otimos viraram: coleçoes de links sempre pros mesmos amiguinhos, private jokes que soh esses amiguinhos entendem, rasgaçao de seda, puxaçao de saco. Nao gostaria de ver minha seçao de comentarios virando bloquinho de recados tipo fulana, passei soh pra dar um oi! Passar soh pra dar um oi nao existe; quer me dar um oi, me escreve, me liga, vem à minha casa me visitar. Nao vou ficar botando link de gente que de repente nao tem nada a dizer, soh porque é meu amigo. Essa febre dos blogs tah parecendo a febre do IRC, aquele negocio de operador de canal, manda arroba pra mim, me dah a arroba (no bom sentido, claro, de fora pra dentro), o bot caiu, chuta o fulano que tah falando palavrao, ah, mas voce deu arroba pro beltrano porque ele é seu amigo mas ele nao entende nada de ser operador de canal (oh céus). Como sempre, é a galera levando a sério demais coisas que nao sao nada, nada sérias. Um blog é um blog, pronto, nao tem nada de filosofico, é simplesmente entertainment e basta.

Agora com licença que eu vou trabalhar, ou pelo menos fingir que.

p.s.: meu risoto ficou bom

p.s.: meu risoto ficou bom pra caramba, e olha que eu nem botei açafrao, porque nao tinha vinho branco entao usei tinto mesmo, e o bichinho ficou colorido de vinho, achei desnecessario o açafrao. Usei o salmao em lata da Rio Mare, melhor que o outro que eu usei da outra vez. Ficou show de bola. Proxima vez compro uns camaroezinhos pra ver se sai tao bom quanto o risoto do restaurante onde a gente ia sempre.

Mais uma mania italiana, da

Mais uma mania italiana, da familia da manga com leite: o limao. Como se nao bastasse o limao deles ser aquele amarelo, de sabor absolutamente repugnante, eles ainda botam o bicho em TUDO! De recheio de tortellini a hamburger feito em casa. E dizem que agua com limao melhora dor de cabeça. Ontem a Marta tomou CAFE’ COM LIMAO pra passar a dor de cabeça. A menina da calça dourada acaba de pedir agua com limao pra mae do Chefe Meio Idiota pra melhorar a dor de barriga dela. Mas hein?

Estou salva! Achei uma coisa

Estou salva! Achei uma coisa Blondor-like pra vender por aqui! To sem bigode e com os braços louros noruegueses!

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Hoje vou me dar um presente gastronomico: risoto de salmao e abobrinha e açafrao. Uhuuu.

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Voces viram a lei que anda rodando aqui no Congresso pra aprovar imunidade pra Berlusconi & Cia.? Pensei na merma hora naquele anao do orçamento, lembram? Aquele que teve a cara de pau de dizer que tinha ganhado na loteria taaantas vezes. Tutto il mondo è un paese, dizem os italianos. Eh tudo a merma merda, onde quer que voce vah.

Putz, como chove! *** Roma,

Putz, como chove!

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Roma, como sempre, foi otimo, mesmo sem ter feito nada de particular. Segunda-feira fui jantar com um amigo no Trastevere. Pena que todos os restaurantes onde ele é cliente cativo estavam fechados (segunda-feira quase tudo que é restaurante fecha na Italia). De qualquer maneira comemos bem, em mesinhas do lado de fora do restaurante, vendo gente esquisita passar pra lah e pra cah. Fora que o passeio de motorino (a famosa Vespa) é sempre barbaro quando nao tah frio. Fico ridicula de capacete, mas adoro andar de motorino… :)

Aih com papai nao fiz nada na terça-feira além de bater papo. Dormimos depois do café da manha e acordamos às 3 da tarde. Um onibus do hotel nos deixou na estaçao de metro mais proxima, descemos na Piazza di Spagna, tomamos um sorvete hiperfaturado, fomos pra estaçao Termini, ele voltou pro hotel e eu peguei meu trenzinho basico. O dia terminou numa pizza de farinha de soja com topping de batata, linguiça e alecrim (juro que é otima!). E pronto.

E hoje chove sem parar, to sozinha aqui porque Martinha tah dodoi e a garota da calça dourada tah fazendo curso em Perugia. Estou eu sozinha cercada de homens malucos por todos os lados, uma chuva desgraçada, sem frango em casa e eu morrendo de vontade de comer curry mas sem saco de pegar chuva até o supermercado, meu cachorro vai estar fedendo feito… feito cachorro molhado, tenho um zilhao de roupas pra lavar que com esse tempo nao vao secar e vao ficar com cheiro de cachorro molhado… Eita vidinha.

Em compensaçao, to acabando The Silence of the Lambs, que comecei na segunda-feira à noite. Depois começo Catcher in the Rye – nunca li, acreditam?

Tem outras compensaçoes também, mas isso é problema meu :P