Show do Iron, Metallica e

Show do Iron, Metallica e principalmente do Live em Imola daqui duas semanas (Heineken Jammin’ Festival). Jacaré tem dinheiro pra ir? Nem eu. Jacaré tem COMPANHIA pra ir? Nem eu.

Jacaré tah com saco de postar? Nem eu.

Mudei de e-mail. O hotmail

Mudei de e-mail. O hotmail é muito bonitinho mas tem muito pouco espaço pra mensagem, e eu recebo toneladas de fan mail todos os dias, hohoho me engana que eu gosto. O libero também tem a vantagem de poder virar pop mail, embora eu soh possa pensar nessa hipotese depois de setembro, quando estiver no famigerado miniapartamento em Bastia, e, espero, com dinheiro no bolso o suficiente pra poder ter ADSL em casa.

Jah tinha outra superletizia por lah, por isso agora sou superleticia com ce mermo, que é como se escreve o meu nome, se voces nao notaram. O z do email velho era soh uma alusao ao fato deu estar aqui, onde leticia vira letizia.

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On a lighter note: tem roupa no varal na varanda, e parece que vai chover, e roupa que nao seca direito fica tao fedorenta, com cheiro de cachorro molhado. A roupa nao é minha… Acho que vou deixar lah mermo e esperar a chuva chegar.

Nao comentei meu emocionante encontro

Nao comentei meu emocionante encontro com o funcionario que faz as carteiras de identidade. Como aqui se voce se mudar tem que avisar ao Comune, e eu tenho duas mudanças previstas até setembro, fui lah mais pra me informar sobre o que precisa levar além das fotos 3 x 4 (aquelas catatonicas), quanto tempo leva pra sair, etc. Falei que tava pra me mudar pra um lugar onde soh vou ficar por tres meses antes de me mudar de novo, dessa vez pra outro Comune (Bastia). O funcionario falou que nao tinha problema, eu fazia a carteira de identidade com residencia em Santa Maria degli Angeli, onde moro oficialmente mas nao efetivamente, e depois transferia o registro pra Bastia, quando me mudasse. Mas quando ele viu meus 5 sobrenomes, todos estranhissimos e ininteligiveis pra ele, olhou pra mim e implorou: moça, melhor a senhora deixar pra fazer a carteira quando fizer a mudança definitiva… Vai dar tanto trabalho pra copiar todos esses sobrenomes que é melhor soh fazer uma vez.

Funcionario publico é igual em qualquer lugar do mundo, né nao?

Resultado: carteira de identidade, soh em setembro.

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Mais deprimente que passar o sabado à noite em casa é olhar pra festa rolando lah embaixo e se dar conta da sua solidao. E eu sei que hoje nao é sabado, alias nao é nem mais domingo, mas estou falando especificamente do sabado.

Mais deprimente ainda é sacar que na festa estao tocando uma POLCA, e que tem MUITO casal de velhos dançando. Socorro.

E eu que achava que

E eu que achava que letras piores que as do Jota Quest nao existiam… Sintam a pérola, jah traduzida pra facilitar a vida de voces, que rola direto no radio nesse momento:

nao se pode
procurar uma loja
de antiquario
na via del corso (a rua badaladona do centro de Roma. Ah, mas voce nao conhece Roma? Soh lamento. Roma é TUDO na vida.)
CADA COMPRA TEM SEU MOMENTO CERTO

Juro que é musica, nao é jingle de loja de moveis antigos, como eu achava que era, na primeira vez que escutei. Quando entendi que era realmente uma cançao, quase tive um treco. Que tipo de criatura escreve uma musica com um verso “cada compra tem seu momento certo”? Quequeisso… Depois desse ultimo verso brilhante eu parei de ouvir. Agora quando escuto os primeiros acordes da musica, desligo o ouvidor (o escutador infelizmente fica ligado porque nao dah pra virar surda momentaneamente, mas simplesmente começo a pensar em outra musica, ou outra coisa, qualquer coisa que me deixe completamente alheia ao som dessa musica nas minhas orelhas. Ou seja, escuto mas nao ouço).

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Trabalhamos direto na loja hoje, eu, Claudia e Carmen, sem o Fabrizio o Louco que tinha uma crisma pra ir em outra cidade meio longe daqui. Ooootimo, nos divertimos horrores, vendemos moooito bem, infelizmente comemos muito também: torta al testo com salame de javali e molho de trufas com cogumelos, presunto cru e pecorino, bruschetta de azeite, panpepato – um doce de Terni que eu odiei porque tem fruta seca e eu abomiiiino fruta seca, coca-cola, ACE (pronuncia atche, suco de laranja, limao e cenoura), muita agua mineral, licor de chocolate que tava esquecido na geladeira (como alguém consegue esquecer qualquer coisa de chocolate, eu nao sei).

E aih amanha trabalho de novo na loja (é feriado) mas juro que vou tentar nao comer. Nao dah pra sacudir a poeira e dar a volta por cima com uma barriga como a minha e celulite até nas costas. To doida pra me mudar e ter que me sustentar totalmente sozinha, pagando todas as contas sozinha, porque aih vou ter que economizar seriamente e nao vou mais poder gastar dinheiro com Nutella, sorvete ou outras coisas do genero. Vou viver dos ovos que a mae do Mirco me dah (as galinhas dela sao superdotadas, acho que jah comentei isso aqui. Botam desesperadamente, dois ovos por dia, todas elas, todos os dias), da alface e da cebola que o pai do Chefe Meio Idiota me dah, de agua mineral e banana com mel e aveia. Pelo menos a celulite das costas tem que ir embora, né, gorda assim nao pode, nao dah.

Como vou trabalhar na loja

Como vou trabalhar na loja à tarde e meu patrao (Fabrizio o Louco, o da loja de Assis, nao o Meio Idiota dos cartuchos, nao se confundam) mora em frente ao meu prédio em Cipresso (e consequentemente me darah uma carona pra casa depois do expediente), fui a pé pra casa da Marta. Uma hora de caminhada. No meio da estrada vejo um carro parado no acostamento. Uma cabeça sai da janela: é um dos marroquinos que trabalham pro Mirco. Conheço todos eles porque jah fui varias vezes à oficina, e esse em particular porque quando eu estudava em Perugia pegava o trem das 8:05 que vinha de Foligno, onde ele morava, entao nos encontravamos sempre na estaçao, ele descendo do trem e eu subindo.

Pois entao. Nao sei como ele se chama, se Larby ou Nakkira, mas o fato é que ele me deu carona até Bastia, e depois me falou uma coisa que me tocou fundo: eu teria parado pra dar carona mesmo que nao fosse voce, porque soh uma estrangeira estaria andando a pé na estrada. Nunca vi um italiano andando a pé na estrada. Mais: me convidou pra um café, que educadamente recusei por nao querer dar certas explicaçoes inevitaveis, e terminou o rapido papo dizendo que, embora agora ele tenha carro e more num lugar decente, nos oito anos em que estah na Italia jamais saiu da sua condiçao de imigrante segregado, e sabe pelo que estou passando, sem carro, sem lambreta, sem nada, dependendo dos outros. Me senti do mesmo jeito, mesmo nao sendo marroquina, nem semi-analfabeta, nem lanterneira, e falando italiano fluentemente. Me senti igual a ele, e foi uma sensaçao HORRIVEL.

Como com a carona cheguei meia hora mais cedo à casa da Martinha, atravessei a rua, sentei num banco gelado do bosque onde, espero, daqui a tres meses o Legolas vai estar brincando, chorei, bebi agua, liguei pra Telecom pra pedir um novo modem, brinquei com a Giuditta (Judith) e a Luna, cachorras do salao de beleza em frente ao prédio da Marta, e quando deram 9 horas fui espera-la em frente de casa, e viemos trabalhar.

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Virginia tem 5 anos e é neta do irmao do pai do Chefe Meio Idiota (o terreno da casa do Chefe Meio Idiota, que também é o nosso escritorio, divide terreno com a casa do irmao do pai do Chefe Meio Idiota. Sim, é complicado). Nao vai à escola, entao fica o tempo todo aqui, aprontando. Essa semana foi A Semana das Laserjet 1100: eu ensaquei 450 cartuchos, a mae do Chefe Meio Idiota dobrava e encaixava as “fustelle”, armaçoes de papelao que protegem os cartuchos dentro das caixas, a irma do Chefe Meio Idiota montava as caixas, Attilio, o segundo chefe, etiquetava as caixas, e a Virginia botava os cartuchos dentro das fustelle, as fustelle dentro das caixas, fechava as caixas e levava pro Attilio, que depois preparava os caixotes – dez cartuchos por caixote. Virginia é espertissima e logo pegou o jeito da coisa, e quando acabavam as fustelle montadas ia chamar a mae do Chefe Meio Idiota, quando o Attilio (que ela chama de Artiglio – artelho) parava pra secar a testa suada (tava um calor do cao) ela o advertia: trabalha, Artiglio! Ainda foi exigir ao Chefe que a pagasse; ele lhe deu uns trocados e ela ficou toda feliz. Hoje de manha quando chego aqui lah tah ela na varanda: Letizia, hoje vou ter que trabalhar uma hora a menos, porque os meus pais vem (circunflexo) me visitar.

Criança sindicalizada é isso aih.

Acho engraçado que muita gente

Acho engraçado que muita gente me anda escrevendo dizendo que a crise vai passar, que hah males que vem pra bem, que deus escreve certo por linhas tortas, que fecha uma porta e abre uma janela. Que eu acho que deus nao tem piçurucas a ver com isso, pelo simples fato de que credo firmemente que ele nao existe at all, todo mundo jah sabe. Mas a idéia de que as coisas ruins aconteçam soh pra eu aprender uma liçao nao me agrada nem um pouco.

Nao acho que as coisas aconteçam por um motivo em particular. Pelo menos nao todas as coisas. Acho realmente que todo mundo tem cotas iguais de alegrias e tristezas na vida, e é nosso dever como seres pensantes (ou quase), dominadores da cadeia alimentar, donos do polegar opositor, aprender com ambos os tipos de experiencia. Alias, nem acho tanto que tenha a ver com pensar ou nao, em certos casos. Vejamos os exemplos dos bichinhos, que normalmente pensam menos que nos (e portanto sao seguramente mais felizes): uma cobra que tenta comer uma perereca verde-fluorescente, passa mal depois, mas quando ve outra perereca da mesma cor nao entende que aquilo dah dor de barriga e tenta come-la de novo tem mais é que morrer envenenada mermo, pra nao passar adiante os genes da burrice. Mas nao significa que a perereca seja venenosa soh pra cobra ficar esperta. Ela ser esperta ou nao é problema dela, a perereca nao tem nada a ver com isso. O fato das cobras burras morrerem envenenadas e permanecerem as espertas que logo sacam a relaçao radioatividade da cor/veneno é pura consequencia, seleçao natural – NATURAL, e nao sobrenatural, espiritual, religiosal, encheçao-de-sacal. Do mesmo modo, acho que coisas ruins acontecem, ponto. Acontecem porque acontecem, porque se tudo fosse legal o tempo todo a vida seria muito chata, e seriamos muito mais burros, porque a gente infelizmente aprende muito melhor com a dor do que com a felicidade, essa coisinha efemera, como uma coceirinha que passa e a gente nem percebe.

Resumindo: nao acho que toda essa merda na minha vida atualmente seja do tipo “um mal que veio pra bem”. Eu classificaria como “um mal que aconteceu porque aconteceu, e se eu nao sou capaz de aprender alguma coisa de bom/util/engraçado/interessante com toda esse grande mar de merda que é a minha vida neste momento, sou realmente MUITO idiota e deveria esterilizar-me pra nao propagar meus cromossomos idiotas pelo mundo”.

Simples assim.

Alias, acabei de aprender uma nova coisa que nao era tao nova assim porque eu jah sabia mas, feito cobra burra, faço questao de esquecer sempre: batata frita faz grandes estragos ao ritmo intestinal de quem se habituou à saudavel dieta mediterranea, desprovida de fritura por imersao.

Agora com licença que a festa lah fora jah acabou, os adolescentes jah pararam de tocar o roquenrou, amanha trabalho no escritorio e na loja do Fabrizio o Louco em Assis, e é quase uma da manha, e to com um soninho da peste.

Ontem me deu ataque de

Ontem me deu ataque de pelanca e saih, às nove e meia da noite, pra passear no bosque. Tava rolando uma festa da primavera ali atras de casa, bandinhas adolescentes se esgoelando no palco, e eu com paciencia zero pra esse tipo de farofada. Entao fui passear, a pé, na direçao de Brufa, um vilarejo no alto da colina, como tantos outros vilarejos italianos.

Passado o burburinho da festa, me distanciando um pouco de Cipresso, a noite da roça me envolveu por inteiro. A noite da roça é solitaria, mas o vento, esse mala sem alça que normalmente detesto e amaldiçoo, ontem me fez companhia, fazendo murmurar folhas e ramos uns contra os outros. A noite na roça é quieta, e é azul e prateada, mesmo ontem, quando a lua nao tinha ido trabalhar. O céu limpo, um restinho de luz laaaah longe (anoitece tao tarde aqui no verao! e nem adianta dizer que o verao nao começou ainda: pra mim, se nao é frio, é verao), a estrada bissolutamente vazia. Os campos de trigo, tao louros de dia, de noite sao azuis, acinzentados. As estradas de pedrinhas brancas das casas de noite ficam prateadas. O jatinho do irrigador que chove sobre os campos de milho faz pfff, pfff, pfff, e molha um pedaço da estrada, me desvio. Nao passa ninguém, e quem passa me ignora, acho otimo. Acabam os postes de luz; à minha frente uma ponte estreita, ladeada de carvalhos, e além da ponte, a estrada pra Brufa, prateada, azul, cinzenta. Ninguém, nada, zero, soh o vento, o pff pff pff, e os grilos.

Me giro, volto atras, passo por um arbusto gigante de alecrim e roubo dois raminhos. Todos os cachorros da rua acordam e latem quando passo; nem me incomodo. Giro à esquerda entre campos de milho, passo por uma casa iluminada, uma senhora estah botando o lixo pra fora e me olha como se eu viesse de outro mundo. Pergunto, soh pra ela ouvir minha voz e perceber que sou humana: onde acaba essa estrada? Ela responde que vai um pouco mais avante e depois é bloqueada. Tudo bem, é soh uma caminhada pra digerir, minto. Ando, ando, aqui é ainda mais isolado, embora as luzes da autoestrada estejam ali bem pertinho. A estrada termina, sombria, numa casa toda apagada. Do lado de fora, uma estranha maquina de contornos indefiniveis à penumbra faz um barulho estranho. Me sinto dentro de Signs, como se um ET de pés grandes estivesse prestes a saltar de tras de um pé de azeitona pra me atacar. Passo por baixo de uma torre de tensao, a bichinha range, faz mais barulhos estranhos.

A noite na roça é linda, mas aih o medo que toda mulher sozinha à noite sente, aquela pulga carioca atras da orelha que nao larga do nosso pé, esses calafrios, esse medo de estranhos, de alguém (mas que alguém, criatura? Em BRUFA?) desconhecido que para pra encher o saco, de sei lah o que, esse medo chato me fez voltar pra casa. Tomei um copinho de vinho e dormi ao som do rock and roll vagabundo lah fora.