casa dolce casa

Apesar das pálpebras de chumbo, resolvi não dormir à tarde, pra não desbaratar mais ainda o meu já complicado ritmo de sono. Deixei o Mirco roncando e tratei de desfazer as malas, botar roupa na máquina, instalar as novas caixas do iPod, pendurar roupa pra secar. Eu gosto de desfazer malas, até porque tem sempre coisa nova pra arrumar :P E também sou meio paranóica, não consigo ir dormir sabendo que a casa tá uma zona, que tem quilos de coisas pra fazer no dia seguinte. É a mesma coisa com louça pra lavar: tenho que deixar a pia limpinha antes de ir dormir, senão no dia seguinte quando vejo me dá uma tristeeeeeza…

Quando vi, o dia acabou, e eu mortinha, mortinha.

Vou-me.

Bom, a novidade principal é que me despedi. Foi lindo, totalmente publica a coisa, com direito a teatrinho, irritaçao e merda no ventilador. Lin-do.

A outra novidade é que estou sem internet em casa, entao nao sei quando vou poder contar direitinho a historia da demissao. Mas daqui a pouco eu volto.

novas

Então tipo assim. Domingo passado almoçamos na IKEA, compramos uns negocinhos (poucos, poucos mesmo) e fomos pegar mamãe no aeroporto. Eu tirei essa primeira semana de férias, mas arrumei outro trabalho temporário justamente nesses dias e acabou que ela ficou conhecendo Foligno inteira enquanto eu dava aula meio período. E nesse exato momento estou trabalhando de casa, orientando minhas alunas online enquanto elas fazem os exercícios que eu preparei. Vejam bem: a Comunidade Européia está me pagando pra chatar com as minhas alunas em inglês. Eu adoro isso. Tomara que dê frutos, porque o clima lá no trabalho tá cada vez mais pesado.

Sexta-feira passada fui jantar com os outros tradutores, só os que não estão no lado negro da força, lá em Foligno mesmo (tava tendo a Quintana, a festa da cidade, com torneio a cavalo etc). Fofocamos tanto que não me surpreenderia se a chefa tivesse amanhecido morta na cama só de mau olhado, coisa que infelizmente não aconteceu. Acontece que no mês passado o tradutor de espanhol e a de francês fizeram MIL LAUDAS, vou repetir, MIL LAUDAS, com 80 horas extra, vou repetir, OITENTA HORAS EXTRA, e a chefa pagou CINCO EUROS POR HORA, vou repetir, CINCO EUROS POR HORA. Se eu tivesse feito esse trabalho todo e me tivessem oferecido cinco euros por hora eu juro que dava um tapão daqueles que estalam. Cacetes estrelados, cinco euros por hora é quanto ganha o aprendiz de faxineiro do Mirco, do Uzbequistão, que mal fala italiano e mal sabe varrer o chão. Vai ser filha da puta assim na casa do chapéu. Então rolaram vários estresses, dos quais estou relativamente imune visto que trabalho sozinha no andar de baixo, mas fiquei tão, tão, tão irritada quando soube da história que passei o dia inteiro rangendo os dentes. Eu é que já deixei bem claro desde sempre que não faço hora extra de tradução nem que a vaca tussa, e se quiserem que eu faça qualquer coisa depois das seis ou nos fins de semana quero ser paga por lauda e não por hora (lógico que nunca me ofereceram). Sei é que eu tenho que sair correndo dali antes que exploda de tanto ódio por aquela vaca.

**

Mudando de pato pra ganso, mas não tanto, aqui na Bota os escândalos são tantos e tão ridículos que nem parece que eu saí do Brasil. Pra vocês terem uma idéia, não consigo nem escolher um pra comentar. Vou deixar pra Daíza que ela adora essas comédias botenses.

**

Os hominhos estão instalando o ar condicionado aqui em casa nesse exato momento. Tínhamos encomendado o serviço pra um amigo de um conhecido há TRÊS MESES, mas ele simplesmente parou de atender o telefone e não respondeu a nenhuma mensagem que lhe mandamos. Mirco recorreu à loja que nos forneceu os eletrodomésticos da cozinha, e no dia seguinte o tal amigo do conhecido ligou dizendo que os aparelhos tinham chegado e perguntando quando poderia vir instalar. Só lamento, quérido, quem mandou não saber trabalhar. Custava ligar pra dizer que tava ocupado e que não sabia quando iria poder vir? Ô raça…

na bota

Rapaz, a coisa aqui na Bota ferve. Depois que subiu ao poder a esquerda anda fazendo coisas estranhas (rings a bell?), tipo soltar prisioneiros etc. Agora resolveram tomar vergonha na cara e fazer uma faxina fiscal, aumentando os impostos de quem ganha muito e abaixando os de quem ganha pouco. Até aí tudo bem, concordo plenamente que quem ganha mais tem que pagar mais mesmo, mas o problema é que esses impostos depois não dão retorno ao cidadão (rings a bell?). O sistema de saúde é lento, as escolas são uma merda, o consumidor praticamente não tem direitos, a televisão é uma merda, embora seja a pagamento. Tenho um comentário positivo a fazer: estão implementando uma supertaxa pra quem tem SUV, além do “bollo”, equivalente ao nosso IPVA. Ora bolas, SUV nesse país não tem razão de existir, atrapalha o trânsito, ocupa vaga dos outros, consome combustível demais, e se você tem 50.000 euros pra comprar um SUV da Audi e mais outros tantos pra encher o tanque 8.0 de gasolina, então tem mais é que pagar supertaxa mesmo. Eu, hein.

O problema maior é essa maldita liberação dos presos, que não tem o menor sentido. Estão inclusive ameaçando de soltar o Monstro de Foligno, que há alguns anos estuprou e matou dois meninos MUITO pequenos, e que já avisou que se for solto, vai acabar fazendo a mesma coisa de novo. O único do governo que se opõe a essas maluquices é o meu querido Di Pietro, atualmente Ministro delle Infrastrutture, que na minha nada modesta opinião é a única salvação desse país mas jamais vai ser eleito porque não é politiquento, não sabe se vender, não sabe ser contundente quando fala. Me dá uma peninha danada.

De qualquer maneira, entre impostos e monstros o pessoal já começou a se irritar. Hoje tem greve de transportes públicos e no fim de semana vão ser os jornalistas a parar. Êeeeeeeeeee primeiro mundo!

calcio

Notaram que eu não comentei o jogo? É porque no final das contas eu já tava tão irritada que estava torcendo pra França. Vai, Zizou, vai, meu filho! O Mirco, que como todo europeu não-francês DETESTA os franceses, não agüentou ver o jogo e foi ver outra coisa na TV do quarto. Por mim, teria sido tipo oito a zero. Não tá a fim de jogar? Então toma! Ora, faça-me o favor!

Aí o pessoal do escritório, mas você deve estar supertriste, né? Eu não, sinceramente. Quem não faz seu trabalho direito não tem direito a ganhar porra nenhuma. Acho horrível, horrível e vergonhoso ganhar SÓ por sorte ou por erro dos outros. Mas faça-me o favor! Não é que vença o melhor? Então, o melhor venceu. Pronto, fim do assunto.

Em compensação, durante a semifinal da Itália eu sinceramente não sabia pra quem torcer. Ninguém gosta dos alemães, muito menos eu, mas acho tão terrivelmente triste perder em casa, com aquela cabeçada salsichenta toda no estádio! E ainda por cima perder pros italianos marrentos e lindos e simpáticos! E como o escândalo do futebol italiano anda me dando um nojo colossal também, fiquei meio na dúvida. Lógico que acabei torcendo pros azzurri, mas que deu uma peninha dos salsichentos, ah deu.

Mas a coisa mais engraçada é entender o que os jogadores dizem quando as câmeras os focalizam. A quantidade de palavrões é, lógico, interplanetária, mas como xingar em italiano é uma coisa ma-ga-vi-lho-sa, entender esses xingamentos também é uma diversão só. A cara do Lippi quando o juiz não deu falta: MAVAFFANCULO! A cara daquele louco do Gilardino, vesguinho, irritado porque alguém não lhe passou a bola: MA CHE CAZZO! A cara do Buffon quando a defesa deu mole: PORCA MISERIA! Entre outros.

O louco furioso do Gattuso, o Camoranesi com cara de guerreiro asteca, o superpitéu do Toni, o Totti que depois da lesão no joelho ficou com medinho e foge da raia e dorme em campo, tudo é muito divertido. Adoro Copa do Mundo.

E o Portugal perdendo pra França, que tristeza? Não porque eu tenha simpatia particular por Portugal, apesar da descendência, muito menos porque fomos eliminados pela França, um país que eu adoro (e, convenhamos, aquele povaréu todo cantando a Marselhesa é de arrepiar até as sobrancelhas), mas porque os portugas perderam uns gols tão, mas tão quase-gols que até se tivesse sido a Argentina jogando eu teria ficado nervosa por eles.

Hm, não.


nham

Eu ADORO salada de macarrão. É o que me salva, já que sou obrigada a comer meu almoço frio (a escola até tem cozinha, mas não tenho paciência pra socializar enquanto como. Quero mais é ler meus livrinhos e digerir em paz.). Hoje fiz macarrão curto com vagem fresquinha, uma cenoura ralada e atum ao natural. Em vez do temível creme de leite, do qual nem gosto tanto assim, uso iogurte natural. Vou te dizer, tava tão bom que fiquei até triste quando acabou.

joguim ruinzim, né não?

Mirco não sabe dizer não pros amigos e foi ver o jogo do Brasil na casa do Marco, de novo. Dessa vez foi jantado, que ele não é bobo. Eu até conseguir chegar cedo em casa, mas estava absolutamente exausta e tão enojada da falta de loção das pessoas que resolvi ficar em casa. Vi o jogo assim só pra dizer que vi, não xinguei nenhuma vez, e pretendo cair no sono imediatamente depois do apito final do juiz. Ora, faça-me o favor.

Fomos ver o jogo da Itália na casa do Marco e da Michela. Ficamos de levar as pizzas, e o mais engraçado é que ninguém se ofereceu pra fazer isso por nós – ainda que eu e o Mirco sejamos os únicos que não têm mamãe e sogrinha perto e/ou disponíveis, os únicos que trabalham 12 horas por dia, os únicos que trabalham longe de casa e têm maiores probabilidades de chegarem atrasados. A pizza atrasou e quando chegamos ainda fomos saudados com um “Poxa, já estava quase desmaiando de fome”. A mesa estava montada na varanda, porque o Marco é fanático por limpeza (desde que seja a Michela que limpe, bem entendido) e não admite migalhas dentro de casa. Ou seja, vimos o jogo a oito metros de distância da televisão, comendo pipoca e pizza em pé, amontoados na varanda. Primeira e última vez, juro.

Precisa dizer que torcemos silenciosamente pro Gana o tempo todo, eu e Mirco? Não, né?