os cavalos

Hoje fui dar aula em uma empresa na zona industrial de Foligno. Em frente ao galpão tem um pedaço de campo, cercado com arame farpado, onde vivem uns seis cavalos, com um potrinho. Nem uma casinha pra eles, nem um tetinho, nada. Um frio do cacete, chuva sem parar (porque chove há semanas aqui e ninguém agüenta mais), e os cavalos todos em pé um juntinho do outro pra se esquentar, tremendo de frio. Ontem os vi pela primeira vez, mas o tempo tava bonito, não tava muito frio, e nem reparei que eles não tinham abrigo. Hoje trouxe dois quilos de maçãs pra dar a eles e quase morri de pena quando os vi sob a chuva daquele jeito. Chorei muito à noite, principalmente porque fiquei sabendo que eles são cavalos de abate, pra virar carne, o que obviamente não justifica o tratamento dado a eles, e que pertencem a um filho da puta de Foligno famoso por maltratar seus animais. Como tem vários ganchos na máfia, nunca lhe aconteceu nada, apesar das infinitas denúncias e abaixo-assinados. Passei a tarde inteira numa angústia tremenda, sem saber o que fazer ou com quem falar, chorei muito em casa à noite e não conseguia parar de pensar nos bichinhos. Amanhã vou ligar pro Spartaco, que trabalhou com a WWF por um período, pra ver o que podemos fazer. O que eu faria com um homem desses, que maltrata animais e polui o solo com óleo dos carros velhos acumulados no seu quintal? Eu o amarraria a um dos seus pobres cavalos e o arrastaria no asfalto até virar carne moída. Juro. Pra mim pena de morte é só pra quem maltrata bicho, velho e criança. Pena de morte, com requintes de crueldade.

já que eu tô por aqui mesmo, vou contar pra vocês o poeminha que mandei por fax pro meu ex-chefe, o siciliano, aquele que me pagou no dia 1o de dezembro o salário de OUTUBRO, com um cheque SEM FUNDOS.

Oh! Che bello sarebbe
Avere lo stipendio nel giorno corretto
Così uno potrebbe
Trascorrere un Natale perfetto.

Ahimè, non è così!
Che sfortuna che ho!
E’ lo stipendio di ottobre che aspetto qui
Cosa fare per averlo, non lo so.

A cambiare l’assegno non ci riuscii
Anche dopo aver due volte provato
Quando chiesi in banca, fecero iiiiiiih!
Come se il conto fosse stato svuotato.

Se mi facessero un bonifico,
Visto che i miei dati ce li hanno,
Sarebbe veramente magnifico
Ma non credo lo faranno.

Lui parla di onore,
(il suo, ovviamente)
Ci fa chiedergli, come da favore,
Gli stipendi, mensilmente.

Ora basta, mi sono stancata
Il mio onore è ormai ferito
E non bastano più i soldi, la plata
Ma voglio vederlo sfinito.

Di tutto farò, credetemi,
Per avere ciò che per legge è mio
Perciò vi consiglio, temetemi
La vostra pace sta per un filo.

Avvocati, televisione,
A tutti convocherò
Sindacati, Jimmy Ghione
Mi dubitate?
Aspettate.

então, tipo assim, cheguei, né, e ainda não estou entendendo nada, achando tudo estranho e familiar, esquisito e conhecido, confuso e acostumado. a enxaqueca já me pegou e ontem passei o dia inteiro na cama (mentira, depois que o remédio fez efeito conseguimos ir ao cinema no Rio Sul pra ver Flight Plan, mas a dor voltou e me acordou de madrugada). não liguei pra ninguém, mas eu sou assim mesmo, vocês sabem. não sei direito o que fazer, não sei de onde começar, não sei o que dizer, o que pensar, o que sentir. minha mala já está pronta, cheia de livros. só sobrou a malinha de mão pra juntar mais uns cacarecos. acho que não vai dar pra levar comida. livros, só penso em livros. li crônicos, da daniela abade, e achei dúzias de erros de português e quase graça nenhuma, mas passa o tempo. estou me sentindo sozinha e muito confusa.

Chegamos ontem no final da tarde. Tenho tantas coisas pra fazer, tanta roupa pra lavar, passar, dobrar, guardar, trazer da garagem aqui pra cima, levar do armario la’ pra garagem, tanta foto pra postar, tanta coisa pra dizer, que nem sei por onde começar. Hoje nao tenho tempo de fazer nada direito, acho, e amanha é dia de faturaçao na oficina, mas assim que der escrevo e boto fotos. Preparem-se. A baba vai escorrer direto das suas boquinhas, ja’ to até vendo.