weirdo

Fui à aula de inglês na faculdade hoje, pra ver o que rolava. A professora é maluca e isso todo mundo sabe há anos, mas eu queria saber o quão maluca. Então fui.

Acabou que me diverti. A mulher é completamente doida mesmo, e a base laranja mal aplicada ao redor do rosto, acabando no meio do queixo, não ajuda, mas pelo menos ela fala inglês direito. Falou umas duas besteiras fonéticas, mas no bojo correu tudo bem. Só que ela, sendo doida, não segue nenhum roteiro de aula: sai vomitando informações completamente não-relacionadas entre si, palavras das quais ela vai se lembrando à medida em que avança com a aula, pergunta coisas sem pé nem cabeça pros alunos. Coitadas das meninas, estavam quase arrancando os cabelos porque não entendiam coisa nenhuma. E eu resolvi não criar caso com a mulher; avisei que não posso freqüentar as aulas mas não disse que é porque ensino inglês, peguei as apostilas que ela deu (e que já xeroquei e deixei na escola pros meus alunos mais avançados) e fingi que fazia anotações. E tomara que ela não implique comigo, porque realmente eu não tenho saco pra discutir com gente doida.

bella giornata!

Ontem começou o segundo semestre do primeiro ano. Tendo aula a tarde toda na escola, não consegui ir à primeira aula de Sociologia, mas hoje de manhã fui. Fui de carro porque depois tinha que sair correndo pra Foligno porque tinha aula em Cascia. Assim que estacionei o carro começou a cair uma neve, mas uma neve, com um vento miserável, que parecia até que estávamos, sei lá, na Sibéria. Neguinho na rua sendo arrastado pelo guarda-chuva aberto, a neve acumulando na roupa, na cabeça, nos carros, um fim do mundo! Da janela da sala de aula via-se um palmo de neve acumulada nos telhados, e nada de parar de nevar. E eu rezando pra não parar mesmo, porque queria assistir também à aula da tarde, de Teorie e Tecniche di Comunicazione di Massa.

A aula de Sociologia foi legal. O professor é novinho e cabeludo (até o ano passado era professor-assistente) e explica muito bem. Mas falou de várias coisas que não estão no manual, ou seja, vou precisar das anotações das minhas coleguinhas CDF Elisa e Ludovica pra complementar as aulas de segunda-feira que vou perder sempre. Mas dá pro gasto. Vai ter uma primeira prova em abril, escrita, só sobre essa chatice teórica, e a segunda prova, sobre aquela parte legal das novas sociedades orais e tecnológicas, vai ser em junho, junto com outros zilhões de provas que se acumularam pra mim porque não tive tempo de estudar pras de fevereiro. Se eu botar meu calendário de provas aqui vocês vão chorar comigo, juro.

No final das contas nevou em Cascia também, que é mais alta do que Perugia, e consegui assistir à aula da tarde porque quando neva lá pra cima é mais seguro não dar as caras, porque o risco de não conseguir descer a serra é real. A aula foi INTERESSANTÍSSIMA, e me corta o coração saber que nunca mais vou conseguir assistir a nenhuma. Caramba, como eu amo aprender coisas. O tema do dia foi a facilidade de filtrar as informações antes de repassá-las ao público, e vimos um filme feito por uma produtora independente mostrando como a queda da estátua do Saddam foi ridiculamente montada – eram uns gatos-pingados adolescentes que, parece, nem eram iraquianos, e que só obedeciam às ordens dos soldados americanos. Uma jornalista iraquiana, anti-Saddam, diga-se de passagem, disse que guerra contra os Estados Unidos é que nem um filme de Hollywood: todo mundo sabe quem é o mocinho e quem é o bandido e como a história vai terminar, mas a gente gosta de assistir assim mesmo. Ho ho ho.

E eu perdendo essas aulas :(

la prima volta non se la dimentica nessuno

E finalmente chegou o dia da minha primeira prova oral. Êeeee!

Ê uma ova. Foi horrível.

Eu nunca fui de ficar nervosa antes de prova nenhuma. Nem no vestibular. Também não tenho medo de professor italiano, que aqui é tratado como um sultão. Muito menos de falar em público, cês sabem, né. Mas não sei o que me deu hoje; passei a manhã nervosíssima e em vez de fazer a porra da prova logo e ir embora almoçar com calma, fiquei enrolando, enrolando, tentando entender os cochichos de quem fez a prova antes da gente (eu, Ludovica e Elisa estávamos nervosíssimas, as três). Resultado: acabei fazendo uma prova ridícula, e nem pedi pra ele fazer outra pergunta sobre o livro do Rifkin pra aumentar a minha nota (fiquei com 25/30). Respondi mal a todas as perguntas que ele fez sobre a horrível apostila dele mesmo, confusíssima e cheia de nomes e assuntos diferentes sem nenhum fio condutor. Eu só tinha lido a apostila no domingo, muito en passant porque era um saco mesmo, mas como sei que ele é legal e bem flexível, tinha encasquetado que na hora iria pedir pra ele perguntar do livro. Ele esqueceu, e eu também. Mula.

Resultado: vou fazer a prova de novo em junho, pra ficar com uma nota melhor. Vou aproveitar que aqui tem essa mamata pra não ficar com nota feia na caderneta. E vou decorar aquelas porcarias todas de nomes de autores, Cassano, Leopardi, Gramsci, e tudo o que eles disseram, teoria por teoria, por mais sem sentido que seja a maldita apostila. E vou escrever RIFKIN em vermelho gigante na palma da mão pra eu ficar esperta e lembrar de pedir a ele pra me interrogar sobre coisas que eu estudei direito. Cês vão ver.

a primeira prova

Hoje fiz minha primeira prova de verdade na faculdade, de Linguistica Italiana. Na verdade não posso nem chamar de prova de verdade, já que foi uma múltipla escolha muito da furreca, enquanto que as outras são orais, com um bando de gente na sala escutando as asneiras que você responde.

Eu só assisti a meia aula de Linguistica. Se tivesse feito o endereço lingüístico durante o curso de italiano em 2002, em vez do cultural, não teria que ter feito essa prova agora, já que a matéria é seguida por todos os cursos da universidade, inclusive o de italiano que eu fiz. A professora é uma baixinha gordinha com cabelos avermelhados, roupas engraçadas e uma vozinha aguda que mesmo no microfone não dá nem pro buraco do dente. É muito simpática e me autorizou por e-mail, no sábado, a fazer a prova mesmo sem número de matrícula.

Eu estudei, vocês sabem. Também sabem que eu sou boa em línguas em geral, e tenho facilidade pra tudo que fala desse assunto. Não assisti a nada de aula além daqueles 45 minutos que nem serviram pra nada porque eu tava pensando em outra coisa. Li com calma um dos livros do currículo, hoje de manhã terminei um outro, e o terceiro ficou abandonado porque não tive tempo. Mas tirei a prova de letra. Só vou saber o resultado quando conseguir a matrícula, mas sei que passei.

Pra quem ainda não entendeu que eu moro realmente no interior do Gabão, vou descrever a cena da prova: chego uma hora antes na faculdade, com livrinho novo na mão (daqui a pouco falo dele). Sento num banco em frente à porta da reitoria e fico meio lendo e meio vendo o pessoal passar. Aquele bando de gente vestida igual (os locais), mais um monte de gente estranha (os estrangeiros). Vai amontoando gente em frente à Aula Magna, amontoando gente, amontoando gente, eu fui lá pra porta pra conversar com as meninas da minha turma, todo mundo com dicionário gigante embaixo do braço e eu pensando eu devo estar ficando maluca porque não sinto a MENOR necessidade de dicionário. O pessoal amontoando, até que abriram as portas e a galera começou a se empurrar pra dentro. Sabrina, Maria Marta, Pfaender, sacam amontoamento na porta do auditório em dia de prova de Dermato, Gineco ou Anestesio? Assim. Todo mundo sentado praticamente um no colo do outro, e eu gargalhando, porque é MUITO terceiro mundo isso. Quando a professora chegou, neguinho aplaudiu, porque ela é muito engraçada mesmo. Resolveu dividir a enorme cabeçada em três grupos. Fiquei no primeiro e demos tanta, mas tanta risada enquanto ela fazia a chamada com todos aqueles nomes estrangeiros bizarros, que ela mesma não agüentou e começou a gargalhar. O resultado é que o primeiro grupo começou a prova às seis, quando o horário oficial era às cinco.

Mesmo com a turma dividida, ainda era gente pra burro, e lógico que a colação correu solta. Um colega grego me aconselhou a sentar perto daquelas meninas ali, que sabem tudo de italiano. Eu também sei, quérido, respondi, e fui sentar lá atrás, sozinha numa fileira. O pessoal trocando prova, abrindo livro, trocando páginas de caderno, uma coisa de louco. Fiz a prova em cinco minutos (o tempo regulamentar era vinte), feliz da vida por não ter precisado colar nada. Eu sou boa coladora, tenho olhos de lince e ouvidos de tuberculoso, mas hoje, pela primeira vez na vida, tive o prazer de saber um monte de coisas só porque estudei. Donde nota-se que passei a vida estudando coisas erradas, já que nunca tive paciência pra estudar nada. Não tinha grandes prazeres tirando nota boa em português, inglês ou redação, porque eram matérias que eu nunca precisei estudar; por outro lado, nunca tive saco pra estudar clínica, cirurgia e coisa e tal. Durante toda a minha vida nunca estudei porra nenhuma nem fiz dever de casa. Nunca. Minhas boas notas no colégio e as razoáveis na faculdade devem-se à minha boa memória e ao meu sobrenatural senso de observação. Aprendi muito com os debates de caso clínico que rolavam durante as provas – porque a minha turma era FO-DAAAA e o pessoal não colava, debatia. Sabrina e Bernardo, o Casal Mais CDF do Planeta, não sabem, mas as conversas cochichadas deles discutindo caso clínico durante provas de tudo que é matéria me ensinaram mais do que qualquer Harrison ;) Nunca fui coladora de copiar todas as questões idênticas dos outros; quando eu não sabia uma questão, via o que os outros marcavam, e tentava entender o porquê, fazia mil anotações, e na maioria das vezes aquilo era suficiente pra engatilhar todo um processo de raciocínio que me levava à resposta certa, entendendo por que era a certa, entendem.

Mas então. Eu gosto de línguas. Gosto de lingüística. Gosto dessas teorias meio que inúteis sobre o que é dialeto e o que é língua, por que a vogal final do napolitano tem aquele som estranho que não existe em outras regiões, por que os peruginos falam bortsa em vez de borsa, por que certos pronomes de tratamento são reservados a certos cargos, por que vírgula aqui vai bem e aqui não. ADORO essas coisas. Então estudei com prazer mesmo. Como estou estudando o livro do Rifkin (interrompi pra pegar Linguistica) pra Studi Culturali, cuja prova não sei ainda se vou fazer porque o professor ainda não me respondeu. Como tenho certeza que vou estudar os dois livros pra Organizzazione Politica Europea, apesar de valer só três créditos. E a facilidade pra fazer a prova depois de estudar uma coisa da qual você gosta muito é uma sensação MUITO, MUITO legal.

E olha o pedaço do Swallowing Grandma, de Kate Long, que calhou d’eu ler bem antes da prova:

“They’re underrated as a pastime, exams. There’s something about the adrenaline rush, the legitimate isolation, the whole regulated nature of the exam experience that makes me feel the school hall is my natural element.”

Acabo de bater meu record: 3 horas direto estudando. Nunca tinha acontecido isso antes; meu máximo era 20 minutos heheheheh

Consegui falar pelo menos com a professora de Linguistica Italiana I, e vou fazer a prova na quinta-feira. Mas não vou poder saber a nota enquanto não conseguir resolver essa farofada da matrícula. Amanhã tenho que terminar um capítulo, e depois ler mais uns capítulos xerocados até quinta. Mas acho que dou conta; muito do que tem nos livros é simplesmente bom senso, e eu, menina que sabe usar ponto-e-vírgula, não tenho muita dificuldade em entender assuntos lingüísticos, ainda mais quando dependem quase que exclusivamente de bom senso. De qualquer maneira, nunca se sabe. Acendam velinhas, please.

saco

Estou penando pra conseguir fazer as provas na faculdade. O lance é que os gentilíssimos funcionários do consulado italiano no Rio, che gli piasse un fulmine, acham que a autenticação no certificado de conclusão do 2o grau é muito velha. Hm, por que será, hein? Será que é porque eu terminei a escola em 94 e já se passaram 12 anos? Hein? Enfim, querem que a autenticação velha seja autenticada, o que por lei não é permitido e os cartórios se recusam a fazer, lógico. Como não adianta discutir com funcionário de consulado, coisa que já aprendi há muitos anos, vou ter que mexer pauzinhos de outra maneira.

Da minha parte, não posso me inscrever pras provas, porque pra isso tenho que ir ao site da universidade e fazer o login com o número de matrícula. Sem o maldito documento que o consulado não quer me dar, atestando que concluí o 2o grau, não posso concluir a matrícula. Pagar eu já paguei, lógico, morrendo em 400 paus que não posso nem receber da agência da bolsa de estudos, porque não tenho matrícula. Então agora estou escrevendo e-mail pra tudo que é professor pedindo pra deixar eu fazer as provas, e a nota vai ser “verbalizada” (escrita no “libretto”) só quando eu tiver o número de matrícula em mãos.

O mais legal é que eu não sei nem se a matrícula vai sair, mesmo se algum dia chegar o tal documento, porque eu escrevi pra Reitoria explicando tudo e perguntando o que fazer, mas é óoooooobvio que não obtive resposta. Pode ser que eu estude, faça as provas, consiga a merda do documento, vá lá apresentar tudo pra finalmente concluir a matrícula, e eles me digam aaaaaaah não pode mais.

Nesse dia vocês irão ouvir o William Bonner dizendo que uma famosa e tradicional universidade do interior do Zâmbia foi incendiada por uma extra-comunitária em meio a um “raptus” de causas desconhecidas.

sociologia

A única vantagem que tenho quando alguém cancela aula é que consigo estudar. Comecei a ler o manual de Sociologia, que é uma matéria importante, de 9 créditos. As aulas começam semana que vem e vou conseguir freqüentar só Sociologia mesmo, mas só uma vez por semana. Três horas direto de aula, uma paulada.

Cara, que assunto chato!!! Não consigo imaginar minha mãe estudando isso por cinco anos seguidos na faculdade. Ô coisa superteórica! Detesto. Mas a parte mais teórica, chamada “institucional”, vai ser só até abril; depois começam com o tema desse semestre, que vai ser o retorno à oralidade em um mundo onde a tecnologia facilita mais e mais esse tipo de comunicação. Acho que vai ser interessante e já encomendei os dois livros em inglês porque tenho a impressão que vou me divertir. Vamos ver.

o descabelado

Ontem assisti a uma aula de Organizzazione Politica Europea, matéria opcional pro primeiro semestre, e que vale só 3 créditos. Não vou fazer a prova em fevereiro porque não vou ter tempo de estudar, mas como não sei se no próximo semestre vou conseguir freqüentar as aulas, resolvi assistir ao curso esse mês. São poucas aulas, acho que só 30 horas, mas é muito interessante. São distribuídas em dois dias da semana, em duas pauladas de três horas consecutivas. Felizmente a segunda paulada é sexta-feira, das oito às onze da manhã, o que me permite de assistir pelo menos a esse dia, pra depois voltar correndo pra casa pra dar aula pra Begonia.

Quando chego na sala dou de cara com um professor barrigudo, com cara de solteirão bonzinho e resignado, e cabelo em pé de quem acabou de acordar. Um sotaque estranho que depois descobri ser um toscano anormal – ele faz parte do grupinho do professor bonitão de Comunicazione Politica, junto com o outro toscano biruta de Studi Culturali. Todos ÓTIMOS professores, e todos tendo lecionado nos EUA e/ou na Inglaterra.

Enfim, a aula foi interessantérrima, mesmo eu tendo perdido a primeira parte, a da quinta-feira. ADOREI o assunto. Eu amo história e qualquer coisa relacionada a ela. Adoro qualquer coisa que acontece, e odeio teorias e gráficos e estatísticas e números e afins. Gosto mesmo é de narração :)

coisas

Estou lendo uma coisa muito interessante pra primeira prova que vou fazer em fevereiro, de Studi Culturali. O livro se chama Il Sogno Europeo, de Rifkin – eu queria ler no original, mas custava quase cinco vezes mais, e eu não estou podendo, então vai a tradução mesmo. O começo do livro é sobre o declínio do sonho americano, e é realmente muito interessante. Quando tiver mais tempo boto uns pedaços aqui pra você ver.

Lógico que o professor deu a lista exata e precisa dos capítulos que vão cair na prova. Lógico que vou ser só eu a ler o livro inteiro, porque minhas coleguinhas estão todas arrancando os cabelos com as 5 provas de fevereiro – além de Studi Culturali, tem Comunicazione Politica, tem Linguistica, tem a segunda chamada de Politica Economica, tem Organizzazione Politica Europea pra quem quiser (eu vou fazer em junho porque também é muito interessante e quero ler todos os livros). Eu vou “dar” (aqui se dá uma prova, e não se faz) Studi Culturali, Comunicazione Politica e Linguistica. Não vou ter tempo de estudar Politica Economica, porque são duas provas, macro e micro; prefiro dar as duas em junho, com OPE. Marketing parece que só no segundo semestre, e Informatica Generale é um negócio tão bobinho que vou fazer quando estiver com vontade. Em março começa inglês com aquela louca ensandecida; vamos ver se vou conseguir me safar.

Alguém entende esse sistema das universidades italianas? Porque eu não entendo. Nem os professores entendem.