modéstia à parte – mesmo.

E já que estamos nos assuntos polêmicos, e respondendo a um e-mail muito legal da Julie, vamos falar de modéstia hoje.

Em vez de fazer aqueles adesivos “a inveja é uma merda”, eu faria um escrito “a modéstia é uma merda”. Modéstia é um daqueles sentimentos que, como a piedade, não serve pra coisa nenhuma. Quem tem pena fica depenado, e ter pena mas não tomar uma atitude não adianta nada, entao é melhor poupar seu sistema límbico e nem sentir essas coisas. Na minha opinião, acontece o mesmo com a modéstia, que não serve pra bissolutamente nada. Se você nao tem nem o direito de curtir um talento especial, ou o resultado de um esforço hercúleo, qual é a graça da coisa?

Sempre achei que quem é bom em alguma coisa tem mais é que se achar bom mesmo. Acho que o Romário tem todo o direito do mundo de dizer “eu sou foda”, porque ele é mesmo, oras. Acho a arrogância um defeito super light, desde que justificado. Há defeitos piores, muito piores.

Claro que não ser modesto não significa achar que não se pode melhorar. Perfeição não existe, e sempre há espaço pra melhoras. Saber que você é ótimo em alguma coisa e ao mesmo tempo saber que pode ser ainda melhor não é modéstia, nem humildade. É coerência. Admitir que não sabe uma coisa nao é humildade, é sinceridade. Humildade é outra coisa que eu detesto. É coisa de pobre, seja de bolso que de espírito, e a pobreza é sempre, sempre uma coisa ruim, limitante. A humildade é limitante. Dizer “pô, cara, não sei, não entendo nada disso” não é humildade, é honestidade. Assim como admitir que se é bom em alguma coisa também é um sinal de honestidade.

Eu sou honesta comigo mesma. Sou ótima em um monte de coisas, e horripilante em milhões de outras. Quando me perguntam alguma coisa que não sei, primeiro penso bem, porque pode ser que eu saiba mas ache que não sei, e se não sei mesmo digo que não sei e pronto (ficou meio Rolando Lero essa frase, mas é isso).

Pior que a modéstia é a falsa modéstia. Essa, então, é de lascar! Você sabe que o sujeito se acha o ó do borogodó, você elogia, e ele fala, “aaah, mas são seus olhos…” Seus olhos o escambau! É como dizer a uma modelo lindíssima (estou falando de bonita mesmo, não esses varapaus de rosto horroroso que vemos nos desfiles famosos, mulheres que só desfilam porque são secas de corpo, mas têm orelhas de abano, pouco cabelo, cara de cavalo, dentes tortos, enfim. Feias.), você se acha bonita? E ela dizer, não, não me acho bonita. Ora, faça-me o favor! Tá querendo enganar quem, jacaré? Claro que ninguém se acha linda todo dia, o tempo todo; todo mundo tem dias em que acorda com cara de sei lá, mas sejamos coerentes, né. Ou então uma magricela, como a menina da calça dourada, que de repente diz “estou tão inchada hoje”! Eu agora aprendi a responder “é, tá mesmo”.

É como quando entram americanos na loja do Fabrizio o Louco e perguntam de qual parte dos EUA eu venho. Quando respondo que sou do Brasil, a reação é invariavelmente a mesma: nooooooooossa, mas seu ingles é óooooootimo! Vou responder o quê? Ah, não, impressão sua, depois que eu começo a falar mais se percebe que não sou americana? Eu falo, falo, falo e ninguém percebe coisa nenhuma, então eu respondo “brigada” e já tá muito bom. Só me faltava ter que ficar arrumando desculpas por ser boa em alguma coisa! E não faz diferença nenhuma o fato de que eu ter jeito pra línguas é independente do meu esforço, porque eu realmente não me esforço nada, tenho facilidade e pronto, assim como escrevo bem sem fazer esforço; me vem naturalmente. Deveria me sentir culpada por isso? Eu não, acho é muito bom, detesto estudar e sempre tive uma enorme vantagem sobre meus colegas de escola que era não precisar estudar nem português, nem inglês, nem literatura, nem redação. Sobrava mais tempo pra ler Tolkien e outras coisas.

Já pra outras coisas sou uma negação total. Dê-me seu ano de nascimento e eu levarei no mínimo 5 minutos pra calcular quantos anos você tem. Retardada numérica total e absoluta. E não tenho a menorrrrrrr intenção de mudar isso, porque detesto calcular, detesto fazer continhas, meu modo de pensar é totalmente anti-matemático.

E pra fazer esportes? Nossa, eu sou AAAAA prega. Fora que não tenho o menor espírito competitivo, e mesmo quando ganho fico com pena de quem perdeu e não consigo nem curtir a vitória. E quando perco fico com pena de mim mesma, então não é legal. A única coisa que eu gosto de jogar é conversa fora…