Tenho verdadeiro horror a poesia. E a MPB.
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Eu tenho os melhores leitores do mundo. Além de educados, cultos, inteligentes, engraçados, bons de Português e de garfo e amantes de cachorro, ainda me mandam presentes! Ontem chegou a caixinha da Manoela, Brasileira Legal Pacas que Mora na Alemanha e Nãaaaao Se Acha AAAA Alemã, contendo 1 Brave New World de Aldous Huxley, 1 par de meias coloridas estilo luvas para pés, 1 Bilbo de plástico originário de um ovo Kinder, sentadinho lendo um livro, e 1 carta de-li-ci-o-sa. Não é o máximo? :)
Realmente não me imagino fazendo nada profissionalmente, no futuro, além de ler, escrever e traduzir. Imaginar-me num hospital, ou, pior, num escritório, é o horror, o horror.
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E o tempo virou de novo. A névoa de ontem parece que gostou da Umbria, e não vai mais embora. Tá um frio do cacete frio úmido, que dói.
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Depois de um momento de auto-irritação* ontem à noite, comi chocolate e biscoito, e hoje estou com dor de barriga. Ontem enviei currículos a escolas de línguas e escritórios de tradução aqui da área. Também faxei currículos a dois hotéis de Assis. Daqui a meia hora ligo pra saber se receberam. Fabrizio o Louco precisa de ajuda pra limpar a loja semana que vem, antes de reabrir no final do mês. Hoje tenho mil faturas chatas da oficina pra inserir no computador e um CD de música latina (AAAAAAAAAAAAAAAAH SOCORROOOOOO) pra queimar pra Garota da Calça Dourada, que aliás virou titia semana passada. Amanhã de manhã vou à Questura pegar meu permesso di soggiorno alterado com o novo endereço e o novo número de passaporte. Também tenho que fazer algumas perguntas burocráticas sobre o permesso antes de comprar minha passagem pro Rio. Tenho cartas pra botar no correio e um casaco pra buscar na lavanderia, mas hoje estou sem carro. Tô sem saco.
*Fui levar o carro na oficina, pra ajeitar o lance do embaçamento, que é causado por um vazamento de líquido do radiador pra dentro do ventilador, ou seja, o ventilador-aquecedor sopra vapor oleoso no pára-brisas, que assim fica sempre sujo. Lindo. Então; ontem passei o dia na rua com o Mirco, resolvendo coisas. Lá pras seis passamos em casa, peguei o meu carro e fomos pra fisioterapia do joelho dele. De lá partimos direto pra oficina. Só que o trânsito tava horrível; o Mirco saiu logo da vaga e foi indo na frente, mas meu carro tava mais longe, e quando liguei a seta pra sair começou a vir um rio de carros que, dirigidos por motoristas italianos, não me deixavam passar de jeito nenhum. Quando finalmente consegui sair, o Mirco já tava na oficina. Muito bem, sem problemas, a não ser o fato de que só fui a essa oficina sozinha uma vez, e obviamente de dia, e com os vidros não embaçados, e sem neblina pesada. Eu não via NADA, não sabia onde virar, os faróis dos carros em sentido contrario refletiam contra o embaçamento e me cegavam (sou fotofóbica), gente atrás de mim piscando o farol porque eu andava a 20 por hora, eu botando a cabeça pra fora do carro pra ver se via alguma coisa, mas não via nada por causa da neblina. Saí do centro da cidade e me vi na saída pra auto-estrada, na Zona Industriale, àquele momento sem movimento nenhum. Leia-se sem luz nenhuma. Sabe o que é dirigir no escuro total, fazendo um percurso com o qual você não tem nenhuma intimidade? Então. Comecei a gritar de ódio dentro do carro, PUTA QUE PARIUUUUUUUUUUUU QUE MERDA DE VIDAAAAAAAAAAAAAAAAAA QUE SENSO DE DIREÇÃO DE MERDA QUE EU TENHOOOOOOOOOOOOO BURRA NÃO SABE NEM ONDE FICA A BOSTA DA OFICINAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA AAAAAAAAAAAAARGH!!!
Cheguei na oficina, depois de muita labuta e muitos gritos, num estado de irritação tão intenso que deveria ter sido estudado pela ciência. Odeio a impotência, odeio me sentir burra, odeio não saber o que fazer. Então abri o pacote de chocolatinhos alemães que tinha comprado no supermercado de pobre onde o Mirco compra luvas de borracha vagabundas pro trabalho, e comi tudo. Hoje estou morrendo de dor de barriga.
Mas vou fazer macarrão com salmão e abobrinha pro almoço, aaaah vou. Sem queijo ralado, é claro. Peixe e queijo ralado não combinam.