tolinhos!

Berlusconi anda contando vantagem por conta dos acidentes estradais, cujo número caiu muito depois da introdução do sistema de pontos pra carteira de motorista. Aí eu fiquei pensando numa coisa que de vez em quanto me fustiga o céLebro: por que é tão difícil pra maioria das pessoas fazer as coisas pelos motivos certos? Eu, hein!

O lance é que aparentemente não interessa a causa mas sim o efeito: se neguinho bota o cinto de segurança, aparentemente não faz diferença se bota porque se não botar e o guarda vir ele leva multa ou então se ele bota porque sabe que tem que botar, por motivos de segurança. Mas eu acho que faz toda a diferença do mundo. A diferença é a seguinte: eu, por exemplo, uso cinto desde pequena, o que quer dizer MUITO antes do cinto virar obrigatório no Brasil. Minha mãe não gosta, acha desconfortável, mas pra essas coisinhas técnicas da vida papai é rei e nos acostumou desde cedo. Hoje eu boto o cinto assim que entro no carro, não tiro nem pra manobrar, nem se tenho que ficar esperando no carro. Esqueço que o cinto existe, não me incomoda de jeito nenhum, nem no calor – pelo contrário, se esqueço de botar (e só esqueço quando estou usando bolsa a tiracolo, porque a alça da bolsa atravessando o peito dá a sensação de que estou de cinto) sinto que fica faltando alguma coisa. Ou seja, eu não uso porque tenho medo de levar multa, mas porque SEI que, pra minha própria segurança, é melhor usá-lo.

Meu tutor, que como a maioria dos italianos tolinhos acha que é invencível e invulnerável, acha o cinto uma bobeira e só usa porque tem medo de levar multa. A diferença entre nós dois é que, se por acaso a lei do cinto terminasse, ele pararia de usar, e eu não.

Por isso insisto no fazer as coisas pelo motivo certo – porque senão quando a motivação errada acaba, a gente pára de fazer. É como se eu só limpasse a casa quando tivesse visita. O resto do tempo a casa ficaria imunda. É claro que isso não acontece, porque eu sei que tenho que limpar a casa, por ene motivos óbvios. Não paro na faixa de pedestres pra velhinha atravessar só porque tem uma placa, ou porque tem um guarda parado a 50 metros de distância, ou porque senão a velhinha me xinga. Paro porque quando sou eu que estou atravessando também fico com raiva de quem não pára. Pago meu aluguel em dia não porque se eu não pagar o Stefano pode me mandar embora de casa, mas porque simplesmente tenho que pagar, se fosse eu a proprietária também ia ficar irritada se meu inquilino não pagasse. Posso ainda dar o exemplo da mãe idiota que diz pro filho parar de surrar o irmãozinho porque senão ela vai chamar o papai. Que ódio que essa frase me dá! O dia em que o pai morrer o filho vai achar que pode surrar quem quiser, porque a mãe não vai ter ninguém pra chamar.

Acho tão mais válido viver assim, sacando sozinho por qual motivo precisa fazer isso e não aquilo. Tão mais fácil ser capaz, mais ou menos, de distinguir o certo do errado, sem precisar ser condicionado pavlovianamente com multas, ameaças, leis. Na verdade só precisa de bom senso mesmo. O problema é que anda em falta no mercado…