Reclamo dos Salames, mas não posso me lamentar tanto assim. Hoje dei uma das últimas aulas pro Aluno Endocrinologista, e quase morri de rir. Normalmente ele é fechadão e discreto, mas quando pega confiança começa a falar besteira. Conta uma piada atrás da outra, na maioria dos casos em dialeto perugino.
Hoje contou vários causos. Estamos no final do curso, só temos mais duas aulas semana que vem, já terminamos o livro, estamos na fase de revisão e exercícios, e ficamos horas fazendo Murphy e interrompendo a cada minuto pra falar besteira. O ar condicionado estava ligado mas ele ainda sentia calor; eu disse pra ele virar o vento pra nós (aqui ar condicionado é quase tudo portátil), e ele deu graças aos céus deu não ser daquelas que bota a culpa de tudo no ar condicionado. E dali passamos a trocar histórias de ambulatório e de crendices populares e a falar das doenças típicas de cada país.
Brasileiro adora botar a culpa de tudo no fígado, enquanto que o italiano tem várias doenças de estimação: cervicale, indigestione, congestione, normalmente causadas pelo colpo d’aria (golpe de ar, corrente de ar), ou por beber água gelada demais (…), ou por comer pimentão à noite, essas coisas sem pé nem cabeça, primas da manga com leite. Contei a história da veia do piolho que a Arianna tirou sabe-se lá de onde, e ele quase caiu no chão de tanto rir. Contei a história do Paulo Cintura, o aluno de quarta à noite e de sábado na hora do almoço, que disse que o pai “pegou” um derramamento pericárdico porque foi capinar o campo suado. Quem disse que consegui convencer o menino de que o suor não tinha nada a ver com a história? Principalmente porque está um calor do cacete? A primeira coisa que eu perguntei foi se o pai tinha insuficiência cardíaca, e é lógico que a resposta foi sim. Mas pergunta se ele entendeu que o derramamento era culpa da insuficiência? Pergunta se adiantou explicar o mecanismo do edema e do extravasamento de líquido? Nã nã nã, porque na semana seguinte perguntei se o velhinho já tinha saído do hospital, como estava, e ele respondeu: ele vai acabar tendo a mesma coisa de novo, porque insiste em capinar sem camisa, suado, ao ar livre. AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!!!
Como me irrita essa mania de não ligar o ar-condicionado porque senão dá congestão quando você sai no calor! Não adianta ver todo ano na TV os islandeses todos cozinhando na água quente dos geisers enquanto a temperatura do ar é gélida; não adianta contar que em tudo que é churrasco no Brasil neguinho faz sauna e pula direto na água fria da piscina, muitas vezes depois de uma feijoada básica; não adianta dizer que tudo que é americano só bebe líquido se estiver entupido de gelo, e isso não altera a incidência de “congestão” nos EUA. Não adianta, porque discutir com camponês é perda de tempo total e absoluta. Impressionante como neguinho aqui detesta uma novidade! Já falei pra Arianna mil vezes pra parar de reclamar das alfaces furadas pelas lesmas, e botar um copo de cerveja na terra como eu já cansei de ver na TV e de ler em revistas e na internet: as lesmas aparentemente são chegadas numa loura, e vão todas serelepes na direção do copo, achando que vão tomar todas, mas acabam se afogando. Poxa vida, quê que custa tentar, pelo menos pra ver se funciona? Não, jacaré. Melhor continuar reclamando das alfaces furadas, porque é assim que se faz há séculos. Vou te dizer, que canseira, viu.