Com todos os acontecimentos inéditos desse ano acabei esquecendo de contar sobre mais um: couchsurfing.
A coisa começou com o Brendan, lá no trabalho. Entre uma aula e outra ele sentava no meu computador pra checar e-mail e um dia ele perguntou se eu conhecia esse site. Olhei e gostei da idéia: quem tem um couch, um sofá, leia-se um lugar pra dormir, o oferece a quem quer viajar fora do esquema de hotéis etc. E quem viaja procura um couch no site. Porque a idéia não é só economizar, mas conhecer o estilo de vida de quem mora no lugar, o que é um tipo de turismo completamente diferente.
Em abril me registrei e montei meu perfil, e mesmo avisando que eu não moro exatamente em Assis choveram pedidos.
Nossos primeiros hóspedes eram neozelandeses (mais tarde alugaram um apartamento em Perugia por um mês e nos convidaram pra jantar), depois dois brasileiros que moram na Alemanha (muito gente boa), depois um casal do Alasca (pior: de uma mini-ilha no Alasca, maneiríssimo), depois uma alemã biruta (que me deu aula de ioga e deixava as calcinhas penduradas na grade da varanda pra secar), depois um casal de havaianos (os mais sem sal), depois um de franceses (ótima surpresa, dois amores – não tinha foto no site e quase desisti de hospedá-los), depois um casal que mora em Barcelona (ÓTIMOS, rolou logo aquele clique, sabe como é? E ainda ganhei uma consulta de graça, porque ela é dermatologista), e ontem um casal de poloneses.
Nossos amigos, ortodoxos como todos os italianos, acham que a gente é doido. Jamais abririam a casa pra gente que não conhecem. Mas, tipo assim, o objetivo é EXATAMENTE conhecer gente nova! Gente de lugares estranhos, não necessariamente gente que também vai te hospedar em troca, até porque a tal mini-ilha no Alasca não é exatamente fácil de acessar. Levamos todo mundo a uma sagra – do ganso, da cebola, de Bastia, do santo não sei qual – e todo mundo adorou. Falamos muito de comida, claro, mas aprendi muitas outras coisas também, com todas essas pessoas. Fiquei sabendo que a noção de espaço é uma coisa diferente pra quem nasceu no Havaí, porque a estrada um dia acaba, no mar (o garoto adorava dirigir na Itália e se deixava ficava o dia todo no carro, só pelo prazer de dirigir sabendo que the road goes ever on and on); que na Polônia o almoço se chama segundo café da manhã e que se janta às cinco; que o salmão do Alasca são outros 500; que salada na Nova Zelândia é em camadas; que é possível viver de figos (a alemã biruta passava a manhã pendurada na figueira aqui em frente ao prédio e praticamente só comia aquilo o dia inteiro); como fazer uma BOA tortilla de batatas espanhola. Entre outras coisas.
O que nos surpreendeu, mas o que deveríamos ter esperado, é ver que tem tanta gente legal no mundo. Gente que viaja muito, que tem o que dizer, que faz perguntas, e que sobretudo tem o mesmo ritmo que a gente tem. TODOS os nossos hóspedes perguntaram logo de cara onde ficava o supermercado mais próximo, compraram água mineral pra repôr o que beberam, tomavam café na rua, faziam a cama todos os dias, deixaram o quarto exatamente como o tinham encontrado, pediram vassoura pra varrer, usaram uma toalha só quando ficaram somente uma noite. E principalmente TODOS se enfiaram na cozinha pra lavar a louça e me ajudar, quando comíamos em casa. Exatamente como a gente, eu e Mirco, faz em tudo que é lugar. Porque eu prefiro ser meio enxerida e me enfiar na cozinha dos outros do que deixar louça pros outros lavarem. Todo mundo deduzindo onde estava tudo ou simplesmente abrindo armários pra procurar, sem perder meu tempo com perguntas idiotas, fazendo o que tinha que fazer e improvisando quando não tinha outro jeito, contando histórias interessantes e ouvindo as nossas, ficando pronto pra sair rapidinho senão se chegava tarde nas sagras. Gente dinâmica, rápida, esperta, sem frescura, SEM FRESCURA!, open-minded, no-bullshit.
E aí eu cheguei a uma conclusão: ser dinâmico é FO-DA. Eu adoro ser dinâmica. Eu adoro ser open-minded. Eu adoro ser no-nonsense, absolutamente no-bullshit. Adoro precisar só de dez minutos pra tomar banho e me arrumar pra sair. Adoro ser capaz de cozinhar e limpar ao mesmo tempo. Adoro saber deixar as coisas do jeito que eu encontrei. Eu sou foda. O Mirco também.
A Itália não é lugar pra gente, cara. Um lugar onde pra maioria das pessoas um macarrão relativamente razoável mais ou menos assim assim vira um problema de tirar o sono realmente não dá. Não dááaaaa!