A Cora escreveu um post sobre o discurso de Gettysburg e os comentários do povo acabaram sendo sobre história em geral. Também deixei meu pitaco, mas como depois fiquei matutando resolvi trazer o assunto pra cá.
Eu gosto de história, vocês sabem. Prefiro os períodos anteriores à pólvora, porque depois fica tudo muito Hollywoodiano, mas estudar fatos mais recentes nos faz entender muita coisa. Agora na faculdade fizemos Storia Contemporanea, de 1848 até a WWII, um período que eu acho chatérrimo mas que é muito esclarecedor. Como são coisas que todos nós estudamos na escola, é só dar uma revisão com um enfoque mais adulto, sem grandes traumas. O livro é enorme, mas como é uma releitura não fica muito pesado. Então nem pensei muito na coisa até que a Nicoleta, minha colega romena, veio comentar que estava apavorada com a prova (que eu não fiz ainda porque tive enxaqueca nas 48 horas anteriores e não conseguia nem abrir os olhos, quanto mais estudar) pois não sabia por onde começar. Como assim, Bial, perguntei. Foi aí que ela me lembrou que, sendo da minha idade, ela foi à escola no período da ditadura, e por isso só aprendia a história “photoshopada” da Romênia, com o Ceausescu como personagem principal e salvador da pátria. Hoje ela é cidadã européia e não sabe BISSOLUTAMENTE NADA sobre a história da Europa. Cazzo, não sabe nada de verdadeiro nem mesmo sobre a história do seu próprio país. Parece uma besteira cuja conseqüência mais grave é simplesmente precisar de mais tempo pra estudar pra prova, mas cara, é um lance MUITO sério.
Veja bem: não só fica mais difícil entender o que está acontecendo, ter uma certa visão do futuro e sobretudo sacar por que as coisas são como são hoje na Europa e no mundo, mas até coisas (relativamente) menores ficam prejudicadas. Fica faltando uma fatia enorme de bagagem cultural que ela deveria ter em comum com outros europeus (e ocidentais em geral, visto que a gente estuda basicamente história européia na escola), mas não tem. Quando alguém me diz que se chama Mario eu já sinto falta de alguém com quem compartilhar a piada amarela (Mario? Que Mario? Hahahaha etc), imaginem no caso dela, que não sabe nada sobre Napoleão, por exemplo! Vocês têm idéia do tamanho da lacuna cultural que essa mulher tem? Conseguem imaginar como seria a vida de vocês se não soubessem quem foi Napoleão? Quantas referências culturais ficariam faltando? Não teriam gostado de Master and Commander. Não teriam entendido os livros do Temeraire (repito: leiam, leiam, leiam). Não entenderiam o contexto, a história, o motivo, a importância de metade do acervo de qualquer museu ocidental. Do fusuê do 14 de julho em Paris teriam reparado só nas roupas da Carla Bruni. De quantas conversas, aulas, palestras, filmes, livros, fotos, quadros interessantes ficariam privados? Cara, é um pedaço ELORME de vida que simplesmente não está lá!
Tremo só de pensar. A vida sem saber não tem a menor graça.