Acordamos com o Edwin batendo na porta perguntando se não estávamos com fome, porque ele estava. Tomamos café e depois saímos pra um passeio a pé pela Ciutat Vella. Achei tudo lindo, muito diferente da Itália. Passamos por pracinhas deliciosas, sempre cheias de ripongas, por vielas estreitas, por igrejas escondidas. Entramos na Iglesia de Santa Maria del Mar, onde estava rolando um casamento, e continuamos passeando pelo bairro Born. Tudo muito interessante. Fomos até La Rambla e entramos na Fnac da Plaça Catalunya e aproveitei pra comprar uma Mafalda, outro Pérez-Reverte e um outro romance histórico de um autor que não conheço. Lá pro que seria a nossa hora normal de almoço o Edwin começou a franzir o nariz tentando adivinhar se ia ventar à tarde ou não; decidiu que sim e que portanto eles iam à praia pra ele fazer windsurf. Nós continuamos rodando pela La Rambla, admirando a fauna local e os muitos turistas torrados pelo sol, e quando bateu a fominha viramos à esquerda num lugar que o Mirco conhecia e fomos catar um lugar pra comer. Os menus dos bares de tapas estavam ótimos, mas nenhum tinha ar condicionado, e tava MUITO MUITO calor. Então acabamos caindo na heresia: almoçamos num restaurnante italiano, com o ar condicionado soprando na nossa cara. Paciência.
Depois do almoço o meu bebezão precisa dormir, então paramos no Passeig de Sant Joan, por onde tínhamos passado ontem voltando pra casa, e sentamos na sombra. Os bancos estavam quase todos tomados, ou por velhinhos, ou por pais com crianças em carrinhos, ou por gente com cachorros. Fiquei lendo a minha Mafalda enquanto o Mirco dormia feito um mendigo no banco, e umas duas horas depois levantamos e fomos até a Sagrada Familia.
Na praça em frente um grupo de estudantes portugueses tocava e cantava músicas espanholas; tinha até um contra-baixo. Não entendemos o porquê da coisa, porque se ficássemos lá pra investigar perderíamos o horário pra visitar a igreja, e fiquei curiosa. Ah well.
Bom, acho que tudo o que há pra se dizer sobre a Sagrada Familia se resume em uma frase: é a construção mais bizarra do planeta terra. Não tenho a menor idéia do tipo de droga que o cara usava, mas era uma coisa muito muito power, porque vai ser esquisito assim lá em casa, vou te contar. Não é exatamente bonita, e nem pode, sendo tão não-convencional, mas é interessante, e vale a pena visitar. Qualquer foto que você achar no Google vai ser melhor do que as minhas, mas de qualquer maneira vá lá no Flickr dar uma olhada. Compramos os souvenirs habituais (marcadores de livros, ímãs de geladeira etc) e voltamos pra casa, a pé.
Anna e Edwin estavam prontos pra sair (leia-se com as mesmas roupas com as quais saíram de manhã, chinelo e camiseta): rolava uma festa de despedida da Irene, uma das meninas que conhecemos ontem, que é basca e depois de 2 anos em Barcelona está voltando pro norte. A festa era na casa do Luís, estudante de Direito que mora num apartamento microscópico, cuja varanda nua é maior do que a casa propriamente dita, mal localizado pacas mas tem vista de frente pra Sagrada Familia. Iluminada de noite é um espetáculo de se ver.
O legal dessa coisa de Couchsurfing é que você participa da vida quotidiana das pessoas. Você já foi a uma festa de espanhóis? Tenho certeza que não. Pois eu fui :P A festa era tipo americana, cada um levava uma coisa. Mas o lance estranho, além da molambice generalizada, era que cada um levava QUALQUER COISA, tipo o que tiver no armário, inclusive pacotes de batatas fritas já abertos, sanduíches com recheio faltando porque acabou a maionese, etc. A coisa da batata aberta deixou o Mirco chocado; italiano, especialmente da roça, é cheio de mumunha com essas coisas sociais e quando você come na casa de amigos leva sempre uma planta ou uma garrafa de vinho bom, mesmo que sejam amigões do peito e que o jantar seja só uma pizza comprada na esquina. Nós estávamos cansadíssimos e o povo nada de ir embora; a música tocando, o pessoal todo amontoado na varanda, um calor do cacete, gente fumando por todos os lados, gente que vinha nos cumprimentar com beijinhos (o Mirco tem horror e dá a mão pra apertar, eles ficam meio sem saber o que fazer), gente que vinha puxar papo falando em catalão, que obviamente não entendemos. O pouco espanhol que aprendi na faculdade e lendo foi-se todo nessa noite; o Mirco fala espanhol argentino, que me dá nos nervos, e por isso evita usá-lo na minha presença, de modo que ficamos ligeiramente isolados num canto, detonando a tortilla de patatas da Anna e os sanduíches de queijo e presunto que a Silvia levou. SÉCULOS depois o pessoal resolveu ir pra discoteca. Era uma da manhã. Céus! Eu não agüento nem mais meia hora acordada, Anna, socorro! Pegamos as chaves, montamos num táxi e voltamos pra casa.