de novo

Queria postar sobre isso ontem, mas me embolei com o trabalho e não deu. Foi melhor assim, porque hoje de manhã fiquei sabendo de umas coisas que confirmam que não é maluquice minha.

O lance é o seguinte: essa semana o governo deu o pontapé inicial ao projeto que coloca militares nas ruas de algumas grandes cidades italianas, teoricamente pra aumentar a segurança dos cidadãos. A minha dúvida não era se os militares realmente resolveriam o problema ou não (é LÓGICO que não), mas se era necessário. A resposta também é não, do meu ponto de vista. Apesar de não morar em cidade grande, ocasionalmente vou a Roma e não percebo, nem de longe, aquela sensação de perigo iminente e o instinto de fight or flee que você sente no Rio assim que bota o pé fora de casa. As histórias de crimes que aparecem nos telejornais me parecem incrivelmente sensacionalistas, nunca vêm acompanhados de estatísticas e pra mim são simplesmente coisas que acontecem em qualquer grande cidade do mundo. Mas eu achava que era só eu.

Aí, hoje, no telejornal da La7 (o único canal aberto que não pertence ao Berlusca nem é indiretamente controlado por ele), deram umas estatísticas sobre as causas de morte na Itália. Em primeiro lugar, tchan-tchan-tchan-tchan, acidentes de trânsito. Lógico. Mais pra baixo na classificação temos o que eles aqui chamam de “mortes brancas”, mortes de trabalhadores no local de trabalho devido a negligência ou por não usar equipamentos de segurança. O primeiro detalhe é que as mortes no trânsito são OITO VEZES mais numerosas do que os homicídios, e as mortes brancas, se me lembro bem, três vezes mais numerosas do que mortes matadas. O segundo detalhe é que essa mesma pesquisa, feita por um centro estatístico de todo respeito, mostra que o número de homicídios vem caindo constantemente nos últimos anos. Se além disso você considerar que uma parte importante das mortes matadas estão relacionadas com a máfia, coisa que o exército não conseguiria resolver nem rezando pra todos os santos do mundo, vê-se que os soldados estão nas ruas só pra aparecer mesmo e pros velhinhos acharem que estão superseguros, que é exatamente o objetivo do governo.

Mesmo que o exército conseguisse efetivamente resolver alguma coisa (e já sabemos que não consegue), veja bem: em uma cidade como Roma a proporção é de um soldado pra cada 7.500 habitantes. Mó ajudona, né não! E mesmo que resolvesse, a presença deles é temporária. Mandemos os criminosos em hibernação, e que só acordem depois que o exército for embora!

Militarizar cidades que não estão em estado de emergência de criminalidade nem em guerra civil é a coisa mais demagoga que existe no mundo. Mas tá todo mundo achando ótimo, claro. Enquanto isso o governo faz cortes nos gastos com a polícia; policiais distribuem folhetos de protesto nos engarrafamentos nos pedágios (todo mundo indo al mare), mas isso não aparece nos canais da Rai, muito menos, é claro, nos do Berlusconi.

Esse país tá me cansando, não sei se vocês já perceberam.