relou!

Dessa vez a desculpa pro sumiço é o trabalho mesmo. Tudo o que eu não trabalhei no mês passado, que foi devagar quase parando, parece ter se acumulado, triplicado, em novembro. Vida de freelance é assim mesmo, não posso reclamar, só que vai chegando o final do mês e vai me dando uma canseeeeira…

O país está em turmoil. Não só por causa da crise, mas por problemas de política interna mesmo, pra variar. As últimas:

. Em um país normal, não seria necessário manter um órgão de vigilância pras televisões do governo, mas aqui precisa, porque a manipulação de informações é uma coisa estratosférica. Então a RAI tem uma comissão de vigilância pra que se assegure que as informações sejam imparciais (aham). Tradicionalmente, e muito compreensivelmente, o presidente dessa comissão é escolhido pela oposição. Nada mais óbvio, parece-me, sobretudo em um país em que o premier é dono dos outros três canais de televisão, que não estão sujeitos a nenhum tipo de controle em termos de imparcialidade, logicamente. Só que esse ano o Berlusconi não gostou do candidato que a oposição escolheu. Bateu o pezinho de anão e disse assim mesmo, “esse não rola”. E acabaram plantando um fulano que oficialmente é de centro-esquerda, mas que é um conhecido vira-casaca, marionetezinha básica, e a oposição se revoltou. Conversou-se e chegou-se à conclusão que quem merece o cargo é um outro fulano, de OITENTA E CINCO ANOS (lembrem-se de que estamos falando de uma direita que propagandeou a “mudança, a renovação” do corpo de políticos do país durante a campanha eleitoral. Berlusca tem 73 anos.). Só que o cara que foi eleito inicialmente também bateu o pé e disse, daqui não saio, daqui ninguém me tira. Em um país normal, nada disso teria acontecido, mas na Bota as providências pra atenuar a crise ficam de lado enquanto neguinho perde tempo discutindo sobre a comissão de vigilância da RAI.

. Uma escola desabou não sei onde lá no norte, se não me engano. Um estudante morreu e vários ficaram feridos. O comentário do Berlusconi sobre essa tragédia foi a seguinte pérola: foi uma fatalidade, poderia ter acontecido com uma casa ou um prédio qualquer. Só que não é bem assim que a banda toca: descobriu-se que a estrutura da escola não era fiscalizada há não sei quanto tempo e não passaria em nenhum teste de “habite-se” (sei lá como se diz “agibilità” em português) mais rigoroso. Pior: METADE, eu disse METADE das escolas italianas, e estamos falando de creche a escola superior, estão em condições precárias em termos estruturais. Em algumas regiões essa proporção chega a 80%. Fatalidade my ass.

. Ainda o Cavaliere, porque infelizmente ele é onipresente mesmo, vai gostar de aparecer assim lá na casa do caráleo. Sobre a crise, afirmou que parte da culpa é da sociedade, que precisa continuar consumindo, ora bolas. A culpa, segundo ele, não é dos bancos (ele é dono de banco), nem das indústrias (ele é dono de várias indústrias) e muito menos do governo. E a solução não está nas mãos de nenhuma dessas entidades, mas nas das pessoas, que precisam comprar mais. Aí o jornal L’Unità faz uma capa sensacional hoje: “Comamos brioches”. E Berlusconi diz que a imprensa (assim como os juízes, cujo poder foi vergonhosamente reduzido, como os sindicatos e como a oposição em geral) está fazendo complô contra ele.

Olha, eu juro que quando esse homem morrer vou tomar um porre de champanhe que vão ter que chamar o Iron Maiden pra tocar dentro do meu ouvido pra eu sair do coma alcóolico.