Vocês tão carecas de saber que eu praticamente não vejo televisão. Mas um dos nossos programas preferidos é Le Iene (que nada mais é do que o nome italiano de Reservoir Dogs. Don’t ask.), que passa às terças-feiras. Seguem a linha de jornalismo investigativo, mas sempre com muito humor e sacaneando muito os políticos. Ontem eles se superaram.
O lance é o seguinte: foi aprovada uma lei idiota contra a prostituição (todas as leis contra a prostituição são idiotas) cujo texto a um certo ponto diz que é proibido exibir-se em público usando roupas inequivocavelmente provocantes e cujo intuito óbvio é atrair clientes para a realização de meretrício. A repórter de Le Iene, então, fez uma coisa ABSOLUTAMENTE SENSACIONAL: foi aos estúdios da RAI e dos outros canais e pegou emprestadas as roupas que as Veline, Letterine etc (equivalentes das nossas chacretes) usam em programas atuais e do passado. Não sei se estou me explicando direito: ela foi ao setor de figurino dos diferentes canais de televisão e pegou roupas que todo o santo dia aparecem na nossa televisão, pois todo programa aqui tem mulheres seminuas rebolando coreografias idiotas num cenário tipo Qual É A Música. Vestida de top e microshort ou microsaia transparente cheia de canutilhos e bota de salto agulha e cano altíssimo, plantou-se na beira de uma estrada em Roma.
Pararam váaaaaarios carros, até porque só tinha ela, onde antes muitas prostitutas batiam ponto. Os caras paravam, perguntavam “quanto custa”, e ela, inocente “quanto custa o quê”, ao que respondiam “como o quê, quanto custa pra trepar”. Ela, muito cândida, respondia que estava esperando o namorado ou uma amiga pra ir ao cinema. Alguns mandavam-na praquele lugar, outros insistiam. Até que ela começou a ser parada pela polícia. Ela fez o teste várias vezes, com várias roupas diferentes, e foi parada pela polícia todas as vezes. Quando diziam que ela não podia ficar na rua vestida daquele jeito, ela respondia, “mas o senhor já viu essa roupa milhões de vezes…”.
Eu dava gargalhadas. Todos os nossos couchsurfers ficaram horrorizados com o tamanho minúsculo das roupitchas dessas beldades, quase todas namoradas de jogadores de futebol, e com a onipresença dessas garotas, inclusive em programas onde não tem o menor cabimento botar mulher rebolando. A reportagem chamou as chacretes de prostitutas com uma sutileza invejável. Genial.