TMI!

Too much information! Estou ficando maluca!

A Fernanda deixou uma dica literária nos comentários outro dia, e ainda por cima fez a gentileza de me mandar o livro, que li em uma noite insone. Chama-se Skinny Bitch e tenho que admitir que odiei, pero no mucho.

Resumindo a ópera, elas dizem que pra emagrecer precisa virar vegano. Mas vamos por partes.

Odiei porque a linguagem é extremamente americana, extremamente arrogante, extremamente cheia de palavrões (olha que pra eu reclamar de excesso de palavrão é porque a coisa é excessiva MESMO), extremamente know-it-all, extremamente tudo de ruim. Não quero ser chamada de bitch nem de brincadeira e achei muito, muito desagradável a mania de chamar de idiota todo mundo que não segue os preceitos delas.

Odiei porque achei que o livro está cheio de incongruências, dando como certas informações que só estão certas na cabeça das autoras, sem absolutamente nenhuma referência científica (a parte dedicada à bibliografia só dá URLs, nenhum artigo peer-reviewed). Odiei porque elas não levaram em consideração coisas gritantes como o French Paradox e o Italian Paradox, pra não falar das dietas orientais – se produtos de origem animal fizessem tão mal à saúde assim, não existiria nenhum europeu ou asiático (fora os indianos) vivo na face da Terra. Se comer queijo, qualquer queijo, engordasse, como elas dizem de uma maneira muito agressiva em um certo ponto do livro, a França e a Itália já teriam desaparecido do mapa. Se pouco carboidrato fosse tão nocivo à saúde, os esquimós não teriam durado uma geração sequer. Se elas consideram qualquer carne carcaça, pois entra em putrefação assim que o animal morre, então por que não aplicar o mesmo raciocínio às plantas também, pois começam a morrer quando cortadas? Tudo muito dois pesos e duas medidas, sabe, e totalmente sem embasamento científico, o que me irrita profundamente, lógico, eu sendo totalmente anti-fé. Se querem que eu aceite alguma coisa, que me dêem uma explicação científica; esoterismo ou a Verdade Revelada por um ser superior (no caso, elas, teoricamente sabichonas) comigo não colam.

Mas, como a grande maioria dos livros, obviamente excluindo Paulo Coelho e Dan Brown, há algo a se aprender nesse aqui. Apesar do tom sempre desagradavelmente agressivo, elas mencionam algumas verdades sobre o tratamento dos animais. Não só em termos de crueldade (essas partes eu pulo porque me dá vontade de vomitar), mas também da quantidade de substâncias químicas que acabam chegando na gente através dos produtos animais que comemos. Tudo bem que o caso americano é bem extremo; na Europa há leis severas quando o assunto é criação de animais, e eles são muito menos tolerantes aqui com alimentos geneticamente modificados e coisa e tal, e ainda se come de maneira muito mais tradicional, de modo que esses horrores que elas descrevem nos EUA precisam ser arredondados pra melhor quando se fala de Europa. Mas de qualquer forma todos esses são motivos válidos pra deixar de comer produtos animais, ou pelo menos a carne.

Eu não consigo, não consigo MESMO, não pretendo nem tentar porque já sei que não vai dar certo, viver sem ovo, mel e laticínios. Simplesmente não dá. Como ovo TODOS OS DIAS, ovo fresquinho das galinhas da minha sogra, que vivem num galinheiro grande e comem alface e cascas de fruta, felizes da vida. Quando as galinhas dela entram em greve, compro ovos orgânicos no supermercado, garantia de que pelo menos a galinha que os botou não come exclusivamente cereais ou ração de origem animal, coisas que ela não foi programada pra comer, mas sim vegetais. Não posso saber se a galinha foi criada no chão em vez de em gaiolas, porque ou você escolhe orgânico OU no chão (os ovos aqui vêm com um carimbo com um código indicando se são biológicos, de galinhas criadas na terra, de galinhas criadas em gaiola, qual o criador, em qual província etc, é bem legal), mas já é alguma coisa. Compro verduras e legumes orgânicos sempre que possível – nem sempre tem nos supermercados e os mercadinhos onde os produtores vendem diretamente ao consumidor ficam totalmente fora de mão pra mim, tenho que estacionar longe e ir andando, e nesse frio sinceramente não rola. No verão eu vou de bicicleta até a praça, proibida pra carros, e compro no hominho que planta ele mesmo, em pequena escala. Eu sinceramente não noto nenhuma diferença no sabor, mas pelo menos sei (ou espero) que ele use menos produtos químicos.

Também como queijo TODOS OS DIAS, no café da manhã. Quase sempre é um pedaço de Asiago ou scamorza pra derreter no pão, mas ao longo do dia às vezes também mando ver num cottage da vida no lanche, ou como proteína no jantar junto com espinafre no azeite e alho (juro que fica uma delícia). E tomo leite TODOS OS DIAS; simplesmente não consigo imaginar uma vida sem leite. Não é aquela coisa de “oh, se eu não tomar café de manhã eu não acordo”, ou “oh, se eu não tomar vinho no almoço parece que eu não comi”, esse negócio fanático que rola muito por aqui. Simplesmente acho a vida muito chata sem um copo de leite gelado com cacau sem açúcar. Chata, sabe, sem graça. Prefiro não viver sem.

Então vegano pra mim decididamente não rola, embora no caso delas haja a grande vantagem de poder comer porções maiores de carboidrato, porque senão você morre de fome. Mas não consigo, não quero nem começar.

Agora, ando paquerando o vegetarianismo há muito tempo. Em primeiro lugar porque realmente tenho pena dos bichos. Em segundo porque já como bem pouca carne mesmo, desde que vim morar aqui. Cortei a carne vermelha e de porco em outubro, quando comecei mais ou menos a seguir a dieta da psoríase, e não sinto a menor falta. Quero começar a cortar o frango também e ficar só no atum e no salmão, e gradualmente ver se consigo tirar tudo isso. Em terceiro lugar porque é facilmente compatível com a dieta da psoríase. Vai ser uma experiência interessante.

Amanhã ou depois falo do livro oposto a esse, o Deep Nutrition, que me deixou de boca aberta e acendeu aquela luz na minha cabeça, tudo fez sentido.

Beijomeliga.

9 ideias sobre “TMI!

  1. Letícia, sei exatamente o que é compulsão alimentar, pois passei a minha vida toda tentando controlá-la. Somente agora, no ocaso da vida (sniff) descobri que os carboidratos são os meus vilões. Descendo de italianos e ingleses e sou casada com descendente de libanês. Ora, pois: noves fora os ingleses, vão gostar de comer assim na Conchichina capitalista, tudo gira em torno da mesa, sua fartura e delícias além-mar. Como minha tireóide deixou de funcionar, as taxas de colesterol e triglicerídeos se descontrolam com facilidade. O jeito foi cortar a zero os carboidratos, doces, gorduras, mas fazendo todas as refeições em porções menores e dando mais ênfase às carnes brancas e peixes, com todos os temperos e ervas disponíveis. Consegui, em 1 mês equilibrar as taxas e perder peso. Foi bom porque descobri que a “minha compulsão alimentar” estava diretamente ligada à grande ingestão de carboidratos (açúcares)e sem a sua ingestão (ou quase sem) a fome realmente ficou controlada.
    Abbracci
    Tania

    • Tania, quando eu estive no Rio há dois anos frequentei algumas sessões dos Comedores Compulsivos Anônimos. A coisa me irritava um pouco porque tinha aquela coisa de pedir a uma força superior isso e aquilo, e coisa e tal, mas foi uma experiência interessante ouvir histórias de maluquices alimentares do mesmo calibre das minhas. Uma senhora, que estava sob controle há sei lá quantos anos, disse que só conseguiu controlar a compulsão eliminando “as farinhas” – ela continuava com o arroz e a batata, mas parou completamente de comer derivados de trigo. Na época eu pensei “que coisa triste!”, mas eu estou me segurando muito bem, obrigada, e passar uma semana inteira sem ataques de comilança descontrol foi uma vitória. Estou há quase dois meses sem trigo e durante esse tempo todo não tive NENHUM episódio de binge eating. E isso cortando só o glúten. Uhuuu!

  2. Oi Leticia! Leio seu blog ha trocentos anos, mas nunca escrevi nada. Sou vegetariana desde os 12 anos, por razões éticas mesmo. Vegan já tentei, mas realmente não rolou. Depois de me mudar para os States em 2007 engordei MUITO, sem me dar conta, claro…acho que não andar mais como andava na europa (morava em Milão antes de vir para cá) tb ajudou, obviamente!
    Em julho de 2010 resolvi fazer algo, já que as amigas cariocas daqui são todas lindas e magrelas…lentamente, sem cortar carbs, doces, nada disso..estas dietas malucas não adiantam para mim! Comecei a ir na zumba 2x por semana (eu detesto exercício!), e a controlar as calorias e porções. Comecei a preparar a comida que levo ao trabalho ao invés de levar as congeladas/processadas, no verão fazia bastante smoothies e saladas, que amo, no inverno sopas, e por aí vai…emagreci 10 quilos em um ano (devagarzinho!) e cheguei mais ou menos no meu peso ideal. Ainda faltam uns 2 quilos, mas sem neuras. Para manter continuo controlando as calorias, mas nunca cortei pasta…Ah, já ouviu falar do Miracle Noodles? Veja no youtube..é um miojo de 20 calorias, feito de tofu. O povo fala que é horrível, mas fiz com uns legumes, estilo “chinês” e nem achei tão ruim não. Escolha o que funciona melhor para vc! Beijocas

    • Eu gosto de malhar mas obviamente gosto muito mais de fazer outras coisas e adoraria não precisar perder tempo fazendo exercício. Infelizmente não dá. Como eu respondi ali ao comentário do Roberto, redução gradual pra mim não funciona porque sou drogada de comida – MESMO. Simplesmente preciso cortar completamente certas coisas que desencadeiam a minha compulsão, porque senão NUNCA vou conseguir comer direito. Como preciso dar um jeito na minha alimentação pra ver se consigo controlar a psoríase, é questão de achar um caminho pra chegar na capacidade de me controlar. Por enquanto ainda não achei.

      Não conheço o Miracle Noodles não, mas como tenho pavor de tofu, acho difícil eu conseguir encarar :P Mas vou procurar, fiquei curiosa :)

  3. Eu tambem estou nessa de querer reduzir a carne. Nao quero virar vegetariana nem vegan porque nao gosto da ideia de ser proibida de comer uma coisa PARA SEMPRE, acho meio d ogmatico/religioso demais. Ate refrigerante diet, que eh a pior comida do mundo na minha opiniao eu posso tomar, se quiser. Nao tomo, mas nao sou proibida.
    Gostaria de comer tendendo para raw vegan, que acho saudavel – e acho que cortar carnes eh bom porque nao eh sustentavel produzir carne para todo mundo comer proteina animal todo dia. Factory farms sao nada bacana, mas sao a maneira pela qual a industria atende essa demanda alucinada por carne.

  4. O italiano médio (inclusive eu) lendo estas coisas pensa, “ué, mas só comer normal não dá?” – que traduzido significa, mais ou menos, que se você comer de tudo, em quantidade limitada, não vai pegar peso :p

    • Isso vale pra pessoas normais, Roberto :) O viciado em comida é como o viciado em droga, não existe “só um pouquinho de cocaína”, assim como não existe “só um biscoitinho”. Se você botar um pacote de biscoitos na minha frente e me mandar comer só um, eu talvez até consiga, mas vou ficar o dia INTEIRO pensando no resto do pacote, e na primeira oportunidade que tiver vou entrar num mercado, comprar um pacote e devorar em dez segundos. Infelizmente preciso ficar totalmente longe das coisas que não consigo me controlar pra comer de maneira normal. Mas na verdade a questão é mais profunda, no meu caso em particular o emagrecimento não é o único fator importante; a psoríase é um problema de saúde sério que eu preciso absolutamente resolver, e estou convencida de que só vou resolver através da alimentação.

  5. Eu já paquerei o vegetarianismo por 5 anos e fiquei sem comer carne, se não peixe e frutos do mar nesse período.
    Voltei a comer carne e peso… aham 10 kgs a mais, mas também se passaram 10 anos, várias gestações e duas filhas lindas comigo. Eu acho que saber dosas a QUANTIDADE de qualquer coisa é a chave para comer e ser saudável. Não adianta mesmo deixam de comer carne pois Nutella é vegetariana né? :) boa sorte!!!!

    • Criss, no caso do livro elas falam mesmo de virar vegano pra emagrecer, mas no meu caso seria mais pra saúde em geral mesmo. Vou tentar me explicar melhor no próximo post…

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