Não contente em escrever aquele trambolhão de post xicante sobre a Davis, cá estou novamente falando sobre o segundo livro do ano, que eu achei que não cabia no desafio, mas ORA, ORA, ORA, eu estava enganada, cabe sim! Cabe na categoria 12, livro vencedor de algum prêmio, pois ganhou o British Book Awards! Rá! Dois já foram, faltam 22, dois patinhos na lagoa, hohoho.
Eu tava de olho nele há um tempo, porque a safada da Amazon tava jogando essa sugestão na minha cara há meses. Resisti bravamente por motivo de: TENHO LIVROS DEMAIS ÇOCORR. Até que a belíssima lindíssima maravilhosíssima Vevila veio ao meu resgate e largou esse livro na minha mão quando nos encontramos em Londres dizendo simplesmente “leia porque você vai gostar”. Eu atualmente tô fazendo com hype de livros a mesma coisa que faço com hype de filmes: fujo de sinopses assim como fujo de trailers, então não tinha a menor ideia do que esperar.
Senhores… Tinha MUITO tempo que um livro não me pegava desse jeito. Devorei em três dias, perdi horas de sono, deixei de fazer faxina, atrasei o almoço, atrasei um artigo pra pós, sonhei com ele. Porque assim, a tetralogia napolitana da Ferrante me pegou demais pela história e pelo desenvolvimento das personagens no ano passado, mas como eu comentei (estou com preguiça de ir buscar os links, vão lá ver nos posts de dezembro), ela não é, pra mim, uma maga das palavras. Mas a Gail Honeyman é uma maga das palavras. Há anos – não lembro quantos, na real – um livro não me pegava pela forma tanto quanto pelo conteúdo tanto quanto esse me pegou. Leitura absolutamente deliciosa, e recomendo muitíssimo a leitura em inglês, se possível.
Trata-se de Eleanor Oliphant is Completely Fine (Eleanor Oliphant Está Muito Bem), de Gail Honeyman.
O lance é o seguinte, e PODE CONTER SPOILERS: a personagem principal é muito interessante, de uma maneira muito estranha e paradoxal. Porque ela tem um monte de conhecimentos aparentemente inúteis e prioridades muito ridículas (muitas das quais são minhas também hahahahahah) e ao mesmo tempo ZERO conhecimento de como o mundo funciona, e o motivo pra isso a gente vai desvendando aos poucos. A meu ver ela só é interessante porque existe um motivo pra isso, do contrário seria somente uma pessoa incrivelmente, irremediavelmente chata.
O vocabulário e o senso de observação que a autora bota, respectivamente, na boca e no cérebro da Eleanor são absolutamente deliciosos. Deleitem-se:
A young man with a grey shirt and a shiny tie was staring at the banks of giant TV screens. I approached, and informed him that I wished to purchase a computer. He looked scared.
‘Desktop laptop tablet,’ he intoned. I had no idea what he was talking about.
‘I haven’t bought a computer before, Liam,’ I explained, reading his name badge. ‘I’m a very inexperienced technology consumer.’
He pulled at the collar of his shirt, as though trying to free his enormous Adam’s apple from its constraints. He had the look of a gazelle or an impala, one of those boring beige animals with large, round eyes on the sides of its face. The kind of animal that always gets eaten by a leopard in the end.
This was a rocky start.
Mais não posto, senão é spoiler. A história é uma delícia, o desenvolvimento das personagens é ótimo, a linguagem é maravilhosa, os diálogos são fantásticos, é um primor de livro. Recomendo DEMAIS da conta.