Sábado eu e Leguinho tivemos uma experiência meio surreal, ou exotérica, como dizem os inguinorantes. Fomos correr de manhã cedo, mas tava uma neblina impressionante. Nunca tinha tido nenhuma experiência neblinal. Achei muito estranho correr em meio às brumas, com visibilidade baixa, uma umidade dolorida, um cheiro muito particular. Pra me sentir em Avalon só faltava a maluca da Viviane (e o lago, e os barquinhos, e os sinos do convento, e… não, não tinha NADA a ver com Avalon, mas enfim.).

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Mas o mais surreal mesmo foi o Fabrizio o Louco me presenteando com uma trufa negra, que custa tipo 500 dólares por quilo, ou mais. Não entendi, mas também não recusei. Repassei a bichinha pro Ettore e pra Arianna. Gosto de trufa, mas ultimamente tenho um eterno sabor de nada na boca, não sinto gostos, nada me agrada ou satisfaz, então em vez de desperdiçar a preciosidade, a dei a quem sabe apreciá-la. Fiz o mesmo com a porchetta que o Ettore me trouxe ontem: dei de presente à Carmen. Porchetta feita em casa é boa demais, mas não me sobrou serotonina nenhuma, estou incapaz de apreciar. Carmen ficou toda boba : )

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E ontem foi um outro dia estranho. Foi o dia da Marcha pela Paz; um monte de gente que veio a pé de Perugia até Assis, fazendo a maior bagunça e sujando tudo, como em toda manifestação boba que não leva a nada. A mala da mulher do Fabrizio veio nos pegar, a mim e a Carmen, lá pro meio-dia, porque de ônibus não rolava, já que os horários foram todos alterados e sozinhas não chegaríamos jamais a Assis. Fabrizio foi embora logo que chegamos, entao ficamos eu, Claudia e Carmen trabalhando sozinhas. Sem ele trabalhamos muito melhor, sem stress; e de fato o faturado do dia foi o mais alto dos últimos meses. Tinha muito americano passeando, e normalmente gastam muito, compram muito azeite e vinhos caros.

A loja fica na Piazza del Comune, e o prédio do lado oposto da praça é a Pinacoteca Comunale, onde de vez em quando rolam mostras, exposições, etc. No sábado tinha vindo à loja cumprimentar o Fabrizio o fotógrafo da mostra que está rolando agora na Pinacoteca. É um senhor que faz fotos bonitas, mas na minha opinião coloridas demais, em lugares como Burundi, Mali e outras coisas estranhas. Ontem ele passou na loja de novo, quando o patrão já tinha ido embora, e nos convidou a ir ver as fotografias. Fui eu só, e ele ficou horas me explicando tudo; grudou no meu pé e não largava mais. Fez questão de me fotografar, eu com cara de choro (minha prima já tinha me ligado e eu já tinha chorado rios), sem vontade de ajeitar nem a alça do sutiã, que provavelmente apareceu na foto, sempre gorda, embora ultimamente tenha perdido já uns 7 quilos, e ele me fotografando. Sábado vou ver como ficaram as fotos. Ainda me deu uns textos pra traduzir, umas explicações sobre as fotos que ele pretende distribuir aos turistas estrangeiros que entram pra ver a mostra, que tem entrada franca. No final das contas ainda me convidou pra jantar, a múmia. É mole? Tudo bem que depois da experiência lanterneirídica preciso de um homem maduro, mas não caído do galho já…

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Hoje pro almoço, já que estou precisando de uma carninha, vou fazer tagliatelle alla zingara, mas com linguiça em vez de bacon. Uso tagliatelle feitas de massa com ovo. Tiro a pele da linguiça, refogo com alho e pimeita-do-reino como se fosse carne moída, corto em tirinhas (ou em fiammiferi, palitos de fósforo, como se diz aqui) umas cenouras, e cozinho levemente as bichinhas com espinafre nesse refogado linguiçal. Massa al dente, saltata in padella, queijo parmesão por cima. Pronto.