Chegando em casa ontem, peguei o Legolas e fui dar um pulo na praça comprar mais meias, dessa vez compridas, pra usar com os mil pares de botas que eu tenho. Agora sou a feliz proprietaria de um par laranja, verde e bordeaux com alces, um outro xadrez em tons de laranja, um listrado em tons de rosa com uma menininha no alto, uma com listras azuis e um pinguim saltitante, e a vermelha e amarela com patinhos, que estou usando hoje. Uhu.

Aí me deu crise de tédio depois que cheguei em casa me sentindo o cocô do cavalo do bandido, e fui passar roupa. Passei até as fronhas, coisa que eu nunca faço – passar roupa é a tarefa doméstica mais odiosa do mundo, e normalmente o faço uma vez a cada 15 dias, porque lençol eu nao passo nem que a vaca tussa, e a maioria das minhas roupas é wash and wear. Só que a minha máquina de lavar, cortesia da Arianna, tem uma centrífuga que é um detonador de roupas. Sai tudo lá de dentro como se tivesse saído da boca do cachorro (não o meu cachorro, que o Legolas não tem o hábito de destruir coisas). Não posso mais deixar a bicha funcionando enquanto estou fora de casa, porque tenho que estar perto dela pra desligar a centrífuga depois de umas duas rodadas. Levei HORAS pra esticar uma camisa de gola alta que eu amo, mas que, coitadinha, tava que nem papel alumínio re-esticado depois de ser amassado em forma de bolinha, saca? Pelo menos passou o tempo. Ainda levei o Legolas de novo no parque, voltei, nem jantei nada porque não tava nem com fome nem com vontade de comer, tomei meu banhinho e fui mimir.

E hoje já estou beeem melhor. Minha técnica de beber muita água pra fluidificar as odiosas secreções parece que funcionou. Dormi com dois travesseiros e nem morri sufocada durante a noite. Acordei outra!

O dia está lindo, já cozinhei o feijão pra amanhã, agora só falta temperar; já estendi a roupa no varal, já varri a casa e passei pano, já bebi muita água, já escutei Rita Lee, já li tudo que é blog que eu não conseguia ler porque tinha sempre algum mala aqui dentro do escritório me enchendo. Hoje me recuso a ensacar cartuchos. Hoje não quero fazer nada de útil. Vou ligar pra meia dúzia de clientes e o resto do dia vou passar respondendo a e-mails, pra aproveitar que os chefes estão de bobeira em Firenze. Hohoho.

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Ainda falando de cachorros. Outro dia a Carmen me dizia, muito espantada, como o Leguinho é educado, que nem me arrasta quando o levo pra passear. Espantada fico eu, quando alguém me diz uma asneira tipo “mas ele não me obedece!”. Ora bolas, só existe um dominado se existe um dominador. Se o cachorro não entende que o chefe não é ele, a culpa é do dono que se comporta como dominado. O Legolas é completamente alpha leader quando está com outros cachorros, mas dentro de casa o alpha leader sou eu, ora bolas. Quem manda no terreiro sou eu, e é ele que tem que me obedecer, ué. Muito simples o relacionamento. Eu digo, vai comer, ele vai. Vai dormir, vai, e ele vai, mesmo que a contragosto. Solta o tênis, e ele solta. Estamos no parque, eu estou congelando e decido voltar pra casa; basta chamar* e ele vem, enfia a cabeça sozinho na coleira, e vamos todos saltitantes pra casa. Só faltava essa, eu ter um cachorro tirânico! Tirana sou eu, eu, hein.

* Chamo assim: gatão, negão, cabrito, gostosão, maravilhosão, coisa preta, cachorrão, meu filho, garoto, menino, foca, zé mané, bestia nera, coisa linda, meu amor, filhinho, fedorentao. Sim, eu também canto pra ele enquanto andamos na rua, canto coisas muito profundas como “cachorro mais lindo do mundoooooo, você é fedorento mas é lindoooo, lalalalaaaaa, minha coisa preta gostosa e maravilhosaaaaaa”, e così via.

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O mais chato de estar com o nariz entupido, além do óbvio desconforto causado pela dificuldade de respirar, é não sentir gosto de nada. Eu já andava meio sem paladar por conta da raiva constante e interminável, mas ontem realmente eu almocei macarrão sabor nada com molho de nada, queijo ralado sabor nada, e um copo de suco de nada. A parte boa foi que, pra não ir dormir de estômago vazio, comi uma maçã que o Fabrizio me deu no domingo (tinha uns stands da sociedade italiana contra a esclerose múltipla que vendiam sacos de maçãs, e ele obviamente comprou um saco, e deu um par de maçãs a cada uma de nós). Tenho a leve impressão de que a coitadinha tava azeda que só, até porque o Legolas cuspiu longe o pedaço que eu lhe dei. Ainda bem que não senti gosto de nada.