Domingo é dia de almoçar na sogra, então lá vamos nos comer pasta fatta in casa e bichos estranhos grelhados na brasa da lareira hoje eram puntarelle di maiale, costelinham de porco, que eu acho trabalho demais pra pouca carne e sempre ignoro solenemente.
Enquanto estávamos dando uma geral na cozinha, chega o Salame-Mor do tio do Mirco com seu filho (…), o chatinho com cara de albanês. Chatinho é pouco. E além de chatinho é burrinho tem quase quatro anos e ainda fala numa língua que só ele entende, e não compreende coisas óbvias que a gente lhe repete vinte vezes. Eu com essa idade praticamente já sabia ler, mas tudo bem, eu sou mesmo um fenômeno e estatisticamente não conto. E além de chatinho é mal educado, e eu tenho muito medo desse menino quando crescer. Até porque a mãe é maluca, maluca mesmo, em uso de psicotrópicos, história de internação psiquiátrica, acompanhamento pelo Centro de Saúde Mental da cidade, uso do filho como escudo quando é ameaçada, e outras coisas legais desse tipo.
O problema é que é difícil evitar a falta de educação e a idiotice eterna. Olhem que exemplo brilhante de maravilhosa pedagogia infantil:
Legolas está deitado embaixo da mesa da cozinha, exausto, dormindo e roncando, depois de muita brincadeira nos campos em torno da casa. O Chatinho, sentado numa cadeira, começa a cutucar uma pata do Legolas com o pé. Normal, criança é assim mesmo, mas tem que ser corrigida. Aí vem o Salame-Mor:
– Não faz isso que ele te morde.
Aí a Arianna completa a asneira:
– Cê já viu como os dentes dele são grandes? Ele arranca o teu pé fora, hein?
Aí eu começo a me irritar, e dou uma explicação decente:
– Chatinho, olha só, os cachorros aqui de casa são todos muito bonzinhos e bobocas, e praticamente nunca vão te morder, por mais que você encha o saco deles. Mas se você fizer isso com um cachorro que não te conhece, ele pode se irritar e te machucar, mesmo sem querer.
Arianna repete:
– Pois é, Chatinho, olha só que dentão que ele tem.
Finjo que não ouvi e continuo, quase rosnando:
– Além do mais, Chatinho, se você estivesse dormindo numa boa e alguém viesse cutucar o teu pé, você acharia legal?
Chatinho faz que não com a cabeça.
– Então por que é que você faz isso com o cachorro? Se você não gosta de ter seu pé cutucado enquanto dorme, provavelmente o cachorro também não gosta. Ele tem tanto direito de dormir em paz quando você. Se você se comportar bem com os outros, com os bichos, com as plantas, todo mundo também vai se comportar melhor com você (olha o otimismo da garota).
O Salame-Mor continua:
– Viu, Chatinho, cuidado, hein, senão ele te morde.
Peguei meu casaco e fui esperar o Mirco lá fora, antes que me viessem ganas de matar alguém.