pobre tem mais é que morrer

Aconteceu um lance muito chato e idiota e desnecessário no trabalho ontem. A Christine, professora americana, foi testada como tradutora com péssimos resultados. Então foi sumariamete mandada embora da agência e agora só dá aula. Está no mesmo esquema em que eu estava até junho, ou seja, ela aparece lá pra dar umas quatro ou cinco horas, normalmente espalhadas, de modo que fica muito tempo sem fazer nada. Faz a mesma coisa que eu fazia: abre um livro e lê.

Minha chefa maluca sabe que eu me dou bem com a Christine, e sabe que detesto tudo, TUDO o que acontece na agência e na escola, e sabe muito bem que eu a acho completamente maluca. Então eu fui colocada em isolamento. Até a secretária nova, a Laura, uma garota MUITO gente boa, fica o dia inteiro na agência e só desce pra escola no final da tarde, quando eu estou quase sempre dando aula. Isso tudo pra eu não ficar amiga de ninguém, veja bem. Como se isso mudasse alguma coisa. Pois então; ontem depois do almoço estou eu sentada traduzindo uma coisa muito maneira enquanto Christine estava quieta na outra escrivaninha lendo, quando passa a chefa maluca pelas escadas de trás. Pela porta de vidro vi que ela olhou pra nós, mas foda-se, estava trabalhando amarradona, fazendo o que eu tinha que fazer. Dez minutos depois aparece aquela mala sem alça da C. dizendo que a chefa estava se descabelando de raiva no andar de cima porque nos tinha visto conversando e que se eu atrasasse um trabalho por culpa da Christine seria uma coisa muito desagradável – a sua técnica anti-motim é colocar todos contra todos, vocês não têm idéia da trama complexa que ela cria na sua cabeça cada vez que alguém se demite. Então recebemos ordens expressas de jamais ficar na mesma sala enquanto eu estiver trabalhando e Christine não. Tipo assim, creche, sabe. Assim que a C. foi embora a Christine entrou no banheiro, se olhou no espelho, saiu do banheiro, me olhou e disse:

– Nasceu outra espinha na minha testa. É o nojo desse lugar se manifestando dermatologicamente.

Eu PRECISO escrever um best-seller e ficar milionária. Porque depender de maluco é um castigo infinito, cara.