primo maggio

Primeiro de maio aqui é coisa séria. Todo mundo almoça fora, e quem tem uma empresa paga o almoço pros funcionários. No ano retrasado eu fui ao almoço da oficina, e esse ano foi num restaurante onde a gente já tinha comido uma vez, há muito tempo, e não era lá essas coisas. Mas como foi a mula do Ettore que escolheu sem consultar ninguém, não tivemos muita escolha.

Acabou que comemos mal (era peixe, mas tudo em pequenas quantidades e de pouca qualidade), mas demos muita risada. No nosso canto da mesa tinha o Yavo, da Costa do Marfim, um negão educadíssimo que apesar dos 4 anos de Itália fala super mal italiano mas é muito inteligente e divertido; Dejan, da Sérvia; Mustafa, vulgo Musty, marroquino, uma das pessoas mais feias que eu já vi na minha vida, e que, como todos os marroquinos aqui, bebe álcool e come porco quando não há outros marroquinos por perto; David, maconheiro siciliano (ou seja, é quase como se não fosse italiano) que sempre nos ajuda quando mudamos de computador e tem que instalar tudo de novo; Marco, um esquisitinho de Bastia mesmo; e Katerina, uma polaca da minha idade e com a malícia de uma uva sem caroço, que o Yavo conheceu na igreja mas ninguém sabe por que veio almoçar com a gente, já que ninguém mais a conhecia. Falou-se de tudo, das causas da guerra civil e da pobreza na Costa do Marfim até a relação dos poloneses com o papa. Ri muito mesmo, e ainda troquei várias idéias culinárias com o Yavo, que obviamente adora inhame, farinha de mandioca, manga e banana de verdade em vez dessas porcarias que tem aqui, e por aí vai. Eu adoro inhame e morro de saudade, mas aqui não tem mesmo e ninguém nunca ouviu falar, eu não consigo nem explicar o que é porque neguinho não tem a menor idéia do que seja. Ontem trocamos várias receitas de inhame. E rimos muito da Katerina, que não está acostumada a beber e depois de uns três copinhos de vinho ruim já dava risada sem parar, e COMEU OS CAMARÕES COM CASCA, CABEÇA E TUDO MAIS, porque ela nunca tinha visto um camarão na vida e ninguém avisou a ela que essas coisas não se comem!

Acabamos dormindo depois do almoço e acordando super tarde. Saímos de casa à meia-noite pra encontrar Marco e Michela num bar, e de lá eles tiveram a brilhante idéia de ir dançar. Eu não tenho mais paciência pra esse tipo de programa, honestamente, e a coisa piora porque ninguém nas discotecas italianas sabe fazer uma caipirinha que preste, e ainda por cima usam açúcar de cana não refinado, marrom e que não dissolve nunca. E chegar em casa às quatro e meia da manhã FEDENDO HORRIVELMENTE A CIGARRO acaba com o meu humor. O único divertimento da noite foi ficar rindo das cubistas. Toda boate italiana tem uma ou mais cubistas, que são garotas gostosonas que ficam dançando seminuas em cima de cubos, que na verdade são mini-palcos colocados em pontos estratégicos. As de ontem eram duas, uma louraça belzebu com cara de quem tem o Q.I. de um caramujo e uma morena lindíssima com jeito de entediada que só mexia os quadris e os braços, fazendo biquinho. As duas de meia-calça cortada no joelho, cintos metálicos (meia-calça sem saia ou short, hein!), LUVINHAS SEM DEDOOOOO, bustier de renda e scarpins altíssimos. Todas elas dançam mais ou menos da mesma maneira, sempre muito sérias, como se o seu trabalho fosse importantíssimo pra manutenção do eixo de inclinação da Terra em relação ao sol. Quando eu chegar aí no Rio faço a imitação pra vocês verem.

Hoje quero ir ao cinema de qualquer jeito, tem muito filme que eu quero ver.