Pois é, então, nem contei do maluco-beleza que está fazendo minhas massagens shiatsu. O cara é uma figuraça, todo descabelado, mas competente, pois já estou me sentindo melhor. Ontem foi a primeira sessão, e logo de cara ele sacou qual era o problema: ao sentir a rigidez do músculo, perguntou na cara dura se eu estava contente no meu emprego. Dei uma risada e deixei por isso mesmo. Ele respondeu com outra risada de quem entendeu tudo muito bem.
Hoje, durante a segunda sessão, botei meu bedelho pra funcionar e perguntei há quanto tempo ele faz massagem, e principalmente como foi parar nesse tipo de atividade. Resposta: desde 89. Antes disso ele administrava discotecas e pubs (tuuudo a ver), até que uma amiga a quem ele deve ter administrado uma bela massagenzinha erotico-básica disse que ele tinha “energia nas mãos”, coisa que eu considero uma balela ímpar, que seria melhor traduzível em “mãos boas pra massagem”. Ele resolveu ir adiante, e, não achando na Itália nenhuma escola séria de shiatsu, foi parar na Suíça, onde estudou por 3 anos (e eu que achava que era uma coisa simples…). Voltou à Itália, continuou sempre os estudos, acompanhou de perto um médico “alternativo” por 15 anos (esse guru dele hoje tem quase 90 anos), e resolveu abrir seu próprio consultoriozinho de massagem.
Perguntei tudo isso não só porque sou irremediavelmente curiosa, mas por um motivo muito down-to-earth: ele cobra 20 euros por cada sessão de 40 minutos. Eu levo 15 horas e meia como estagiária pra juntar 20 euros. Sacaram?
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A coisa curiosa nessa história toda é que ele pegou, compreensivelmente, o mesmo vício de todas as manicures que já fizeram minhas unhas: o de me dar tapas pra me fazer relaxar. Eu não consigo relaxar. Não tenho nenhum prazer particular com massagem, não me dá sono nem me tranquiliza, e eu fico rígida O TEMPO TODO. Detesto ter gente mexendo no meu corpo sem que eu saiba exatamente o que estão fazendo. Então volta e meia ele pergunta, beliscando meu ombro: “Por que você não está morta? Quero você morta, relaxada”. Ao que eu respondo: “Eu estou morta… só que em rigor mortis“. Que infame que sou.
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Segunda-feira, sempre às oito, a terceira e, espero, pro bem do meu bolso, última sessão. Mas sei que enquanto minha vida não se ajeitar por aqui e eu não me divertir mais um pouquinho vou continuar com o ombro duro, e todos os habitantes de Hokkaido podem vir massagear shiatsudamente meu músculo trapézio que o bicho vai continuar emperrado.