Eu realmente adoro essa vida na roça. Hoje de manhã fui dar a minha corrida básica em meio aos campos de trigo aqui perto de casa, olhando com muita inveja as gigantescas moitas de sálvia e alecrim, as parreiras, os tratores, as mudinhas de alface enfiadas em buraquinhos de um negócio estranho acoplado ao trator. Voltei, bebi meio litro de água e fui levar o carro do Mirco a S. Maria pra lavar. Depois fui dar um pulo na Arianna, que estava reformando o pombal. Parece que os dois machos tinham caído na porrada no dia anterior e precisavam ser separados. Dali pra ir ajudar a pegar os ovos de pata foi um pulo. Uma das patas tinha botado três ovos num ninho lá nos cafundós do judas, dentro da oca improvisada que a Arianna fez pra proteger os bichos do frio. Dentro da outra oca, que fica numa parte separada do galinheiro, a outra pata tinha chocado quatro patinhos leeeeeeeeeeeeeeendos, microscópicos, foférrimos, que esperneiam quando a gente pega na mão. Segundo a Arianna, os outros 7 ovos que ficaram vão morrer, porque dificilmente a pata vai chocá-los. Não consegui entender o porquê, talvez porque não dava pra ouvir as explicações berradas pela sogra experimente conversar tendo gansos por perto e você vai entender o que eu estou dizendo.
(Isso tudo rolando e os cachorros todos dentro do galinheiro, passeando calmamente entre perus albinos, os malditos gansos, galos que cantam fora do horário, galinhas que ciscavam restos de alface.)
Dali fomos pra horta. As favas já estão prontas pra colher, ela me avisa. Pego uma cesta de vime e lá vou eu me embrenhar na floresta de favas. Ainda estão novinhas e tenras, por enquanto são boas pra comer cruas. Mais tarde, quando estiverem mais secas e durinhas, ficam mais gostosas cozidas. Então tá. Confesso que não sou grande fã de fava crua, mas aqui é uma iguaria, pra ser degustada com um bom pecorino. O Mirco adora, então enchi o cesto. Colhi umas ervilhas também, mas ainda falta um pouco pra elas ficarem no ponto. Alface ainda tenho, ela me deu dois pés bem folhudos terça-feira. As mudas de tomate que ajudei a plantar domingo passado já estão bem grandinhas. São 54 plantas de tomate pra salada e 54 de tomate pra fazer molho e deixar em conserva pro ano inteiro. Os pés de alho estão enormes, as batatas e cenouras ainda não estão prontas pra colher, as cebolas estão lindas, entremeadas de ervas daninhas que dão lindas florezinhas brancas e lilás. Ficamos batendo papo à toa enquanto ela rega os pés de insalata (já falei aqui mas repito: insalata não é só o nome do prato, mas o nome genérico de qualquer planta que se use pra fazer salada), Legolas sentado num canto prestando atenção, os gansos de vez em quando fazendo um barulho desgraçado quando escutam alguém passando na estrada ao lado. Eu, ignorantérrima nesses assuntos vegetais, vou fazendo perguntas idiotas: e aquilo ali, é funcho? Não, é cenoura. E aquela parte lá, é tomate também? Não, são as batatas. E lá no fundo, o que é? Alcachofra. Putz, não acerto uma! A única planta que eu aprendi a reconhecer é a fava, que tem uma aparência particular, com folhas arredondadas e da mesma cor meio cinza, meio azul das oliveiras. Por enquanto, o resto pra mim parece todo igual…
Voltamos pra velha horta, que agora é um espaço pros cachorros, cheio de vasos de flores espalhados sem ordem nenhuma pra lá e pra cá. Arianna me mostra um arbustão de alecrim que ela achou jogado no campo, coitado, e trouxe pra casa. Vai arrancando mudas e distribuindo pelos cantos, pelos vasos, pelos canteiros. É só dar um pouquinho de água que ele pega, ela diz. Aponta pra uma fileira de vasinhos iguais, cada um com uma mudinha verdinha dentro. Sei que são plantinhas de feijão, mas fico impressionada com a velocidade de crescimento: terça-feira eram só brotinhos ridículos! Eu plantei grão-de-bico numa jardineira que estava sobrando na varanda e em uma semana já estão devidamente brotados. Impressionante.
Encho uma sacola de plástico com as favas, a meia dúzia de vagens de ervilha, meia dúzia de ovos de galinha que ficam num cesto de plástico na cozinha de baixo, dois ovos de pata e quatro mudas de peperoncino duas plantinhas de pimenta redonda e duas de pimenta compridinha. Já estão dando flor, espero que dêem logo o peperoncino. Fresco, assim, no molho de tomate, é uma coisa de louco.
E agora dá licença que eu já plantei o peperoncino e é hora de preparar o almoço: fettina (filezinho de vitela, pálido e sem gosto de nada, que eles adoram e eu quase nunca como) com salada da horta da Arianna, arroz branco que ainda tenho no congelador, e fava fresca, pro lanterneiro. E tenho que preparar as abobrinhas recheadas pro jantar, senão depois fico com preguiça… Consegui achar aquelas abobrinhas redondas bonitinhas, que são deliciosas. Aquelas normais também são ótimas, mas como são bem finas e não precisa nem jogar fora o miolo, não dá pra rechear.
Mais tarde vamos a Ripa. Longa história, depois eu conto.