Seu Franjinha, torta al testo e altre cose

Pois então, agora começa o período das sagras, as festas de cada cidade. No começo de maio rola o Calendimaggio em Assis, festa na qual o povo se veste com roupas medievais, há representações de cenas da época, desfile, provas físicas, etc. A disputa é entre a Nobilissima Parte di Sopra e a Magnifica Parte di Sotto (a cidade alta contra a cidade baixa). Esse ano ganhou a Parte di Sotto.

Anteontem começou a Festa della Primavera aqui em Cipresso. Armaram um palco e umas barraquinhas no jardim bem aqui atrás de casa – assistimos à festa de camarote! Quarta-feira FeRnanda e Fabião vieram jantar com a gente na festa. Essas festas têm sempre uma cantina de pratos típicos, que funciona quase sempre do mesmo jeito: um grande menu informa o cardápio daquela noite, você pega uma folha pré-impressa com todos os nomes dos pratos, e marca ao lado de cada prato a quantidade que quer. Enquanto isso alguém do seu grupo vai pegar uma mesa no galpão. As mesas são numeradas e, depois de pagar, você vai ao balcão de pedidos pra entregar o seu, com o número da sua mesa escrito bem grande no alto da folha pra neguinho não errar. Depois é só esperar que alguém vem te trazer o jantar. O menu também varia pouco, a não ser quando o tema da festa é alguma comida ou ingrediente em particular (como a festa da cebola em Cannara, ou a sagra do javali em Petrignano). Quarta-feira comemos antipasto primavera (salame, presunto, capocollo, azeitonas, feijão branco frio, flores de abobrinha, berinjela e alcachofra fritas, e outras coisinhas), Mirco comeu penne alla norcina (sempre presente em qualquer menu umbro) e nós mortais fomos direto ao secondo e comemos a igualmente onipresente torta al testo – com linguiça, linguiça e verdura, presunto, presunto e pecorino, etc.

Ontem Marco e Michela vieram, e comemos de novo na festa – dessa vez fui de tagliatelle com molho de ganso. O mais engraçado é ver o pessoal todo arrumado pra essas festinhas bobas. E fica tudo ainda mais hilário quando tem banda tocando. Quarta-feira foi um festival de bandas iniciantes, então rolou muito rock pesado, mas ontem foi o Mario Riccardi (o site não tá no ar ainda, acho) quem cantou música de salão pra fazer a velhacaria sacudir o esqueleto. Os jardins pipocando de gente, como um grande salão de baile ao ar livre; velhos e velhas super emperiquitados dando seus dois passinhos pra cá, dois passinhos pra lá, todos juntos se movendo em sentido anti-horário ao som do Franja Crespa Riccardi. De chorar de rir. Principalmente porque o seu Riccardi é um mito da dança de salão aqui no centro da Itália. Toda hora vejo cartaz anunciando Riccardi cantando em algum lugar. Não tenho mais nada a comentar sobre ele, já basta o fato de que ele tem cabelo crespo E usa franja, mas o figurino do resto da banda é de arrepiar também. Ontem tavam todos de terno bordeaux, e as cantoras (sim, porque Riccardi fez nome e deitou na fama, quase não canta mais, só vai marcar presença), todas gordas de mini-saia, bota de camurça rosa, cabelos amarelos, bem naquele estilo chacrete de ser.

O bom é que tanto eu quanto o Mirco dormimos sem problema mesmo com a orquestra do Riccardi se esgoelando lá embaixo. Só que essa noite eu tive uns sonhos muito esquisitos (minha mãe casava de novo e o Mirco não podia ir à festa comigo porque estava jogando na seleção italiana de futebol), me revirei a noite toda e dormi muito mal. Hoje estou super borocoxô, ainda mais que perdi a manha inteira na agência fazendo bissolutamente nada – e eu cheia de roupa pra passar em casa! E agora à tarde lá vou eu a Cannara, terra da cebola, visitar um cliente novo, com a mala do Pino do meu lado pra ver se eu tô fazendo direito. Ainda por cima o tempo fechou e acabou de cair um aguaceiro danado – bem na hora em que eu tava estendendo as roupas de lã no varal pra secar e poder guardar na garagem com todo o resto da roupa de inverno. Que bosta isso.