E já que aparentemente neguinho aqui só gosta mesmo de falar de comida, voltemos ao assunto.
Um dos instrumentos mais importantes pra quem tem distúrbio alimentar e pra quem quer emagrecer, engordar, ficar sarado etc é o diário alimentar. A gente só encontra padrões de comportamento quando consegue ter uma visão geral muito clara do que está fazendo, e isso só é possÃvel escrevendo.
Eu faço diário alimentar há anos; comecei quando fui ao Centro de Cefaleias de Perugia pela primeira vez, há trocentos anos, e me aconselharam porque em alguns casos a causa da enxaqueca é alimentar, mas pra saber se era esse realmente o problema eles tinham que ver o que eu estava comendo. Ao contrário da minha mãe, que tem alguns alimentos que desencadeiam a enxaqueca, eu não tenho; a minha aparentemente era mais relacionada ao sono irregular e ao stress. Mas o hábito ficou. Nunca mais parei de anotar o que como.
Quando perdi peso com o bodybugg, depois da Carol nascer, esse hábito ficou ainda mais sério, porque você marca no site deles tudo o que comeu, faz o upload dos dados do bodybugg e o site faz as contas, pra você saber se está com crédito ou débito de calorias. E como eles faziam um resumo do dia, com a divisão do total das comidas em carboidratos, proteÃnas e gorduras mostrada em uma pie chart, dava pra ter uma visão bem legal do que exatamente você está comendo, e a partir daà ajustar esses percentuais em função do andamento da perda de peso, de como você está se sentindo, dos seus objetivos. Logicamente aprendi muito sobre o meu metabolismo também, porque saber marromenos quantas calorias você queima por dia é útil pra saber o quanto você pode comer. Claro que entrei numa paranoia de pesar absolutamente tudo e fica muito cansativo, mas depois que você desenvolve uma série de pratos que tendem a se repetir, a quantificação da comida fica visual (que aliás é o método do Vigilantes: uma porção de macarrão é do tamanho de uma bola de tênis, uma de carne é do tamanho da palma da mão sem os dedos, peixe é a palma da mão com os dedos etc), até porque fica impossÃvel pesar comida quando você come fora. Graças a esse perÃodo com o bodybugg, por exemplo, eu sei o que é pra mim um café da manhã equilibrado, quais são meus lanches ideais, quais são os quatro ou cinco pratos perfeitamente balanceados pra usar como almoço, e coisa e tal. Muito interessante.
Atualmente eu não conto mais calorias, e só peso carboidratos. Mas continuo anotando tudo. Estou usando as minhas agendinhas mensais da Moleskine, deliciosamente lindas e pequenininhas, leves o suficiente pra levar na bolsa. Prefiro escrever em papel do que salvar no celular, onde tudo fica sujeito à disponibilidade ou não de uma conexão à internet, mas pra quem conta calorias existem várias ótimas apps com bancos de dados gigantes que têm praticamente tudo que é comida (e o que não tiver você adiciona usando as informações nutricionais da embalagem, supersimples). Uma legal é a My Fitness Pal, muito bem feitinha. Quem quiser mais dicas desse tipo me avisa que eu faço uma pesquisa rápida.
Um ótimo food journal é o que vem com o Turbo Fire, e pode ser comprado separadamente. Tem a imensa desvantagem de ser caro, pesado e de não cobrir o ano todo, só as semanas do programa, mas é muito bem feito.
Cada semana (porque progresso, de qualquer tipo, é idealmente medido de semana em semana) começa com uma página pra você anotar o peso inicial, os objetivos e coisa e tal. Cada dia tem bastante espaço pra cada refeição, pra anotar as calorias, se quiser, pra marcar os copos de água que você tomou (pra mim é MUITO útil porque eu sempre esqueço de beber água e vivo desidratada), que programa de malhação você fez, com qual nÃvel de empolgação, como está se sentindo naquele dia, quais suplementos e vitaminas tomou. E ainda tem uma dica diária da Chalene, todas muito bobinhas, lógico, mas algumas divertidas. A minha preferida é a que diz que o melhor exercÃcio pra perder barriga é caminhar. Caminhar pra longe da cozinha… ;-)
Enfim, ajuda. Outra coisa que estou fazendo é a programação semanal da comida, ou seja, planejar antecipadamente quais vão ser os cardápios da semana. Isso tem várias vantagens: você pode fazer as compras se baseando no que sabe que vai precisar, se estiver tudo anotado fica mais difÃcil pular a cerca (eu, pelo menos, que tenho horror a rabiscar, prefiro seguir à risca o que já está escrito do que encher minha agendinha linda de setinhas, asteriscos e anotações tortas), você consegue enxergar padrões de alteração de peso relacionados ao que você comeu durante a semana. Por exemplo, eu já como queijo todo dia no café da manhã; nas semanas em que uso algum queijo como fonte de proteÃna no almoço ou no jantar, não emagreço. Mas você só enxerga isso quando está cara a cara com a planificação da semana, e pra isso é importante estabelecer também as frequências semanais. X vezes laticÃnios, Y vezes ovos, Z vezes carne vermelha, B vezes peixe – tudo isso por semana. Sabendo quantas vezes por semana você pode comer, sei lá, leguminosas, é só distribuir ao longo dos dias e pronto. Fica até mais fácil planejar o prato, sabendo antecipadamente qual vai ser o ingrediente de base. Essa semana eu marquei peixe seis vezes (a dieta da psorÃase é cheia de peixe); o almoço de hoje é uma das refeições de peixe dentre essas seis, então fico entre macarrão com brócolis, cenoura e atum ou salmão com arroz preto, salada e abobrinha (meus dois pratos preferidos com peixe).
Parece um trabalhão danado, e é, mas depois de um certo tempo fica tão automático que você faz rapidinho e sem perceber. Ultimamente tenho anotado inclusive o nÃvel de fome antes e de satisfação depois de comer, em uma escala de zero a três. É muito útil pra estabelecer as quantidades ideais; se eu invento um almoço que me deixa satisfeita só no nÃvel 1 e uma hora depois estou com fome de novo, é lógico que preciso mudar alguma coisa nesse almoço, mudar as proporções ou aumentar as quantidades ou adicionar alguma coisa. Se eu chego na hora do almoço sempre morrendo de fome, provavelmente preciso fazer um lanchinho da manhã mais consistente ou aumentar o café da manhã. Se acabo de jantar e me sinto empanturrada, posso diminuir alguma coisa, ou trocar ingredientes. E por aà vai.
Tô falando que vida de gordo é um inferno…