peixinho bom

Sábado fomos jantar com Gianni aqui. Aluno Endocrinologista já tinha me falado desse restaurante, onde ele comeu o peixe mais fresco da sua vida, e depois o Gianni foi a uma despedida de solteiro lá e também ficou encantado. E resolvemos conferir.

Chiara não foi porque estava em um retiro espiritual, o que quer que isso seja. Fomos nós três; o restaurante é aqui pertinho de casa, coisa muito prática. O dono é um siciliano de Palermo muito simpático, que se recusa a cozinhar o “básico” dos frutos do mar, ou seja, cocktail de camarão e insalata di mare.

O jantar foi uma diliça. Saiu carinho porque pedimos uma degustação, mas os pratos no menu têm preços bem razoáveis. Resolvemos deixar o proprietário e chef, o Roberto, à vontade pra escolher o menu pra nós, por um motivo muito simples: ele não trabalha com intermediários, e compra o peixe não de peixarias mas de um pescador que trabalha diretamente com ele, e traz peixe fresco todo santo dia. Se hoje não cair nenhuma lagosta na rede, por exemplo, ele não pode servir lagosta, porque não trabalha com congelados. Então ninguém melhor que ele pra saber o que rola de bom naquele dia. Pescaram uma cernia espetacular hoje, querem? É assim que funciona – adoro essas coisas; essa intimidade imediata do italiano com todo mundo, principalmente quando tem comida no meio, é sensacional. Então tivemos um salmão marinado delicioso, um peixe que não sei traduzir marinado no vinagre com sementes de romã (esse eu dispensei, dispenso qualquer tipo de vinagre e qualquer aceno de fruta na comida), ma-ra-vi-lho-sos mariscos (cozze e vongole) fresquíiiiiiiiiiiiissimos, e depois uma das coisas mais gostosas e delicadas que eu já comi em termos de peixe: spaghetti com pesto feito na hora (eu detectei, além do manjericão, um toque de hortelã, que ele confirmou) e “saltati in padella” com camarõezinhos. Uma coisa de louco – com uma pimentinha moída na hora por cima, então… O prato principal foi um mix de crustáceos ao vapor: meia lagosta cada um, lagostins e camarões gigantes e médios. Olha, eu não sou expert em cozinha e muito menos em frutos do mar, que só fui aprender a comer aqui na bota, mas realmente a diferença é morrrrrrrrtal. Os mexilhões tinham cheiro de praia, os lagostins só faltavam piscar o olho pra gente. Tudo isso acompanhado de duas garrafas de ótimo vinho branco, cuja origem desconheço porque fiquei com preguiça de ir até o balde de gelo olhar o rótulo, muito levinho e gostoso. Mirco ainda comeu sobremesa, os meninos tomaram café e dois copos de grappa cada um. E ainda ficamos batendo papo, depois que os outros clientes saíram, com o proprietário e o menino francês que trabalha como garçom. Agradabilíssimos e muito educados.

O problema do restaurante é que não tem clientes. Porque o umbro é idiota e só freqüenta lugares da moda. O restaurante da moda em termos de peixe é o Massimo, que é superfora de mão pra gente porque é láaaaaaaaa no Lago Trasimeno, e os preços são assim como dá na telha do Massimo, sabe; por menus absolutamente idênticos já chegamos a pagar 3 preços diferentes em três ocasiões diferentes. Mas é fashion, então em vez de ir ali em Ospedalicchio que é do lado de casa – estou falando aqui do vale, de Bastia e adjacências – neguinho se despenca lá pro lago só pra encher a boca quando contar que jantou no Massimo. E aí o coitado do Roberto fica sem clientes. Então, já sabem: peixe na Umbria é no La Cigale. De verdade.

eca

Os tratores nas estradas e as moscas em casa são sinais de que o calor chegou de vez. Só que nos últimos dois dias tem feito um certo fresquinho, e chovido a cântaros. Mirco e Moreno tão doidos pra que pare de chover, pra poder catar lesmas no mato. Depois da chuva, elas saem todas assanhadas dos buracos onde normalmente vivem, que não tenho a menor idéia de onde fiquem, e como não são animais exatamente dinâmicos e ariscos, basta um pouco de paciência e uma lanterna pra encher o balde delas. Depois devem ficar em jejum de não sei quantos dias, pra depurar o intestino, dizem, e aí a técnica de cozimento e tempero depende de cada um. Desnecessário dizer que lesma é uma iguaria que eu jamais tive intenção de provar, não importa o quanto o Moreno encha o saco insistindo.

lula-lá

Não, não vou nem tocar no assunto do asilo político ao ex-presidente do Equador. Tenho vergonha. Falo de lula mesmo, o animal (pun intended).

Por algum motivo misterioso que desconheço, mas que muito provavelmente tem a ver com a igreja católica, aqui as peixarias só abrem às quintas e sextas. Pra felicidade do bolso da minha mãe e pra grande prejuízo da minha vida social, só fui aprender a gostar de frutos do mar aqui na Itália. Como consequüência, não sei cozinhar frutos do mar – praticamente só sei fazer peixe frito, que aqui é coisa quase desconhecida. Por sorte, todas as peixarias oferecem coisinhas já semi-prontas, ridiculamente fáceis de preparar, como espetinhos de lula e camarão, filé de peixe já empanado em uma mistura de farinha de rosca e salsinha (pra fazer na brasa ou então na panela forrada de papel-manteiga e com pouco óleo), peixes inteiros também já marinados, prontos pra ir ao forno. Os meus preferidos são o condimento per la pasta e l’insalata di mare. O segundo é, literalmente, salada de mar, e nada mais é do que pedacinhos de frutos do mar das mais variadas espécies, cozidos, temperados com azeite, alho e salsinha, com uns pedaços de azeitona pra dar um tchan e pra aumentar o volume (eu dou todos pro Mirco porque tenho pavor de azeitona). Come-se fria, como antepasto. No supermercado há várias versões em embalagens de plástico, mas normalmente envolvem vinagre na preparação, o que, pra mim, é praticamente sinônimo de incomível. O condimento per la pasta (literalmente, tempero ou molho pra macarrão) é uma mistura de salmão, camarão, mariscos vários, pedacinhos de lula e de polipetti (polvinhos pequenininhos muito comuns aqui), mini-lagostins, enfim, um pouco de tudo. É tudo cru, então é só botar numa frigideira com um pouco de vinho branco, dar uma cozinhada rápida e misturar ao macarrão. Ao contrário do meu pai, que acha que peixe só combina com batata, eu adoro massa com frutos do mar. Linguini allo scoglio, spaghetti con le vongole, pasta con le cozze, eu topo tudo. E essa misturinha deles é realmente una diliça. Compro quase toda sexta, quando tenho que ir a S. Maria resolver outras coisas.

Eu tenho aquele vício de pobre que é aceitar tudo o que seja oferecido de graça. E nessa já recolhi uma interessante coleção de mini-livros de receitas, que dão nos supermercados, na peixaria, às vezes em lugares insólitos, como na farmácia. Pois então, ontem estava inspirada e, imaginando que encontraria alguma receita interessante nesses livrinhos, resolvi fazer lula. Uma clássica receita de lula aqui é seppie e piselli, lula com ervilhas. Nada mais é do que o bicho feito como carne de panela, com molho de tomate e ervilhas. Nunca tinha feito em casa, mas resolvi arriscar. Primeiro foi um parto comprar o bicho, porque eu não sabia se comprava seppie ou calamari. Pra mim são iguais, a seppia é maior e os calamari são pequenos, mas a cara é praticamente a mesma. Claro que nada que tenha a ver com comida aqui na Bota é tão simples quanto parece, e o velhinho safado da peixaria foi logo perguntando o que eu queria fazer com a lula. Respondi que queria fazer com ervilhas, e ele indicou as seppie, que têm mais carninha. Perguntei qual a diferença entre um bicho e outro, e ele respondeu que os calamari são mais magricelinhos e portanto ficam melhores fritos ou grelhados (de fato, anelli di calamari fritti, anéis de lula fritos à milanesa, são um antepasto clássico). Ah, tá, então tá bom. Ele separou quatro belas seppie pra mim e paguei a conta: 21 euros por quatro lulas médias, insalata di mare pra duas pessoas e condimento per la pasta pra duas pessoas.

Ontem comemos o antepasto e a massa, e deixei as lulas pra hoje. Só que eu não achava o diabo da receita em lugar nenhum. Tudo bem que não deve ser tão difícil, mas com o preço das coisas é melhor não desperdiçar fazendo cagada, e também não queria detonar logo de cara minha primeira experiência no campo dos frutos do mar. Mandei um SMS pro Mirco perguntando se ele queria lula com ervilhas ou lula no macarrão, ele responde: sim. Eu sabia que ele tava numa conversa importante com o contador e por isso não tava prestando atenção em nada do que eu escrevia, mas mesmo assim insisti e mandei outra mensagem me explicando melhor. Ele responde: lula. Ora bolas, então vou fazer macarrão e dane-se.

Aí o outro parto: limpar os bichos. Um dos meus livrinhos grátis explicava como comprar, limpar e conservar os diversos produtos do mar. Dizia pra arrancar a cabeça da seppia que ela saía inteira, com os órgãos internos. Ou então pra cortar com uma tesoura os olhos e o bico, se os órgãos internos e o “osso” já tivessem sido retirados – era o meu caso. Cortar com uma tesoura os olhos de um bicho morto? Hipótese imediatamente descartada. Então, pedindo mil desculpas às pobres lulas, optei por arrancar a cabeça inteira mesmo. Não tive coragem nem de cortar os tentaculozinhos. Desperdício, mas sei que se tivesse insistido teria vomitado ali mesmo na pia da cozinha. Não bom. Lavei bem os corpinhos que parecem feitos de plástico branco, cortei em tirinhas de aspecto borrachudo, e refoguei com alho e azeite. Normalmente na peixaria eles dão salsinha de brinde, mas dessa vez esqueceram, e eu esqueci de pedir, e não tinha em casa, então foi sem salsinha mesmo. Dei uma molhadinha com vinho branco e deixei cozinhar bem. Juntei uns tomates-cereja pra dar uma cor e no final ainda joguei umas ervilhinhas básicas. Escorri a massa pouco antes de ficar al dente, joguei na frigideirona T-fal onde estavam as lulas, e deixei terminar de cozinhar ali, no molhinho. Um toque de gengibre, um peperoncino esmigalhado pra ficar levemente picante, e voilà! Ficou ó-te-mo.

Semana que vem provavelmente vou pegar uns filés de merluzzo (que descobri, não sem uma pontinha de horror, que nada mais é do que o bacalhau fresco), pra fazer enroladinhos com talvez uma cenourinha dentro. Ou então cozze (mexilhões), pra fazer com macarrão ou como antepasto quente, com molho de tomate e pimenta-do-reino. Ou então salmão, que faço no forno como minha avó ensinou, numa caminha de batatas e cebolas em rodelas e um tiquinho de manteiga. Ou então vou de lula de novo, pra fazer com arroz, como se come no Brasil e aqui nunca se ouviu falar.

Gostei do negócio. Limpar o peixe ainda é um problema grande, mas me empolguei com a parte da cozinha. Vamos ver se as futuras experiências vão funcionar.

la fruttivendola

Morar em cidade pequena tem suas vantagens, com certeza.

Eu compro verdura e fruta na Rita, quando posso. Arianna compra nela há anos, e sempre que tenho que fazer alguma coisa em S. Maria, dou um pulo lá pra me reabastecer. Como eu consumo fruta e verdura só por obrigação moral, não vejo a diferença entre uma alface de supermercado e uma alface da horta, mas o Mirco é daqueles que em duas dentadas extermina, feliz da vida, um pepino, uma cenoura, um pedaço de aipo e um funcho inteiro, então evito comprar essas coisas no supermercado.

A barraca da Rita sempre ficou na praça da Banca dell’Umbria, ao lado do jornaleiro e de frente praquele monstro que é a Basílica. Com as obras na praça, que alteraram todo o trânsito e embolaram o meio de campo de um modo assustador, ela foi transferida pra pracinha dos correios, a duzentos metros. Mais cômodo pra quem compra, porque tem mais lugar pra parar. Outra vantagem é que ela agora está num quiosque moderno, com portas que podem ser fechadas, facilitando a vida dos pobres clientes que antes esperavam ao aberto, chovesse ou fizesse sol (ou pior, vento gelado). Ela mora aqui perto de casa mas nossos horários não batem e nunca nos encontramos.

A coisa legal da Rita é que ela não vende coisas que não estejam na estação justa ou que não estejam boas. A não ser os tomates, que hoje crescem praticamente em qualquer condição meteorológica. As coisas são todas fresquíssimas e ela dá várias dicas de culinária. Sempre pergunta o quê que a gente vai fazer com o que está comprando, porque, por exemplo, há berinjelas e berinjelas. Se eu peço uma berinjela, ela pergunta se é pra grelhar, pra fazer conserva ou pra fazer molho pro macarrão. Porque há berinjelas redondas, pretas, grandes, cor de berinjela, macias, duras, com semente, sem semente. O tomate é pra fazer molho, pizza ou salada? O cogumelo é pro macarrão ou pra grelhar? A cenoura é pra comer crua ou cozida? A maçã é pra morder ou pra fazer torta? A batata é pra fazer pirê ou pra fritar? A abobrinha é pra macarrão ou pra rechear? Hoje ela se recusou a me dar cebolas douradas, porque eram mais velhas. Acabei trazendo três das brancas e achatadas, mais incômodas pra segurar e cortar, mas mais frescas. Outro dia ela também se recusou a me vender mais de duas cabeças de alho (pra bruschetta ou pra refogado?), porque senão estraga, vai por mim. Alho, aliás, delicioso, nada indigesto, sem aquela coisinha amarga no meio, sem cheiro fortíssimo nas mãos.

Ela também dá sempre de brinde, pra quem faz compras razoáveis, os odori – literalmente, os odores. Por odori se entende salsinha (prezzemolo), obrigatória pra quem compra cogumelo; hortelã (menta), pra quem leva alcachofras; cenoura e aipo (carota e sedano) pra todo mundo, pra fazer refogado. Excepcionalmente, quando há limão verde, ela guarda pra mim, ou então vende uma caixa inteira pra Arianna, porque sabe que uma parte vem aqui pra casa. Quando tem novidade, ela fica toda assanhada: semana passada tinha uns tomatinhos pequenos como os cereja, mas alongados, chamados datterini (ou tamarazinhas, porque realmente parecem tâmaras vermelhas), que ela torrou minha paciência pra eu comprar, no lugar dos tomates-cereja que compro levo. Mirco adorou, comeu quase chorando de emoção. Há alguns dias comprei também uns aspargos selvagens, que fiz com macarrão, mas estávamos cefaléicos ambos e mal curtimos o sabor. Tenho certeza de que em condições normais de temperatura e pressão teríamos adorado.

Agora é época de fava. Ainda não estão no ponto, e as da Rita são poucas e ainda pequenas. Em maio começa a colheita – metade da horta da Arianna é fava nesse período, junto com as alcachofras; abobrinhas, tomates, berinjelas, vagem e ervilha, só mais perto do verão. O grande lance da fava, que é consumida em quantidades industriais (e crua, por favor; eu prefiro como forma de molho pro macarrão, ou cozida com um pouco de tomate e pimenta, como antipasto) só na Itália central, é o queijo pecorino. È la morte sua, como se diz aqui – adoro essa expressão, que se usa pra dizer o que combina melhor com uma determinada coisa. Hoje a Rita me deu de presente uma cebolinha fresca, porque comprei um tipo de salada, plantado só e exclusivamente aqui na Umbria, e segundo ela essa tal cebolinha, la cipollina quella piccoletta, è la morte sua. Também ganhei um pouco de rúcola esquisita de folhas largas, que só o Mirco come.

Então tá, hoje o jantar vai ser salada. Foi a Rita que decidiu por mim.

nham

Há alguns meses a Carola me mandou, lá de Dubai, um pacotinho de curry pra carnes, um de curry pra legumes, e um de páprica. Já usei todos, de vários jeitos, mas o problema maior sempre era o molhinho, que nunca ficava legal. Hoje acho que acertei.

O peito de frango, que eu tinha no congelador, já cortado em cubinhos, ficou marinando desde manhã cedo em um pouco de azeite, o curry pra carnes, páprica, uma folha de louro e alho bem amassado. Lá pro meio-dia acendi o fogo e “saltei” o frango na frigideira anti-aderente, até pegar uma corzinha. Polvilhei um pouco de farinha de trigo e juntei um pouco de leite, que, com a farinha, engrossou um pouco. Deixei tudo cozinhando assim com a panela tampada. Resultado: o frango ficou superhipermegamacio, desmanchando na boca; o molhinho, antes pálido, pegou a cor e o sabor do curry e ficou numa consistência perfeita – pra ajustar, um tiquinho de água, se necessário. Joguei umas amêndoas tostadas no final, pra dar um tchan, e pronto. Comi com arroz selvagem bem temperadinho com alho e cebola. Ficou uma verdadeira di-li-ça. Bobo do Mirco que não gosta dessas coisas e foi de spaghetti com molho de tomate-cereja e atum.

Pro jantar de hoje vou fazer frango com cerveja no forno. O pedaço é pequeno e não identificável (a Arianna que me deu, e eles aqui cortam o frango de um jeito completamente diferente do nosso, não entendo nada); vai ficar pro Mirco, com batata palito feita no forno. Eu provavelmente vou de salada de alface com atum e milho, ou então faço uma sopinha de cereais, que com essa temperatura e essa dor de garganta cai muito bem, obrigada.

Adoro ficar em casa e ter tempo pra cozinhar com calma. Mesmo que o motivo pelo qual eu estou em casa seja uma tradução chatíssima e, conseqüentemente, interminável.

p.s.: Ah, ontem consegui meia hora pra começar a estudar Francês, e peguei no sono lendo Lady Chatterley’s Lover, que é um livro, hm, como direi, singular.

aiaiai

Acabo de ver no suplemento gastronômico do telejornal uma receita de chocolate quente que me deixou vendo estrelas. É o chocolate quente mais famoso de Florença, do café Rivoire, bem na praça principal da cidade. Eu nunca experimentei, mas a cor do negócio, pelo menos na TV, era linda. O lance é o seguinte: mistura-se leite e água (mais leite do que água, não entendi direito as proporções porque estava hipnotizada pelo chocolate), chocolate gianduia (pouco) e cacau em pó (o que já vem açucarado). Deve-se deixar ferver, depois desliga-se o fogo até a fervura sumir, depois ferve-se de novo, depois desliga-se o fogo de novo, umas duas ou três vezes. O que fica é um líquido cremoso mas não exagaradamente cremoso, escuríiiiiiiiiiiiiiissimo, e que deve ser realmente um manjar dos deuses. Nem vou experimentar. É mais seguro.

altas sociais, aê…

E semana que vem começa a famosa festa da cebola em Cannara. Espero que esse ano a gente consiga comer alguma coisa, porque ano passado e ano retrasado nós fomos, mas não tivemos coragem de enfrentar as filas quilométricas e saímos de mãos abanando.

Enquanto a cebola não vem, hoje Stefania (a cunhada) e Rob, o namorado holandês, vêm jantar aqui em casa. Como a Stefania é vegetariana (…), vou ter que fazer ensopadinho de legumes à parte pra ela, sem carne. Desisti do feijão porque tá muito quente, mas ensopadinho com batata, cenoura e abobrinha, arroz branco bem temperado e farofa já tá muito bom. De sobremesa tô pensando em fazer quadradinhos de laranja, mas tenho medo de ter um ataque e comer tudo. Provavelmente vou de cuca de banana, que todo mundo gosta, menos eu. Com os últimos 4 limões que restaram das últimas compras faço uma jarrona de limonada, e pronto.

o bigodudo e seu fuzil

Sexta-feira fomos jantar com um casal de amigos num restaurante em Foligno. O nome do lugar é Sparafucile (sparare = disparar, fucile = fuzil) e quem comanda o batatal é um bigodudo grisalho. O lugar é dividido em dois ambientes: a microscópica cozinha, do lado da gelateria, e, dois números depois, ou seja, depois de uma loja de roupas e de uma agência de viagens, a sala microscópica, com somente três mesas. No verão eles colocam mesas na pracinha em frente. No inverno o bigodudo e o garçom extra (no nosso caso era um cara muito lento que passou a noite inteira levando esporro do Bigode) saem da cozinha com os pratos na mão e têm que atravessar a praça correndo pra comida não esfriar durante o curto percurso até a sala de jantar.

Tem mais: o menu é único e você não sabe qual é. Você chega, diz o seu nome (tem que ter feito reserva antes senão não consegue mesa), o Bigode te indica a mesa, você senta e ele começa a te servir. Você não tem a mais remota idéia do que está por vir até o Bigode sair da cozinha com uma panela na mão, apoiá-la sobre um BARRIL e começar a colocar comida nos pratos. Mas pode ser que mais tarde ele mude de idéia e resolva mudar de prato, por isso os gnocchi que você viu o Bigode servindo a outros clientes enquanto você ainda estava no antipasto podem nunca chegar à sua mesa, e ser substituídos por uma outra coisa qualquer. Não é uma comédia esse sistema?

No nosso caso o antipasto tinha dois tipos de queijo, uma fatia de prosciutto crudo, uma fatia de melão (que dispensei), um figo aberto em flor (que o Mirco traçou), uma porção de panzanella (receita local clássica, originariamente um mero reaproveitamento de restos pra fazer salada: uma folha qualquer, tomate, pepino e pão velho molhado no vinagre. Só de ver tenho vontade de vomitar, mas neguinho aqui, e os turistas também, A-DO-RAM), um tomate recheado (que o Mirco comeu). Comemos dois primi: os gnocchi com tomate fresco e manjericão, muito gostosos, depois um risoto de frutos do mar, que não estava lá essas coisas. De secondo tivemos a oportunidade de escolher: todo mundo foi de tagliata, que seria uma carne duríssima grelhada, fatiada e que vem numa caminha de rúcola e regada com vinagre balsâmico; eu, que odeio carne dura, rúcola e principalmente vinagre, fui de filé grelhado mesmo, com saladinha. Duas garrafas de água mineral. Uma garrafa de vinho branco durante os primi, e uma de tinto do Lago Trasimeno com a carne. Ambos os vinhos escolhidos pelo Bigode, claro. De sobremesa, petit gateaux com sorvete de creme (que o Mirco repetiu), uma taça de Marsala, depois café, e o Bigode ainda ofereceu uma dose de whisky no final. Tudo isso por € 23/cabeça. Nada mal, jacaré.

Descobri no Lidl, supermercado que consegue ser ainda mais P.I.M.B.A. do que o Penny, um pão de semente de girassol que é uma coisa. Denso como um meteorito, mas delicioso.

Eu sou louca por pão. De qualquer maneira, basta que seja salgado – o que automaticamente exclui o pão cascudo e sciapo (se pronuncia chapo, literalmente sem sal) tradicional aqui da Itália central e que eu uso só pra fazer bruschetta. Adoro pães esquisitos, com texturas bizarras, grãozinhos não-identificados dentro, cores suspeitas, nham nham. Nossas férias de verão do ano passado foram estranhas, afinal de contas odiamos Berlim (o que significa que meu diploma foi comprado), mas só a loja de pães de Lubeck valeu por todo o perrengue. Claro que eu não entendia nada do que estava escrito nas etiquetas e claro que ninguém na loja falava Inglês, mas mesmo assim voltamos pra casa carregados de pães misteriosos, de todos os tipos e formas. Um deles tinha esses grãos estranhos, que eu não cheguei a identificar, e só fui reconhecer no último sábado, quando vi o tal pão-meteorito no Lidl, com um desenho de um girassol gigante na embalagem. Até hoje não sei o que mais eu comi, além de semente de girassol, naqueles outros pães de Lubeck, mas sei que tava tudo ótimo.

Almoço de hoje: penne com tomatinhos da horta da Arianna, crus, com alho, azeite e em teoria manjericão também, mas hoje esqueci. Eu, que não como tomate cru, fiz uma salada fria de trigo com cenoura, abobrinha e um ovo cozido. Depois comemos uma fatia de pão-meteorito com fontina, um queijo macio que não tem gosto de nada mas que eu adoro.

Aproveitei o ensejo pra preparar e congelar uns hamburgers básicos. Adotei a idéia da minha mãe de misturar um pouco de aveia, assim o hamburger fica crocantão. Tempero com cebola cortada pequeniniiiiinha, sal, pimenta-do-reino, ervinhas secas (uma mistura de salsinha, hortelã, alecrim, estragão) e um pouco de farinha de rosca pra render mais. Não é porque sou eu que faço não, mas é o melhor hamburger que já comemos.

E zé finí.

Descobri no Lidl, supermercado que consegue ser ainda mais P.I.M.B.A. do que o Penny, um pão de semente de girassol que é uma coisa. Denso como um meteorito, mas delicioso.

Eu sou louca por pão. De qualquer maneira, basta que seja salgado – o que automaticamente exclui o pão cascudo e sciapo (se pronuncia chapo, literalmente sem sal) tradicional aqui da Itália central e que eu uso só pra fazer bruschetta. Adoro pães esquisitos, com texturas bizarras, grãozinhos não-identificados dentro, cores suspeitas, nham nham. Nossas férias de verão do ano passado foram estranhas, afinal de contas odiamos Berlim (o que significa que meu diploma foi comprado), mas só a loja de pães de Lubeck valeu por todo o perrengue. Claro que eu não entendia nada do que estava escrito nas etiquetas e claro que ninguém na loja falava Inglês, mas mesmo assim voltamos pra casa carregados de pães misteriosos, de todos os tipos e formas. Um deles tinha esses grãos estranhos, que eu não cheguei a identificar, e só fui reconhecer no último sábado, quando vi o tal pão-meteorito no Lidl, com um desenho de um girassol gigante na embalagem. Até hoje não sei o que mais eu comi, além de semente de girassol, naqueles outros pães de Lubeck, mas sei que tava tudo ótimo.

Almoço de hoje: penne com tomatinhos da horta da Arianna, crus, com alho, azeite e em teoria manjericão também, mas hoje esqueci. Eu, que não como tomate cru, fiz uma salada fria de trigo com cenoura, abobrinha e um ovo cozido. Depois comemos uma fatia de pão-meteorito com fontina, um queijo macio que não tem gosto de nada mas que eu adoro.

Aproveitei o ensejo pra preparar e congelar uns hamburgers básicos. Adotei a idéia da minha mãe de misturar um pouco de aveia, assim o hamburger fica crocantão. Tempero com cebola cortada pequeniniiiiinha, sal, pimenta-do-reino, ervinhas secas (uma mistura de salsinha, hortelã, alecrim, estragão) e um pouco de farinha de rosca pra render mais. Não é porque sou eu que faço não, mas é o melhor hamburger que já comemos.

E zé finí.