Já virou meio que um ritual, mas é inevitável, portanto aturem-me, por favor.
Todo mundo sabe que o Rio tá bombando, tá com tudo e não tá prosa, tá vivendo um momento especial, tá na crista da onda. O Brasil, em geral, tá assim, mas pro Rio a vida anda uma beleza.
Eu vi a cidade muito mudada nos últimos poucos anos, e mesmo do ano passado pra cá achei tudo muito, muito melhor. Imaginem que só fui ver o primeiro pivete em Ipanema cinco semanas depois de chegar, e isso porque voltava da academia pra casa à noite todo santo dia. Me senti muito mais segura andando de ônibus. O metrô ainda deixa muito a desejar e sonho com o dia em que as linhas serão tantas que os nossos mapas do metrô serão dignos de virar souvenir, mas dá pro gasto. TO-DO-MUN-DO anda se locomovendo de bicicleta, normal ou elétrica, ou com as laranjinhas do Itaú. Achei as ruas mais limpas e, coisa importante, vi MUITA gente com cara de pobrinha jogando lixo na lata de lixo, coisa impensável até pouco tempo atrás. Falando das pessoas, fiquei impressionada como o pessoal mais pobre anda se vestindo melhor. Todo mundo de óculos novos, bons, bonitinhos, de cabelo feito, de roupas menos cafonas, usando sapatos bons e não aquelas coisas medonhas de plástico da Di Santinni. Achei até as babás nas pracinhas de nível melhor, falando menos errado.
A cidade está FELIZ. Claramente feliz. As pessoas estão de bom humor. Os turistas não são mais caminhoneiros alemães e desdentados, barrigudos nas suas camisetas encardidas à caça de menores de idade. Cruzei com inúmeras famílias com filhos, casais hetero e homo, jovens nórdicos vermelhos de sol curtindo a vida tomando chopp de Havaianas nos quiosques da praia, mochileiros indo pra albergue, gente arrastando mala pela rua com mapa na mão, crianças branquelas comendo Biscoito Globo na areia, falando línguas estranhas no parque Garota de Ipanema. Turistas normais, gente. Turistas comme il faut. Vocês não têm noção de quanto isso me deixa feliz. Tinha que me controlar pra não abraçar cada uma dessas pessoas normais e dizer, chorando de alegria, “Obrigada, obrigada por ser normal e estar visitando a minha cidade! Já comeu pão de queijo?”.
Meu amigo Hiro postou um momento banzo no Facebook esse ano, enquanto ele mesmo estava no Rio (nossas estadas overlapped um pedacinho e conseguimos nos ver a jato, antes dele voltar pra Londres). Eu tive um também, pela primeira vez desde que vim morar aqui no interior do Zaire. Mais precisamente, estava voltando da academia depois de fazer spinning e musculação, comendo uma muy amada banana prata. Virei a esquina da Garcia com a Visconde de Pirajá, ali mesmo onde fica a primeira filial do Bob’s, e tive um insight: minha filha, isso que é a sua casa, o resto é perfumaria. Vejam bem, sou feliz na Itália, me integrei ultra bem, a vida aqui tem muitas vantagens com relação à vida no Rio, mas casa é casa, né. Quem não tem saudade de casa bom sujeito não é.
E eu sinto muita falta de cidade grande. Assim, genérica. Basta ter uma cabeçada danada, muitos sinais de trânsito e precisar fazer mil baldeações no metrô pra me deixar feliz. Já falei isso aqui mil vezes, mas eu sou repetitiva mesmo e vocês sabem; quem não quiser ouvir outra vez que feche a janela. Eu sou um bicho urbano. Se por um lado tem coisas da roça que eu adoro, por outro eu amo o anonimato da cidade grande, que no Rio nem é tão anônimo assim porque na Zona Sul todo mundo se conhece e porque todo carioca é amigo íntimo instantâneo de todo mundo. Amo a bagunça. Amo a diversidade de tudo, de gente, de comidas, de rotas, de atividades culturais, de lazer.
No caso específico do Rio, amo as escolinhas de TUDO na praia, amo os onipresentes uniformes cariocas roupa de praia + Havaianas/roupa de ginástica, amo a feira, tão laidback, alegre e zoneada, amo como todo mundo se despede com beijo, tchau mesmo tendo acabado de te conhecer, amo o sotaque (lógico), amo a informalidade, amo aquela maluquice que é o centro da cidade, amo inclusive o fato da gente dizer “tenho que ir na Cidade resolver um negócio”, amo a SAARA de paixão, amo os caras que ficam batucando pros comensais do lado de fora do Bar Garota de Ipanema, amo como neguinho sai de cachecol quando a temperatura cai pra 20 graus, amo as crianças brincando maravilhosamente descalças na pracinha (se fosse na Itália neguinho chamaria a polícia, com acusação de maus tratos), amo os pinguins que aparecem no Arpoador e as piadas que neguinho fazia sobre eles, amo o restaurantinho mexicano administrado por um casal de estrangeiros, ali na Visconde, amo os cocos verdes pendurados nos quiosques (detesto água de coco mas acho o máximo existir água de coco no mundo), amo as novas estações de metrô, amo as conversas das manicures, divertidíssimas, amo ouvir todo mundo comentando a última da Carminha, amo a moda de tênis mega coloridos, amo as ruas das praias fechadas aos domingos pra neguinho caminhar e levar crianças, cachorros e velhos em cadeiras de rodas pra passear, amo as unhas coloridas. Claro que tem várias coisas chatas também, lógico, visto que paraíso não existe e que não sou cega nem burra, mas o clima anda tão bom pro Rio que prefiro não tocar nesse assunto.
E é por isso que convenci o Mirco a passar o réveillon no Rio esse ano ;)