Uma amiga comentou outro dia que estava com uma dor de garganta power e que não sabia se esperava passar ou se ia ao médico. Ela tinha tido febre no dia anterior e estava com dificuldade pra engolir, então aconselhei ir ao médico, que provavelmente ia dar um antibiótico. Dito e feito. Só que além do antibiótico o médico disse pra ela não pegar frio por 3 ou 4 dias.
Eu juro que gostaria de entender o que é que europeus em geral têm contra “a friagem” (em italiano eles chamam de “frescata”). Será que é tão difícil de entender que o frio fosse realmente danoso ao ser humano não haveria ninguém morando de Nápolis pra cima? Eu sei que as mucosas ficam confusas com as mudanças bruscas de temperatura quando entramos e saímos entre locais frios e quentes nas estações extremas, mas nós não temos só as mucosas das vias aéreas como sistema de defesa. Se você estiver bem de saúde, não vai ser uma mucosa bolada que vai te deixar à mercê dos germes. Já tentei explicar ene vezes que o único problema que o frio causa (lógico que estamos falando de frio normal, não de ficar pelado na rua em Moscou em dezembro depois de uma semana de greve de fome) é o desconforto. Que pode sim rolar uma dor local por vasoconstrição – quando eu saio no frio de cabelo molhado sinto aquela dor tóooooin quando boto o pé na rua, mas depois passa quando entro no carro ou em outro lugar fechado. Sim, o nariz, as orelhas e os dedos dóem quando está frio demais, porque os vasos sanguíneos se contraem pra não perder calor, e essa contração rápida dói, normal. Mas veja bem, não está acontecendo nada de bizarro, meus dedos não estão necrosando, não vão cair, não vou ficar aleijada pra sempre – eles simplesmente estão doendo porque os vasos estão fechadinhos da silva. Quando o calor voltar eles vão dilatar de novo – e se a dilatação for rápida vai doer pra cacete, mas também passa – e pronto, voltamos à estaca zero. Mas não adianta explicar, porque “sempre foi assim” ou “foi assim que me ensinaram”, lemas idiotas que deveriam estar costurados na bandeira italiana de tão enraizados que estão na cabeça dessa gente. A minha mãe acha que é coisa do interiorrrrr, mas não é: eu já cansei de ouvir médico na televisão falando sobre fazer exercício ao ar livre e avisando muito seriamente pra não ficar sem camisa. Sem mais, meritíssimo.
Mas o pior pra mim é a mania da “corrente de ar”. QUALQUER COISA que neguinho sente de estranho por aqui, bota-se a culpa na corrente de ar. Inclusive – e prestem atenção que isso é muito grave – quando se trata de ar quente. Uma vez estávamos no carro andando em Santa Maria, em pleno verão, tipo 3 da tarde, 35 graus à sombra, e passamos por um fulano correndo só de short entre os campos. Eu imediatamente pensei com meus botões, “filho, nunca ouviu falar de insolação não?”, mas o comentário do nosso amigo interrompeu meu raciocínio: “Cara maluco, vai pegar uma pneumonia correndo sem camisa!”.
PÁRA TUDO.
Cacetes estrelados, vento não causa pneumonia. Pneumonia é causada por vírus, bactéria, fungo; pode ser química, em caso de reação a vômito broncoaspirado, por exemplo; pode ser um monte de coisas. Mas “vento” não é uma causa de pneumonia. Vento resseca a mucosa, aliás a queixa maior de quem não gosta de ar condicionado, mas não causa danos permanentes à garganta de ninguém. Vento resseca a pele, o que pra mim, que já tenho pele seca, é o horror, o horror. No meu caso em particular, vento irrita PRA CACETE, o que deve ter alguma repercussão psicossomática não indiferente. Mas eu já ouvi gente citando o vento como causa de *tamboresssssss* dor de dente, indigestão, dor nos rins (já falei que rim não tem receptor nervoso pra dor, mas não adianta), dor nas costas, dor no pescoço (a nacionalmente famosa “cervicale”), e tudo o mais que vocês possam imaginar. Um dia em que a mãe de uma amiga me avisou pra não ir lá pra fora depois de almoçar pra não dar indigestão eu quase engasguei de tanto rir e foi difícil explicar que eu não ia comer neve (que nem tinha porque aqui não neva) nem sair correndo pelada pela rua. Mas é como falar com as paredes.
Menos religião e mais ciência nas escolas, por favor.
Grata,
Leticia