socorro

Reclamo dos Salames, mas não posso me lamentar tanto assim. Hoje dei uma das últimas aulas pro Aluno Endocrinologista, e quase morri de rir. Normalmente ele é fechadão e discreto, mas quando pega confiança começa a falar besteira. Conta uma piada atrás da outra, na maioria dos casos em dialeto perugino.

Hoje contou vários causos. Estamos no final do curso, só temos mais duas aulas semana que vem, já terminamos o livro, estamos na fase de revisão e exercícios, e ficamos horas fazendo Murphy e interrompendo a cada minuto pra falar besteira. O ar condicionado estava ligado mas ele ainda sentia calor; eu disse pra ele virar o vento pra nós (aqui ar condicionado é quase tudo portátil), e ele deu graças aos céus deu não ser daquelas que bota a culpa de tudo no ar condicionado. E dali passamos a trocar histórias de ambulatório e de crendices populares e a falar das doenças típicas de cada país.

Brasileiro adora botar a culpa de tudo no fígado, enquanto que o italiano tem várias doenças de estimação: cervicale, indigestione, congestione, normalmente causadas pelo colpo d’aria (golpe de ar, corrente de ar), ou por beber água gelada demais (…), ou por comer pimentão à noite, essas coisas sem pé nem cabeça, primas da manga com leite. Contei a história da veia do piolho que a Arianna tirou sabe-se lá de onde, e ele quase caiu no chão de tanto rir. Contei a história do Paulo Cintura, o aluno de quarta à noite e de sábado na hora do almoço, que disse que o pai “pegou” um derramamento pericárdico porque foi capinar o campo suado. Quem disse que consegui convencer o menino de que o suor não tinha nada a ver com a história? Principalmente porque está um calor do cacete? A primeira coisa que eu perguntei foi se o pai tinha insuficiência cardíaca, e é lógico que a resposta foi sim. Mas pergunta se ele entendeu que o derramamento era culpa da insuficiência? Pergunta se adiantou explicar o mecanismo do edema e do extravasamento de líquido? Nã nã nã, porque na semana seguinte perguntei se o velhinho já tinha saído do hospital, como estava, e ele respondeu: ele vai acabar tendo a mesma coisa de novo, porque insiste em capinar sem camisa, suado, ao ar livre. AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!!!

Como me irrita essa mania de não ligar o ar-condicionado porque senão dá congestão quando você sai no calor! Não adianta ver todo ano na TV os islandeses todos cozinhando na água quente dos geisers enquanto a temperatura do ar é gélida; não adianta contar que em tudo que é churrasco no Brasil neguinho faz sauna e pula direto na água fria da piscina, muitas vezes depois de uma feijoada básica; não adianta dizer que tudo que é americano só bebe líquido se estiver entupido de gelo, e isso não altera a incidência de “congestão” nos EUA. Não adianta, porque discutir com camponês é perda de tempo total e absoluta. Impressionante como neguinho aqui detesta uma novidade! Já falei pra Arianna mil vezes pra parar de reclamar das alfaces furadas pelas lesmas, e botar um copo de cerveja na terra como eu já cansei de ver na TV e de ler em revistas e na internet: as lesmas aparentemente são chegadas numa loura, e vão todas serelepes na direção do copo, achando que vão tomar todas, mas acabam se afogando. Poxa vida, quê que custa tentar, pelo menos pra ver se funciona? Não, jacaré. Melhor continuar reclamando das alfaces furadas, porque é assim que se faz há séculos. Vou te dizer, que canseira, viu.

porrada! porrada!

Quarta-feira eu estava no bem-bom do meu lar, traduzindo minhas coisinhas depois do almoço, quando o Mirco liga da oficina pedindo pra eu ir buscá-lo porque um marroquino ex-funcionário dele tinha entrado no escritório e lhe dado vários socos e pontapés.

A história é a seguinte: ano passado meu sogro, que é buono come il pane mas péssimo pai, administrador e dono de cachorro, emprestou uma bela grana a esse marroquino. Até aí nada de mais, se não fossem os seguintes poréns: ele sempre se recusou terminantemente a emprestar dinheiro à filha, que queria abrir um bed & breakfast; o marroquino em questão já tinha sido mandado embora e readmitido por ele mesmo mais de uma vez; o marroquino em questão vivia arrumando confusão com todo mundo na oficina, até mesmo com os outros marroquinos, que não o suportam; alguns meses depois de ter pego o dinheiro, e tendo pago só duas prestações, o marroquino em questão pediu demissão e picou a mula. E então o Mirco entrou com o advogado na história.

Essa semana, provavelmente, deve ter saído a decisão oficial de que uma parte do salário dele, na nova empresa onde trabalha, vai ser descontada pra saldar a dívida com o Ettore. Como ele sabe muito bem que quem articulou a coisa toda foi o Mirco, porque o Ettore não sabe nem o nome do país onde mora a filha, quanto mais pra que serve um advogado, volta e meia o marroquino em questão aparece lá na oficina pra ameaçar. Inclusive os Carabinieri já tinham sido notificados, porque uma vez o marroquino em questão apareceu por lá ameaçando o Mirco de morte, entre outras coisas desagradáveis. Dessa vez ele entrou na oficina, porque o Ettore, que além de tudo aquilo lá em cima é teimoso feito uma mula, insiste em deixar o portão aberto, invadiu o escritório, onde o Mirco tava de costas pra porta, falando no telefone, e começou a porrada. Levou um soco só, o primeiro que o Mirco deu em toda a sua vida, e deu vários – porque infelizmente o imigrante, em certos aspectos, é mais bem protegido pela lei do que o italiano, e se o Mirco revidasse seriamente iria perder a razão. Conseguiram segurar o cara, que ainda falou alguma coisa em árabe com os outros marroquinos – eles o detestam tanto que contaram pra gente que os ameaçou caso testemunhassem contra ele.

Quando cheguei na oficina, os Carabinieri tavam lá anotando tudo, fomos ao hospital em Assis e ontem de manhã o Mirco foi entregar a denúncia formal e o relatório médico. Não houve nada de particular: contusões, hematomas, dor na nuca e leve tonteira, e dor no esterno, porque foi onde ele levou o soco mais forte, mas nada de ooooooooh. Só que agora fica aquela coisa: eu já cansei de surpreender o Mirco tarde da noite na oficina, concentrado no trabalho, às vezes no escritório, às vezes dentro do forno, pintando. Pular o portão é sopa no mel; eu mesma já pulei mais de uma vez, inclusive cheia de casacos e cachecóis. Um cara desses, que não tem nada a perder, entra armado na oficina, ou então entra desarmado mas pega uma chave de roda qualquer dos carrinhos de ferramenta, e bye bye lanterneiro. Legal, né?

a outra vizinha

Quase todos os edifícios por aqui têm algum tipo de comércio no andar térreo. Nosso prédio tem um irmão gêmeo, que fica em cima de um bar e de um jornaleiro – na verdade o jornaleiro é uma continuação do bar e pertence ao proprietário deste, que larga a máquina de café pra lá pra ir buscar a revista que você pediu. Embaixo do nosso prédio há um salão de beleza (Parrucchiera Valeria), cuja placa luminosa, instalada num poste no canteiro central da rua de acesso ao aglomerado de casas e prédios onde moramos, é um ponto de referência em Cipresso. Você vem vindo pela estradona de Cipresso, e quando vir a placa Parrucchiera Valeria vira à direita, tá? Ao lado do salão da Valeria ficava uma loja de artigos pra caça e pesca (só coisa super útil, cês tão notando?) que era outro ponto de referência pra quem vinha lá em casa pela primeira vez. O nosso prédio não é o do bar, é o da loja de caça e pesca, tá? Quando nos mudamos pra cá a loja já estava desativada, com jornais velhos e amarelados colados nos vidros da vitrine, mas o letreiro ficou lá, vivo e forte, ajudando gente a encontrar o nosso prédio, até uns meses atrás. Não víamos ninguém, mas todo dia notávamos que um pedaço da vitrine estava livre de jornais, depois surgiu uma parede amarela, depois uma placa com um peixe encostada no chão, depois uma vassoura num canto. Achamos que era a loja de caça e pesca que reabria, ou um clube de pesca, ou uma outra coisa inútil qualquer. Até o dia em que surgiram, do nada, umas roupas horrorosas penduradas em CORRENTES, estendidas a esmo por toda a vidraça. Pela falta de cuidado estético e de qualidade das peças, TODAS claramente de tecido sintético, com costuras tortas e apliques em pelúcia, achamos que fosse um bazar de Natal ou coisa do gênero. Até o dia em que apareceram lá dentro um balcão com uma máquina registradora, um vaso de plantas e um aparelho de som. Na porta de vidro, uma fotografia de uma mulher com os olhos muito maquiados, o pescoço enrolado num lenço de oncinha esvoaçante, em uma pose daquelas de femme fatale, que eu honestamente acho incrivelmente broxantes. Ficamos achando que fosse algum bazar beneficiente pra uma menina morta, que seria a da foto, sei lá, não seria incomum. Até o dia em que o Mirco chegou em casa na hora do almoço dizendo que tinha ouvido no rádio algo sobre uma imprenditrice de Bastia que abriu uma loja em Cipresso, e pra conseguir o dinheiro necessário fez um calendário, bancado do proprio bolso.

E aqui pauso pra explicar o lance dos calendários aqui na Itália. Todo mundo que fica famoso faz um calendário, inevitalmente em trajes sumários, poses sexy e em um cenário paradisíaco e supostamente exótico (e conseqüentemente afrodisíaco, dizem). Todo VIP italiano já fez um calendário. Todo mundo que saiu do Grande Fratello já fez um calendário, ao menos. Pode-se dizer que o calendário é um indice de VIPidez, porque VIP que é VIP TEM que fazer pelo menos um calendário na vida. Não sei quem compra essas coisas porque honestamente se toda banca de jornal resolvesse vender tudo que é calendário que sai, não haveria mais espaço pra jornais, revistas ou coleções de bonecas de porcelana ou modelos de carros antigos.

Sei que a tal mulher fez o diabo do calendário pra cobrir as despesas da abertura da loja, que não tem nome nem letreiro nem coisa nenhuma, só a foto dela colada na porta com fita durex, lenço de oncinha no pescoço, os olhos afogados em kajal preto, na tal pose sexy. Mirco anotou o nome da mulher e assim que chegou em casa fomos direto catar na internet. Descobrimos links pras fotos do calendário, que são qualquer coisa. Imaginem uma mulher nem feia nem bonita, corpo que só fica legal quando ela levanta os braços e arqueia a coluna, com maquiagem feita em casa, camisolinhas que ela deve usar de verdade, fazendo poses ridículas em lugares absurdos – no bosque perto do estádio em Perugia, na cadeira da sala de estar, com direito a estante no fundo e tudo, enrolada em lenços coloridos, deitada no meio de folhas secas.

No dia da suposta grande inauguração da loja, em cima do balcão lá dentro viam-se umas garrafas tamanho família de Coca-Cola, uma bacia de plástico provavelmente cheia de salgadinhos gordurosos comprados no supermercado dos imigrantes, uma pilha de guardanapos brancos. Duas garotas, claramente suas amigas e não clientes, lhe faziam companhia. As luzinhas piscantes do aparelho de som denunciavam a presença de música, com certeza algo bem meloso da categoria da Laura Pausini. Mais nada.

A loja tá aberta desde antes do Natal e eu nunca vi ninguém entrando nem saindo, nem lá dentro, nem com sacolinha na mão ali pelos arredores. E olha que eu entro e saio de casa vinte vezes por dia.

Agora imaginem eu saindo de casa pra trabalhar outro dia e dando de cara com uma folha de papel pautado colada na porta da loja, com a seguinte mensagem escrita à mão, com caneta Bic Cristal azul: A LOJA FICARÁ FECHADA ATÉ A PRÓXIMA SEXTA-FEIRA, POR MOTIVO DE ENTREVISTA NA TV.

Gente, viver em cidade pequena é uma fonte eterna de grandes emoções. Juro.

eu, hein

Devem ser as influências malignas dos Botenses, que só sabem falar berrando. Sei é que ultimamente quando chego em casa estou sempre com a garganta doendo, como se eu tivesse passado horas me esgoelando em um show de rock. Comecei a prestar mais atenção a como eu dou aula, e freqüentemente me pego literalmente berrando em sala, ainda que não seja absolutamente necessário, já que a única turma minha que tem mais de um aluno tem DOIS alunos, e que até onde eu sei não têm nenhum déficit auditivo. O que será isso?

Da série no comments, ou pára o mundo que eu quero descer, ou devo realmente ter picado salsinha na tábua dos dez mandamentos pra merecer uma coisa dessas

Essa eu ouvi, ninguém me contou.

Eu, quando vi o filho bastardo do idiota do tio do Mirco com uma piranha escrota, de cabelo raspado na cozinha da Arianna ontem à noite, descascando avelãs: Ih, F., deu piolho na escola, foi?

Arianna: Pois é… Todo mundo tem aquela veia aqui na nuca, né, aquela dos piolhos…

Eu, depois de um breve intervalo de silêncio pra tentar captar o sentido da frase: Que veia?

Arianna: Aquela veia na nuca, de onde saem os piolhos!

Eu, sentindo a pressão arterial (que aqui se chama arteriosa, hahahahahahahahahaha) subir em alguns milímetros de mercúrio: Arianna… Piolho é bicho infestante, que nem rato, barata, pulga. Mosquitos. Tipo assim, eles vêm, passam de um cabelo pro outro porque as crianças brincam juntas, tocam muito umas nas outras. Piolho não pula, por isso que é mais comum em escolas e creches, adulto se encosta menos, pro piolho não somos bons hospedeiros.

Arianna: Mas e a veia?

Eu, já em ponto de arrancar os cabelos: QUE VEIA, ARIANNA? Eu tenho três anos de idade e estou coberta de piolhos, vou brincar de massinha do seu lado na creche, chego perto de você pra roubar a sua massinha verde que a minha acabou, encosto a minha cabeça na sua, o piolho tá lá nos meus cabelos, não sabe a diferença entre o meu cabelo e o seu, simplesmente vai andando numa boa, e quando vê está na sua cabeça e você está infestada.

Arianna: Tá, mas todo mundo sabe que piolho tem essa história da veia na nuca. Senão de onde vêm os piolhos? Onde eles ficam?

Eu, entrando em colapso nervoso, coma irreversível, animação suspensa: E de onde vêm os mosquitos? E as baratas? E os ratos? E as pulgas? Onde você acha que vão parar os mosquitos e moscas no inverno? Arianna, please, eu estudei Parasitologia por seis meses, é pouco, eu sei, mas eu vi o piolho no microscópio, estudei o ciclo de vida do piolho, eu tinha até uma professora louca de Parasito que imitava o piolho esmagado no microscópio. Pelamordedeus, não me venha falar de piolho em veia na nuca que eu me sinto desmoralizada.

Arianna, resmungando: Pode até ter estudado, mas…

Sorte que o tio idiota mudou de assunto, senão era capaz deu ter caído de joelhos e chorado ali mesmo.

ai, meus sais…

Tenho feito vários inimigos no Orkut. Invariavelmente é gente que não respeita a diferença de gostos. A internet anda cheia delas.

Um paulista-oriental que insiste em não usar espaço depois da vírgula e tem um português péssimo abriu um thread recomendando a cozinha coreana. Eu falei que nunca experimentei e não quero porque tenho trauma, porque a Hunka tinha vizinhos coreanos que empesteavam o prédio no domingo, quando resolviam cozinhar. Escrevi isso lá porque achei que era uma historinha engraçada, não?

Pronto. Como você é preconceituosa! Como você pode julgar a culinária de um país inteiro por um vizinho que cozinha mal? Os restaurantes coreanos vivem cheios de gente famosa, deve significar alguma coisa, né? (ma che cazzo di argomento è???)

Respondi que nem que eu quisesse poderia experimentar comida coreana, porque aqui onde eu moro não tem. Um idiota responde, sempre em português sofrível:

Eu estive em Roma e vi restaurantes tibetanos, peruvianos, tailandeses, coreanos…

Eu não moro em Roma, querido. E restaurantes estrangeiros não fazem exatamente um sucessão aqui, como qualquer um que conheça um italiano pode demonstrar. O que você acha que um italiano pede quando vai a um restaurante chinês? Spaghetti com frutos do mar, frango com amêndoas, carninha na chapa. Nada de bizarro, italiano não gosta de arriscar quando o assunto é comida.

Ai vem a pérola do paulista-oriental (estou omitindo os erros de digitação e de gramática):

Viva quem aprecia comida estrangeira sem culpa…

Culpa? Não entendi.

Fechei com a Grande Verdade Universal: GOSTO NÃO SE DISCUTE, PORRA.

num to intendeindo

Quanto mais o tempo passa e mais coisas eu vejo, mais dou importância à capacidade comunicativa das pessoas. Pois não existe inteligência emocional? Musical? Esportiva? Matemática? Com certeza existe comunicativa também. A diferença, acho, é que não se comunicar direito causa problemas em todas as áreas da vida, enquanto que ser desafinado, por exemplo, é só levemente desagradável.

Lembro da minha época da faculdade, quando fazíamos prova no anfiteatro principal, estilo anfiteatro grego, com bancos de madeira e total visibilidade das fileiras à frente. Eu enxergo muito bem e sou muito curiosa, e sempre tive o hábito de xeretar nas provas dos outros, mesmo quando sabia as respostas. E ficava impressionada com a incapacidade das pessoas de entender o que foi perguntado e dar uma resposta adequada. Via gente respondendo em páginas e mais páginas a questões do tipo “Cite três sintomas…”. Eu pensava, cacete, citar NÃO é explicar, por que essa criatura está escrevendo tanto??? Ou não entendeu a pergunta ou não é capaz de escrever uma resposta sucinta – ambos defeitos graves, na minha opinião. Extrapolando um pouco a coisa, eu imaginava essa futura médica explicando a um paciente a sua doença, as opções de tratamento, os efeitos colaterais de uma medicação. Com certeza não seria uma explicação clara, muito menos sucinta.

Essa pessoa também com certeza vai ter problemas até quando for ao Ponto Frio Bonzão comprar um liquidificador. Como a senhora quer o seu liquidificador, senhora? Imagine uma resposta de meia hora, que não responde nada.

Claro que nem todo mundo sabe escrever bem. Cada um tem seu talento individual e seus defeitos individuais. Eu escrevo bem mas não sei desenhar nem casinha e também não sei fazer regra de três de cabeça, mas isso não atrapalha em nada a minha vida. Não tenho a pretensão de que todo mundo deva ser um Verissimo. O que eu acho é que neguinho anda muito burrinho, muito incapaz de entender e, consequentemente (que saudade do trema!), incapaz de se fazer entender. E isso não tem nada a ver com escrever e falar BEM, mas com escrever e falar pelo menos CLARAMENTE. Coisas muito diferentes.

(E eu diria que essa idiotice generalizada é um fenômeno muito brasileiro, porque em threads semelhantes a essa abaixo, em comunidades americanas semelhantes, a discussão é de altíssimo nível, tanto em termos de conteúdo quanto de forma).

Vejam os exemplos de um thread numa comunidade de ateus do Orkut. Começou com um topic do Eduardo, um evangélico chatérrimo que adora encher o nosso saco.

Já que vocês não acreditam em Deus, quero saber… 7/16/2004 1:43 PM
1. Todo Cristão é culpado pelas mortes causadas pela Igreja católica (que nunca foi muito cristã!) durante inquisição, etc?
2. Dentre todas as religiões existentes (teístas), quais o qual [SOCORROOOOOOOOO] você consideraria como a mais lógica?
3. Você se tornou ateu porque cansou da religião? Ou porque sempre procurou por Ele, e Ele nunca te respondeu?
4. Vocês acham mesmo que não tem fé?
5. Vocês acham que não existe nada além daquilo que podemos enxergar ou pensar?

Até!

Algumas respostas selecionadas pelo pouco nexo que apresentam (e reparem também nos repetidos assassinatos gramaticais. Os negritos gramaticais e os itálicos de sem nexo são meus, assim como os comentários entre colchetes.):

1. Claro que não, isso não tem nada haver uma coisa com (onde foi parar a preposição?) outra.

2. Na minha opniao, as mais logicas são o satanismo(como religiao pessoal) e o paganismo.

3. Na verdade eu nunca acreditei muito nessa história, as pessoas são ignorantes, coisas que não entendem dizem que é obra divina.

4. Essa história já esta morta, já foi mais do que provado que a fé nao tem nada haver com deus, ou religiao alguma, a fé é uma forma de pensamento positivo, isso já foi provado cientificamente (já pareceu no Fantástico inclusive.

5. Isso foi umas das coisas mais ignorantes que eu já , sem comentários.

Vejam que pérola do nonsense:

1 – aaah mas na inquisição o papa pediu desculpa depois. quantas culturas indigenas massacradas, nas cruzadas, sua igreja mediocre de lutero foi criada simplesmente porque a SIRG [reparem que estamos falando de um Império. Substantivo masculino.] queria anexar terras da igreja católica. a [o que seria isso? Um “Ah,”?] mas a 1 GM nao tem nada a ve com a 2 GM nem vo cita história
2 – na espiríta, foi a única que começou com processos lógicos e racionais antes de se jogar na fé com oq nao explicava (nao curto espiritismo)
3 – procurando ou nao procurando continuava a mesma coisa, novamente, se deus existe eu nao gosto dele e eu sou anticristo
4 – sim, na mesma intensidade que acho vc alienado
5 – se deus está até alem do seu pensamento, nao pode existir ;) vc sempre acaba caindo em contradições te perdoo

Outra:

1. Não é bem assim. Eu não confundo a igreja com o clero. Apesar de ser “mentirosa” [Quem é o sujeito? A Igreja, presumo], há muitos clérigos que podem passar uma lição de vida muito melhor que ateus revoltados e satanistas ou simplismente desinformados. Assim como tem clérigos que como muitos seres humanos é ganancioso [o plural onde foi parar?] e não se importa com a vida alheia. Eu imagino um ateu, na situação do clero, onde eles tinham [eu usaria um futuro do pretérito aqui, e vocês?] que manter o poder. Fariam [aqui ele acertou o verbo, vai entender] ainda pior, porque mesmo alguns inquisidores acreditavam que faziam o que faziam por deus. Se o ateu não acredita em um pós vida, seria ainda mais sarcastico. Claro, levando em consideracao que o ateu seja tão mal quanto o padre. Lembre-se, ha bons padres e maus padres. Assim como todo ser humano [falta alguma coisa aqui…].

2. Ah… Exceto o islamismo e algumas criadas na Reforma, todas são perfeitas, levando em conta a existencia de deus, pois todas explicam tudo ded um modo perfeito. Mas, como ele nao existe, nao ha religiao teista logica.

3. Me tornei ateu porque estudei. [Nota-se].

4. Em algumas coisas. Eu tenho fé que se eu soltar um lapis a uma certa altura ele vai cair. Mas em deus eu nao tenho.

5. Acredito que a ciencia chega lá e vai resolver todos os misticismos.

Minha resposta ligeiramente desaforada:

1. Não merece nem resposta, essa tua pergunta. O máximo que eu posso dizer é que aceitar fazer parte de uma religião que causou tantas guerras, tantas mortes, tanta pobreza e sobretudo tanta ignorância não é um bom indício de lucidez. Não importa se o Papa pediu desculpas ou não. Hoje a Igreja Católica não manda mais ninguém às Cruzadas, mas continua matando indiretamente, ao ser contra a camisinha em tempos de AIDS, por exemplo. Apoiar esse tipo de pensamento é ser conivente com as consequências. Que, diga-se de passagem, não são nada light.

2. Nenhuma, obviamente, já que religião e lógica são coisas diametralmente opostas, por definição.

3. Nunca acreditei em deus, porque nunca fez nenhum sentido pra mim, além de nunca ter entendido por que as pessoas precisam tanto acreditar nele. Meus pais tiveram a sensatez de não me batizar (ainda bem, porque essa imposição da escolha religiosa me dá um nojo que você nem imagina) e de não me botar em escola religiosa. Cresci livre pra pensar. Não é maravilhoso?

4. Isso tudo depende da sua gramática, querido. “Não tem fé” se refere a quem? Porque se você está perguntando se nós achamos que não temos fé, teria que ter botado um circunflexo no verbo “tem”, pra fazer o plural. Como não botou, esse “não tem fé” pode querer dizer inclusive “não há fé”. Nesse caso a resposta é sim, infelizmente. Infelizmente existe fé, aquela cega, que impede a visão do mundo ao redor. Aquela dos antolhos.

Marcelo, o seu exemplo do lápis não tem nada a ver com fé. Ter fé é acreditar cegamente. Quando deixamos o lápis cair SABEMOS que ele vai cair, e sabemos o porquê também. Saber é diferente de acreditar cegamente.

Não me batam, mas a minha única fé cega é a de que um dia o pessoal que se manifesta publicamente vai ter um nível de Português um pouquinho melhor e parar de botar vírgula entre sujeito e predicado, crase antes de verbo e de palavra masculina, vai parar de errar os acentos dos porquês. Será que é otimismo demais da minha parte? ;)

5. Essa também não merece resposta.

Eduardo, na boa, não subestime a cabeça do pessoal aqui. Só porque os outros escrevem mal, que nem você, não significa que são estúpidos e cegos, que nem você. Pelo contrário, os argumentos dos membros dessa comunidade costumam ser muito lúcidos e interessantes. Ao contrário dos teus, sempre repetitivos e desprovidos de embasamento científico ou de opinião própria. Culpa dos antolhos…

**

Uma das coisas mais tristes é a falta de coerência gramatical (pra não falar das idéias). Já cansei de ler respostas com diferentes erros sobre o mesmo assunto na mesma frase – como o que escreveu mau e mal acima, em contextos idênticos, acertando num caso e errando no outro. Que síndrome é essa da atiração pra todos os lados? O cara não sabe como se escreve “nada a ver”, então ele escreve na mesma frase “nada haver”, “nada a vê”, “nada ver”, pra ver se acerta em pelo menos uma? Queísso! Pelo menos escolhe um e fica fiel ao seu errinho! Eu tenho meus erros de italiano de estimação, que fico com preguiça de olhar na gramática pra consertar. Mas pelo menos são sempre os mesmos.

Gente estranha.

(podem deixar que eu darei detalhes da minha expulsão da comunidade.)

uhuuu

Amanhã cedinho parto pra Todi, onde vou encontrar aquela mala do Leo, deixar o meu carro estacionado sei lá onde, e juntos vamos ao aeroporto de Roma pegar aqueles americanos milionários pra quem eu vou trabalhar como intérprete. Talvez eu volte amanhã mesmo e só comece a trabalhar de verdade do domingo até o começo de julho, mas de qualquer maneira não se assustem quando eu sumir: estarei rodando pela Toscana, vendo lugares maravilhosos que eu ainda não conheço, e podem deixar que estou levando meu diário convencional e quando voltar faço o relato completo.

E falando em gente cheia da grana, nem contei a história do canadense e seu Car from Overseas.

Estou eu entrando na agência outro dia, com a sólita má-vontade, quando vejo uma ruivinha sentada à frente da Roberta, uma das secretárias. O sotaque era inconfundível: ou era americana ou canadense. E era canadense. Ativei meus Super Ouvidos de Tuberculoso pacamanca Inc. e pesquei a seguinte história: ela era a assistente pessoal (será que um dia eu vou ser tão rica que vou precisar de assistentes pessoais em outros países?) de um canadense que comprou uma casa no monte, atrás de Assis (avaliada em 400.000 euros), e que, apesar de ter cidadania italiana, não tem residência oficial aqui, e por isso não pode comprar carro. Como aqui não rola nada sem carro, ainda mais pra quem mora no morro, ele quer trazer o carro dele do Canadá pra cá. Vou repetir, se alguém não entendeu direito: ELE QUER TRAZER UM CARRO DO CANADÁ PRA CÁ. E a discussão toda era em torno da possibilidade ou não de fazer uma coisa do gênero, em termos assicurativos. Parece que depois de sei lá quantos meses aqui, um carro estrangeiro tem que obrigatoriamente ser registrado na Itália e pegar placa italiana. Fiquei curiosíssima, needless to say, e outro dia, quando ela voltou com o tal canadense, que aliás é muito simpático e não tem a menor cara de milionário, até porque é bem jovem, eu bem dei um jeito de me intrometer e bater papo em Inglês. Não deu tempo de descobrir como é que essa criatura ganha toda essa grana porque o maldito cliente com quem eu tinha horário marcado chegou, mas eu já falei pra Roberta perguntar, assim como quem não quer nada, a próxima vez que ele aparecer lá (ele tem que ir levar e assinar uns documentos).

tolinha

Diálogo surreal na padaria ontem:

Cliente: …então eu acho que vou deixar esse sonho com chantilly e pegar o Diplomata. Tem menos calorias.
[O tal Diplomata é um doce de massa folhada com crema pasticcera e, last but not least, açúcar de confeiteiro por cima. Só pra ilustrar.]
Eu (que tenho o péssimo habito de meter o nariz onde não sou chamada): Senhora… No final das contas é capaz do Diplomata ter mais calorias do que o chantilly…
Cliente: Não, não, a crema pasticcera é mais leve, a massa folhada da Maria é muito leve…
Eu: Imagino que seja leve, não posso dizer com certeza porque não gosto de doces desse tipo, mas sei que de qualquer forma a massa folhada leva manteiga, assim como a crema pasticcera.
Cliente: Não, não, engorda menos. Olha que eu entendo um pouco de cozinha, sabe…
Eu: Bom, se é por isso, eu, além de cozinhar, sou formada em Medicina, ou seja, entendo um pouco também do valor nutricional dos alimentos…
Cliente, com cara de cu: Ah, a senhora é médica? Trabalha em Assis?
Eu: Não trabalho como médica.
Cliente: A senhora deveria experimentar o Diplomata, vai ver como é leve.
Eu: Não gosto de doce desse tipo, senhora.

A cliente sai. A padeira, que há anos serve a família do Mirco e já me conhece, olha pra mim com cara de coitada:
– Mas se a massa folhada leva manteiga, como é que pode engordar menos…?
– Exatamente.
– Bom, mas ela tava tão convencida… Melhor deixar quieto, né?
– É que eu tô cansada de ouvir besteira na boca do povo por aí, sabe…

Ela deu uma risada, embrulhou meu pão sem sal e eu fui embora.

Domingo, antes daquela cachorração toda, resolvi aproveitar a temperatura agradável pra dar uma guaribada na minha mini-micro-horta de varanda. Além da jardineira comprida que a Arianna me deu meses atrás, na qual plantamos salsinha, alho, hortelã e aipo, eu comprei um vasinho de tomilho, um de tulipas, um de uma planta meio cactus mas com florzinhas bonitinhas, e sementes de manjericão e de cravos. Arianna me deu um vasinho de alecrim. Na sexta-feira eu tinha comprado mais uns vasos maiores e mais bonitos e um pacote de 20 quilos de terra, e no domingo transplantei o alecrim e o tomilho pra esses vasos grandes e fiz uma coisa que eu nunca tinha feito na vida: plantei sementes. Adorei a experiência. Queria tanto morar numa casa pra ter um jardim e poder me dedicar a essas coisas! Claro, ainda tenho que ver se os raios das plantas vão nascer. Não duvido nada que eu tenha plantado tudo errado e as bichinhas resolvam não sair da casca. Vamos ver.

**

Então segunda-feira começou o tal treinamento pra vendedor de seguros. Na verdade eles trabalham muito mais com investimento e planos de previdência do que com seguros, coisa que eu não sabia. No primeiro dia achei tudo um saco, fora a parte da tarde, dedicada ao sistema previdenciário italiano – muito esclarecedor. As pessoas que participam são meio estranhas:

Giacomo, de Fabriano, da mortíssima região Marche, onde nada acontece. É um sujeito alto, jogador de basquete, com voz profunda mas faz muitas pausas quando fala. É bonzinho e razoavelmente esperto e ontem implorou pra eu falar português na mesa do almoço. Acabei ligando pra FeRnanda e ele achou interessantíssimo.
Adele, que é de Abruzzo mas mora em Fabriano também. Uma lourinha baixinha e atarracada muito esperta, agitada e sorridente. Gostei dela.
Fabrizio, perugino (começamos mal) com o cabelo entupido de gel todo penteado pra frente (continuamos mal), cuja auto-apresentação na segunda consistiu em “a única coisa interessante e característica da minha vida é que sou fanático por futebol” (nem preciso dizer que a partir dessa palavra “fanático” essa criatura passou a ser ignorada pela minha pessoa).
Sabina, de só 19 anos, moradora do Lazio, uma chata de galocha, capa e guarda-chuva. Hiper arrogante porque é magra e tem um brilhante no nariz e outro no dente, e porque já trabalha na agência de seguros há um mês. Volta e meia solta comentários do tipo “aaaah, realmente, isso acontece muito”. Acontece muito o quê, cara-pálida? Um mês de experiência enfurnada numa agência te ensinou o quê? Maquiadíssima, fuma e tem orgulho disso, usa sapatos com ponta fina estilo mata-barata-no-canto-da-parede. Também digna do meu desprezo.
Silvia, perugina (começamos mal), advogada recém-formada, com dentes tortos E cinza (pronto, já não existe mais pra mim. Quem é Silvia?). Repete tudo o que o instrutor fala como se fosse uma conclusão brilhante dela mesma, diz coisas sem sentido só pra dizer alguma coisa. Mais ou menos como “Ah, é, mas então… Sabe? Pois é.”
Michela, perugina sem sotaque (começamos bem), formada em Ciências Políticas, suuuper calada mas muito clara e sintética quando abre a boca. Parece muito tímida, mas é inteligente. Se veste MUITO mal.
Antonio, napolitano barbudo que mora em Perugia há 9 anos. Muito calado mas simpático e não-burro.
Riccardo, de Foligno (começamos mal), clássico italiano Cepacol, magro, alto, de camisa social justa com colarinho altíssimo e punhos grossíssimos, gravata com nó gigante, calça justa e blazer de grife. Super calado. Fuma e tem cara de bobo.

O instrutor se chama Massimo e tem bem cara de vendedor de seguros mesmo. Muito esperto, engraçado, simpático, diplomático, também é jornalista esportivo e tem vários clientes jogadores de futebol. Gostei dele.

Pois então: segunda foi um dia chato, mas ontem foi mais divertido. De manhã falamos sobre comunicação. Depois de muito falar, Massimo nos fez ir lá pra frente contar alguma coisa que nos tivesse acontecido – qualquer coisa, só pra testar nossos talentos de comunicação. Eu contei o dia em que eu e Valéria almoçamos em Capri na casa de uma família que não conhecíamos, cuja prima Valéria conheceu no barco que nos levou de Sorrento a Capri. Fui aplaudidíssima e muito elogiada pelo meu incrível domínio da língua italiana, pela minha mímica facial expressiva, pelas risadas que provoquei – tudo coisa que eu já sabia, mas não custa nada ouvir de vez em quando. Mais tarde, conversando a sós com o Massimo, ele disse que eu não posso desperdiçar esse talento, não posso jogar fora esse emprego, que sou uma vendedora nata. Não gosto de vender, apesar de saber que o faço bem. Mas quanto a uma coisa ele tem razão: não posso jogar fora a oportunidade desse emprego. É uma empresa consolidadíssima no mercado italiano e internacional, há boas perspectivas de crescimento na carreira, o salário é ótimo, não vou ficar enfurnada numa agência mas rodando e conhecendo gente de tudo que é tipo, vou poder organizar meu próprio tempo, e ainda por cima vou aprender a mexer com dinheiro. Nunca tive grana suficiente pra investir em nada e não gosto de números, então realmente não entendo nada do assunto, mas gostaria de. Então acho que vou pegar. O treinamento vai até sexta-feira, e na segunda tenho que me apresentar na agência pra começar o estágio remunerado de 4 meses, renovável por mais 4, com possibilidade de carteira assinada no final desse período. Vamos ver. Se eu não gostar, pulo fora.

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No almoço de ontem, Fabrizio o Perugino Retardado deu mais mostras do seu retardamento. Como qualquer pessoa limitada por um só interesse na vida (futebol, no seu caso), sua visão do mundo é muito restrita e sua ignorância é impressionante. CLARO que o papo acabou caindo no Brasil, e CLARO que ele começou a soltar um monte de besteira e eu acabei me irritando seriamente. Tipo:
– Ah, só de escutar a palavra Brasil eu já sinto um clima…
– Clima de quê, Fabrizio? É um país como outro qualquer.
– Ah, não é não… Tem toda aquela alegria, as festas, as pessoas dançando na rua…
– Quem foi que disse que as pessoas dançam na rua?
– Ah, todo mundo sabe!
– Todo mundo sabe também que todo italiano é mafioso e dança tarantella.
– Não é verdade!
(olhar congelante da minha parte)
– Eu sei também que rola muito tráfico de órgão no Brasil.
– Tenho certeza de que rola, como também rola aqui, mas o campeão mundial de tráfico de órgãos é a Albânia, meu querido. Nossos problemas são outros.
– Não, tenho certeza que é assim!
– Querido… Eu sou brasileira, morei lá minha vida toda. Você NÃO vai querer discutir comigo sobre o meu próprio país, vai por mim.
– Po, mas eu sei que é um país muito atrasado…
– Em muitas coisas sim, mas em tantas outras estamos anos-luz à frente da Itália. (mencionei o nosso avançadíssimo sistema bancário e as nossas eleições automatizadas. Ele fez cara de “é mentira”. Sorte dele que não tenho porte de arma).
– Fabrizio, na boa… Se você não sabe nada sobre um assunto, e claramente você não sabe nada sobre muitas coisas, é melhor ficar calado. Fica quietinho, fica.

Massimo muda habilmente de assunto. Fabrizio acende um cigarro, arregaça as mangas da camisa e vemos uma originalíiiiiissima tatuagem de teia de aranha no cotovelo. Também há um tribal muito mal feito no antebraço esquerdo e mais duas tatuagens nas costas. Pronto! Esse menino, que antes gozava apenas do meu saudável desprezo, agora entrou na categoria “o mundo seria melhor sem ele”.

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Hoje o assunto é técnicas de venda. Acho que vou me divertir. Quero só ver Silvia, Fabrizio ou a mala da Sabina simulando vendas. Deles eu não compraria nem uma bala Juquinha. Minha religião não permite ter nenhum tipo de contato com gente da minha idade que tem dentes tortos E cinza.