plebiscito

O tal plebiscito de que falei outro dia é o seguinte: o governo Berlusca tinha passado uma proposta pra alterar a Constituição. Queriam mais autoridade pro Presidente del Consiglio (ho ho ho), queriam mais autonomia pras regiões, e outras coisinhas. O plebiscito é pra aceitar essas alterações ou não. Então dou aqui o meu pitaco de quem não tem nada a ver com o peixe:

A idéia de dar mais autonomia às regiões seria até interessante; boa parte dos subsídios da União Européia já vai pras regiões (que não são necessariamente as regiões administrativas do país, mas é uma coisa determinada pela Comunidade Européia mesmo) sem passar pelo governo federal, e reforçar esse tipo de estrutura seria benéfico em termos de tempo e de finanças – uma etapa a menos no caminho do dinheiro, afinal. Só que não estamos na Alemanha ou na Suécia. Aqui cada um cuida só e exclusivamente do próprio rabo e trabalhar em equipe, hein?, quequeísso?, tô cagando pro vizinho, meu negócio é me dar bem. Em uma cultura assim TEM que ter um governo central, bem mandão, pra botar um mínimo de ordem no furdúncio, porque senão vira casa da Mãe Joana. Se as alterações na Constituição ganharem o plebiscito, tenho certeza de que daqui a um ano os sistemas educacionais e de saúde entre as diversas regiões do país vão estar completamente incompatíveis. Tem mais: não sei se vocês lembram, mas atualmente a especulação imobiliária e a coleta de fundos da CE são as principais fontes de lucro das diferentes organizações mafiosas do sul. Imaginem se a grana não precisar passar por lugar nenhum, nunca, antes de chegar às regiões meridionais da Itália! Vai facilitar imensamente a vida da Cosa Nostra, que vai sugar mais fundos europeus ainda, como sempre sem nenhum benefício real aos habitantes locais, já que o dinheiro todo some mesmo e todo mundo sabe. Não é à toa que o sul da Itália é todo de direita.

A votação aqui dura sempre dois dias, um domingo e uma segunda. O título de eleitor deles é enorme, meia página A4 dobrada em 4, com espaços enormes pra carimbar a cada eleição. Acho engraçadíssimo. A carteira de motorista também é gigante, e DE PANO. Agora estão modernizando – a minha já é tipo cartão de crédito, por exemplo – mas quem ainda tem a de tecido não vai pagar pra tirar outra só porque é menor, então fica desfilando com aquele troço rosa ridículo na carteira. A identidade também é imensa; tão grande que não cabe na carteira e ninguém, NINGUÉM leva identidade pra lugar nenhum. Só serve pra votar e pra viajar dentro da Comunidade Européia. Vão ser resistentes à modernidade assim na casa do chapéu, vou te dizer.

tadinhos

Essa semana 500.000 alunos do 2o grau italiano estão fazendo as provas da chamada maturità, um meio-irmão do vestibular. Meio-irmão porque não é um teste de acesso às universidades; é aplicado diretamente pelo Ministério da Educação e é igual pra todo mundo. Mas em termos de neurose é igualzinho: neguinho entra em pânico, tem quem emagrece, tem quem engorda, tem quem não dorme, tem quem prepara colas moderníssimas pra botar dentro do sapato, tem quem descubra os temas das redações e bote na internet, enfim.

Não entendo direito o sistema, porque cada tipo de 2o grau faz algumas matérias só (tipo, matemática pra quem fez o liceu científico, grego pra quem fez o liceu lingüístico, e por aí vai), que são decididas, parece, no último momento. A prova de italiano, essa sim igual pra todos, pode ser o comentário de um texto jornalístico, um tema livre, ou sei lá o quê mais. O que me choca é a quantidade de matéria inútil que esse pessoal estuda. Meus alunos estão todos subindo pelas paredes. O Filho do Dentista revisou Biologia OITO vezes, fez curso preparatório em Palermo e sei lá o quê mais, e provavelmente na prova geral dele só teve UMA questão de biologia, já que a prova específica pro liceu dele foi matemática.

O sistema de educação italiano é absolutamente ridículo, e eu detestaria ter filhos que estudassem aqui e ficassem bobos como os italianos. A quantidade de dever de casa é esmagante, tem aula obrigatoriamente todos os sábados, mas aprender coisa útil que é bom, nada. Sempre pergunto aos meus alunos menores o que eles estão aprendendo na escola, e fico chocada com a péssima determinação das prioridades. Latim ainda tem um peso imenso no currículo! Mas civilização no trânsito, educação ecológica, economia doméstica, essas coisas não, né. Por isso que a Itália é lanterninha em tudo na Europa – em nível de civilização no trânsito, de reciclagem de lixo, de desperdício de alimentos. E não há nenhuma reforma decente do sistema educativo no horizonte, que eu saiba. A última grande mudança, programada pela ministra Moratti, foi imediatemente cancelada pelo novo governo, o que provavelvemente foi uma boa coisa, já que NINGUÉM queria a tal reforma, nem os alunos, nem os professores, e rolaram milhões de manifestações no país todo. O futuro é negro, se vocês querem saber, viu.

Fomos ver o jogo da Itália ontem na casa do Marione, o florista. Éramos umas doze pessoas, talvez, e a torcida não era particularmente animada porque ninguém ali é realmente fã de futebol, mas eu dei muita risada. Porque a língua italiana é uma delícia, crianças. Xingar em italiano, exclamar, reclamar, tudo é uma delícia e altamente desopilante. Uma das minhas imprecações preferidas, que dá margem a infinitas variantes criativas, eu já comentei aqui: é o famoso “che te piasse…”, literalmente “que te pegasse…”. Complete com “um fulmine” (um raio), “um vomito”, “uma pneumonite”, “un cancro” (um câncer), “una tubercolose”, “una paralisi”, à vontade do freguês.

Também adoro as metáforas “pazzo come un cavallo da corsa” (maluco quanto um cavalo de corrida), “grezzo come una scarpa” (grosso como um sapato), “tonto come un fiasco” (bobo como uma garrafa/frasco/recipiente em geral). Além das já famosas alegorias alimentares: un salame, un carciofo, un fagiano, todos representando um mané. Mas o meu atual preferido é um que foi muito usado ontem, pra reclamar dos erros da arbitragem (que, convenhamos, errou pros dois lados, democraticamente): “ma tu sei fuori come una terrazza!”, literalmente “você tá mais fora [fora = com a cabeça fora do lugar] do que uma varanda!”. Não é uma maravilha? Conseguem imaginar algo igualmente ilustrativo em, sei lá, alemão? Não esqueçam do gesto que acompanha as palavras: junte as pontas dos dedos e sacuda a mãozinha. Vamos lá: ma tu sei fuori come una terrazza! Mavvaffanculo! Porca miseria!

ufa

Fazer turismo na Itália é coisa pra entendido. Porque nada funciona, ninguém sabe dar informações, tudo é confuso e impreciso. A minha dica é: NÃO FALE COM PESSOAS. Lidar com gente aqui é uma coisa muito complexa, sujeita a variáveis infinitas. Muito mais seguro se relacionar com máquinas. Eu já havia dito isso à Margareth, que veio do aeroporto pra Assis sozinha de trem, mas elas compraram a passagem Roma-Assis na mesma agência que vendeu as passagens pra Paris. E a idiota da mulher não explicou que um dos trens da tarde não era direto, precisava mudar em Foligno. A maquininha que vende passagem avisa logo: tem conexão em Foligno, quer encarar? Lógico que as duas não foram capazes de ler o tabelão dos trens (não é difícil de entender, juro, mas você tem que ter a inspiração de ir lá olhar pra ele) e perderam a estação. Foram parar em Nocera Umbra, que não é tão longe assim mas é um buraco. Mamãe me ligou rindo de nervoso dizendo que não tinha la-da ali perto, nem um bar, um orelhão, uma banca de jornal, nada. Então lá fomos nós pegar as duas na estação de Nocera Umbra.

A cidade é uma gracinha, mas foi o epicentro do terremoto de 97 e ainda está completamente destruída (as igrejas não, lógico, foram as primeiras a ser reformadas). Fica no alto de um platô e é bem visível já de longe. Mas realmente não tem NADA, e a estação, microscópica e só com duas plataformas, fica no fundo de uma espécie de beco sem saída. Visão mais bizarra do que aquelas duas sentadas ali no banquinho, rodeadas de sacolas da Galeria Lafayette, ainda está pra ser criada.

Acabamos jantando na festa aqui embaixo de casa mesmo, por falta de vontade de cozinhar. E como custei a dormir por causa da música alta, comecei Sidetracked, mais um do Mankell.

ai meus sais

Começou a maldita festa da primavera aqui embaixo de casa. Aquela cafonice de sempre, cantoras louras-Blondor com saias assimétricas e botinhas brancas, músicos com terno cor de vinho com paetês na lapela, gente de cabelo crespo e franja, the usual. Mas o que enche o saco realmente é que a música é MUITO alta. O palco fica pertinho da varanda, e a música é tão alta que parece que estão tocando num estádio pra 200.000 pessoas, em vez dos quatro gatos pingados que dançam mazurca e polca no chão de cimento vermelho. Parece que neguinho tá cantando dentro da minha orelha. Porreeeeeeee!

gubbio, de novo

E hoje mamãe encarou o cansaço pós-viagem e fomos a Gubbio ver a Festa dei Ceri. Já falei dela ano passado, quando fui com Mirco e Robertinha. Esse ano fomos mais cedo e acompanhamos a festa desde a Alzata (“levantada”), de manhã. Vimos desfile, cavalos, trombetas, estandartes e tudo o mais. E estávamos em ótima companhia: passamos o dia com o pessoal do curso de narração. Almoçamos na casa do Arturo e no meio da tarde saímos pras ruas pra pegar lugar e ver os Ceri passar. Dessa vez vimos de pertiiiiiiiiinho, aquele bicho enorme de madeira vindo todo torto voando pela rua, os hominhos carregando aquele troço com o rosto vermelho, as mãos cheias de bolhas, suor no suvaco, cabelo molhado de suor colado na testa, gritando, gemendo, grunhindo, e o pessoal aplaudindo e pulando uhuuuuuuuuuuu! É MUITO maneiro. Mas passa assim, ó, voando, e quando você vê, já passou, foi-se. Depois dessa primeira passada saímos correndo ladeira acima pra ver os Ceri antes da segunda e última pausa, no alto da ladeira antes da praça. A troca de carregadores na subida da ladeira é emocionante pacas. Arturo contou que no ano passado um dos carregadores do primeiro Cero, o de Santo Ubaldo, tava bêbado (porque a festa começa no dia anterior) e caiu; caiu todo mundo do Cero e os outros dois Ceri que estavam vindo se embolaram na muvuca e caíram também. Mas aí é só levantar e tirar a poeira e dar a volta por cima e correr pra praça, pra dar as três voltinhas e continuar subindo até a igreja. Se Santo Ubaldo chega muito antes dos outros, fecha a porta, dá mais três voltinhas lá dentro, reza um pouquinho e deixa os outros dois pamonhas lá fora, esperando a sua boa vontade. Esse ano parece que chegaram todos juntos, e assim entraram juntos na igreja.

Tipo assim, um evento cultural suuuuuuuuuupercompreensível e normal.

Recomendo altamente.

truffe abbondanti

E a Bota tá pegando fogo essa semana.

Primeiro foi a condenação a dez anos de prisão pra Vanna Marchi e a hedionda filha, Stefania Nobile, duas “magas” que fizeram fortuna e construíram um império da picaretagem vendendo números de loteria e amuletos falsos na televisão – juntamente com um brasileiro, “Mago do Nascimento”, diga-se de passagem. As duas são absolutamente horrorosas, estranhas, com “PICARETA” escrito na testa, e foram denunciadas, nesse processo, por centenas de pessoas que gastaram fortunas, perderam casa, carro, patrimônio, comprando amuletos pra salvar a vida de parentes doentes. A coisa toda começou com o Striscia la Notizia, meu programa preferido, desmascarador de picaretões. Gravaram a conversa telefônica entre uma senhora, que já tinha torrado uma fortuna em sal mágico do Mar Morto (…), e a tal Stefania Nobile. A senhora dizia que não tinha mais um tostão, que não podia dar mais dinheiro, e a Stefania: a senhora merece todo o mal do mundo. A partir de hoje a senhora não dormirá nunca mais.

Muitos outros relatos parecidos foram mostrados na televisão, e os repórteres de Striscia envolvidos na investigação foram chamados ao tribunal. O processo está rolando desde 2002 – o Mago do Nascimento fugiu em tempo pra Bahia e foi inclusive achado pelo Striscia outro dia – e finalmente as duas foram condenadas essa semana. As histórias paralelas são muitas, e as declarações das telefonistas são de arrepiar os cabelos, porque eram obrigadas a fazer terrorismo psicológico com os clientes, em sua maioria gente desesperada. Ter que dizer à mãe de um menino com leucemia que se ela não vender o carro e usar o dinheiro pra comprar um amuleto mágico o filho vai morrer não deve ser muito legal. Enfim, a coisa toda é muito nojenta e complicada, e a fortuna que essas duas fizeram é uma coisa impressionante, impressionante mesmo. Lógico que a condenação de dez anos de prisão, mais a proibição de vender qualquer coisa na televisão e o dever de devolver o dinheiro às vítimas mais lesadas, foram bem vistos pelo público, e a pena foi mais pesada do que a maioria do povão estava imaginando que seria, visto que aqui tudo acaba em pizza. Lógico que a TV está faturando horrores em cima do caso, com entrevistas exclusivas, cobertura ao vivo, debates, talk shows animadíssimos. Pessoalmente acho tudo de um mau gosto tão interplanetário, sobretudo por causa da infinita arrogância das duas (sempre de óculos escuros no tribunal, aaaaaaaah seu eu fosse juíza!), que não assisto a nada e mudo de canal assim que ouço alguma palavra sobre o assunto. Sabe nojo? Nojo.

A outra notícia, não menos nojenta, foi a descoberta de uma Picaretagem de Proporções Avassaladoras no mundo do futebol. Parece que a Juventus andou comprando partidas nos dois últimos anos, e o número de pessoas envolvidas cresce a cada dia. No meio desse bololô todo estão inclusive alguns árbitros italianos que iriam participar da Copa, e agora também parece que o goleiro Buffon anda metido num giro de apostas milionárias, e provavelmente não vai jogar no Mundial. Não preciso nem dizer que o Milan, aquele do Cavaliere Berlusca, também está no meio, né. Onde tem lama, olha o tricotransplantado ali chafurdando. O fato é que o futebol aqui é uma coisa muito séria, como no Brasil. Há pouquíssimas partidas transmitidas na TV aberta, e o dinheiro que rola com o pay-per-view das partidas (e no meio temos, além da Sky, a Mediaset; adivinha a quem pertence…) é colossal. Um mundo inteiro sendo sacudido pelas acusações mais sórdidas que o esporte pode oferecer. Pessoalmente estou cagando; sempre achei o fanatismo futebolístico uma idiotice ímpar e esse império construído em torno do marketing do esporte me enoja, então de uma certa maneira é bom ver essa merda toda no ventilador. Quem sabe neguinho acorda pra vida e passa a levar um pouco menos a sério coisas como esportes e entretenimento e coisa e tal. Esporte é esporte, caramba, não pode virar religião.

ainda…

Falando em política: ontem à noite, antes de cair no sono, vimos um pedaço de Matrix, o programa de entrevistas daquele pamonha ex-apresentador do TG5, mostrando o bafafá que foi a votação pra presidente do Senado.

O negócio é o seguinte: a margem de vitória da esquerda sobre a direita nas últimas eleições foi realmente muito, mas MUITO pequena, o que é assustador, mas a direita exagerou sugerindo o nome de Giulio Andreotti, o Corcunda Mafioso, pra presidente do Senado. O cara é envolvido em zilhões de escândalos de tudo que é tipo, TODO MUNDO sabe disso, e mesmo assim o corcundinha, que é senador vitalício (no comment), ainda vira candidato.

Ontem rolaram as famosas eleições. Algumas cédulas que votavam pelo candidato da esquerda tinham o seu nome escrito errado (Francesco em vez de Franco), e como a comissão não sabia o que fazer, porque é óbvio que quem votou queria votar mesmo era no Franco mas errou o nome (olha como eu sou inocente), mas ao mesmo tempo você não pode dar o voto pra um nome que oficialmente não existe, resolveram votar tudo de novo. Aparentemente adiaram a votação pras oito da noite, em meio a protestos e bagunça dentro do Senado, sininho tocando pra neguinho calar a boca e nada, aquelas tosquices italianas. Aparentemente também houve algum problema e só lá pras dez da noite nossos queridos senadores recomeçaram a votar. Acabo de ver no jornal que Marini, o candidato da esquerda, não conseguiu o número mínimo de votos por um voto só. Hoje vão repetir a votação.

Situação semelhante na Câmara dos Deputados: Bertinotti, o comunistão-mor, não atingiu o número mínimo por poucos votos, e a nova votação acabou de começar.

Gente, vocês não têm idéia do quanto é tragicômico acompanhar tudo isso de perto. Juro. Parece final de Copa do Mundo, só que os insultos de ambas as partes são mais elaborados ;) É cômico porque a gente vê que está mesmo no país da pizza, e trágico porque, cacetes estrelados, Andreotti presidente do Senado é como, sei lá, deputado que mata gente com serra elétrica! Ah.

Falando sério, a situação é muito delicada e todo mundo já acha, inclusive eu, que esse governo de esquerda que mal começou não vai durar nada. Porque aqui é assim, ninguém conclui mandato (só o Berlusca…), porque quando as pressões do contra aumentam, o governo cai. O problema é que o governo do tricotransplantado deixou o país na merda, abalou seriamente a economia e tornou a vida de milhões de pessoas incrivelmente mais difícil. Muitos dos votos pela direita nas últimas eleições, tenho certeza, foram dados simplesmente pelo medo de votar nos “comunistas”, que ainda são figuras mitológicas por aqui. Sabe aquela coisa do comunista malvado que vai botar albaneses/neguinhos/turcos fedorentos dentro da sua casa? É assim. É triste ou não é?

a ponte da discórdia

Tendo que sair pro batizado do Alessandro, acabei perdendo uma parte de Gaia, uma das poucas coisas assistíveis na TV de hoje. Quem apresenta é o Tozzi, um cara legal pra caramba, que fala muito bem (a cada dia que passa mais aprecio quem se expressa bem, putz) e sempre traz temas interessantes. Dessa vez falou-se de grandes obras arquitetônicas, um assunto bem amplo, que começou com as pirâmides do Egito e as novas descobertas a respeito, e foi parar no que eu acho que era o que ele realmente queria dizer, ou seja, que a ponte sobre o Estreito de Messina é uma furada daquelas homéricas.

O Estreito de Messina é uma coisa ridiculamente pequena – de barco são 20 minutos, de carro o tempo previsto é cinco minutos – que separa a Calábria da Sicília. Tudo que é político já mostrou intenção de construir a tal ponte, com projetos sempre caríiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiissimos e cheios de polêmicas. A maior polêmica é que a ponte ligaria o nada a lugar nenhum, porque o sul não tem produção industrial nem tráfego de gente tão grande que justifique uma coisa desse tipo. Todo mundo que vai e vem entre as duas regiões usa as barcas, atravessando com carros e tudo o mais. Os argumentos contra a ponte são inúmeros: a máfia tá doida pro projeto sair (Berlusconi aprovou, LÓOOOOOOOGICO) porque é uma mamação sem fim), a zona é uma das mais perigosamente sísmicas do Mediterrâneo e difícil de estudar porque a falha não é na superfície, como a de San Andreas na Califórnia, mas embaixo do fundo do mar, a ponte passaria bem no meio da rota de várias espécies de aves migratórias, os impactos ambientais foram analisados feito a cara de quem analisou, como sempre (não esqueçamos que a Itália é talvez o país menos ecology-friendly do mundo), o pedágio vai ser mais caro do que a passagem de barca hoje (mais a gasolina). Se pensamos que o túnel sob a Mancha e o Golden Gate são ambos fiascos econômicos, embora conectando áreas muito mais ricas e produtivas e populosas, não tem realmente por que aprovar a ponte sobre o Estreito. O tempo de travessia com a barca rápida não é imenso, e a estação das barcas fica perto do centro e é facilmente acessível, enquanto que de carro vai ser necessário dar uma certa volta que alonga o tempo total de viagem. Acabei perdendo os argumentos a favor da ponte, porque saímos bem no meio. Bosta.

Mais informações sobre o programa aqui.

esse assunto dá pano pra manga

Não precisa nem dizer que a direita não aceita ter perdido as eleições, e já começaram a acusar sutilmente a esquerda de ter lalado uns votos aqui e outros ali. Pediram a recontagem dos votos, que até agora não está fazendo muita diferença. Mais: sugeriram um governo assim juntinho, o que é muito engraçado, visto que se a mesma situação tivesse ocorrido com a vitória da direita, Berlusconi era bem capaz de mandar Prodi tomar no cu ao vivo na TV.

As irregularidades, porém, existem, e como: em Taranto e, creio, em outros lugares, foram encontrados caixotes cheios de cédulas eleitorais perfeitamente válidas, mas obviamente não contabilizadas, ao lado de uma caçamba de lixo.

E alguém que viu com mais atenção me corrija se eu estiver errada: o close-up das muitas bíblias encontradas no esconderijo de Provenzano deixou ver uns santinhos de algum político – o logotipo era, creio, da Alleanza Nazionale…

Mas nada disso é novidade, lógico. Mais sobre o estranho relacionamento máfia-política aqui (dica da Ig).