BBI

Momento Grande Fratello (Fratellão pros íntimos):

Carolina é uma piranha, Tommaso é um paraculo, Katia é uma mala, Serena é maluca, Rob, Bruno e Patrick são sensacionais, Ascanio é ridículo. E o melhor da casa é o Rodolfo, filhote de Terranova que acabou de ser integrado à casa.

Era uma vez um artroscopia

Então o Mirco tinha um pedaço de menisco supostamente solto que tinha que ser removido. O ortopedista opera regularmente no hospital de Terni, a outra província da Umbria, a uns 70 km daqui. Então lá fomos nós sair de casa cedo na quinta-feira, pra chegar cedo a Terni. Chovia e fazia frio e o Mirco, além de estar morrendo de fome por estar em jejum, estava muito nervoso.

O hospital é grande, mas, como tudo na Itália, incrivelmente desorganizado. Pergunto na portaria qual o andar da clínica ortopédica: quarto andar. Subimos. No quarto andar, nenhum tipo de recepção, só alguns cartazes escritos à mão indicando direções opostas àquelas indicadas pelas placas oficiais, em letras brancas sobre fundo azul. Fomos parar na parte de Day Hospital Ortopédico, onde esperamos meia hora sem ver ninguém até que eu cacei uma enfermeira que passava pra perguntar se era ali mesmo que deveríamos estar. Não, querida, vocês têm que ir lá pro outro lado, no fim do corredor, na enfermaria de Ortopedia (onde não havia ninguém antes, e cujas portas estavam fechadas, e cujas luzes estavam apagadas). Lá vamos nós. Tocamos a campainha, abrem a porta, vamos lá falar com a enfermeira-chefona, que nos dá uma bronca por não termos chegado antes. Levam o Mirco pra enfermaria, onde colhem sangue pros exames pré-operatórios e rodam o ECG. Inicialmente me mandam sair, enquanto os médicos fazem o round, mas quando digo que sou médica alguém me arruma um jaleco pra eu poder ficar lá dentro. Os outros dois pacientes do quarto são um senhor que fez uma hilária cara de incredulidade quando lhe foi comunicado que sua operação, de coluna, vai ser feita na segunda-feira depois da Páscoa (aqui eles comemoram a Pasquetta, na segunda-feira, e a sexta-feira santa não é feriado como no Brasil), e um quarentão simpático com um descolamento do menisco direito.

As horas passam. O senhor almoça; Mirco e Claudio, o quarentão, são mantidos em jejum. Não vem ninguém dizer nada, perguntar nada, explicar nada. De vez em quando vou lá fora no corredor perguntar a alguma enfermeira se há alguma previsão de horário pra cirurgia. Ninguém sabe nada. Não estou nervosa porque sei que hospital é confuso mesmo, imprevistos acontecem e horários são difíceis de ser respeitados. Mas sempre achei uma profunda falta de respeito essa mania de achar que o paciente tem mais é que esperar quietinho. Poxa, neguinho nervosão, frágil, sentindo dor, preocupado, e tem que esperar HORAS sem saber o que está acontecendo, sem saber direito o que vão lhe fazer? Eu já levei a família inteira do Mirco ao médico aqui na Itália e sempre fiquei impressionada com a distância, o abismo que existe entre médico e paciente. A começar pela maluquice dos horários das consultas: não existe horário marcado, o médico atende das cinco às oito? Você vai ao consultório dentro dessa faixa horária, e vai ser atendido por ordem de chegada, o que significa zilhões de pessoas amontoadas na sala de espera. E como a maioria dos médicos atende em consultórios divididos com outros médicos ou dentistas, você nunca sabe se toda aquela gente está ali esperando o seu médico ou outra coisa. Então cada pessoa que chega, além do buongiorno ou do buonasera obrigatório, pergunta sempre “Quem é o último da fila pro Dr. Fulano?”. Uma coisa muito pouco prática. Às vezes realmente acho que estou morando em Coimbra.

Mas então, voltemos à enfermaria. As horas passavam. Mirco dormiu; eu desci pra comer uma torta al testo com presunto e queijo na cantina do primeiro subsolo. Lá pras duas da tarde vêm recolher Mirco e Claudio pra levar pra sala de cirurgia. Lá vou eu atrás; boto o pijaminha verde do centro cirúrgico, que eu não vestia há anos, a maldita touca que nunca consegue cobrir todo o meu cabelo, os sapatinhos, a máscara que um dia usei sem nem prestar atenção mas que dessa vez ficou incomodando o nariz, como na primeira vez.

Mirco está nervosíssimo. Como eu, ele fica irritado se não entende direito o que está acontecendo, principalmente se é alguma coisa que está acontecendo diretamente com ele fisicamente. Eu tenho essa vantagem de ser médica que ele não tem: pelo menos sou capaz de entender com detalhes o que está rolando e de saber mais ou menos o que esperar; ele não tem idéia e ri de nervoso o tempo todo. Pra piorar, ele é naturalmente desconfiado, o que não é ajudado nem um pouco pelas frequentes histórias de erro médico que se lêem nos jornais; então sua resposta a todo mundo que vem perguntar quem ele é (toda hora vinha uma enfermeira diferente fazer algum procedimento pré-anestésico ou pré-operatório) é Mirco Balducci, joelho esquerdo. Assim, só pra reduzir as chances de ser operado erradamente no joelho direito. Resolvem dar um tranquilizante, e ele começa a falar coisas sem sentido e a ter dificuldade de articular palavras. Fazem a anestesia, um bloqueio da perna toda através de injeções na região inguinal e no meio do glúteo, e vamos pra sala de cirurgia.

Posicionados todos os campos cirúrgicos, pincelam a perna com aquele desinfetante marrom-amarelado que já cansamos de ver em filmes e Globo Repórter, prepara-se o equipamento de artroscopia e começa o procedimento. Não vou ficar aqui explicando tudo porque não interessa. O que interessa é que eu fiquei horrorizada, apesar de ter sido uma coisa muito simples. E pensar que um dia eu já fui capaz de ver um procedimento desses e pensar nossa, que lindo, que interessante! Pensar que um dia eu já fui capaz de futucar dentro de alguém e achar isso a coisa mais natural do mundo! Onde é que eu estava com a cabeça, alguém me diz, por favor? O ortopedista futucava, puxava, cortava, mostrava, olha lá, não é o menisco, o menisco está firme (ele puxa o menisco com a pinça, várias vezes, com força), é um ligamento mucoso congênito que inflamou e agora está retesando tudo, tá vendo?, vou cortar (e corta), e eu lá, chocadaça, sem saber se olhava pra tela ou pro joelho amarelo do Mirco, que estava tão nervoso que esquecia de respirar e chorava sem parar. Fui ficando nervosa porque ele não respondia quando perguntávamos se estava sentindo dor. Mais tarde ele contou que depois do tranquilizante tudo ficou, obviamente, muito nebuloso e ele se lembrava só de algumas palavras, do médico batendo no rosto dele perguntando se tava sentindo alguma coisa, da enfermeira que marcou os pontos de anestesia com pilot, do campo verde que impedia que ele visse a tela (se tivesse visto alguma coisa ele teria morrido de nervoso, com certeza), dos enfermeiros pincelando a perna, das luzes do corredor da sala de cirurgia enquanto ele esperava um outro enfermeiro que o levasse de volta ao quarto.

Quando acabou, a sensação de alívio que eu tive foi uma das coisas mais significativas que eu já senti na minha vida. Não pertenço mais àquele mundo. Acho que jamais pertenci; foi tudo sempre uma ilusão idiota. Sempre digo que não me arrependo de ter estudado Medicina; aprendi coisas interessantíssimas, matei toda a minha curiosidade sobre o corpo humano, conheci pessoas ótimas, dei muita risada, aprendi a ouvir as pessoas, a aprender com os outros, a entender a dor alheia. Mas não sou médica. Nunca fui. E só fui entender isso anteontem.

**

Como ele teve que dormir no hospital, voltei pra casa sozinha. Chovia muito e o trânsito estava horrível. Quando consegui chegar na estrada, começou o calvário. Sou muito fotofóbica e dirigir à noite na estrada é muito desconfortável. Na cidade, que bem ou mal é bem iluminada, não tem problema, mas no escuro da estrada qualquer luz de farol, de olho-de-gato iluminado, de outdoor na beira da estrada, me dá um lampejo nos olhos e me deixa momentaneamente cega. Depois de meia hora eu não entendia mais as distâncias, a terceira dimensão; perdi a noção do ponto de freagem nas curvas; não conseguia ler as placas; não conseguia achar o timing pra ultrapassar porque olhando pelo retrovisor não conseguia entender se o carro atrás de mim estava longe ou perto. Cheguei em casa cambaleando de cansaço e com a cabeça explodindo de dor. Fiz um risoto de pacote e fui direto dormir.

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Ontem o dia estava lindo. Saí de casa cedo pra ir a Perugia pegar um cheque por um trabalho que fiz ano passado, e enquanto estava lá, perdida (eu sempre me perco em Perugia), Mirco liga dizendo que já estava pronto pra ir embora. Faço o que tenho que fazer e volto pra estrada, pegando a direção de Terni. O dia continua lindo. Boto Skank no CD e canto A Cerca a plenos pulmões. A paisagem é divina, divina; as cidadezinhas no alto das colinas vão passando, muito claras contra o céu azul; o verde obsceno dos campos chega a ofuscar; castelinhos, casarões e mosteiros abandonados me enchem de curiosidade. A Umbria é linda, linda, linda. Ali na altura de Todi a paisagem é particularmente deslumbrante. Alguém vem me visitar, por favor, que eu preciso mostrar isso pros outros!

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Semana que vem começa o curso de agente de seguros, lá em Terni mesmo. É uma cidade industrial, principalmente siderúrgica, muito, muito feia. Há muitas pedreiras também, então as colinas em torno são todas “mordidas”, a feia pedra branca exposta ao sol, em contraste com os escuros ciprestes e pinheiros. Já estou prevendo uma semana chatérrima.

E agora dá licença que meu paciente precisa de uma injeção de heparina.

Finalmente consegui tirar a maldita carteira de identidade! Olha que coisa antiquada e enorme… Bom, ninguém aqui usa mesmo, o documento mais usado é a carteira de motorista. A de identidade só serve pra circular pela União Européia, mas eu, extra-comunitária, não tenho esse direito; a identidade só serve dentro da Itália mesmo.

Atentem para o fato que meu último sobrenome não cabe na linha e ficou cortado mesmo.
Atentem também para a profissão, doméstica hohoho

Finalmente consegui tirar a maldita carteira de identidade! Olha que coisa antiquada e enorme… Bom, ninguém aqui usa mesmo, o documento mais usado é a carteira de motorista. A de identidade só serve pra circular pela União Européia, mas eu, extra-comunitária, não tenho esse direito; a identidade só serve dentro da Itália mesmo.

Atentem para o fato que meu último sobrenome não cabe na linha e ficou cortado mesmo.
Atentem também para a profissão, doméstica hohoho

Ontem começou o chatíssimo Festival de San Remo. Saca Festival da Canção? É isso, com o agravante que é um festival de música italiana, e eu detesto música italiana. Tudo é horrível com relação a esse festival: os cenários cafonérrimos, como os de toda transmissão televisiva italiana que se preze; os cantores incompetentes com suas músicas chatas; as mutretas infinitas que todo ano rodeiam o espetáculo (ano passado rolou até processo porque já se sabia quem seria a vencedora muito antes do festival começar, como desmascarou o Striscia La Notizia). E não sou só eu, reclamona profissional, que estou dizendo que o festival é um saco. Esse ano a única celebridade que veio foi um sósia do Elton John. A lista dos famosos internacionais que recusaram o convite foi imensa, e, segundo o telejornal do canal 5, a coisa está ficando mais embaraçosa a cada ano. Se eu fosse famosa e VIP, não viria nem se me dessem um caminhão de dinheiro. Pagar esse mico, eu, hein!

Mas como eu tava dizendo, eu acho a música italiana tão ruim quanto a brasileira. Já mencionei aqui que detesto MPB. Não gosto de Chico, nem de Gil, nem de Caetano, nem daquela mala da Maria Rita, nem daquele insuportável do Milton Nascimento, nem de música pop. Os únicos CDs de música brasileira que eu tenho são os da Marisa Monte, que já admirei muito mas desde que botou aquele nome absurdo no filho deixou de existir para mim, o Bossa ‘n Roll da Rita Lee, e o Calango do Skank, que é divertidinho. Só. No Rio ficaram alguns dos Paralamas, comprados num surto de tenho-que-decorar-essas-musiquinhas-pra-poder-cantar-no-churrasco. Até gosto dos Paralamas, que me são particularmente simpáticos, mas hoje não me vejo comprando um CD deles. Do mesmo modo, não gosto da música italiana. Não ligo o rádio do carro nunca, porque não tenho saco pra ouvir sempre as mesmas músicas chatas – aqui praticamente só toca música italiana. Mas vou voltar ao assunto música italiana lá embaixo.

Na verdade eu não sou uma pessoa muito musical. Se a música for do meu agrado e estiver tocando, eu acho legal, mas se alguém desligar não vou ficar irritada. Se a música for chata e estiver tocando, eu fico MUITO irritada. Não tenho a menor vocação pra descobrir novas bandas ou novos ritmos; não fico catando coisas bizarras em .mp3 como um certo japa que eu conheço. Vivo perfeitamente bem sem música; muito difícil me pegar cantando, até porque eu sou completamente desafinada. Só preciso de trilha sonora mesmo pra fazer faxina, pra dar aquela animaçãozinha básica e pra fazer parecer que limpar a casa é super divertido. De resto, não tenho nenhuma música que me lembre um momento, um lugar ou uma pessoa. Não associo jamais uma música a uma situação em particular. Jamais presto atenção à trilha sonora de um filme. Gosto de shows, mas só se forem com músicas que eu conheço e sei cantar (o do Live em Sampa foi di-vi-no). Gosto de dançar, mas posso ficar anos sem fazê-lo que não entro em crise de abstinência. Ou seja, pra mim música é uma coisa que tá ali, mas podia perfeitamente não estar que daria no mesmo – mais ou menos como as frutas. Só dois produtos de consumo me destruiriam se deixassem de existir: chocolate e livros. Não me deixem sem ler que eu realmente viro bicho. Sou o tipo compulsivo que lê outdoor, propaganda no metrô, rótulo de shampoo enquanto toma banho, instruções e receitas na embalagem de TODAS as comidas, até de macarrão, manual de instruções de tudo que é eletrodoméstico, pedaço de jornal velho caído num canto, coisas escritas à mão dentro do sapato inglês do Mirco, o Boas Festas pré-impresso nas notas fiscais a partir de novembro, todos os detalhes do formulário pra depósito bancário, as lombadas dos livros na estante da casa daquele personagem do filme, todo e qualquer folhetinho que chegue às minhas mãos. É compulsivo mesmo, mecânico, involuntário, e já salvou minha vida várias vezes, especialmente porque tenho boa memória e dificilmente me esqueço de alguma coisa que eu li em algum lugar. Lembro de endereços de lojas que li na sacola de uma senhora no ônibus, do nome da empresa anunciada no metrô, da observação no pé da pagina da fatura do fornecedor. Eu acho que compensa o fato deu não ser muito musical…

Voltando à abominável música italiana: eu acho que o meu problema é que o tipo de música que eu gosto de ouvir não é compatível com nenhuma outra língua que não seja o Inglês. Convenhamos, crianças, rock em português é ridículo, perde credibilidade, não tem jeito. O mesmo pra música celta. O mesmo pra música de viado. É como bossa nova (que eu adoro, mas não tenho nenhum CD) cantada em, sei lá, alemão. Então eu acabo não gostando de mais nada cantado em outras línguas, já que tenho verdadeira alergia a música pop ou, pior, romântica.

Outra coisa com a música italiana é que, na minha opinião de não apreciadora mas não por isso não entendedora (meu irmão é músico, pô), ela tem frases musicais, combinações de notas que não se usam nem no Brasil e nem nos EUA. Só consigo lembrar agora das músicas dos Gemelli Diversi (Gêmeos Diferentes. O nome já seria o suficiente pra mandá-los pro pelotão de fuzilamento, na minha opinião. Agora imaginem a qualidade das músicas…) que pra mim são todas muito estranhas, difíceis de seguir. Tem duas outras ESTRANHÍSSIMAS tocando no rádio ultimamente (eu não ligo o rádio do meu carro, mas o Mirco liga o do dele) mas eu não consigo entender o nome, porque os locutores italianos são como os brasileiros, só dizem o nome da música quando dá vontade, e nem sempre com a melhor das dicções. O refrão de uma diz “io ti amo, ma devo ucciderti” (te amo, mas tenho que te matar). A outra não lembro mesmo, até porque a mulher canta num tom tão estranho que não entendo o que ela diz.

Comecei a notar isso durante as caronas com a Marta, que só escuta rádio. Comecei a pensar numa coisa que eu li em algum lugar, não lembro direito onde, falando sobre sistemas musicais de outras culturas, as orientais em particular. Parece que há povos que têm outras notas além das nossas do-ré-mi-fa-sol-lá-si. Eu não consigo conceber outras notas! É como se alguém viesse me dizer que em outros países existem outras cores primárias. Sei lá, um cor chamada bljerfs, que não é nem azul, nem amarelo, nem vermelho, e nem é uma combinação qualquer dessas cores. Você consegue imaginar? Nem eu. Esse tipo de informação scombussola meu céLebro.

Acho que vou ali ler um pouquinho pra ver se passa.

**

E sexta-feira partimos pra Rotterdam, visitar a Stefania, irmã do Mirco, que está meio que morando por lá. Apesar da greve das companhias aéreas (toda semana tem greve de algum meio de transporte aqui na Itália, é impressionante), parece que a nossa, a BasiqAir, que é holandesa, não vai entrar nessa história e esperamos não ter problemas pra embarcar. Voltamos no domingo com a RyanAir. Cortesia da Stefania, claro, porque eu não tenho dinheiro nem pra ir ali na esquina, quanto mais à Holanda

**

Vi Big Fish ontem. Digo “vi” e não “vimos” porque o Mirco dormiu. Achei visualmente bonito, como tudo o que o Tim Burton faz, mas não gostei do roteiro. Achei que ficou faltando alguma coisa. E agora cinema só semana que vem, porque já esgotamos todo o arsenal do Warner Village de Perugia.

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Mirco encheu tanto o meu saco que resolvi seguir seu conselho: aproveitar esse tempo de ócio desempregatício pra tirar minha carteira de motorista (eu estou usando a internacional, que só dura até setembro).

Ontem começou o chatíssimo Festival de San Remo. Saca Festival da Canção? É isso, com o agravante que é um festival de música italiana, e eu detesto música italiana. Tudo é horrível com relação a esse festival: os cenários cafonérrimos, como os de toda transmissão televisiva italiana que se preze; os cantores incompetentes com suas músicas chatas; as mutretas infinitas que todo ano rodeiam o espetáculo (ano passado rolou até processo porque já se sabia quem seria a vencedora muito antes do festival começar, como desmascarou o Striscia La Notizia). E não sou só eu, reclamona profissional, que estou dizendo que o festival é um saco. Esse ano a única celebridade que veio foi um sósia do Elton John. A lista dos famosos internacionais que recusaram o convite foi imensa, e, segundo o telejornal do canal 5, a coisa está ficando mais embaraçosa a cada ano. Se eu fosse famosa e VIP, não viria nem se me dessem um caminhão de dinheiro. Pagar esse mico, eu, hein!

Mas como eu tava dizendo, eu acho a música italiana tão ruim quanto a brasileira. Já mencionei aqui que detesto MPB. Não gosto de Chico, nem de Gil, nem de Caetano, nem daquela mala da Maria Rita, nem daquele insuportável do Milton Nascimento, nem de música pop. Os únicos CDs de música brasileira que eu tenho são os da Marisa Monte, que já admirei muito mas desde que botou aquele nome absurdo no filho deixou de existir para mim, o Bossa ‘n Roll da Rita Lee, e o Calango do Skank, que é divertidinho. Só. No Rio ficaram alguns dos Paralamas, comprados num surto de tenho-que-decorar-essas-musiquinhas-pra-poder-cantar-no-churrasco. Até gosto dos Paralamas, que me são particularmente simpáticos, mas hoje não me vejo comprando um CD deles. Do mesmo modo, não gosto da música italiana. Não ligo o rádio do carro nunca, porque não tenho saco pra ouvir sempre as mesmas músicas chatas – aqui praticamente só toca música italiana. Mas vou voltar ao assunto música italiana lá embaixo.

Na verdade eu não sou uma pessoa muito musical. Se a música for do meu agrado e estiver tocando, eu acho legal, mas se alguém desligar não vou ficar irritada. Se a música for chata e estiver tocando, eu fico MUITO irritada. Não tenho a menor vocação pra descobrir novas bandas ou novos ritmos; não fico catando coisas bizarras em .mp3 como um certo japa que eu conheço. Vivo perfeitamente bem sem música; muito difícil me pegar cantando, até porque eu sou completamente desafinada. Só preciso de trilha sonora mesmo pra fazer faxina, pra dar aquela animaçãozinha básica e pra fazer parecer que limpar a casa é super divertido. De resto, não tenho nenhuma música que me lembre um momento, um lugar ou uma pessoa. Não associo jamais uma música a uma situação em particular. Jamais presto atenção à trilha sonora de um filme. Gosto de shows, mas só se forem com músicas que eu conheço e sei cantar (o do Live em Sampa foi di-vi-no). Gosto de dançar, mas posso ficar anos sem fazê-lo que não entro em crise de abstinência. Ou seja, pra mim música é uma coisa que tá ali, mas podia perfeitamente não estar que daria no mesmo – mais ou menos como as frutas. Só dois produtos de consumo me destruiriam se deixassem de existir: chocolate e livros. Não me deixem sem ler que eu realmente viro bicho. Sou o tipo compulsivo que lê outdoor, propaganda no metrô, rótulo de shampoo enquanto toma banho, instruções e receitas na embalagem de TODAS as comidas, até de macarrão, manual de instruções de tudo que é eletrodoméstico, pedaço de jornal velho caído num canto, coisas escritas à mão dentro do sapato inglês do Mirco, o Boas Festas pré-impresso nas notas fiscais a partir de novembro, todos os detalhes do formulário pra depósito bancário, as lombadas dos livros na estante da casa daquele personagem do filme, todo e qualquer folhetinho que chegue às minhas mãos. É compulsivo mesmo, mecânico, involuntário, e já salvou minha vida várias vezes, especialmente porque tenho boa memória e dificilmente me esqueço de alguma coisa que eu li em algum lugar. Lembro de endereços de lojas que li na sacola de uma senhora no ônibus, do nome da empresa anunciada no metrô, da observação no pé da pagina da fatura do fornecedor. Eu acho que compensa o fato deu não ser muito musical…

Voltando à abominável música italiana: eu acho que o meu problema é que o tipo de música que eu gosto de ouvir não é compatível com nenhuma outra língua que não seja o Inglês. Convenhamos, crianças, rock em português é ridículo, perde credibilidade, não tem jeito. O mesmo pra música celta. O mesmo pra música de viado. É como bossa nova (que eu adoro, mas não tenho nenhum CD) cantada em, sei lá, alemão. Então eu acabo não gostando de mais nada cantado em outras línguas, já que tenho verdadeira alergia a música pop ou, pior, romântica.

Outra coisa com a música italiana é que, na minha opinião de não apreciadora mas não por isso não entendedora (meu irmão é músico, pô), ela tem frases musicais, combinações de notas que não se usam nem no Brasil e nem nos EUA. Só consigo lembrar agora das músicas dos Gemelli Diversi (Gêmeos Diferentes. O nome já seria o suficiente pra mandá-los pro pelotão de fuzilamento, na minha opinião. Agora imaginem a qualidade das músicas…) que pra mim são todas muito estranhas, difíceis de seguir. Tem duas outras ESTRANHÍSSIMAS tocando no rádio ultimamente (eu não ligo o rádio do meu carro, mas o Mirco liga o do dele) mas eu não consigo entender o nome, porque os locutores italianos são como os brasileiros, só dizem o nome da música quando dá vontade, e nem sempre com a melhor das dicções. O refrão de uma diz “io ti amo, ma devo ucciderti” (te amo, mas tenho que te matar). A outra não lembro mesmo, até porque a mulher canta num tom tão estranho que não entendo o que ela diz.

Comecei a notar isso durante as caronas com a Marta, que só escuta rádio. Comecei a pensar numa coisa que eu li em algum lugar, não lembro direito onde, falando sobre sistemas musicais de outras culturas, as orientais em particular. Parece que há povos que têm outras notas além das nossas do-ré-mi-fa-sol-lá-si. Eu não consigo conceber outras notas! É como se alguém viesse me dizer que em outros países existem outras cores primárias. Sei lá, um cor chamada bljerfs, que não é nem azul, nem amarelo, nem vermelho, e nem é uma combinação qualquer dessas cores. Você consegue imaginar? Nem eu. Esse tipo de informação scombussola meu céLebro.

Acho que vou ali ler um pouquinho pra ver se passa.

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E sexta-feira partimos pra Rotterdam, visitar a Stefania, irmã do Mirco, que está meio que morando por lá. Apesar da greve das companhias aéreas (toda semana tem greve de algum meio de transporte aqui na Itália, é impressionante), parece que a nossa, a BasiqAir, que é holandesa, não vai entrar nessa história e esperamos não ter problemas pra embarcar. Voltamos no domingo com a RyanAir. Cortesia da Stefania, claro, porque eu não tenho dinheiro nem pra ir ali na esquina, quanto mais à Holanda

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Vi Big Fish ontem. Digo “vi” e não “vimos” porque o Mirco dormiu. Achei visualmente bonito, como tudo o que o Tim Burton faz, mas não gostei do roteiro. Achei que ficou faltando alguma coisa. E agora cinema só semana que vem, porque já esgotamos todo o arsenal do Warner Village de Perugia.

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Mirco encheu tanto o meu saco que resolvi seguir seu conselho: aproveitar esse tempo de ócio desempregatício pra tirar minha carteira de motorista (eu estou usando a internacional, que só dura até setembro).

Frio

Está nevando em Bastia. Aparentemente nevou a noite toda, porque hoje telhados, campos e carros amanheceram cobertos de neve. O fenômeno é raro por aqui; a última vez que nevou decentemente em Bastia foi, se não me engano, em 1981, e há fotografias desse suuuper acontecimento espalhadas por todo o prédio da prefeitura. Normalmente aqui embaixo, no vale onde estamos, não neva de verdade; no máximo aqueles floquinhos bobos que derretem assim que tocam alguma superfície. Ontem, voltando do cinema, caíam algums floquinhos desse tipo, e o termômetro do carro marcava um grau, a temperatura noturna média aqui nas últimas semanas. Os últimos dias foram gelados de verdade, mas não tinha neve nem em Assis, só no alto do Subasio, que anda branquinho já há muitas semanas. Mas essa noite nevou de verdade.

São oito e meia e acabei de entrar em casa. Fomos até Santa Maria pegar o carro da tia de um amigo do Mirco pra levar pra consertar em Deruta. Deruta é famosa por aquelas cerâmicas maiólicas horripilantes, com dragões amarelos ridículos e mal desenhados ou flores e frutas estilizadas, como nesses pratos enfeiadores de parede:

O pai do Mirco tem um amigo de muitos anos que tem uma oficina lá, especializada em carros, ao contrário da oficina do Mirco, especializada em caminhões e máquinas industriais. Então lá fomos nós a Deruta, o Mirco dirigindo o Fiesta batido e eu atrás, na Punto que herdei quando ele comprou o Volvo. Deruta fica na direção de Roma, cidade que, além de ser tudo na vida, tem um clima muito mais agradável do que nós aqui do interior da Tanzânia. Roma é mais seca e mais quente do que a maioria das cidades italianas. Quase nunca chove, e neve é coisa raríssima, coisa pra contar pros netos. Em Deruta não estava nevando, mas os carros que vinham da direção de Terni, que ainda é Umbria mas fica a apenas uma hora de Roma, mas é alta e por isso muito fria, estavam todos cobertos de neve.

Eu acho frio e neve duas coisas tão chatas que nem consigo mais achar bonito. Olho os telhados branquinhos e me dá uma raiva danada porque sei que lá fora a temperatura não me permite fazer nada. Tenho roupa na máquina de lavar que tenho que estender, mas quem disse que eu tenho coragem de ir lá na varanda debaixo de neve pra mexer em roupa molhada e ficar com os dedos congelados? Sai fora.

As fotos que fizemos no caminho entre Nocera Umbra e Colfiorito, na vã esperança de chegar a Sellano. A primeira foto é a tal “estrada branca” que o carteiro nos mandou seguir. A segunda é uma panorâmica da paisagem ao redor dessa estrada. Pena que o céu tava fechado; definitivamente vou dar um pulo lá na primavera, pra correr e brincar com o Legolas, e tirar mais fotos!

As fotos que fizemos no caminho entre Nocera Umbra e Colfiorito, na vã esperança de chegar a Sellano. A primeira foto é a tal “estrada branca” que o carteiro nos mandou seguir. A segunda é uma panorâmica da paisagem ao redor dessa estrada. Pena que o céu tava fechado; definitivamente vou dar um pulo lá na primavera, pra correr e brincar com o Legolas, e tirar mais fotos!

Os Lemmings Atacam Novamente

Onze e meia da manhã de ontem. O telefone celular interrompe meu aprazível momento de limpar carne pro Ensopadinho Show de Bola. Mirco me diz só pra descer em 5 minutos que vamos dar uma voltinha em Sellano pra fazer um preventivo (orçamento). Onde fica Sellano? Não sei, ele responde. Lavo minhas mãos e desço, ainda cheirando a alho e carne. Ele começa a repetir as instruções que o tal cliente deu: pegar a estrada na direção de Foligno (que fica no caminho pra Roma), tem uma bifurcação, a direita leva a Spoleto, a esquerda a Fano, eu perguntei a ele se era pra pegar a direção de Spoleto e ele disse que não, que era pra ir na direção de Macerata, então é pra virar à esquerda. Claro que uma orientação dada assim com tão poucos detalhes e envolvendo dois lemmings desorientados como eu e Mirco, a coisa não tinha nenhuma probabilidade de ser fácil. Dito e feito.

Chegamos à tal bifurcação e pegamos a esquerda, que levava a Nocera Umbra, Fano, Macerata. Rodamos, rodamos, e nada de placa indicando Sellano. Aliás, nenhuma placa indicando nada conhecido; essa parte da Umbria é completamente desconhecida pra nós, e até a paisagem é um pouco diferente, mais toscana, embora na verdade esteja na direção oposta à Toscana. Passamos por trás do Subasio, por trás de Spello; ville belissimas entre as colinas, tudo já meio verdejante ma non troppo. O tempo muito estranho, céu nublado, carregadíssimo. Eu só pensando nas minhas calcinhas e lençóis que deixei pendurados no varal na varanda… Se a chuva que cai hoje é a mesma de dois dias atrás, aquela que veio com o Scirocco, vento do Marrocos, e trouxe a areia do Saara com ela e deixou meia Itália debaixo dessa poeira avermelhada (na Liguria, região onde fica Genova, nevou e ventou Scirocco no mesmo dia. Resultado: neve rosa nas ruas!), eu tô ferrada!

Rodamos, rodamos, e nada. Passamos por Nocera, cidadezinha de poucas belas e velhas casas de pedra acocoradas sobre as colinas. Foi um dos epicentros do grande terremoto de 97. Dá pra ver que quase tudo caiu, foi destruído, e quase nada foi reconstruído ainda, porque, obviamente, as porcarias das igrejas têm prioridade. Enquanto isso, MUITAS famílias continuam morando em containers precários. No frio que faz ali nas montanhas, não deve ser muito agradável. Pra vocês terem uma idéia das temperaturas invernais ali, a partir de um certo ponto da subida o Mirco aponta pra uns paus muito altos, pintados de amarelo e preto, fincados a pouca distância um do outro, ao longo da estrada. Estão ali pra marcar os limites da estrada, diz ele, porque no inverno a neve cai com tanta intensidade que não dá tempo de limpar a estrada, que assim fica com um nível de neve igual ao dos campos que a rodeiam. Sem uma indicação colorida como esses paus listrados, você simplesmente não vê a estrada. Delícia, hein? Imaginou você morando num container mal aquecido, numa cidadezinha com mais ou menos cem famílias, a estrada bloqueada pela neve por dias e dias… Enquanto isso, a igreja da cidade, e as das cidades turí$tica$ em torno, estão todas sendo reformadas desde 97, comendo dinheiro público com uma vontade impressionante. Mas deixa eu mudar de assunto, senão me vem aquela vontade que eu tenho de vez em quando, de sair chutando frades na rua.

No final das contas demos a volta na colina onde fica Nocera. Chegamos ao miolo de uma minicidade (paesino, em italiano). Hora do almoço, ninguém na rua. Vimos um carteiro parado num stop (cruzamento), olhando pra fora da janela do carro pra ver se vinha alguém da outra direção. Encostamos e perguntamos onde fica Sellano. Iiiiiih! Vocês erraram MUITO a estrada! Sellano fica logo atrás de Foligno, agora o jeito é voltar (tinha sido mais de meia hora de estrada desde a primeira saída pra Foligno) ou então continuar e terminar de dar a volta, mas vai levar mais de meia hora… Vocês pegam a estrada branca (hein?), depois vão ver as placas pra Colfiorito (encurtamento de Colle Fiorito, ou Colina Florida, região famosa pela boa qualidade de seus produtos laticínios), a estrada vira asfaltada, depois vem Casenove, logo depois vem Sellano.

E lá vamos nós pela tal estrada branca, que nada mais é do que uma estrada de mão única, de pedrinhas que deixaram o carro branco de poeira, serpenteando entre colinas verdes, plantadas, LINDAS, mas sem NENHUMAAAAA casa ao redor, nem uma vaca, um carneiro, uma pessoa, um cachorro, nada. Um vento forte soprando, as nuvens negras passeando lá em cima, aquela paisagem deslumbrante, o momento inoportuno – hora do almoço é sempre inoportuna pra qualquer coisa que não seja almoçar. Não resisti e desci do carro pra tirar umas fotos (que agora não tô com saco de editar). E, claro, fiquei com as botas todas brancas de lama… ;)

Circundamos um cemitério, e logo atrás dele começou o asfalto. Chegamos a um outro cruzamento, e nada de placa. Decidimos virar à direita, e fortunadamente chegamos a um outro paesino onde vimos placas indicando Colfiorito. Assim só pra constar, pedimos informação a uma camponesa maltratada pelas intempéries, que passava na rua. Iiiiiiih, não vai por Colfiorito não, é muito mais longe! Mais fácil descer tudo de novo e seguir até atrás de Foligno.

Tá.

Descemos tudo de novo, mudamos a direção no cruzamento, vamos na direção de Foligno. Continuamos nessa maluquice, estradas desertas e cheias de curvas absurdas, em meio a colinas cor de laranja. A essa altura já estávamos morrendo de fome; eu não tinha tomado café e já estava me sentindo verde. O cliente liga pro Mirco; mas onde é que vocês foram parar, meudeus? Mirco diz onde estamos (passando em frente a Ascolano, paesino com 6 casas – eu contei), ele diz que estamos na direção certa. Desconfiamos, mas seguimos em frente.

Depois de MUITO rodar, chegamos. Descemos uma ladeira atrás do açougue e damos de cara com o reboque de um caminhão, todo meio enferrujado, que é o tal negócio que o Mirco vai ter que dar jato de areia e pintar (ele não, o pai, já falei que o Mirco odeia caminhão e só pinta máquinas industriais). Vinte minutos analisando o bicho, tirando fotografias, explicando coisas. O orçamento final vai ser dado por telefone hoje à noite. E a nós resta arrumar um lugar pra comer.

Esse é um mapa meio pobrinho da Umbria que arrumei não lembro onde e já usei aqui antes. O trajeto em vermelho é o que deveríamos ter feito. O outro, em cor teal, é o que nós, bestas quadradas, fizemos.

Vinte minutos depois, estamos na altura de Foligno, e ainda de estômago vazio, porque em cidadezinhas de 6 casas não há restaurantes. Resolvemos continuar até Collestrada e parar pra comer no Autogrill do Ipercoop. A essa altura do campeonato eu já tava tonta mesmo, com as pernas tremendo de fome – pombas, já eram três da tarde! Comi um risoto de linguiça e ervilha, e depois uma bisteca de vitela e batatas no forno. Ainda ganhamos de brinde uma mini-garrafa de Valpolicella, que é um vinho do qual não gosto muito, mas de graça…

Continuamos até Perugia, pra pegar a haste de um limpador de farol de um caminhão Scania que há dias está só ocupando espaço na oficina. Voltamos tudo de novo até S. Maria pra pegar o tripé da máquina fotográfica da irmã de um amigo do Mirco; caiu um parafuso e ninguém consegue consertar. Última parada: Petrignano, pra pegar a lista de códigos de peças que o Mirco pinta pra Umbrapackaging. Estou eu sentadinha no carro, no sol, quando o Mirco bate no vidro. Dá pra você vir dar uma olhada aqui num funcionário que cortou o dedo? Lá vou eu olhar. Entro no banheiro onde ele está sem nem perceber que era o banheiro masculino (e mesmo que tivesse percebido, não teria feito a menor diferença, acho). O cara tá lá com um discreto corte em V no indicador esquerdo. Meio fundinho; se a mão estivesse limpa eu até daria um pontinho, se houvesse material de sutura na caixa de primeiros-socorros, mas num dedo cheio de graxa daquele jeito deixei quieto. Bota o dedo pro alto, meu senhor, mais alto que o coração, até parar de sangrar. Depois a gente bota um band-aid e pronto.

Depois que o Mirco me deixou em casa fiquei pensando: putz, não lembro mais NADA de medicina de emergência! Apaguei tudo da minha cabeça, não ficou nada!

Não sei se fico triste ou contente.

p.s.: Minhas calcinhas não saíram voando, apesar do vento forte, nem tomaram chuva vermelha.