livrinhos

Esse calor me cansa. Parece que vai melhorar nos próximos dias, mas por enquanto ainda é um parto sentar aqui e traduzir do italiano pro inglês um relatório cheio de estranhos materiais de construção, quando poderia estar deitada na cama, o ventilador na cara, lendo Nicolas Eymerich, Inquisitore, de Valerio Evangelisti, que é interessante pelo assunto mas estilisticamente pouco atraente. O diabo é que é o primeiro de uma série. Malditos autores de séries.

Meu pai trouxe com ele uma bolsona de coisas que minha mãe mandou por ele quando esteve no Rio, mês passado. Então ganhei sapatos, camisas escandalosamente bonitas, banana passa, gelatina Royal, bijuterias lindas, e os livros que comprei pelo Submarino: Equador (Miguel Sousa Tavares), dica da paratyfílica Newlands, A Língua Exilada (Imre Kertész), se não me engano dica da Cora, e alguns clássicos russos e da literatura brasileira.

O problema é que também comprei coisas em francês mês passado, mas preciso de tempo, paciência e dicionário pra dissecar esses livros, já que ainda titubeio um pouco quando leio o Le Figaro. Mas o tempo, cadê, cadê?

Éri Potter-â, como se diz aqui

Meu Harry Potter finalmente chegou, maldita Amazon e malditos correios italianos. Mas preciso de calma pra ler, e com todo esse calor e com meu pai meio que por aqui e com o fim do mês chegando e trazendo consigo as faturas de julho pra resolver, joguei pra escanteio. Li as primeiras páginas e notei que não lembro mais de coisa nenhuma. Talvez seja melhor recomeçar do início da série, só pra dar uma refrescada na memória. Sacrifício… ;)

Post PMM (Para Mim Mesma)

até o presente momento:

Matilda (Roald Dahl)
Kingdoms of the Celts (John King)
The Great Gatsby (Fitzgerald)
Great Expectations (Dickens)
I Racconti (Tommaso di Lampedusa)
The Da Vinci Code (…)
Lady Chatterley’s Lover (D. H. Lawrence)
The BFG (Roald Dahl)
The Old Man and the Sea (Hemingway)
The Curious Incident of the Dog in the Night-Time (Mark Haddon)
La Voce del Violino (Andrea Camilleri)
La Stagione della Caccia (Andrea Camilleri)
The Importance of Being Earnest (Oscar Wilde)
Bartleby (Herman Melville)
Salem’s Lot (Stephen King)
Boy (Roald Dahl)
La Gita a Tindari (Andrea Camilleri)
L’Odore della Notte (Andrea Camilleri)
Il Giro di Boa (Andrea Camilleri)
Todas as Festas Felizes Demais (Fabio Danesi)
Io Non Ho Paura (Niccolò Ammaniti)
L’Impero dei Draghi (Manfredi)
The House of Mirth (Edith Wharton)
The Kite Runner (Khaled Hosseini)
Breakfast at Tiffany’s (Truman Capote)
Middlesex (Jeffrey Eugenides)
Fight Club (Chuck Palahniuk)
The Bookseller of Kabul (Åsne Seierstad)
The No. 1 Ladies’ Detective Agency (Alexander McCall Smith)
The Godfather (Mario Puzo)
The Hitchhiker’s Guide to the Galaxy (Douglas Adams)
In Patagonia (Bruce Chatwin) – não terminado, chato demais
Un Mese con Montalbano (Andrea Camilleri)
Gli Arancini di Montalbano (Andrea Camilleri)
Henderson the Rain King (Saul Bellow)

o poderoso chefão

Depois de The No. 1 Ladies’ Detective Agency, ataquei de The Godfather (Mario Puzo). Mas o que é que há com os escritores americanos modernos que não têm a menor intimidade com a língua? A trama é interessante, os personagens são claramente definidos, mas caramba, estilo literário zero. Que porre. Fora que tudo parece ter sido escrito já tendo em mente o futuro filme-baseado-no-livro. Não gosto de livros obviamente cinematográficos. Acho a maior forçação de barra. Vou terminar de ler, mas não estou feliz da vida não. Decepções literárias me irritam deveras.

;)

Now constipation was quite a different matter. It would be dreadful for the whole world to know about troubles of that nature. She felt terribly sorry for people who suffered from constipation, and she knew that there were many who did. There were probably enough of them to form a political party – with a chance of government perhaps – but what would such a party do if it was in power? Nothing, she imagined. It would try to pass legislation, but would fail.

The No. 1 Ladies’ Detective Agency, Alexander McCall Smith

:)))))

Por motivos puramente ilustrativos, vamos fingir que os três volumes do Gibbon, que eu queria ler há aaaaaaaaanos, desde que li How the Irish Saved Civilization pela primeira vez, se materializaram do nada aqui na minha estante. Vamos fingir que The Bookseller of Kabul veio parar aqui por vontade própria. Assim como The Godfather. Vamos fingir que segunda-feira eu não gastei nenhum euro na minha livraria preferida – fui lá só pra dar uma bizoiada rotineira na seção de livros em língua original.

A seção de livros em língua original é uma espécie de ilhota, uma pequena estante não mais alta que meus olhos, alojada em um tipo de beco sem saída que abriga nas prateleiras de suas três paredes dicionários e livros didáticos para aprender outras línguas. Essa ilhota também tem três lados – o quarto virou uma espécie de balcão, onde ficam expostas as últimas novidades no setor de aprendizado lingüístico. Dois lados da ilhota são ocupados por livros em inglês; o outro é um mix de francês, espanhol e alemão. Há algumas poucas obras em russo, e é triste notar que Paulo Coelho faz parte de todas essas seções.

Eu estava ali olhando os Stephen Kings e os Douglas Adams, alguns Penguin Classics que pretendo comprar no Rio a 5 reau (ainda custa isso? Non credo), uma prateleira inteira muito chata sobre o Da Vinci Code, e outras coisinhas. Minha bolsa estava no chão, minha agendinha Moleskine estava aberta na página onde anoto os nomes dos livros que me atraem mas que não tenho dinheiro pra comprar agora mas um dia quem sabe. Ouço vozes, e noto que não estou sozinha. Freqüento a livraria há muito tempo, mas nunca tinha encontrado ninguém na ilha da língua original. Sei que alguém mais além de mim compra livros em língua original, porque noto que à distância de semanas muitos (tá bom, alguns) desaparecem, mas nunca tinha visto com meus próprios olhos nenhum outro companheiro leitor de língua original. Era um casalzinho jovem, os dois muito bonitinhos, roupas despojadas – nada de lápis de contorno labial sem batom, cabelo entupido de cera, saltos destruidores de vértebras, óculos de sol gigantes. SENTARAM NO CHÃO – sentaram no chão, olha que intimidade com o bookselling environment, sentaram no chão e ficaram discutindo livros em voz baixa. A menina queria levar o Silmarillion (quase enfartei), o menino um Chuck Palahniuk (quase morri). Puxavam outros livros da estante, um Harry Potter, um Hobbit, um Lovecraft, e acabei não me contendo.

– Palahniuk é muito bom, caramba. Mas o Silmarillion é um livro que não acaba nunca.

Os olhos do menino se acendem.
– Você leu Fight Club?

– Tenho em casa, mas queria esperar passar mais tempo desde que vi o filme pela última vez, pra não ler o livro imaginando o Brad Pitt.

– O filme é bem diferentinho do livro, pode ler sem medo.

– Beleza, vou ler mesmo! [estou lendo, mas não tenho tempo de entrar no ritmo]

A menina pergunta se o Silmarillion é mesmo chato.
– Não é que é chato, é difícil, pesado, mesmo traduzido.

– O LoTR eu li, mas o Silmarillion eu nunca terminei nem em italiano, que dirá em inglês – responde o garoto.

– O LoTR eu já li umas treze vezes e não me canso nunca.

– Eu não passei das cinco vezes – ele ri.

Puxo dois livros da minha prateleira.
– Olha, esse aqui é muito gostosinho [é The Curious Incident of the Dog in the Night-Time]. E esse aqui é interessante, não tanto pelo hermafroditismo [aqui a emoção de estar conversando com gente que actually reads enrolou a minha língua e saiu algo tipo hermafodritismo] do personagem principal, mas a história da família grega é bem interessante [estava falando de Middlesex]. É o mesmo autor de Virgin Suicides, que infelizmente nunca vi aqui.

A garota descartou The Silmarillion. Leram as contracapas juntos, o garoto distribuiu os livros na mão como se estivesse jogando pôquer, e eu fui embora sorrindo antes de ver o que ela escolheu.

Eles agradeceram, mas em vez de se despedir com ciao disseram arrivederLa. Caraca, tô ficando velha mesmo.

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Vamos combinar que Bruce Chatwin foi uma das maiores decepções literárias da minha vida. In Patagonia é UM PORRE. Nunca vi livro sobre viagem que descreve praticamente só pessoas, e só conta história idiota. Pode até ser que tudo aquilo tenha um sentido, mas se tem, é só pro autor mesmo. Parei no meio, vejam só de que nível de chatice estamos falando. Me agarrei no Fight Club, que não tenho tempo de ler enquanto não terminar a tradução que tenho que entregar até amanhã.

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Quarta-feira dei a primeira aula de português pro Valerio. Ontem ele deveria ter me dado a primeira de francês, mas houve um contratempo e não rolou. Fiquei irritadinha. Vamos compensar na segunda, ele disse. Hmpf.

Middlesex

Aliás, falando em livro.

Consegui terminar Middlesex, de Jeffrey Eugenides (autor de Virgin Suicides), à custa de muito esperar aluno atrasado e fila no banco e nos correios. Gostei MUITO, não tanto da problemática hermafrodita do personagem principal, mas da história da família de origem grega que migra pra Detroit. Desdemona é um personagem fenomenal e me fez abrir largos sorrisos. Gostei, gostei.

Agora estou com esse In Patagonia, de Chatwin, que não sei quando vou conseguir curtir, porque tenho milhões de páginas (algumas chatas, outras legais) pra traduzir com urgência, turmas novas pintando em horários surreais (sábado de uma e meia a três e meia, sexta das oito às dez da noite!), e na próxima semana um zilhão de faturas pra fazer.

Hoje acordei ainda com dor de cabeça e zonza depois de tanta música chata ontem à noite. Perambulei pela casa, inútil, até as nove, quando finalmente me convenci de que não tinha condições de sair pra correr debaixo do sol forte, com essa dor de cabeça. Dei uma mini-geral na casa e sentei pra escrever. E agora tenho que ir pra cozinha bater um bolo bem gostoso pro Ettore, que foi operado no ombro ontem à tarde e em teoria volta pra casa hoje. Mas cadê a vontade? Cadê a vontade de fazer faxina também? E a vontade de traduzir as coisas chatas? E de lavar o cabelo? E de dar aula até as três e meia da tarde? E de depois ir direto pra casa do Moreno, pra ajudar a mãe dele, que é uma simpatia, com os preparativos do jantar de hoje – finalmente as lesmas vão pra panela, e parece que a coisa vai ser trabalhosa.

Que vontade de passar alguns dias em animação suspensa, quase comatosa, pra descansar os neurônios.

Holly Golightly

Holly lifted her martini. “Let’s wish the Doc luck, too,” she said, touching her glass against mine. “Good luck: and believe me, dearest Doc – it’s better to look at the sky than live there. Such an empty place; so vague. Just a country where the thunder goes and things disappear.”

**

The instant she saw the letter she squinted her eyes and bent her lips in a tough tiny smile that advanced her age immeasurably. “Darling,” she instructed me, “would you reach in the drawer there and give me my purse. A girl doesn’t read this sort of thing without her lipstick.”

Breakfast at Tiffany’s, Truman Capote

the house of mirth

He caught her hand, and she felt in his the vibration of feeling that had not yet risen to his lips. “Lily – can’t I help you?” he exclaimed.

She looked at him gently. “Do you remember what you said to me once? That you could help me only by loving me? Well – you did love me for a moment; and it helped me. It has always helped me. But the moment is gone – it was I who let it go. And one must go on living. Goodbye.”

She laid her other hand on his, and they looked at each other with a kind of solemnity, as though they stood in the presence of death. Something in truth lay dead between them – the love she had killed in him and could no longer call to life. But something lived between them also, and leaped up in her like an imperishable flame: it was the love his love had kindled, the passion of her soul for his.

The House of Mirth, by Edith Wharton

Lindo, lindo, lindo. Os últimos três capítulos são absolutamente deslumbrantes. Mas preparem os lencinhos, porque rapadura é doce mas né mole não.

ui

Semana passada terminei L’Impero dei Draghi, de Manfredi, o mesmo autor da série Alexandros.

Cacete, que livro chato! QUE LIVRO CHATO! Penei feito uma mula pra terminar. Ô coisa mal escrita! Ô coisa cheia de chavões ridículos! Imaginava que não era uma Brastemp, mas o assunto era interessante – a suposta presença de soldados romanos na China láaaaa nos tempos de D. João Charuto, com todo o choque cultural que isso implicaria – e resolvi arriscar. O cara é professor de arqueologia, conceituado na área, e coisa e tal, fui na fé, achando que pelo menos aprenderia alguma coisa. Péssima idéia. Péssima, péssima, péssima. O livro se arrasta, acontece sempre alguma coisa mas é tudo tão ridiculamente descrito, pontuado com algumas frases de pseudo-filosofia chinesa aqui e ali, que às vezes eu sentia vergonha pelo autor. Tem que ter muita coragem pra publicar um negócio desses, com seu nome na capa. Pensando bem, olhando a cara do sujeito na foto que ocupa toda a traseira do livro, dá pra entender muitas coisas. A barbicha e a franjinha grisalha explicam tu-do.

Pra compensar e esquecer o trauma, comecei The House of Mirth. Só li algumas páginas e já estou adorando. Enquanto isso, Mrs Dalloway está ali quietinha me olhando com ar de reprovação. Comecei, mas não tive paciência de continuar. Juro. Vai ver que não é o momento.