hohoho! :)

Dali a dois dias o satélite espião subiu, parou sobre a Amazônia, e, com os cheiros de Edmundo, Bolachão, Berenice, Pituca e Hugo Ciência computados no cérebro eletrônico, começou a cheirar.

O primeiro cheiro que chegou foi o do Redimir, dez dias sem tomar banho e cortando cebola: o satélite vomitou.

O cheiro de um prefeito, gesticulante, fazendo discurso num palanque, em Alagoas, foi descomputado, mas fez o satélite ter engulho.

“Como fede esse Brasil” – pensou o satélite espião.

***

O gordo tirou o tênis do pé direito e colocou na cabeça.

Ninguém queira saber o que é chulé de pé de gordo, entranhado num tênis que levou suor de pé de gordo durante 27 dias, na floresta mais quente do mundo. Edmundo, Berenice, Pituca e Hugo Ciência taparam o nariz, saíram correndo, dois gambás desmaiaram, uma jaguatirica teve um troço. Para o coitado do satélite cheirador, de centros olfativos supra-sensíveis, foi um fuá: a catinga do chulé do pé do gordo queimou os transistores, queimou as resistências, queimou os fusíveis, queimou os sensores, o chulé entrando lá dentro, o chulé chulezando tudo, o chulé esculhambando tudo, o satélite começou a fungar, o satélite começou a tossir, começou a sair uma fumacinha – o satélite explodiu.

***

– Você é muito bonita, minha paulista. Qual destes heróis é teu namorado?
– É o gordo.
– Ah! Este gordo é um corisco – disse o frade. – Explode satélites, conquista mulheres, o único defeito é que demora muito pra tomar banho.

***

O frade chegou na margem, e Tum-Tum, era braçadada de cruz em cada lancha, as lanchas quebravam ao meio, pulavam baços, rins, fígados, olhos, dentes, maxilares, omoplatas, pâncreas, orelhas, joelhos, bexigas, dedos do pé, dedos da mão, pomos de Adão, artelhos, aortas. Michael Pat se atirou n’água, quando fez que ia nadar, reparou que estava sem pulmão, afundou e morreu.

Sangue Fresco, João Carlos Marinho.

– Eu disse.

– Senhor gerente – interrompeu o Mister. – Mim ser um homem muitíssimo do calmo, mim só perder o meu paciência uma vez no vida com uma bandida espanhol que amarrar mim numa cadeira me dar um tiro no meu barriga e depois jogar um balde de água fervendo no meu cabeça. Mas a senhor estar muito chato, senhor gerente, se a senhor repetir mais uma vez “eu disse” mim dar um tapa no seu cara.

– Estou apenas lembrando que tinha razão quando adverti sobre o perigo de meter crianças com bandidos. O senhor está procurando me intimidar com a violência e eu estou argumentando com a razão. A lógica do meu raciocínio é perfeita, só mesmo um louco não entende a verdade do que eu disse: criança em investigação é perigoso, seu Tomé não tinha o direito de deixar, e tanto estava errado que foi tudo escondido dos pais. E os fatos comprovam meu pensamento; o gordo pode até escapar mas corre perigo e não temos direito de pôr os filhos dos outros em risco. Eu argumento com razão, seu Mister.

– Senhor gerente, a história do mundo mostrar que os chatos ser bichos muito lógicos e ter sempre razon. Mas a problema fundamental do vida non ser ter razon, a problema fundamental do vida ser non ser chata.

O Gênio do Crime, João Carlos Marinho

– Eu disse.

– Senhor gerente – interrompeu o Mister. – Mim ser um homem muitíssimo do calmo, mim só perder o meu paciência uma vez no vida com uma bandida espanhol que amarrar mim numa cadeira me dar um tiro no meu barriga e depois jogar um balde de água fervendo no meu cabeça. Mas a senhor estar muito chato, senhor gerente, se a senhor repetir mais uma vez “eu disse” mim dar um tapa no seu cara.

– Estou apenas lembrando que tinha razão quando adverti sobre o perigo de meter crianças com bandidos. O senhor está procurando me intimidar com a violência e eu estou argumentando com a razão. A lógica do meu raciocínio é perfeita, só mesmo um louco não entende a verdade do que eu disse: criança em investigação é perigoso, seu Tomé não tinha o direito de deixar, e tanto estava errado que foi tudo escondido dos pais. E os fatos comprovam meu pensamento; o gordo pode até escapar mas corre perigo e não temos direito de pôr os filhos dos outros em risco. Eu argumento com razão, seu Mister.

– Senhor gerente, a história do mundo mostrar que os chatos ser bichos muito lógicos e ter sempre razon. Mas a problema fundamental do vida non ser ter razon, a problema fundamental do vida ser non ser chata.

O Gênio do Crime, João Carlos Marinho

librini

Ando lendo muito ultimamente, embora o tempo disponível seja pouco, com todo o trabalho na oficina e coisa e tal.

No Rio comprei váaaaarios livros mas esqueci de ir anotando o que ia lendo, como costumo fazer. Na Primavera dos Livros comprei Três Contos, de Flaubert, por indicação da mãe da Newlands; gostei. Sempre por indicação dela comprei Baú de Ossos, de Pedro Nava, que ainda não comecei. Comprei Bibliofilia, sempre um continho do Flaubert – o primeiro. Gostei. Comprei um outro cujo nome esqueci, de contos sobre a paixão pelos livros, e que inclui uma outra tradução desse Bibliofilia. Na Travessa, comprei Dois Irmãos, de Milton Hotoum, interessante. Comprei O Vendedor de Passados, do badaladíssimo Agualusa, e não achei nada de especial. Li uma compilação de velhos contos do Stephen King que achei embaixo do piano. Uma merda! A tradução não parecia ser muito ruim, mas os contos velhos dele incluem sempre uma criatura estranha, uma coisa meio Lovecraft amadora, não gostei não. Comprei e li A Louca da Casa, de Rosa Montero, muito, muito legal.

Dos muitos livros que eu trouxe pra cá, reli Belgarath the Sorcerer, e estou relendo o segundo livro da série The Belgariad, sempre de David Eddings. Gosto muito dessa série (são 5 livros), mas todas as outras sagas desse autor são exatamente iguais e patéticas, e Polgara the Sorceress é uma cópia chata do Belgarath. Trouxe O Cortiço, que eu amo e já li vinte mil vezes. Trouxe algumas coisas de Tolkien, que esse ano ainda não reli. Trouxe vários Penguin Classics, aqueles de cinco reau, ótimos. Trouxe Sostiene Pereira, de Antonio Tabucchi, um livro ó-te-mo recomendado pelo professor de literatura da Università per Stranieri. Trouxe e já reli compilações de contos de Asimov. Trouxe e quero reler logo The Fionavar Tapestry, trilogia de Guy Gavriel Kay, e How the Irish Saved Civilization, um dos livros mais interessantes que já li. Trouxe vários livros da Sark. Trouxe Negrinha, do Monteiro Lobato, presente sentimental da minha mãe quando eu era adolescente. Trouxe O Gênio do Crime, de João Carlos Marinho, divertidíssimo – até hoje. Trouxe La Vita Quotidiana nel Medioevo, de Delort, interessantíssimo retrato do dia-a-dia na Idade Média. Trouxe Marcovaldo, do Calvino, o livro mais delicioso do mundo. Trouxe uns do Sciascia que quero reler, porque quando li a primeira vez meu italiano era árido e não me permitia entender o siciliano, que aprendi com Camilleri. Trouxe uns contos do Machado. Uns Asterix em italiano. Um livro com fotos de filhotes de cachorros, What Puppies Do. Tem uma foto pra cada verbo, e é uma gostosura.

Trouxe minha amada coleção de marcadores de livros. Eu fico tirando fotos da minha coleção de meias coloridas, mas esqueci o monte de marcadores de livros que eu tenho. Amo! Em todo lugar que eu vou sempre compro cartões-postais, principalmente porque minhas fotos são tão ridículas que vale mais a pena comprá-las prontas, e marcadores de livros. Canetas coloridas também make my day.

Eu sou chata, mas é tão fácil me agradar que às vezes até eu me espanto. Basta uma barrinha de cereais Trio brigadeiro pra eu ficar contente pelo resto do dia.

leiam White Teeth, please

Como prometido, falo rapidinho sobre o Autograph Man, que a Flabb me deu de presente. Não gostei. Ela mesmo me disse que leu esse antes e o White Teeth depois, e achou o White Teeth infinitamente melhor. Concordo pRenamente: White Teeth é uma das melhores coisas que eu já li na vida. Mas no Autograph Man a mocinha errou a mão. O livro é completamente sem pé nem cabeça e as personagens não têm carisma nenhum – nem pro bem e nem pro mal. E a fórmula de mistureba étnica já anda repetitiva. Chinês judeu e preto judeu juntos num livro inteiro não têm graça nenhuma.

sempre livros

Ontem terminei What it means to be 98% chimpanzee. Achei tão arrogante! Tão cheio de lugares-comuns! Mas também tem pontos de vista interessantes, e algumas boas tiradas, que eu, burra que sou, esqueci de marcar pra colocar aqui e agora não consigo mais achar.

E hoje acordei cedo, li metade de Survivor (Chuck Palahniuk), fui fazer faxina enquanto o Mirco foi pra oficina inventar um bebedouro pra adaptar ao garrafão de 5 litros de água mineral que eu descobri na Coop por € 0,60, tomei banho, corri pra varanda pra tirar as flores da chuva fortíssima, e aproveitei que o almoço era ridículo (pappardelle all’uovo com molho pronto de faisão) pra continuar lendo. No final da tarde Mirco partiu pra Milão pra fazer outro curso como o do ano passado, quando eu o acompanhei e aproveitei pra conhecer a Simone. FeRnanda e Fabião passaram aqui pra checar e-mail, já que em Ripa ainda não há ADSL e de qualquer forma o computador deles ainda não foi ligado por falta de espaço. Agora há pouco, lá pras nove, terminei Survivor. Sabe que eu gosto do estilo desse cara? Tudo muito absurdo, meio realismo fantástico, mas nessa ele acaba mandando muito bem. A paginação do livro é toda ao contrário, a numeração dos capítulos idem. Achei o livro muito legal.

The Prayer for a Parking Space

Oh, divine and merciful God,
History is without equal for how much I will adore
You, when You give me today, a place to park.
For You are the provider.
And You are the source.
From You all good is delivered.
Within You all is found.
In Your care will I find respite. With Your
Guidance, I will find peace.
To stop, to rest, to idle, to park.
These are Yours to give me. This is what I ask.
Amen.

You realize there’s no point in doing anything if nobody’s watching.
You wonder, if there had been a low turnout at the crucifixion, would they have rescheduled?
You realize the agent was right. You’ve never seen a crucifix with a Jesus who wasn’t almost naked. You’ve never seen a fat Jesus. Or a Jesus with body hair. Every crucifix you’ve ever seen, the Jesus could be shirtless and modeling designer jeans or men’s cologne.
(…)
Because the only difference between a suicide and a martyrdom really is the amount of press coverage.
If a tree falls in the forest and nobody is there to hear it, doesn’t it just lie there and rot?
And if Christ had died from a barbiturate overdose, alone on the bathroom floor, would He be in Heaven?

em compensação…

Li Dracula (o original de Bram Stocker) há alguns anos e, honestamente, é um dos melhores livros que eu já li na minha vida. Tem muito pouco a ver com o que estamos acostumados a assistir no cinema – dá muito, MUITO mais medo. Bem escrito pra caramba, tenso, descritivo na medida justa. LEIAM.

livriiiiinhos!

Então, eu nem falei nada, mas sexta-feira chegaram meus livros da wishlist da Amazon, presente de aniversário do Mirco pra mim. Ontem mesmo comecei Choke, de Chuck Palahniuk (o autor de Fight Club) e já estou quase no fim. Estranho, mas interessante, tem algumas tiradas ó-te-mas. No pacote veio um outro dele, “Survivor”, Under the Volcano (Malcolm Lowry), Last Bus to Woodstock (Colin Dexter), What It Means To Be 98% Chimpanzee (Jonathan Marks), e dois básicos do Stephen Hawking que admito nunca ter lido antes: A Brief History of Time e The Universe in a Nutshell.

Instruções:

1. Pegue o livro mais próximo de você;
2. Abra o livro na página 23;
3. Ache a quinta frase;
4. Poste o texto em seu blog junto com estas instruções.

“Now, Michael!” his wife said. “Keep calm now, Michael, dear! Keep calm!”

Do conto “Taste”, do livro Completely Unexpected Tales, Roald Dahl.

Não lembro mais qual foi o primeiro blog onde eu vi isso.

E fiquem com um pedaço de La Forma dell’Acqua que, como previsto, não está me decepcionando nadinha… Tradução amanhã ou depois. Os negritos são meus.

Il signorino Giacomo è il classico esempio di figlio di papà, aderentissimo al modello, senza uno scarto di fantasia. Il padre è notoriamente un galantuomo, fatta eccezione di una pecca di cui dirò in seguito, l’opposto della bonarma Luparello. Giacomino abita con la seconda moglie, Ingrid Sjostrom, le cui qualità ti ho già a voce illustrate (…). Ti faccio l’elenco delle sue benemerenze, almeno quelle che io ricordo. Ignorante come una cucuzza, non ha mai voluto né studiare né applicarsi ad altro che non fosse la precoce analisi dello sticchio, eppure è sempre stato promosso a pieni voti per intervento del Padreterno (o del padre, più semplicemente). Non ha mai frequentato l’università, pur essendo iscritto a medicina (e meno male per la salute pubblica). A sedici anni, guidando senza patente la potente macchina del padre, travolge e uccide un bambino di otto anni. Praticamente Giacomino non paga, paga invece il padre, e assai profumatamente, alla famiglia del bambino. In età adulta costituisce una società che si occupa di servizi. La società fallisce due anni dopo, Cardamone non ci rimette una lira, il suo socio a momenti si spara e un ufficiale della guardia di Finanza che vuole vederci chiaro si trova di colpo trasferito a Bolzano. Attualmente si occupa di prodotti farmaceutici (figurati! Ha il padre che gli fa da basista!) e spende e spande in misura di gran lunga superiore ai probabili introiti.

Appassionato di macchine da corsa e di cavalli, ha fondato (a Montelusa!) un Polo-club dove non si è mai vista una partita di questo nobile sport, ma in compenso si sniffa che è una meraviglia.

Se dovessi esprimere il mio sincero giudizio sul personaggio, direi che trattasi di uno splendido esemplare di coglione, di quelli che allignano dove ci sia un padre potente e ricco. All’età di anni ventidue contrasse matrimonio (…) con Albamarina (per gli amici, Baba) Collatino, alta borghesia commercializia di Palermo. Due anni dopo Baba presenta istanza di annullamento del vincolo alla Sacra Rota, motivandola con la manifesta impotentia generandi del coniuge. M’ero scordato: a diciotto anni, vale a dire quattro anni prima del matrimonio, Giacomino aveva messa incinta la figlia di una delle cameriere e l’increscioso incidente era stato al solito taciato dall’Onnipotente. Quindi i casi erano due: o mentiva la Baba o aveva mentito la figlia della cameriera. A parere insindacabile degli alti prelati romani, aveva mentito la cameriera (e come ti sbagli?), Giacomo non era in grado di procreare (e di questo si sarebbe dovuto ringraziare l’Altissimo). Ottenuto l’annullamento, Baba si fidanza con un cugino col quale aveva già avuto una relazione, mentre Giacomo si dirige verso i brumosi paesi del nord per dimenticare.

In Svezia gli capita di assistere a una specie di auto-cross massacrante, un percorso tra laghi, dirupi e montagne: la vincitrice è una stanga bionda, di professione meccanico e che di nome fa appunto Ingrid Sjostrom. Che dirti, mio caro, per evitare la telenovela? Colpo di fulmine e matrimonio. Ormai vivono assieme da cinque anni, ogni tanto Ingrid torna in patria e si fa le sue corsettine automobilistiche. Cornifica il marito con svedese semplicità e disinvoltura. (…) Corre voce, assolutamente non controllabile, che magari* l’austero professor Cardamone padre ci abbia inzuppato il pane con la nuora. E questa sarebbe la pecca di cui ti ho accennato all’inizio. Altro non mi viene a mente. Spero d’essere stato pettegolo come desideravi.

Nicola.

*magari em italiano quer dizer “talvez”, ou então, quando está no exclamativo, vira “quem dera!”. Em siciliano quer dizer “também”.