potocas

Quando eu digo que a Itália é um país muito engraçado, neguinho acha que eu estou exagerando. Mas vê se não é verdade:

Essa semana teve greve dos transportes públicos. Não precisa nem dizer que cada cidade fez um horário diferente – em algumas a greve foi só de manhã, em outras durou algumas horas de manhã e outras à tarde, em outras ainda começou no final da tarde e terminou à meia-noite (isso não contando as cidades onde o horário pré-estabelecido não foi respeitado e a coisa durou o dia todo). Un casino, como se diz aqui – uma zona.

E a famosa patente a punti (a carteira de motorista com o sistema de pontos)? Lembro-me de ter comentado aqui a indignação da galera com o novo sistema. A quantidade de gente que logo na primeira semana já saiu perdendo zilhões de pontos foi impressionante – inclusive meu amadíssimo Chefe, que leva uma média de duas multas por mês, e continua sendo idiota a ponto de encaixar o cinto de segurança ANTES de sentar no carro, enganando assim seu carro igualmente idiota (uma Mercedes), que pára de apitar quando “sente” o cinto encaixado, mesmo que o motorista esteja sentado sobre ele. E qual é a última novidade da patente a punti? O sistema informático que controla toda essa farofada está sobrecarregado e à beira do colapso. Palavras do TG (telegiornale): il sistema rischia di andare in tilt.

E a televisão? O único programa ao qual assisto, Striscia la Notizia, é uma palhaçada só. Anteontem desmascararam uma “maga” que bota anúncio no jornal dizendo que curava hepatite B e C através de um ritual feito de madrugada, na praia. Mandaram um falso cliente atrás da mulher com uma microcâmera. Era uma criatura magra, de cabelos vermelho-fogo, óculos abelhão, cara de gafanhoto – me lembrou muito a professora de Divination do Harry Potter, só faltava o xale etéreo enrolado no pescoço. Ela olhou os exames do cara, falou que as transaminases iriam baixar tantíssimo depois do ritual, que pedia só 250 euros antecipados porque afinal de contas acordar de madrugada não é mole, entre outras imbecilidades. Quando o repórter apareceu e se apresentou, a mulher entrou em tilt! Entrou correndo em casa, disse que ia chamar a polícia, que era realmente uma curandeira, que absorvia a doença dos “pacientes” e por isso cobrava caro; depois jogou fora os exames do paciente com cara de Bart Simpson (I didn’t do it, nobody saw me doing it, can’t prove anything), xingou o repórter, que àquela altura se controlava herculeamente pra não desabar de rir, de tudo que se pode imaginar. Eu dava tanta risada que quase me saiu vinho pelo nariz* (Rubesco da Lungarotti, ótimo custo-benefício, menos de 6 euros a garrafa). E ontem à noite, no mesmo programa, o vira-lata Willy, que de vez em quando dá as caras por lá, deitou na mesa, passeou pra lá e pra cá, se assustou com a vespa gigante de espuma que volta e meia é lançada do teto (em homenagem ao Bruno Vespa, um jornalista com cara de sapo que é meio ídolo e meio odiado por aqui). Imaginem um telejornal onde há um cachorro que passeia por sobre a escrivaninha, tapando os repórteres? Claro que é um programa muito longe de ser sério, mas a coisa toda não deixa de ser altamente surreal, principalmente se levamos em conta o cenário totalmente trash (aliás, italiano em matéria de cenário trash é campeão. TODOS os programas têm cenários do nível do Qual é a Música. Juro.).

*E vamos aproveitar a deixa pra entrar numa particularidade da língua italiana, que aliás reflete muito bem a personalidade megalomaníaca deles: os verbos reflexivos. Tudo que é verbo pode, dependendo da situação, virar reflexivo. Como eu disse ali em cima, em italiano não se diz que saiu vinho pelo meu nariz, mas ME saiu vinho pelo nariz. Eu não comprei um carro: mi sono comprata una macchina (ou, mais coloquialmente, mi sono fatta una macchina). Não cortei os cabelos: mi sono tagliata i capelli. Marta não fez uma roupa com a costureira: si è fatta fare un vestito. Eu não tomo banho de manhã: mi faccio la doccia la mattina. Os homens não fazem a barba: si fanno la barba.

Eu demorei a entrar nesse esquema egotrip linguístico, mas volta e meia me pego pensando em um Português reflexivo que só consigo detectar como estranho quando dou o rewind mental e paro pra analisar o que falei.

Leiam Marcovaldo, leiam Gli Indifferenti (angústia pura), leiam La Mossa del Cavallo (stupendo!), leiam Il Deserto dei Tartari, leiam La Coscienza di Zeno (fe-no-me-nal), leiam I Malavoglia (e vos desafio a não chorar no começo, no meio, no fim), leiam coisas legais, e deixem Pirandello pra lá que o cara era chato bagaray – ou sou eu que sou alérgica a teatro e linguagem teatral em geral?

Preciso de livros, meu estoque anda baixo. Sugestões sao bem-vindas.

Vocês não têm IDÉIA da cotovelada que eu dei na quina da janela da sala hoje de manhã cedo. Sabe aquela dor que te joga no chão chorando, o que automaticamente faz o seu cachorro entrar em pânico e vir correndo na sua direção, abanando o rabo, tentando te lamber, bufando, não entendendo nada? Então. Foi assim. Uma das janelas estava aberta pra entrar um arzinho (gélido, diga-se de passagem), e eu, Amélia matutina, fui passar pano úmido no chão depois de varrer os quilos de pêlo do Legolas que se acumulam por toda a casa. Numa dessas passadas, puxando o rodo na minha direção, o cotovelo subiu normalmente, mas encontrou a quina da janela. E foi aí que eu vi tudo preto e caí no chão chorando de dor. E foi aí também que meu braço direito morreu para o mundo, e agora se recusa a fazer qualquer movimento mais esdrúxulo ou pegar peso de qualquer natureza. TÁ DOENDO PRA CACETE. E nem posso passar Gelol, porque a pancada foi tão forte que passou pela camisa de manga comprida e pelo moletom, e me deixou um arranhão vermelhíssimo.

**

O frio realmente chegou pra ficar, parece. Pra ir do escritório ao almoxarifado recomeçou a lenga-lenga do tira-e-bota casaco.

**

Ontem sucumbi à vontade de junk food e tracei um cheeseburger com molho quatro queijos na nossa pizzaria preferida. Digo junk porque hamburger é mentalmente associado a junk, mas nem tava tão trash assim: hamburger sequinho, pouco molho, pão de dimensões razoáveis, uma porção de batatas fritas sequinhas dividida por dois. Matou a fome e a vontade, e não me deixou com consciência pesada. E hoje estou pronta pra mais um dia de atum e saladinha. Uhuu.

**

Terminei Moby Dick! E comecei Regina’s Song, do casal Eddings (o que a Marta me deu de presente semana passada). Eu gosto do estilo deles, embora ultimamente eles tenham começado a se repetir demais, e a usar itálicos demais. O assunto também me interessa; uma coisa meio thriller, meio C.S.I., meio psiquiatria forense e não. O prognóstico é de uma semana de leitura. Veremos.

**

Preciso dar um livro de presente de aniversário atrasado pra irmã do Mirco, yoga, zen, cozinheira e não falante de nenhuma outra língua diferente do italiano. Aceito sugestões.

Vocês não têm IDÉIA da cotovelada que eu dei na quina da janela da sala hoje de manhã cedo. Sabe aquela dor que te joga no chão chorando, o que automaticamente faz o seu cachorro entrar em pânico e vir correndo na sua direção, abanando o rabo, tentando te lamber, bufando, não entendendo nada? Então. Foi assim. Uma das janelas estava aberta pra entrar um arzinho (gélido, diga-se de passagem), e eu, Amélia matutina, fui passar pano úmido no chão depois de varrer os quilos de pêlo do Legolas que se acumulam por toda a casa. Numa dessas passadas, puxando o rodo na minha direção, o cotovelo subiu normalmente, mas encontrou a quina da janela. E foi aí que eu vi tudo preto e caí no chão chorando de dor. E foi aí também que meu braço direito morreu para o mundo, e agora se recusa a fazer qualquer movimento mais esdrúxulo ou pegar peso de qualquer natureza. TÁ DOENDO PRA CACETE. E nem posso passar Gelol, porque a pancada foi tão forte que passou pela camisa de manga comprida e pelo moletom, e me deixou um arranhão vermelhíssimo.

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O frio realmente chegou pra ficar, parece. Pra ir do escritório ao almoxarifado recomeçou a lenga-lenga do tira-e-bota casaco.

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Ontem sucumbi à vontade de junk food e tracei um cheeseburger com molho quatro queijos na nossa pizzaria preferida. Digo junk porque hamburger é mentalmente associado a junk, mas nem tava tão trash assim: hamburger sequinho, pouco molho, pão de dimensões razoáveis, uma porção de batatas fritas sequinhas dividida por dois. Matou a fome e a vontade, e não me deixou com consciência pesada. E hoje estou pronta pra mais um dia de atum e saladinha. Uhuu.

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Terminei Moby Dick! E comecei Regina’s Song, do casal Eddings (o que a Marta me deu de presente semana passada). Eu gosto do estilo deles, embora ultimamente eles tenham começado a se repetir demais, e a usar itálicos demais. O assunto também me interessa; uma coisa meio thriller, meio C.S.I., meio psiquiatria forense e não. O prognóstico é de uma semana de leitura. Veremos.

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Preciso dar um livro de presente de aniversário atrasado pra irmã do Mirco, yoga, zen, cozinheira e não falante de nenhuma outra língua diferente do italiano. Aceito sugestões.