Aconteceu. Não é oficial, porque não fiz nenhum teste, mas os sintomas não deixam dúvidas: virei uma pessoa alérgica. Pior, uma alérgica pertencente à categoria de alérgicos que não sabem a que coisa são alérgicos. Sabe aquela pessoa que passa o dia espirrando, você pergunta se ela está resfriada e ela responde que não, é alérgica. Segue a pergunta óbvia, alérgica a quê?, e a pessoa responde “não sei o quê, sou só alérgica”. Essa sou eu.
Sempre detestei o assunto alergia. Detesto coisas idiotas, e alergia é uma reação exagerada – logo, idiota – do seu corpo a coisas que não fazem mal a uma imensa parcela da população. Nunca fui alérgica a nada na vida, mas aparentemente conforme a idade vai avançando, meu corpo vai me traindo mais e mais.
A primeira vez foi há mais ou menos um mês, quando fui visitar os pais da menina israelense da turma da Carol. Eles moram literalmente depois da casa do caralho, lá nas colinas; o lugar é deslumbrante, mas eu, que já tinha acordado com o nariz entupido e achei que fosse um início de gripe, fiquei com o nariz completamente tapado depois que cheguei lá. Pode ter sido qualquer coisa: ciprestes, feno, pólen, pois roça tem uma cacetada de alergênicos. Só comecei a pensar que pudesse ser alergia quando os olhos começaram a arder e quando vi que quando tentava assoar o nariz, não saía nada, ou seja, era um edema da mucosa e não produção excessiva de muco. Xinguei todos os meus eosinófilos, um por um, mas no dia seguinte passou e esqueci do assunto.
Ontem tive o mesmo problema, que pelo jeito vai continuar por um bom tempo porque hoje acordei toda entupida de novo. Só consigo desentupir o nariz com um remedinho da Vick que é viciante e desconfortável de usar, praticamente um jato de eucalipto narinas acima que ainda deixa um sabor residual na garganta. E os olhos estão ardendo de novo.
Alergia é uma coisa difusa por aqui. Não sei se tem a ver com o fato da exposição aos agentes alergênicos ser esporádica, porque é só nesse começo de primavera que as plantas produzem pólen feito doidas. Fato é que o negócio é tão sério que em alguns canais aparece, além do homem do tempo, o homem do pólen, que dá previsões “meteorológicas” específicas sobre a presença do pólen. Você olha o mapa da Itália, procura a sua região, lê a legenda e sabe se o lugar onde você mora vai estar entupido de pólen nos próximos dias ou não. Sempre achei isso divertidíssimo, embora entendendo perfeitamente a utilidade pra quem sofre de alergia crônica. Agora vou ter que passar a prestar atenção também. E vou ter que ir conversar com a substituta da minha médica vesguinha (é uma pediatra siberiana que está no lugar dela; já a conhecia porque o filho dela tem mais ou menos a idade da Carol e brincaram juntos algumas vezes no parquinho) pra ver o que ela pode me dar pra aliviar essa merda. Não dá pra ficar jogando eucalipto na fuça o dia inteiro e piscando os olhos como um recém-nascido pra espantar a ardência, e, pior, não dá pra viver com o nariz entupido, que acabei de decidir que é o sintoma mais irritante do mundo, dentre todos os que existem, junto com a coceira. Acho que nem vou fazer teste de nada porque as coisas que devem estar causando a minha alergia são inevitáveis – essa zona é cheia de ciprestes, tem feno em tudo que é lugar, as árvores TODAS jogam coisinhas alergênicas no ar – de modo que seria só por curiosidade mesmo. Vamos ver o que a siberiana vai dizer…