bicicletta

Estou uma bicicleteira de marca maior. Desde que me demiti e estou em casa praticamente não pego mais o carro pra nada. Boto o iPod nas zoreia e atravesso o parque até o centro de Bastia. Quase todos os dias vejo uma lontra mergulhando no rio, enchendo o saco dos patos. Várias patinhas tiveram filhotes e rebolam nadando rio acima e rio abaixo, seguidas dos pimpolhos. Os cisnes ultimamente é que andam meio sumidos. Quando tá muito calor a bicharada fica toda embaixo da ponte, na sombra. E eu, como uma retardada, sempre esqueço de levar a máquina fotográfica pra passear.

Como é bom andar de bicicleta sem ter que ficar na paranóia de ser roubada! Nunca uso corrente, deixo a magrela encostada com as tantas outras na porta do supermercado, da farmácia, do banco, dos correios, e ninguém toca. Lógico que se a bichinha ficar lá largada por dias a fio eventualmente vai sumir, mas pra essas coisas assim mais light não tem nenhum problema. E como o trânsito de Bastia é, bem, insignificante, vou voando pelas ruas (porque eu não sei fazer nada devagar, vocês sabem) sem medo de ser atropelada (e consciente que se morasse em Roma ou Nápolis seriam oooooooooooutros quinhentos). Procuro sempre fazer o caminho mais longo possível na ida, porque na volta venho com a mochila cheia das compras do dia – chá gelado aromatizado com pêssego, suco de pêssego e manga, abobrinhas pra fazer um wrap de frango pro jantar – e ainda por cima organizo meu dia pra sair de propósito de casa mais de uma vez, pra passear bastante. Uma diliça! Em Cipresso não rolava, era longe demais de tudo. Agora até com sol senegalês dá pra sair de bici, porque o parque é todo sombra e no centro da cidade também tem muitas árvores, ao contrário do retão maldito pra chegar no apartamento onde morávamos antes.

O desafio agora é manter esse ritmo quando o tempo esfriar. Na Holanda neguinho anda de bicicleta o ano inteiro, faça chuva ou faça sol, ou seja, é fisicamente possível. Time will tell.

O lance é que eu não canso da casa nova.

Primeiro porque, como eu já disse, minha cozinha é a mais linda do mundo. Segundo porque tudo ficou de uma praticidade incrível. A única coisa que dá trabalho é o chão, porque é claro, mas todo o resto é simplérrimo de limpar. Levo uns 30 segundos pra tirar o pó porque as superfícies visíveis são poucas: fechamos tudo o que foi possível em armários, de modo que não preciso tirar nada do lugar pra passar o pano. Nada de objetinhos, bibelôs, porta-retratos. Todas as coisas desse tipo estão na estante, fechada com portas de vidro. E como os móveis são todos brancos, posso me dar ao luxo de tirar o pó menos freqüentemente, já que não dá pra ver mesmo : P

Outra coisa é que apesar de estarmos em uma zona calma, cheia de casas, estamos ao mesmo tempo perto do centro: basta seguir até o final da rua pra chegar ao Percorso Verde, uma área de parque às margens do riacho Chiascio, e que chega até a Santa Maria degli Angeli. Atravessando o parque na sua parte mais estreita – que é ridiculamente estreita já que o riacho é microscópico – eu chego à praça dos correios em cinco minutos de bicicleta. E dali basta subir umas escadas pra chegar na praça principal de Bastia, onde ficam meu contador, o cinema e a Coop. Show.

Foi até bom terem me tirado as aulas da noite (chegou outra professora, a Kate, que obviamente não pedia 23 euros por hora como eu), porque chego em casa cedo, dá tempo de dar uma limpada rápida em casa, de fazer compras e de cozinhar um jantar decente. Estou adorando.

um pedaço da cozinha

O balcão cinza-escuro o Mirco fez usando tábuas de alumínio que servem pra fazer as laterais dos caminhões. Antes que alguém pergunte, o negócio pra botar as garrafas de vinho é da IKEA. A cozinha é Lube.

dêem ouvidos à história da sábia anciã das montanhas do interior do zaire

Crianças, muito obrigada pelos scraps, e-mails, telefonemas e velinhas mentalmente acesas. Vocês são uns amores :)

Meu primeiro dia de balzaca começou muito cedo, porque dormi mal, como sempre. Levantei cedo e fui pra Ponte San Giovanni estacionar o carro e pegar o ônibus pra Perugia. Doei sangue, tomei o café da manhã reforçado que te dão depois, passei no cabeleireiro com intenção de ajeitar a juba mas a Giuliana me convenceu a voltar na quinta, quando um conhecido deles vai testar um produto revolucionário na minha cabeça pruriginosa. Voltei pro meu carro, passei na peixaria em Bastia pra comprar camarão pro almoço, preparei o almoço e enquanto estava fazendo faxina Mirco chegou com duas plantonas lindas (ele sempre me dá plantas de presente, e depois reclama que a varanda parece uma selva). Almoçamos espaguete com frutos do mar e enquanto o Mirco fazia a sesta fui à Coop comprar terra. Voltei pra casa, botei as plantas nos vasos novos, tomei banho e fui pra Spello falar com o tio da Simona, que tem uma enoteca linda lá. Não vai dar em nada porque ele quer alguém com muita disponibilidade de horário e eu tenho mais o que fazer, mas pode ser que de vez em quando role uma degustação diurna com clientes americanos, quem sabe? Voltei pra casa, recebi um telefonema do José que não sabia que eu tinha tirado férias e quando não me viu pensou eu tivesse me demitido (todo mundo que se demitiu de lá até hoje foi absolutamente proibido de dar tchau pros ex-colegas), outro do meu pai, outro da Valerri de Parri que quando me liga é sempre uma coisa linda, jantamos piadina feita na sanduicheira e capotamos vendo TV.

Marcinha me disse pra guardar a crise pros 40 anos. Minha mãe disse que foi bom ter a crise aos 30 porque assim ela gastou todo o desespero e a neurose dela naquele episódio (isso é o que ela diz… hohoho). Eu não tenho crise nenhuma. Muito pelo contrário. Apesar de ainda estar com a vida em stand-by, gorda e com muito ódio no coração toda vez que vejo a minha chefe, eu fico pensando em quanto eu estou melhor do que quando era mais jovem. Porque, já falei aqui, todo jovem é necessariamente idiota. E eu tenho horror a idiotas. Se bobear às vezes gostaria de já ter nascido velha, pra fazer menos cagada. Mas não nos sendo dado escolher esse tipo de alternativa, me contento de ser espertinha o suficiente pra ficar menos idiota com o passar dos anos (ao contrário, por exemplo, do companheiro da Suely Maria, que aparentemente a cada ano de idade cronológica perde um de idade mental).

Hoje Christine perguntou por que eu não fui trabalhar ontem e eu disse que não queria passar meu aniversário naquele buraco. Ela voltou pra casa pra almoçar e quando voltou trouxe flores e me deu um abraço dizendo que é muito bom trabalhar comigo. Quase chorei, juro. É a velhice que me está deixando emotiva.

uia

Crianças, tenham paciência. A tia aqui está dodói, com gripe forte e febre, pela primeira vez desde 2001, quando tive aquela amigdalite bizarra em Chiavari. E ainda por cima chegou a hora da mudança. Ontem de manhã lutei contra a dor nas costas e o mal-estar e fui lá pro apartamento montar móveis, enquanto os dois marroquinos do Mirco limpavam o apartamento. Montei o carrinho da cozinha e os dois dos banheiros, um gaveteiro do escritório e parte da cômoda do nosso quarto. Voltei pra casa, fiz almoço (macarrão com couve de Bruxelas), deixei o Mirco tiritando de febre no sofá e voltei pra terminar a cômoda, montar dois armários pequenos do nosso banheiro e uma poltrona. Saí pra comprar as rodinhas da cama e da cômoda, e enquanto esperava o hominho da loja fazer a fatura me bateu aquela onda de gripona forte mesmo. Cheguei em casa com calafrios, tomei banho, comi uma banana com mel e me enfiei na cama. De onde só saí agora há pouco. Mirco tá pior que eu. E essa semana vai ser toda de mudança, então tenham paciência. E-mails, posts e fotos novas só quando sobrar tempo.

Ah, desde que voltei mais três pessoas pediram demissão. São 13 desde maio passado. That HAS to mean something.

ufa

Pronto, passou a chatice do Natal. Só tem mais hoje, que também é feriado aqui (Santo Stefano), e acabou. O que eu fiz de bom nesse feriadão? Dormi. Eu não sou dorminhoca e acordo cedo todo santo dia, sozinha, mas ultimamente ando muito, muito cansada. Chegando em casa tarde depois de uma média de 11 horas diárias de trabalho mental, chego em casa com o cérebro pedindo arrego. Mas não dá tempo de desligar a mente, porque chego em casa, como, tomo banho e vou dormir ainda com a cabeça cheia de coisas estranhas. Lógico que não consigo dormir direito. Então aproveitei o feriado pra não botar o nariz pra fora de casa a não ser que fosse absolutamente necessário, e dormi, dormi, dormi. Sábado ainda acordei ligadona, e infelizmente tive que passar a manhã na rua resolvendo coisinhas chatas. Almocei cedo mas não posso dormir à tarde porque desregula o meu ciclo do sono completamente e a enxaqueca vem, é batata. Mirco só chegou pra comer às quatro da tarde e enquanto isso fiquei vendo Battlestar Galactica. Depois que ele almoçou fomos dar uns rolés, entregar cestos de Natal etc, e jantamos com Marta e Moreno no shopping do cinema, em Perugia. O filme terminou relativamente cedo e logo logo estávamos em casa roncando. Domingo acordei com restos do início da enxaqueca de sábado, que consegui cortar pela raiz tomando o comprimido imediatamente, mas sabendo que a desgraçada dura sempre 48 horas, achei melhor não sair de casa. Mirco foi a Latina com Daniele e Une almoçar coreano na casa do irmão dela, e passei o dia inteiro em casa lendo e dormindo. Foi bom, de vez em quando é preciso dar uma parada total. Jantamos fora mas voltamos cedo. E naquela noite também dormi bem melhor, já estando mais relaxada. Acordei cedo como sempre, tomei um café light, li até as onze da manhã e dormi de novo até meio-dia. Saímos correndo pra tomar banho e fomos almoçar na Arianna, e à tarde pegamos um cinema em Foligno. Hoje fiquei na cama lendo até o Mirco ligar pedindo pra eu descer e dar uma mão a descarregar o velho armário da oficina, meio que destruído no último roubo mas que vai servir pra guardar cacarecos na garagem da casa nova. E enquanto ele foi entregar umas peças em Petrignano, eccomi.

Amanhã trabalho, mas quinta vou doar sangue em Perugia (e aproveitar pra ir ao médico, pra pegar a carteirinha na faculdade, pra alisar o cabelo e pra entregar uma coisa na casa de um ex-aluno), ou seja, por lei tenho o dia livre. Óptimo.

casa

Aparentemente esse ano não preciso podar o tomilho. Todo dia vejo pela janela uns pardais arrancando raminhos de tomilho. Vai ficar uma casinha tão perfumada : )

amenidades

Freqüentando a IKEA e com cunhada na Holanda, aprendi um jeito novo de usar roupa de cama.

Nos países nórdicos, aparentemente, como os edredons são usados praticamente o ano inteiro, neguinho bolou uma espécie de fronha pra eles. Não se usa lençol de cobrir. Assim você lava só a “fronha” e não precisa lavar a bosta do edredom, operação chatíssima e complicada se você tem uma máquina de lavar de grande capacidade em casa, e chata e cara se você tem que levar pra uma lavanderia, como eu.

Como eu sou brasileira chata e paranóica, acho estranho dormir diretamente em contato com o edredonm, enfronhado ou não, e prefiro adicionar uma barreira extra anti-sujeira, e mantenho o lençol de cobrir. Mas não é uma idéia ótima esse da fronha de edredom? A maldita IKEA tem cada uma linda, brancas bordadas, coloridonas, psicodélicas. Compramos um conjunto verde-musgo na última vez em que fomos lá, pra testar o sistema, e estou adorando. Primeiro porque o verde-musgo é muito mais bonito do que a hedionda cor carmim do meu edredom, e segundo porque agora já fiquei craque em “vestir” o menino e estou achando tudo muito prático. A próxima vez que voltarmos lá vai ter mais.

domesticidades

Não sou como a Adriana, que tem verdadeira alergia às tarefas domésticas. Pelo contrário, até me divirto, se estiver de bom humor e não-exausta, claro. Mas as roupas… Cacete, são definitivamente as partes mais chatas da administração doméstica. Detesto todas as fases: a fase de separar a roupa suja em coloridos, brancos, roupa de trabalho do Mirco manchada de tinta, roupas de lã que não vão na máquina; a fase de encher o cesto e ir lá fora, mesmo quando não tá frio, encher a máquina de lavar; estender a roupa, que porreeeeeeeeeeeee; e passar, que graças aos céus agora a faxineira resolve pra mim porque passar roupa É UM SACO. Além de ser uma perda de tempo absurda.

Então quando começou a passar na televisão o comercial da nova secadora de roupas da Rex, que funciona a vapor e deixa a roupa praticamente passada, quase babei. Mas ainda não tive coragem de ver o preço. Tenho medo…